sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A CRUZ DE CRISTO - 14 – SOFRIMENTO E GLÓRIA.



“Não sofra mais... pare de sofrer”!  Isso é o que ensina um número cada vez maior de pregadores em nossos dias. A Bíblia, porém, não se cansa de avisar que os piedosos em Cristo também sofrerão neste mundo. Então, não importa o que se diz por aí, pois a Palavra de Deus diz o contrário. O próprio Cristo já havia avisado – "Referi-vos essas coisas para que tenhais a paz em mim. No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo". (Jo 16,33). Esta mensagem também era importante no ministério de Paulo, que ia pelas igrejas - "Confirmavam as almas dos discípulos e exortavam-nos a perseverar na fé, dizendo que é necessário entrarmos no Reino de Deus por meio de muitas tribulações". (At 14,22). Quem disse que não é  da vontade de Deus que soframos? Lembremo-nos do que Pedro escreveu - "Assim também aqueles que sofrem segundo a vontade de Deus encomendem as suas almas ao Criador fiel, praticando o bem". (1Pd 4,19). Note-se, portanto, que em Cristo, nem os apóstolos jamais pregaram o tipo de evangelho indolor da felicidade plena que está sendo pregado hoje.

Deus nunca prometeu liberdade temporal do sofrimento. Pelo contrário, ele nos adverte, quase que em todas as páginas das escrituras, a que estejamos preparados para o sofrimento. Como, pois, a Bíblia nos ajuda a enfrentar sofrimento? A seguir, trabalharemos o assunto por meio de dois ângulos.

I.                    O SOFRIMENTO HUMANO.

Eis algumas declarações bíblicas  sobre a dor e o sofrimento humano.

Þ     O sofrimento não é o real problema humano.

Precisamos corrigir este conceito de um homem sofredor para um homem mau e pecador. Antes de ser um sofredor, o homem é um pecador. Seu sofrimento é conseqüência deste fato. A dor humana é antes de qualquer coisa, inimizade com Deus. O problema do coração humano não é que ele é necessitado e vazio, mas “enganoso mais do que todas as coisas” (Jr 17,9). A prioridade do homem, pois , não é se ver livre do sofrimento, mas ser nova criatura. Antes de se libertar do sofrimento, ele precisa aprender a ser fiel e obediente, e a ter um coração ardente por Deus. Por isso, a prioridade de Deus não é nos poupar do sofrimento, mas restaurar a imagem de Deus em nós - "Os que ele distinguiu de antemão, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que este seja o primogênito entre uma multidão de irmãos". (Rm 8,29).

Þ     A dor e o sofrimento são intrusos no universo de Deus, e um dia eles serão abolidos definitivamente.

O mal entrou no mundo por causa do pecado do homem. A dor é agora uma parte permanente  de nossa existência aqui na terra, devido á maldição de Deus sobre o pecado, mas um dia ela será removida – Rm 5,12-20.

Þ     O nosso sofrimento pessoal pode ter diferentes causas.

·         Outras pessoas – às vezes nosso sofrimento pode ser culpa de outros,. É o marido que abandona a esposa, a esposa que ofende o marido; um motorista bêbado que marta uma criança; um homem que estupra uma moça. Alguns perguntam – Por que Deus permitiu isso? –  Mas a resposta é – “Foi o marido, ou pai, ou o assassino, foi o pecado deles”.
·         Eu mesmo – eu sofro porque pequei. Perdi o amor dos meus filhos, porque os provoquei. Estou doente, por causa dos meus vícios, da minha ira, da minha inveja, da minha ambição sem limites – “Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação. Esta é a razão por que entre vós há muitos adoentados e fracos, e muitos mortos.” ( 1Cor 11,29-30).
·         Adão - "Por isso, como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim a morte passou a todo o gênero humano, porque todos pecaram..". (Rm 5,12). Ensina que fomos culpados em Adão, por isso perdemos pessoas queridas pela morte,  temos de trabalhar arduamente e somos tão injustos e maus uns com os outros.
·         Satanás - "Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar". (1Pd 5,8). Diz que o sofrimento pode vir dele. Jesus disse  que ele é homicida - "Vós tendes como pai o demônio e quereis fazer os desejos de vosso pai. Ele era homicida desde o princípio e não permaneceu na verdade, porque a verdade não está nele. Quando diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira". (Jo 8,44); que ele aflige as pessoas com doenças - "Vós sabeis como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com o poder, como ele andou fazendo o bem e curando todos os oprimidos do demônio, porque Deus estava com ele". (At 10,38). Alem disso, ele faz acusações e promove divisões na Igreja de Cristo.
·         Deus – parece que Noemi cria que deus era responsável para o seu sofrimento - "Não me chameis mais Noêmi, replicou ela, mas chamai-me Mara; porque o Todo-poderoso me encheu de amargura". (Rt 1,20), e até certo ponto ela estava certa, pois havia um plano sendo executado - "Assim também aqueles que sofrem segundo a vontade de Deus encomendem as suas almas ao Criador fiel, praticando o bem". (1Pd 4,19).

Tudo isso nos ensina a não reduzir a do sofrimento a uma única causa.

Þ     O sofrimento tem uma causa de ser.

·         "A estas palavras, disse-lhes Jesus: Esta enfermidade não causará a morte, mas tem por finalidade a glória de Deus. Por ela será glorificado o Filho de Deus". (Jo 11,4).
·         "Jesus respondeu: Nem este pecou nem seus pais, mas é necessário que nele se manifestem às obras de Deus". (Jo 9,3).

O propósito de Deus  para o sofrimento é o bem. O bem não inclui necessariamente um cessar imediato da dor; o bem maior é conformar-nos à imagem de Cristo – Rm 5,3-5.

II.                  A SOLUÇÃO OFERECIDA NA CRUZ.

Nosso objetivo agora é expressar a relação que possa existir entre a cruz de Cristo e os nossos sofrimentos. O que será exposto a seguir é um resumo do argumento de Stott, que, ao falar sobre a revelação da glória de Deus na cruz de Cristo, pergunta – “Qual é, pois, o relacionamento entre o sofrimento de Cristo e o nosso? Como é que a cruz nos fala da nossa dor?” – Ele mesmo sugere, com base nas Escrituras, seis possíveis respostas a essa questão.

Þ     Perseverança paciente.

Primeiro a cruz é um estimulo à preservação paciente. Embora tenhamos de reconhecer o sofrimento como mal e, portanto, resistir a ele, chega um momento em que ele tem de ser aceito realisticamente – 1Pd 2,18-23; Hb 12,1-3 – Cristão de todas as gerações, ao contemplarem os sofrimentos de  Cristo, os quais culminaram na cruz, têm obtido a inspiração para suportar com paciência a dor não merecida, sem reclamar nem revidar.

Þ     Santidade madura.

A cruz de Cristo é o caminho da santidade madura. As escrituras desenvolvem três imagens gráficas a fim de exemplificar como Deus usa o sofrimento em relação ao seu propósito de nos tornar santos:

·         O pai que corrige o filho. - "Eu repreendo e castigo aqueles que amo. Reanima, pois, o teu zelo e arrepende-te". (Ap 3,19); "Reconhece, pois, em teu coração, que assim como um homem corrige seu filho, assim te corrige o Senhor, teu Deus". (Dt 8,5).
·         O ourives que refina o ouro. - Pois tu, ó Deus, nos tens provado; tens nos refinado como se refina a prata. (Sl 66,10); "Passei-te no cadinho como a prata, provei-te ao crisol da tribulação;" (Is 48,10)
·         O lavrador que poda a vinha. – “Ao contrário, o fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança. Contra estas coisas não há lei.” (Gl 5,22-23).

Não podemos hesitar em dizer, portanto, que Deus pretende que o sofrimento seja um “meio de graça”  - “Antes de ser afligido, eu me extraviava; mas agora guardo a tua palavra.” (Sl 119,67).

Þ     O serviço sofredor.

A cruz de Cristo é o símbolo do serviço sofredor. Em Is 53, percebemos o elo entre sofrimento e serviço. Para a Igreja, portanto, como para o Salvador, sofrimento e serviço vão lado a lado – Jo 12,2-26.32-33 – Jesus ensinou, pelo seu próprio exemplo, que a semente deve morrer para que possa multiplicar-se. Esta deve ser uma realidade também para nossas vidas. Paulo é o exemplo mais  notável deste princípio - "Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja". (Cl 1,24). O ensino aqui é que o servo, se quiser levar a luz ás nações, deve sofrer, como a semente, a fim de se multiplicar, deve morrer.
Þ     Esperança e glória.

A cruz de Cristo, é a esperança de glória final - "Em vez de gozo que se lhe oferecera, ele suportou a cruz e está sentado à direita do trono de Deus". (Hb 12,2). É, pois, a esperança da glória que torna o sofrimento suportável. É nessa visão que "Por ele é que tivemos acesso a essa graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança de possuir um dia a glória de Deus". (Rm 5,2).

Þ     A fé e o livro de Jó.

A cruz é o fundamento de uma fé racional. Quando a calamidade nos atinge, como podemos agir com racionalidade? A melhor resposta a essa questão é a providenciada pelo livro de Jó. Lá, percebe-se que a atitude de Jó é uma mescla de autocomiseração e auto-afirmação. Ele se defendeu, teve pena de si mesmo, afirmou-se a si mesmo e acusou a Deus. Mas no capitulo 42,5-6, ele muda de atitude. O que foi que ele “viu” que o converteu da auto-afirmação á auto-entrega? 

·         Jó foi convidado a examinar de novo a criação e vislumbrar a glória do Criador. O que Deus deu a Jó foi uma extensa introdução às maravilhas da natureza e, por meio dela, uma revelação do seu gênio Criador, o qual silenciou as suas acusações e levou-o a humilhar-se da sua rebeldia e confiar novamente em Deus.

·         A cruz não soluciona o problema do sofrimento, mas supre a perspectiva essencial da qual podemos examiná-lo. Visto que Deus demonstrou seu santo amor a justiça amorosa num evento histórico (a cruz), nenhum outro evento histórico pode superá-lo ou desaprová-lo.

Þ     A dor de Deus.

O sexto modo é o mais importante da série. A cruz de Cristo é a prova do amor solidário de Deus, isto é, de sua solidariedade pessoal e amorosa conosco em nossa dor. Pois o verdadeiro aguilhão do sofrimento não é o infortúnio em si, nem mesmo a dor ou a injustiça, mas o aparente abandono de Deus. A dor é suportável, mas a aparente indiferença de Deus não é. Não devemos vê-lo, indiferente, diante de todo o sofrimento ao mundo, mas devemos vê-lo nua cruz. A dor de Deus foi revelada de modo supremo na cruz. Verdadeiramente seu nome e Emanuel “Deus Conosco” – Is 63,9; At 9,4; Mt 26 –

CONCLUSAO

Na cruz de Jesus, o próprio Deus está crucificado. O pai sofre a morte do filho e toma a si mesmo a dor e o sofrimento da história.

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