sábado, 2 de fevereiro de 2013

GENESIS - LIÇÃO 01 – MAJESTADE E MISTÉRIO.





Creio que vale uma palavra especial sobre o livro do Gênesis como introdução geral às lições deste quadrimestre. A palavra Gênesis vem da velha versão grega do Antigo Testamento – A SETUAGINTA – onde este livro é chamado de “Gênesis Kosmou”, ou “a origem do mundo”. É, de fato, o livro dos começos e, por isso, a sua palavra chave é “principio”. Nele temos o principio do universo material; o principio da raça humana, do pecado humano, da sua redenção; o princípio da civilização, o principio das nações e o principio da raça hebraica.

Gênesis tem sido um dos livros mais atacados da Bíblia, tanto pelos cientistas como pelos críticos modernos. Mas alguém já disse: “a Bíblia é uma bigorna que tem consumido muitos martelos”. Muitos teólogos acreditam na Teoria da Evolução, outros na Teoria da Criação. Eu particularmente prefiro ficar com a Teoria da Criação.

  1. A CRIAÇÃO (Gn 1,1).

"No princípio, Deus criou os céus e a terra". (Gn 1,1).

Interessante observar que a primeira frase da Bíblia coloca-nos na presença daquele que é a origem infinita de toda a verdadeira bem-aventurança. Não há um argumento elaborado em prova da existência de Deus. O filósofo alemão Kepler dizia “Deus pensou, e para revelar seu pensamento não usou palavras escritas. Ele criou o mundo e tudo o que nele há.” Deus revela-se a si mesmo e faz-se conhecer pelas suas obras. O salmista diz: “Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos.” (Sl 19,1), ainda mais “Todas as tuas obras te louvarão, ó Senhor, e os teus santos te bendirão.” (Sl 145,10).

Ninguém, a não ser um ateu, procuraria um argumento para provar à existência de um Ser que, pela palavra de sua boca, chamou o mundo a existência. E revelou-se a si mesmo como um Deus Todo-Poderoso e eterno. Quem, se não Deus, poderia criar alguma coisa? Diz o profeta: "Levantai os olhos para o céu e olhai. Quem criou todos esses astros? Aquele que faz marchar o exército completo, e a todos chama pelo nome, o qual é tão rico de força e dotado de poder, que ninguém falta ao seu chamado". (Is 40,26). "Porque os deuses dos povos, sejam quais forem, não passam de ídolos; mas foi o Senhor quem criou os céus". (1Cr 16,26).

  1. O CAOS (Gn 1,2).

"A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas". (Gn 1,2).

A palavra “caos” significava “desordem”, como resultado de alguma catástrofe cataclísmica – relativo a um dilúvio ou desastre cósmico.

Alguns defendem a teoria de que entre o primeiro e o segundo versículos do capítulo 1, existe um intervalo de tempo indefinido, mas, provavelmente, muito longo. Nesse tempo, Satanás teria pecado no céu e sido lançado na terra – Ap 12,6-7 “Então houve guerra no céu: Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão. E o dragão e os seus anjos batalhavam, Então houve guerra no céu: Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão. E o dragão e os seus anjos batalhavam,”, causando-lhe grande destruição. Por esta causa, a terra ficou sem forma e vazia. O texto original do versículo 2 admite também a seguinte tradução: “A terra veio a ser sem forma e vazia”. Um ponto de apoio apresentado para esta teoria é o versículo de Isaías que diz que Deus não criou a terra vazia (Is.45,8 – “Destilai vós, céus, dessas alturas a justiça, e chovam-na as nuvens; abra-se a terra, e produza a salvação e ao mesmo tempo faça nascer a justiça; eu, o Senhor, as criei”).  Uma dificuldade para os defensores desta teoria é explicar como pode ter ocorrido morte no mundo antes do pecado humano. Isto é bastante improvável, de acordo com Rm.5,17 – “Porque, se pela ofensa de um só, a morte veio a reinar por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo.” E Rm 6,23 “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor.”.

Outros dizem que os versículos 1 e 2 de Gn 1; sugeri que o autor fez um resumo dos acontecimentos da criação até o dilúvio – “No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas.”

Fico com a primeira teoria.

3. OS DIAS DA CRIAÇAO DA TERRA (Gn 1,3 – 2,3).

“Disse Deus: haja luz. E houve luz. Viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas. E Deus chamou à luz dia, e às trevas noite. E foi à tarde e a manhã, o dia primeiro.” (Gn 1,3-5).

Como podemos entender o “o dia da criação”?

Nada do que existe, existe sem Deus; no princípio, tudo foi criado por Deus e caminha inexoravelmente conforme os desígnios de Deus, sem mistérios e sem complexidades, com a simplicidade inspirada por uma fé profunda. Diz apenas e vigorosamente que tudo começou a partir do impulso propulsor e ordenador da Palavra de Deus, mostrando-O assim onipotente, destacado da Criação, não se confundindo com Ela:

"Deus disse: ‘Haja luz’ e houve luz" (Gn 1,3).

Deus começou a criar afastando as trevas e criando a luz, para poder ver a obra em andamento e aparecer como estava ela sendo feita, em virtude da sua concepção rudimentar e ainda antropomórfica. Quando amanhece, parece-nos à primeira vista que a "luz do sol" precede a "luz do dia", como se distinguissem. Sabemos que não, a "luz do dia" é a "luz do sol", mas ao narrador, que não o sabia, havia a distinção tal como se percebe a olhos nus, sem instrumentos, e sem o menor conhecimento científico. Não sabia ele, nem poderia saber que a luz do sol leva aproximadamente oito minutos para atingir a terra, em virtude do que a ele pareciam coexistir ambas distintas e separadas. Por isso, na sua concepção, Deus a cria antes de criar o sol, qual seja, melhor dizendo, independentemente da criação dele. Criou "a luz" erradicando "as trevas" (1,2), facilitando assim a explosão da vida e do calor desenvolvida pelo "Espírito de Deus" (1,2). Daí então, a Criação se desdobra vertiginosamente, em seqüência culturalmente lógica para o narrador e em ordem sistemática delimitada em espaços uniformes de tempo, "em dias", conforme Deus pronunciava "Sua Palavra" (“... e Deus disse...", “... e Deus chamou"...):

"Deus chamou à luz ‘dia’ e às trevas ‘noite’. Houve uma tarde e uma manhã: primeiro dia" (Gn 1,5).

O mundo de então era concebido como um grande volume cheio de água, onde tudo já se encontrava confusamente disposto, que Deus vai formando e ordenando, tal como se fora um "feto numa placenta":

"Deus disse: ‘Haja um firmamento no meio das águas e assim se fez. Deus fez o firmamento, que separou as águas que estão sob o firmamento das águas que estão acima do firmamento, e Deus chamou ao firmamento ‘céu’. Houve uma tarde e uma manhã: segundo dia" (Gn 1,6-8).

Desconhecendo as leis físicas da evaporação da água, da formação das chuvas, e vendo-as cair, supunha que tanto havia águas no céu como nos mares, tal como se "vê" a olho nu, único instrumento disponível:

"Deus disse: ‘Que as águas que estão sob o céu se reúnam numa só massa e que apareça o continente’, e assim se fez. Deus chamou ao continente ‘terra’ e à massa das águas ‘mares’, e Deus viu que isso era bom" (Gn 1,9-10).

Delimitou Deus a terra e desse modo separou-a dos mares. Estavam assim preparados os ambientes para a criação, geração e propagação dos vegetais, ervas e frutos, com o que se daria a erradicação da aridez da terra virgem:

"Deus disse: ‘Que a terra verdeje de verdura: ervas que dêem semente e árvores frutíferas que dêem sobre a terra, segundo a sua espécie, frutos contendo a sua semente’, e assim se fez. A terra produziu verdura: ervas que dão semente segundo a sua espécie, árvores que dão, segundo sua espécie, frutos contendo sua semente, e Deus viu que isso era bom. Houve uma tarde e uma manhã: terceiro dia" (Gn 1,11-13).

A vegetação, as ervas e as árvores que cobrem a superfície da terra não são imanentismos dela, mas gerados dela e nela pela Palavra de Deus, fonte de tudo o que existe, nada tendo vindo à existência sem que Ele chamasse:

"Deus disse: ‘Que haja luzeiros no firmamento do céu para separar o dia e a noite; que eles sirvam de sinais, tanto para as festas quanto para os dias e anos; que sejam luzeiros no firmamento do céu para iluminar a terra’, e assim se fez. Deus fez os dois luzeiros maiores: o grande luzeiro para governar o dia e o pequeno luzeiro para governar a noite, e as estrelas. Deus os colocou no firmamento do céu para iluminar a terra, para governarem o dia e a noite, para separarem a luz e as trevas, e Deus viu que isso era bom. Houve uma tarde e uma manhã: quarto dia" (Gn 1,14-19).

Aquela luz já criada é depositada em receptáculos apropriados a sua distribuição durante a noite e durante o dia. Não são os luzeiros seres absolutos a ponto de se tornarem até mesmo em objetos de adoração por outros povos, eis que são criaturas advindas da Criação de Deus. Receberam de Deus a missão de comando e direção da luz, principalmente para as funções fundamentais da vida, indispensáveis à existência:

"Deus disse: ‘Fervilhem as águas um fervilhar de seres vivos e que as aves voem acima da terra, diante do firmamento do céu’, e assim se fez. Deus criou as grandes serpentes do mar e todos os seres vivos que rastejam e que fervilham nas águas segundo sua espécie, e Deus viu que isso era bom" (Gn 1,20-21).

Não bastava criar os seres vivos. Era preciso dotá-los de aptidão para a propagação e perpetuação da espécie. Deus então os fecunda, tornando-os férteis, capazes de se reproduzirem. É a bênção:

"Deus os abençoou e disse: ‘Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a água dos mares, e que as aves se multipliquem sobre a terra’. Houve uma tarde e uma manhã: quinto dia" (Gn 1,22-23).

Quando Deus abençoa, fecunda, e é de Deus que os seres recebem a vida e a fecundidade, não da natureza ou do mundo: as vegetações, as ervas e as árvores frutíferas tiveram por fonte criadora o próprio Deus. Ele lhes injeta a faculdade de viver e procriar como aptidão imanente a cada uma e a toda espécie viva, estendendo a bênção à própria terra e ao demais seres vivos:

"Deus disse: ‘Que a terra produza seres vivos segundo a sua espécie: animais domésticos, répteis e feras segundo sua espécie’, e assim se fez. Deus fez as feras segundo sua espécie, os animais domésticos segundo sua espécie e todos os répteis do solo segundo sua espécie, e Deus viu que isso era bom" (Gn 1,24-25).

E, a Criação prossegue inexorável, aperfeiçoando-se sempre mais e mais, em cada novo estádio ou etapa, em cada dia, três obras por dia, caminhando em direção a sua obra prima: a Criação do Homem, o ápice dela, com o que será ultimada e coroada. É de se notar que vários indícios evidenciam a forma poética dessa narração, quais sejam, dentre eles, a repetição sistemática de várias expressões, tais como "Deus disse", "Deus viu que era bom", "Houve tarde e manhã: ...dia", os números com sua significação peculiar na criação em seis dias, nas três obras por dia, no sétimo dia, e a forma ritmada de todo o contexto. Não houve testemunhas nem a escrita havia sido inventada ainda. Daí compreender-se que essa narração, para se manter viva na memória, era assim composta em versos, em virtude de ser declamada sistematicamente, método ainda usado no Oriente para a retenção e divulgação de acontecimentos importantes. Todo o Velho Testamento está repleta de outras poesias, como forma de celebração de fatos destacados na História da Salvação (Gn 49; Ex 15; Nm 23; 24; Dt 32; 33; Jz 5; 1 Sm 2,1-10; Os Salmos; etc.); e, no Novo Testamento destacam-se dentre muitos trechos dos rituais cristãos dos primórdios, o Magnificat de Maria (Lc 1,46-55), o Benedictus (Lc 1,67-79) etc..

Em toda a narração transparece a onipotência e onisciência de Deus, nada criando ao acaso, mas inteligentemente e obedecendo a uma ordem determinada e coerentemente disposta com vistas a um fim deliberado: A Criação do Homem.

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