quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A CRUZ DE CRISTO - 12 – AUTOCOMPREENSÃO E AUTODOAÇÃO.

“O homem é um mero acidente  cósmico e não possui nenhum valor intrínseco”, afirma o humanismo ateu. O Budismo e as religiões orientais também possuem uma visão bastante negativa, pois ensinam o despojamento da humanidade por meio da abolição de todos os desejos, até dos mais básicos como alimento e água.

De outro lado, movimentos populares como os  do “potencial humano”, da “confissão positiva” e da “Teologia da Prosperidade” estão reagindo e fazendo com que o homem se sinta um verdadeiro deus. Os pregadores desses movimentos estão empenhados em realizar uma verdadeira lavagem cerebral, produzindo frases de grande impacto mental, tais como – “se você quer, você pode”, “declare e tome posse”, “há poder em suas palavras”, dando assim  a impressão de que nosso potencial é ilimitado.

O resultado desses pensamentos é o aparecimento de dois tipos de pessoas de um lado os que carecem de valor pessoal, e de outro, os que sofrem de complexo de deus. Porém a mensagem da cruz é única e perfeita em sal concepção do homem.

·         Única – porque se distingue das inúmeras religiões e filosofias que encontramos em nosso mundo atual.
·         Perfeita – porque humilha todo orgulho e acha com qualquer esperança de salvação própria, ao mesmo tempo em que fala do insondável amor de Deus que provê senso de valor e significado para o homem.

Afinal, quem é o homem? Nobre ou ignóbil? Santo ou demônio? Rico ou miserável? A cruz supre a resposta certa. Só ela é capaz de comunicar luz para discernirmos como devemos ver a nós mesmos. Diferente das demais, a mensagem da cruz leva o homem a quatro atitudes básicas.

I.                    AUTONEGAÇÃO.

Þ     A ordem – este convite de Jesus é claro - "Em seguida, Jesus disse a seus discípulos: Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me". (Mt 16,24). A verdade quando Jesus chama uma pessoa, ela é chamada para vir e morrer (a morte do nosso ego).
Þ     O exemplo – o próprio Cristo nos deixou o exemplo. É mister que sigamos seus passos. Do modo como Jesus renunciou a seus próprios interesses e se deixou crucificar, por amor a outros, também devemos dizer “não” ao egocentrismo – Lc 9,23-26.
Þ     O incentivo – o exemplo de Jesus deve afetar nossa atitude. A disposição demonstrada por ele para morrer para o próprio eu quando subiu a cruz (2 Cor 5,14-15) é um incentivo para nós morremos para o próprio eu e vivermos para ele.

Em que sentido o cristão deve morrer? Além da morte física, observamos dois tipos de morte experimentados pelos cristãos que Stott identifica:

·         A morte legal – o cristão morreu para a penalidade do pecado e sua ressurreição espiritual resultou numa nova vida de liberdade. É o que chamamos de justificação.
·         A morte moral (para o ego) – à medida que mortificamos a antiga natureza e seus ímpios desejos, a ressurreição implica uma nova vida de justiça em comunhão com Deus. É isto que chamamos de santificação.

A morte legal foi de uma vez por todas, mas a morte moral é uma experiência diária e continua para o discípulo cristão.

II.                  AFIRMAÇÃO PRÓPRIA.

Autonegação é apenas um lado da verdade. Pois se de um lado Jesus ensina que devemos repudiar o nosso ego pecaminoso, de outro afirma o valor do ser humano.

Þ     Considere o ensino de Jesus acerca das pessoas – Ele falou do valor dos seres humanos aos olhos de Deus. Em - "Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais que elas?" (Mt 6,26), Ele declara: “porventura, não valeis vós mais do que as aves?” É a imagem de Deus em nós que nos dá esse valor maior.

Þ     Considere a atitude de Jesus para com as pessoas – Ele não desprezou ninguém e a ninguém rejeitou. Ele foi cortês com as mulheres em público. Convidou as crianças para que fossem a Ele. Foi paciente com os pecadores e marginalizados. Enfim, Jesus reconheceu o valor dos homens e os amou.

Þ     Considere a missão e morte de Jesus  pelos seres humanos – quando olhamos para cruz, vemos o verdadeiro valor dos seres humanos. Como expressou Willian Temple  - “o meu valor é o que valho para Deus; e esse é o grande e maravilhoso, pois Cristo morreu por mim”.

III.                AMOR AUTO - SACRIFICIAL.

Até aqui, falou-se somente da decadência no que ela precisa ser negada. Mas Deus nos chama também para que sacrifiquemos a nós mesmos em coisas que, embora em si mesmas não sejam erradas, nem possam ser atribuídas à queda, entretanto impedem que façamos a vontade de Deus de forma plena. Nós, os cristãos, temos mais a negar do que apenas o pecado, é por isso que Jesus, cuja humanidade foi perfeita e não caída, ainda teve de negar-se a si mesmo – Fl 2,5-11. O mesmo principio é aplicável aos seus seguidores.

Þ     O exemplo de Cristo deve afetar nossa atitude – Jo 15,13; 1Cor 8,11; 10,24; 2Cor 8,9.
Þ     O apóstolo Paulo se identificou plenamente com o Senhor Jesus  - 1Cor 9,6-18; 2Cor 6,4-10; 11,7.23-28.

Que tipo de sacrifícios se espera de seus servos hoje? Pode ser da vida de casado - "Acaso não temos nós direito de deixar que nos acompanhe uma mulher irmã, a exemplo dos outros apóstolos e dos irmãos do Senhor e de Cefas?" (1Cor 9,5); da segurança de um bom emprego; de uma promoção profissional; da convivência com os familiares; de um lar confortável, para viver nas áreas mais pobres das cidades entre destituídos e famintos.

IV.                 ESFERAS DE SERVIÇO.

Considerando-se que a comunidade  de Cristo é uma comunidade da cruz, portanto marcada pelo sacrifício, serviço e sofrimento, isto se refletirá em todas as esferas da nossa vida.

Þ     No lar.

A cruz deve marcar nosso relacionamento no lar – Ef 5,25-29. Os maridos devem amar suas esposas com o mesmo amor que Cristo demonstrou pela Igreja. As esposas devem reconhecer a “chefia” que Deus deu aos maridos e submeter-se a eles. Mas a qualidade do amor autodoador exigido dos maridos é ainda mais difícil – amar a ponto de dar sua vida pela esposa.

·         O amor é auto – sacrifical  - "Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela," (Ef 5,25);
·         O amor é construtivo – “para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra, para apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível.” (Ef 5,26-27);
·         O amor é protetor e cuidador – “Assim os maridos devem amar as suas mulheres, como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Certamente, ninguém jamais aborreceu a sua própria carne; ao contrário, cada qual a alimenta e a trata, como Cristo faz à sua Igreja”. (Ef 5-28-29).

Þ     Na Igreja.

Os cristãos devem amar uns aos outros. Esse amor sempre se expressa em altruísmo, olhando para os interesses dos outros. Essa foi a atitude de Cristo. Lembremos que nosso companheiro cristão é “irmão” por quem Cristo  morreu, e assim jamais desprezaremos seu bem estar e sempre procuremos servi-lo.

Þ     No mundo.

Lembremos que, assim como Cristo foi enviado ao mundo, ele também nos envia a nós. A essência do amor verdadeiro é ação prática em favor do próximo. O amor alimenta os famintos, abriga os desamparados, ajuda os destituídos, oferece companhia aos solitários, conforta os tristes – Jo 3,16-18.

CONCLUINDO

O que se pode concluir de tudo isso é que a cruz de Cristo é tanto uma chamada para a autonegação quanto para a auto-afirmação, porém muito mais ainda ela é um incentivo ao serviço de amor. A maneira como Cristo aceitou voluntariamente a morte, e morte para a pior espécie de criminoso, é um poderoso motivador para que tenhamos seu mesmo sentimento e atitude – Fl 2,5-8.

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