domingo, 5 de agosto de 2012

DOUTRINA DO ESPIRITO SANTO - LIÇÃO 13 – OS DONS DE MINISTÉRIO.

 

 

Há muitos anos, ouvi uma historinha, para crianças, sobre dois patinhos que por engano, nasceram e foram criados com uma galinha. Como era de se esperar, tanto eles como sua mãe adotiva eram frustrados e isso acabava entristecendo toda a família. Por mais que todos se esforçassem eles estavam sempre infelizes, porque nasceram patos, mas estavam sendo educados como frangos.


Mas um belo dia enquanto passeavam em volta de um lago, resolveram entrar e então, com muito entusiasmo exclamaram: “Que bom! Que bom! Descobrimos, foi pra isso que gente nasceu; é por isso que nossas patinhas são assim como leques. Que gostoso!”.

Assim também aconteceu conosco. O nosso Deus nos criou em Cristo Jesus com certas capacidades (dons) que quando exercitadas adequadamente trarão alegrias para Deus,  para outros e para nós mesmos – “Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua lei está dentro do meu coração.” (Sl 40,8). Queremos ajuda-lo a compreender melhor seu lugar no Corpo de Cristo e os dons aqui apresentados.

I.                  O DOM DE APOSTOLO –  (Ef 4,11; 1Cor 12,28).

O termo grego aqui empregado quer dizer: alguém enviado com uma missão. Segundo o Dr. John Stott, tem três significados principais no 2.º Testamento, a saber.
  • O cristão como enviado: Uma só vez parece que a palavra “apostolo” é aplicada a todo cristão individual, em Jo 13,16 – “Em verdade, em verdade vos digo: Não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou.” Assim, todo cristão é tanto um servo como um apóstolo. O verbo apostello significa enviar, e todos os cristãos são enviados ao mundo como embaixadores e testemunhas de Cristo – “De sorte que somos embaixadores por Cristo, como se Deus por nós vos exortasse. Rogamo-vos, pois, por Cristo que vos reconcilieis com Deus.” (2Cor 5,20; “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samária, e até os confins da terra.”(At 1,8) – para participar da missão apostólica de toda a Igreja – “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviarei ao mundo.”(Jo 17,18); “Disse-lhes, então, Jesus segunda vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós.”(Jo 20,21). Este não pode ser o significado em Ef 4,11 – “E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres.” – e 1Cor 12,28 – “E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro mestres, depois operadores de milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas.” – pois neste sentido, todos os cristãos seriam apóstolos, ao passo que Paulo escreve que Cristo concedeu apenas “uns” para serem apóstolos.
  • Mensageiros enviados: A palavra é usada por Paulo pelo menos duas vezes para descrever os apóstolos das igrejas, em 2Cor 8,23 –“Quanto a Tito, ele é meu companheiro e cooperador para convosco; quanto a nossos irmãos, são mensageiros das igrejas, glória de Cristo.” – e Fp 2,25 – “Julguei, contudo, necessário enviar-vos Epafrodito, meu irmão, e cooperador, e companheiro nas lutas, e vosso enviado para me socorrer nas minhas necessidades.” – Neste caso, são mensageiros enviados por uma igreja como missionários ou com alguma outra incumbência.
  • Apóstolo de Cristo que eram testemunhas oculares do Senhor ressurreto: O dom do apostolado, tão em destaque aqui, como também em 1Cor 12,28 – “E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro mestres, depois operadores de milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas.” – (primeiramente apóstolos), deve referir-se aos apóstolos de Cristo, um grupo muito pequeno e distintivo, que consistia nos doze, inclusive Matias, que substituiu Judas – “At 1,15-26” – Paulo, Tiago – “Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos da Dispersão, saúde.” (Tg 1,1) – Possivelmente escolhidos e autorizados por Jesus, tinham de ser testemunhas oculares do Senhor ressurreto (At 1,21.22; 10,40-41; 1Cor 9,1; 15,8-9). Deve ser neste sentido que Paulo esta usando a palavra em Efésios referindo-se a si mesmo – “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, aos santos que estão em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus.” (Ef 1,1) – e aos seus colegas apóstolos como tendo estabelecido os fundamentos da Igreja – “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo o próprio Cristo Jesus a principal pedra da esquina.” (Ef 2,20); “...o qual em outras gerações não foi manifestado aos filhos dos homens, como se revelou agora no Espírito aos seus santos apóstolos e profetas.”(Ef 3,5) – Neste sentido portanto, não há mais apóstolos; entretanto, podemos afirmar que há pessoas com ministério apostólico, que pode ser caracterizado por exercício de autoridade e liderança sobre um certo número de igrejas, serviço missionário pioneiro e implantação de igrejas.

II.               O DOM DE PROFETA – (Ef 4,11; Rm 12,6; 1Cor 12,10.28; 14,3).

No sentido bíblico primário, o profeta era um porta-voz de Deus – Jr 23,16-32 – Sua palavra deveria ser obedecida por todos os crentes. Neste sentido, assim como no caso dos apóstolos, não há profetas hoje. Senão,teríamos de acrescentar suas palavras à Bíblia, e isso é impossível – “Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos mando.”(Dt 4,2).

Paulo coloca os profetas em segundo lugar, depois dos apóstolos – “E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro mestres, depois operadores de milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas.”(1Cor 12,28), associa apóstolos e profetas como tendo estabelecido o fundamento da Igreja e recebido nova revelação da parte de Deus – “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo o próprio Cristo Jesus a principal pedra da esquina.”(Ef 2,20); “...o qual em outras gerações não foi manifestado aos filhos dos homens, como se revelou agora no Espírito aos seus santos apóstolos e profetas.(Ef 3,5). Já que o fundamento foi lançado e não pode ser mudado, os profetas, assim como os apóstolos não tem sucessores. Mas, segundo alguns autores, não é neste sentido restrito que esta palavra é usada em Efésios, Romanos e 1Corintos, e sugerem os seguintes significados.

  • Uma compreensão renovada da revelação bíblica.
  • Uma capacidade para ler os sinais dos tempos, denunciar os pecados sociais contemporâneos e fazer uma aplicação bíblica pertinente.
  • uma capacidade de trazer aos descrentes a convicção de seus pecados, e aos crentes, edificação, exortação e consolação – “Mas o que profetiza fala aos homens para edificação, exortação e consolação.” (1Cor 14,3); “Depois Judas e Silas, que também eram profetas, exortaram os irmãos com muitas palavras e os fortaleceram.” (At 15,32).
  • “Pronunciamento profético”: Há uma posição adotada que afirma que Deus ainda levanta profetas e profetisas hoje, que falam diretamente em Seu nome e sob Sua inspiração. Neste caso, o Dr. Stott aconselha que estes chamados “pronunciamentos proféticos” nunca podem ter um valor mais do que local e limitado, que devem sempre ser cuidadosamente testados pelas Escrituras e pelo caráter conhecido  de quem fala – “Não extingais o Espírito; não desprezeis as profecias...” (1Ts 5,19-20); “E falem os profetas, dois ou três, e os outros julguem. Se alguém se considera profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor.” (1Cor 14,29.37).

A Igreja e toda a sociedade carecem de profetas de Deus que proclamem Sua Palavra no poder do Espírito e que possam dizer com autoridade: “assim diz o Senhor” e deste modo refrear a corrupção – “Onde não há profecia, o povo se corrompe; mas o que guarda a lei esse é bem-aventurado.” (Pr 29,18).

III.           O DOM DE EVANGELISTA – (Ef 4,11; 2Tm 4,5).

O termo evangelista vem de uma palavra grega que significa aquele que anuncia boas noticias. Aparece  somente três vezes no 2.º Testamento (Ef 4,11; At 21,8, a respeito de Felipe, e em 2Tm 4,5, a respeito do próprio Timóteo).

Tomando o apostolo Paulo como exemplo de evangelista, este dom parece ser assim caracterizado.

  • Compaixão especial pelos pecadores perdidos – “...e ai de mim, se não anunciar o evangelho!” (1Cor 9,16c).
  • Facilidade e espontaneidade na abordagem das pessoas – “At 17,22-31”.
  • Resultado extraordinários como fruto da pregação. -  “Crispo, chefe da sinagoga, creu no Senhor com toda a sua casa; e muitos dos coríntios, ouvindo, criam e eram batizados.” (At 18,8); “E muitos dos que haviam crido vinham, confessando e revelando os seus feitos. Muitos também dos que tinham praticado artes mágicas ajuntaram os seus livros e os queimaram na presença de todos; e, calculando o valor deles, acharam que montava a cinqüenta mil moedas de prata. Assim a palavra do Senhor crescia poderosamente e prevalecia.” (At 19,18-20).

IV.             O DOM DE PASTOR – (Ef. 4,11).

O dom de pastor é caracterizado por alguém que foi capacitado por Deus a:

  • Ter um cuidado especial por vidas – “Obedecei a vossos guias, sendo-lhes submissos; porque velam por vossas almas como quem há de prestar contas delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil.” (Hb 13,17);
  • Fazer uso de uma sabedoria pacificadora – “Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia.” (Tg 3,17);
  • Ser um ouvinte atencioso e paciente – “Sabei isto, meus amados irmãos: Todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar e tardio para se irar.” (Tg 1,19);
  • Preencher as condições bíblicas para o exercício do pastorado – 1Tm 3,1-7; Tt 1,5-9; 1Pd 5,13;

Bispos e presbíteros são termos  correspondentes a pastores nestes textos citados – “De Mileto mandou a Éfeso chamar os anciãos da igreja. Cuidai pois de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele adquiriu com seu próprio sangue.” (At 20,17.28) onde os três termos – pastor, bispo e presbítero – são usados para as mesmas pessoas.

No 2.º Testamento, somente aqui – “E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres,” (Ef 4,11), aparece o termo pastor de ovelhas ligado intimamente com a tradição vetero-testamentária desta palavra.

V.                O DOM DE MESTRE – (Ef 4,11; Rm 12,7; 1Cor 12,28).

Temos que reconhecer que embora todo padre deve ser um mestre, tendo o dom de ministrar a Palavra de Deus ao povo, nem todo mestre cristão é também um padre. Por isso, consideremos estes dois dons em separado.

Se observarmos atentamente, perceberemos que os cinco dons considerados no texto básico da lição têm alguma relação com o ministério de ensino; o qual também é citado em Rm 12,7 – “Se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino.”; e 1Cor 12,28 – “E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro mestres, depois operadores de milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas.”.

A palavra grega usada em Ef 4,11 significa instrutor. Depois que o evangelho é pregado e as pessoas são convertidas, elas precisam ser ensinadas – “E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.” (Mt 28,18-20). Ensinar é simplesmente uma capacidade de firmar na vida de cristão, o conhecimento da Palavra de Deus e a sua aplicação em seu pensar e agir, com o objetivo de que sejamos conformes à imagem de Jesus – “...até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo.” (Ef 4,13).

As varias menções no 2.º Testamento evidenciam que os cristãos primitivos priorizavam o ensino, mas para efeito de consulta quero mencionar apenas At 13,1 – “Ora, na igreja em Antioquia havia profetas e mestres, a saber: Barnabé, Simeão, chamado Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes o tetrarca, e Saulo.” – onde os mestres aparecem como figuras de destaque na igreja de Antioquia, que, alias, é citada como modelo em vários aspectos.

Se o próprio Jesus e a Igreja primitiva deram tanto importância ao ensino da Bíblia, a Igreja dos nossos dias precisa esmerar-se nisto também, pois atualmente, devido ao grande crescimento numérico dos evangélicos e das “novidades teológicas” que vem junto, nós temos uma enorme carência de mestres da Bíblia aquecidos pelo fogo do Espírito Santo – “Jesus, porém, lhes respondeu: Errais, não compreendendo as Escrituras nem o poder de Deus.”

CONCLUINDO


Se você está se perguntando: “O que eu tenho a ver com isso?” sugiro três possíveis respostas.

  1. Pode ser que Deus lhe tenha dado algum destes dons ou ministérios atuais correspondentes. Neste caso, você precisa obedecer.
  2. A Bíblia nos ordena que sustentemos (em todos os sentidos) os que foram chamados para lidar a igreja. Você pode interceder – “e por mim, para que me seja dada a palavra, no abrir da minha boca, para, com intrepidez, fazer conhecido o mistério do evangelho.”(Ef 6,19), apoiar – “Só Lucas está comigo. Toma a Marcos e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério.”  (1Tm 4,11) e contribuir financeiramente – “Todavia fizestes bem em tomar parte na minha aflição. Também vós sabeis, ó filipenses, que, no princípio do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja comunicou comigo no sentido de dar e de receber, senão vós somente; porque estando eu ainda em Tessalônica, não uma só vez, mas duas, mandastes suprir-me as necessidades. Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que cresça para a vossa conta. Mas tenho tudo; tenho-o até em abundância; cheio estou, depois que recebi de Epafrodito o que da vossa parte me foi enviado, como cheiro suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus.” (Fp 4,14-18).
  3. Aprenda com aqueles que Deus colocou em posição de liderança e obedeça-os: “Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos falaram a palavra de Deus, e, atentando para o êxito da sua carreira, imitai-lhes a fé. Obedecei a vossos guias, sendo-lhes submissos; porque velam por vossas almas como quem há de prestar contas delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil.” (Hb 13,7.17)

Marco Antonio Lana (Teologo)

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