sexta-feira, 21 de maio de 2021

Suicídio e salvação: Quem se suicida poderá ser salvo?

 


(1) Não existe nenhuma passagem na Bíblia que fale diretamente sobre o suicídio. O que sabemos, e é evidente, é que o suicídio é um pecado e se enquadra em Êxodo 20:13: “Não matarás”. Aquele que se suicida mata a si mesmo, portanto, quebra o sexto mandamento.

(2) Ao mesmo tempo, devemos também pontuar aqui (não diminuindo a importância do pecado do suicídio), mas devemos pontuar que a Bíblia afirma que existe apenas um pecado que é imperdoável, que é a blasfêmia contra o Espirito Santo (Mateus 12:31). Sendo assim, podemos já chegar a uma primeira conclusão: o suicídio é um pecado perdoável, pois em nenhum texto bíblico é apontado como imperdoável. Mas aqui cabem algumas considerações importantes:


Quando quem não conhece a Cristo se suicida

A Bíblia afirma claramente que todos aqueles que não se renderam a Jesus Cristo, que não creram nele, estão condenados ao sofrimento do inferno, da eterna distância de Deus: “Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado” (Marcos 16:16). Isso significa que uma pessoa que se suicida e não tem Cristo como seu Senhor e Salvador, continuará perdida após a morte. O sofrimento dessa pessoa continuará, não se findará com a sua morte. Daí a importância de ajudarmos pessoas que estão dando sinais de que podem se suicidar a caminharem em direção a Cristo, que pode mudar totalmente suas vidas e tirar do coração delas qualquer desejo suicida. Além, é claro, da ajuda médica que se faz necessária em muitos dos casos.


Quando quem conhece a Cristo se suicida

Seria possível uma pessoa que conhece a Cristo pensar em suicídio? Penso que sim! Temos casos na Bíblia de servos de Deus que à beira de situações desesperadoras pediram para si a morte. Elias quis morrer quando perseguido por Jezabel (1 Reis 19:4). Moisés também chegou a perdir para Deus a morte (Números 11:15). Isso aconteceu também com Jonas, mas por um motivo mais fútil (Jonas 4:3). É claro que eles não pensaram em se suicidar (matar-se com as próprias mãos), mas pediram a Deus que os levasse, ou seja, queriam morrer.


Não podemos negar que existem fatores que podem levar servos de Deus a pensar no suicídio, enumero alguns: momentos crônicos de flutuabilidade da fé; desespero por situações difíceis da vida; distância de Deus; vida de pecado; grandes perdas, etc. Mesmo servos fiéis a Deus podem passar por esse tipo de momento. Quero pontuar aqui também os problemas mentais. É possível que haja desequilíbrios mentais que tirem o discernimento da pessoa e a leve a cometer um ato como esse. Uso de medicamentos. Alguns medicamentos alteram fortemente o funcionamento cerebral e podem levar pessoas a cometer atos errados sem estar totalmente conscientes disso. 


Enfim, essas possibilidades existem. A maioria delas não justifica a pessoa se suicidar, mas são casos possíveis de acontecer. Não quero aqui dar qualquer justificativa ao suicídio, mas a realidade é que esses casos existem devido à complexidade do coração humano e também, claro, a sua pecaminosidade que, mesmo em servos de Deus, pode aflorar em alguns momentos. Da mesma forma que um servo de Deus pode pecar gravemente num momento de ira descontrolada, por exemplo, outro poderá atentar contra a própria vida em momentos parecidos. O problema é que o suicídio é definitivo.


Imaginemos uma situação:


Luiz é um servo de Deus, converteu-se a Cristo em sua adolescência. Logo recebeu o chamado missionário e começou a fazer missões urbanas. Luiz casou-se e teve 3 filhos. A pressão do trabalho missionário, da família, a absorção dos problemas das pessoas que o procuravam para aconselhar-se e a solidão do seu trabalho diário, levou Luiz a um quadro de depressão. Porém, a igreja que apoiava Luiz sempre acreditou que depressão era frescura, que era falta de fé, falta de vida com Deus. Luiz, então, cada vez mais se isolava e não encontrava o apoio que precisava para superar suas dificuldades. Um dia a pressão foi tanta e o apoio foi tão pequeno que, no desespero, num ato impulsivo, Luiz se jogou de uma ponte.

Aqui entra minha pergunta: Luiz está no céu com o Senhor? Ao que tudo indica, os frutos de sua vida com Deus antes dele adoecer sempre foram notórios. Seu trabalho, sua maneira de viver, sua família, sempre demonstraram que Luiz era um cristão fiel a Deus e com o coração na obra. Ele teve apenas um momento em sua vida onde adoeceu sem seus sentimentos e não teve apoio. Não temos elementos para dizer que Luiz não foi salvo especificamente por causa do ato que cometeu. Se ele foi alcançado pela graça ainda quando jovem, essa mesma graça o conduziu à presença do Pai para gozar a sua salvação, ainda que ele tenha errado.


No entanto, quero deixar registrado que a salvação de uma pessoa pode até ser questionada por nós, porém, somente Deus tem a palavra final, somente Deus vê o coração e sabe os pormenores de cada vida!


(3) Sendo assim, creio de forma clara que a Bíblia não nos autoriza a pensar que um servo fiel a Deus possa perder a sua salvação por conta de ter cometido o pecado do suicídio. Deus o conduz a salvação, pois a salvação não é por obras nossas, mas pela graça de Deus (Efésios 2:8-9). Dessa forma, não posso admitir que um servo fiel a Deus, que recebeu o Senhor Jesus e foi selado pelo Espírito Santo da promessa (Efésios 1:13), mas que, por algum desequilíbrio em sua vida acabou atentando contra a sua própria vida, possa perder o bem mais precioso que Deus lhe deu, a sua salvação. Não estou admitindo aqui que o pecado seja algo sem importância na vida de alguém! Estamos falando de um desequilíbrio momentâneo grave na vida de alguém que o levou a um pecado que não lhe dá a oportunidade de mudança, de consertar aquela área específica de sua vida. Todos nós servos de Deus iremos morrer com áreas de nossas vidas em que pecamos, em que ainda lutávamos para aprimorar a santificação. É por isso que o mérito de nossa salvação é de Cristo e não nosso. Se fosse nosso estaríamos perdidos. Ainda não conheci uma pessoa que seja perfeita em todos os seus caminhos!


(4) Alguns utilizam erradamente o texto de 1 Coríntios 3:17 para firmar que Deus vai destruir todos que se suicidarem. Vejamos o texto:  “Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado”. Porém, uma análise do contexto nos permite concluir que esse “santuário de Deus” que é citado não se trata do corpo físico de uma pessoa, mas está relacionado ao que diz o verso anterior, o verso 16, onde é dito que “sois santuário de Deus”, ou seja, está tratando as pessoas no plural em clara referência a igreja de Cristo (que são os servos Dele) e não a um indivíduo isolado.  Sendo assim, esse texto está falando de pessoas que atentam contra a igreja de Cristo, trazendo destruição a ela. Essas sofrerão juízo severo. De forma alguma esse texto aponta para um caso de suicídio.

O papel de cada um

Creio que a despeito de toda essa discussão teológica, fique evidente que dentre essas 1 milhão de pessoas que deverão se suicidar nesse ano, muitas delas estão muito próximas de nós, dando sinais, pedindo ajuda, batendo à nossa porta, buscando alívio para suas dores. O nosso papel é oferecer conforto, oferecer o ombro amigo, a ajuda necessária que elas precisam para desistir dessa prática terrível e viver uma vida que Deus deseja para elas. Elas precisam ser ouvidas, precisam ser curadas e cada um de nós tem um papel importante nessa cura, que precisamos exercer.

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