sábado, 17 de março de 2012

SERMAO DA MONTANHA - LIÇÃO 06 – O ATO DE RECONCILIAÇÃO DO CRISTÃO


“Mas eu vos digo: todo aquele que se irar contra seu irmão será castigado pelos juízes. Aquele que disser a seu irmão: Raca, será castigado pelo Grande Conselho. Aquele que lhe disser: Louco, será condenado ao fogo da Geena” Mc 5,22.

  1. INTRODUÇÃO.

Na ultima parte de Mt 5, Jesus apresenta cinco exemplos de como as tradições e interpretações superficiais dos fariseus haviam corrompido os ensinos da lei e dos profetas.

Em cada caso, Jesus corrige a artimanha, enquanto realça os princípios espirituais. Nas duas primeiras ilustrações, Jesus realça seu ensino sobre o sexto e o sétimo dos dez mandamentos, que proíbem o homicídio e o adultério. Jesus eleva a conduta cristã como um ideal muito acima do da conduta que se pregava nas sinagogas. A nova lei é mais pura e mais exigente que a antiga.

No primeiro exemplo de novos princípios do reino, Jesus demonstra à sua altíssima apreciação pela vida e pela reconciliação entre os irmãos. Vejamos como Jesus torna pequena a divisão entre assassinato e ira, e convoca a nova comunidade a uma posição mais abrangente sobre essas questões.

  1. O AUTOCONTROLE DEVE VENCER A IRA PROIBIDA – Mt 5,21-22.

A lei mosaica proibia matar, isto é, cometer homicídio – “Não matarás.” Ex 20,13; Dt 5,17, no entanto ordenava a morte como forma de pena capital e como forma de exterminar as corruptas tribos pagãs que estavam na terra prometida – “E enviarei um anjo adiante de ti (e lançarei fora os cananeus, e os amorreus, e os heteus, e os perizeus, e os heveus, e os jebuseus),” Ex 33,2. Era uma ordem circunscrita à nação de Israel, que com certeza foi abolida pelo evangelho, espelhando a vontade de Deus desde o principio – “Todo aquele que derramar o sangue humano terá seu próprio sangue derramado pelo homem, porque Deus fez o homem à sua imagem.” Gn 9,6. Não nos esqueçamos, no entanto, que Deus deu ao Estado o direito de responsabilidade de punir os malfeitores – “Cada qual seja submisso às autoridades constituídas, porque não há autoridade que não venha de Deus; as que existem foram instituídas por Deus.” Rm 13,1.

Os escribas e fariseus achavam que não contendo homicídio estavam cumprindo todo o sexto mandamento. Jesus discordou, pois para Ele a proibição incluía pensamentos e palavras, a cólera, os insultos, além, é claro, do próprio homicídio.

“Mas eu vos digo.” – Mt 5,22 – mostra a radicalização que Jesus fez desse mandamento. Os discípulos de Jesus não somente não devem praticar o homicídio, como nem mesmo devem da lugar à cólera por meio do qual poderiam destruir o irmão. A ira percebe o homicídio e é destruidora das relações.
“Renunciai à vida passada, despojai-vos do homem velho, corrompido pelas concupiscências enganadoras. Renovai sem cessar o sentimento da vossa alma, e revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade. Por isso, renunciai à mentira. Fale cada um a seu próximo a verdade, pois somos membros uns dos outros. Mesmo em cólera, não pequeis. Não se ponha o sol sobre o vosso ressentimento. Não deis lugar ao demônio”. – Ef 4,22-27.

Vejamos as conseqüências da ira não controlada em Mt 5,22.

a)    Quem se irar contra seu irmão será réu de juízo – A cólera, que pode induzir ao assassinato, é uma ação tão criminosa quanto ao assassino.

b)   Quem disser ao seu irmão: “tolo”, será réu do conselho do sinédrio – O termo usado aqui é “raça”, no grego, que significa imbecil, louco, insensato. “Quem odeia seu irmão é assassino.” – 1Jo 3,15ª.

c)    Quem disser ao seu irmão: “louco”, será réu de fogo do inferno – A palavra “louco” tem o sentido de renegado ou condenado.

Assim Jesus ampliou o sexto mandamento. Mostrou que a intenção que provoca o ato físico é passível da mesma condenação que o próprio ato. Em todos os seus graus de intensidade, ficam vedadas expressões e mesmo intenções que não contribuem para o bem-estar dos irmãos.

  1. A RECONCILIAÇÃO DEVE PRECEDER A ADORAÇÃO E O JUIZO – Mt 5,23-26.

O oposto da ira e do homicídio é a reconciliação com o irmão, a restauração de relações sadias na família de Deus. Prestar o verdadeiro culto a Deus é uma tarefa do reconciliado.

Vejamos dois conselhos quanto a essa questão por John Driver:

a)    Tão logo um irmão se dê conta da sua ofensa, que trate de reconciliar-se com seu irmão, não importando que esteja no momento mais alto do culto, porque o culto autêntico somente é possível numa comunidade de irmãos reconciliados – “Se estás, portanto, para fazer a tua oferta diante do altar e te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; só então vem fazer a tua oferta.” Mt 5,23-24.

b)   As ofensas devem ser esclarecidas, confessadas e perdoadas de modo concreto e sem demora. Tomar logo a iniciativa para uma reconciliação pode evitar que a situação criada pela ofensa se degenere ainda mais e o conflito seja mais grave – “Mesmo em cólera, não pequeis. Não se ponha o sol sobre o vosso ressentimento. Não deis lugar ao demônio”. Ef 4,26-27.

A rápida solução de desavença evita que estas floresçam e dêem sua colheita amarga. De outra forma, permitir que passem de um dia para outro é dar oportunidade ao diabo e ao pecado. Se queremos evitar o homicídio perante Deus, devemos tomar todas as possíveis medidas positivas para viver em paz e em amor com todos os homens.

Num sentido mais avançado, devemos, também, entrar em acordo com Deus. Ele é o Juiz e o Justificador. Ele impõe a nós as condições, e Ele dirige o tribunal dos Céus e da Terra.

  1. CONCLUSÃO.

Jesus não anulou o sexto mandamento “não cometerá homicídio”, pelo contrario, ampliou-o, elevando-o até os nossos sentimentos coléricos e palavras da maldição. O cristão tem os recursos para amar – “Amai-vos mutuamente com afeição terna e fraternal.” (Rm 12,10ª), abençoar – “Abençoai os que vos perseguem. (Rm 12,14ª), exortar – “Saiamos, pois a ele fora do arraial, levando o seu opróbrio.” (Hb 13,13), estimular as boas obras, consolar – “Assim, pois, consolai-vos mutuamente e edificai-vos uns aos outros, como já o fazeis.” (1Ts 5,11), perdoar – “Perdoai-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou, em Cristo.” (Ef 4,32b) e viver em paz com todos os homens – “Se for possível, quanto depender de vós, vivei em paz com todos os homens.” (Rm 12,18).

Esse é o caminho da autonegação, o caminho da cruz. Ter recursos para matar, maldizer e irar-se, mas abrir Mao em obediência. Aquele que abriu Mao da própria vida em nosso sentimento que houve em Cristo Jesus.

“Dedicai-vos mutuamente a estima que se deve em Cristo Jesus. Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz.” (Fl 2,5-8).


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