quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Quem escolheu Saul como rei Deus ou o povo?

E disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações. Porém esta palavra pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei, para que nos julgue. E Samuel orou ao Senhor. E disse o Senhor a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te têm rejeitado a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles. - 1 Samuel 8.5-7


Não se pode pinçar um texto da Bíblia, sem respeitar o contexto, o período histórico em que foi escrito, a trajetória dos personagens envolvidos. Nem tudo é claro nas passagens bíblicas, razão porque a interpretação gera uma série de doutrinas, religiões e seitas. Se você for examinar, até as coisas mais bizarras, mais esquisitas, usam um texto bíblico como fundamento. Até o dançar com serpentes baseia sua fé no texto de Marcos, por mais que não tenha qualquer justificativa minimamente sensata.

Israel era regida por juízes, não havia governantes humanos, o que se praticava era a Teocracia, que é o sistema de governo em que todas as ações são submetidas a Deus, ou às normas de alguma religião. Quando o poder central é exercido pelos clérigos (que são os cidadãos que pertencem a alguma ordem sacra) de alguma religião, costuma se chamar a isso de clerocracia. No caso de Israel, a Teocracia foi implantada desde sua saída do Egito, primeiro foi Moisés, Josué e depois deles foram os juízes, que julgavam as causas, as divergências de cidadania e falavam com Deus, eles eram os canais de Deus com o Seu povo, por assim dizer.

Pois bem. Samuel era profeta, mas também era o juiz de Israel e como Samuel envelheceu e já não podia suportar a dura jornada, seus filhos foram constituídos juízes sobre Israel e o problema começou bem aí. Os filhos de Samuel, Joel e Abia, não eram fiéis a Deus, não andaram nos caminhos de seu pai e isso deixou o povo descontente.

Os anciãos de Israel foram falar com Samuel e disseram a ele que os filhos dele não estavam agradando a congregação e que eles queriam agora um rei de verdade, que reinasse sobre eles e julgasse suas causas, do jeitinho que acontecia com as outras nações. Samuel levou para o lado pessoal e ficou bravo mesmo, mas como servo de Deus inteligente, ele foi se queixar com Deus e o Senhor disse a Samuel: “Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te têm rejeitado a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles.”(1 Samuel 8:7).

Deus que vê o coração do homem sabia que a rejeição de Israel não era com Samuel e que a conduta pecaminosa de seus filhos era apenas a desculpa que precisavam para a reivindicação que fizeram. Mesmo assim, Deus mandou Samuel voltar aos anciãos e alertá-los sobre o que significava ter um rei sobre eles, que este rei iria tomar seus filhos para servi-lo, que suas filhas seriam cozinheiras do rei, que de tudo o que houvesse de melhor em suas terras, nas suas vinhas, dos seus rebanhos seriam do rei e que eles iriam se arrepender e clamariam a Deus sobre o rei que escolhessem e que Deus não os ouviria.

As advertências de Samuel de nada adiantaram, o povo estava firme no propósito de ter um rei, e mais, eles queriam ser como as outras nações e disseram a Samuel: “Não, mas haverá sobre nós um rei. E nós também seremos como todas as outras nações; e o nosso rei nos julgará, e sairá adiante de nós, e fará as nossas guerras.” (1 Samuel 8:19-20). Estava claro que o povo de Israel estava deslumbrado com a ideia de ter um rei, eles queriam ser iguais às outras nações, queriam o status de súditos. Grande coisa!

Samuel contou tudinho ao Senhor (como se fosse preciso), mas ele precisava desabafar, tudo bem. Deus disse que Samuel constituísse um rei para Israel e Samuel despediu o povo, que fossem de volta às suas cidades.

Muito bem. O povo queria um rei que lhes agradasse, estava claro. Os israelitas queriam um guerreiro, um cara de bela figura para ostentar às nações vizinhas. Deus disse sim ao povo, faria a vontade deles.

Havia um homem da tribo de Benjamim, chamado Quis, que era poderoso e ele tinha um filho, cujo nome era Saul e Saul servia como luva à vontade dos israelitas, ele era moço e tão belo que não havia outro igual em toda Israel e que se sobressaía, dos ombros para cima, a todo o povo, ou seja, era alto.

Um dia se perderam as jumentas de Quis e ele mandou Saul e um servo procurarem as jumentas e eles foram, mas não acharam as jumentas e já estava bem tarde, então eles passaram pela cidade de Samuel e o servo perguntou por que eles não paravam um instante na casa do “vidente”. Era assim que chamavam os profetas: videntes. Saul aceitou e foram ter com Samuel. Foi assim que Samuel viu pela primeira vez o futuro rei de Israel, por causa de umas jumentas perdidas.

Na véspera Deus havia avisado Samuel que um homem de Benjamim iria vê-lo e que ele deveria ungir aquele homem capitão sobre o Seu povo, porque ele livraria Israel das mãos dos filisteus, porque o povo estava clamando libertação dos filisteus e este homem dominaria sobre o Seu povo.

Quando Saul apareceu diante de Samuel, este já sabia que ali estava o futuro rei de Israel, o rei escolhido por Deus de acordo com o desejo do coração dos israelitas. Como sabemos que Saul era o desejo do coração do povo judeu? Tem algum versículo que fala isso? Não, nenhum versículo, apenas a dedução que se faz a partir do contexto, a partir do pedido dos anciãos. Vamos ver?

Use sua inteligência. O povo não queria mais os juízes e não tinha nada haver com os infiéis filhos de Samuel, tinha haver com as nações ímpias que cercavam Israel. Eles tinham reis que os lideravam nas batalhas e isso encheu o coração dos judeus de vontade de também ter um rei a quem se inclinar.

Se Deus tivesse escolhido um homenzinho nanico, feinho, coxo, ele não seria aceito pelo povo, que queria ostentar um rei para as outras nações. Deus escolheu um rei que enchia os olhos de qualquer um, um cara alto e belíssimo. Se fosse o contrário e Deus tivesse separado para reinar sobre Israel um cidadão meia sola, além do povo não aceitá-lo, ainda iria murmurar contra Deus, diriam que Deus estava fazendo pirraça, porque não seria um rei, seria um acinte, um desaforo. As nações em volta iriam rir deles e eles sofreriam bulling de rei.

A escolha não era de Deus, era do povo judeu. Não foi Deus quem disse que não queria mais reinar sobre eles, foram eles que deram o cartão vermelho para Deus, então o rei teria de agradar ao coração dos insensatos israelitas.

Samuel ungiu Saul capitão sobre o povo de Israel, do jeitinho que Deus tinha mandado: “Então tomou Samuel um vaso de azeite, e lho derramou sobre a cabeça, e beijou-o, e disse: Porventura não te ungiu o SENHOR por capitão sobre a sua herança?”(1 Samuel 10:1). Além de ungir Saul, Samuel disse tudo o que ele encontraria pelo caminho e até que as jumentas do pai dele já tinham sido achadas.

Samuel convocou o povo judeu a Mizpá, todas as tribos se juntaram diante do Senhor e disse Samuel: “Assim disse o SENHOR Deus de Israel: Eu fiz subir a Israel do Egito, e livrei-vos da mão dos egípcios e da mão de todos os reinos que vos oprimiam. Mas vós tendes rejeitado hoje a vosso Deus, que vos livrou de todos os vossos males e trabalhos, e lhe tendes falado: Põe um rei sobre nós. Agora, pois, ponde-vos perante o SENHOR, pelas vossas tribos e segundo os vossos milhares.” (1 Samuel 10:18-19). Havia um ritual a ser feito e assim Samuel fez chegar todas as tribos separadamente diante do Senhor e separou a tribo de Benjamim e fez passar Benjamim por suas famílias e separou a família de Matri e dela tomou a Saul, filho de Quis. Só teve um probleminha, não acharam Saul de jeito nenhum. Foi preciso perguntar ao Senhor se Ele tinha certeza que o homem era Saul, porque ele não estava ali.

Veja só. Israel queria um rei, Deus concordou, escolheu Saul e Saul tomou doril, sumiu, mas Deus respondeu na hora e disse: “Eis que se escondeu entre a bagagem.” (1 Samuel 10:22b). O futuro rei de Israel estava escondido, com medo, sem entender direito o que significava tudo aquilo, mas os homens foram lá carregaram Saul e o colocaram no meio do povo e ele era mais alto que todo mundo.

Depois que acharam o homem disse Samuel a todo o povo: “Vedes já a quem o SENHOR escolheu? Pois em todo o povo não há nenhum semelhante a ele.”(1 Samuel 10:24b). O povo gostou dele, era um homem vistoso, não era muito valente, mas com isso o povo podia conviver e depois ele se ajeitaria, o importante é que eles já tinham um rei e todo o povo se jubilou, se alegrou muito e gritaram: Viva o rei!

Samuel declarou ao povo o direito do reino e escreveu num livro que foi posto diante do Senhor e, então, ele despediu o povo que voltou cada um para sua casa, inclusive o novo rei, foi para a casa dele, mas Deus moveu o coração de alguns homens do exército de Israel, que seguiram o novo rei. Foi assim que começou a história dos reis de Israel.

A escolha do primeiro rei sobre Israel foi inusitada. Samuel se sentiu pessoalmente ofendido com o desejo do povo de não ter mais juízes, mas sim, UM REI. Samuel não sabia direito lidar com a rejeição, o que ele não entendia era que a rejeição não era a ele, era a Deus, o Rei que reinava por sobre todo o Israel até então.

O rei teria de agradar ao povo, lembre-se que rebeldia era a especialidade do povo hebreu desde sua saída do Egito. Eles não aceitariam menos que o melhor e Samuel disse isso claramente: “Pois em todo o povo não há nenhum semelhante a ele.” A prova que o povo queria apenas a bela aparência do novo rei, é que eles não se importaram que o novo rei estivesse escondido na bagagem, encolhidinho, com medo. Com a covardia do novo rei eles podiam lidar, mas se o rei fosse aparentemente um Zé Mané, a coisa tinha ficado feia mesmo, mas era o belo rei Saul e isto bastava para rejubilar o coração do povo.


É evidente que a escolha foi feita pela figura de Saul e isso acontece conosco até os dias de hoje. Somos tentados a julgar pela aparência, somos atraídos pelo belo, ainda que o belo seja um sapo em forma de príncipe. O que vale para o mundo, para a sociedade é o ter, o ser, o poder e nunca o caráter, os princípios, a conduta das pessoas. Somos diferentes e temos de fazer a diferença na vida das pessoas à nossa volta e assim, nossos valores Não podem ser iguais ao povo que vive por conta própria, porque isso pode dar em Saul, ao invés de Davi

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