domingo, 18 de agosto de 2013

JESUS CRISTO - 03 – AS LIMITAÇÕES DE JESUS



03 – AS LIMITAÇÕES DE JESUS

“Então lhes disse: A minha alma está triste até a morte; ficai aqui e vigiai comigo.” (Mt 26,38).

Pode parecer-nos estranho, até mesmo uma blasfêmia, a simples hipótese de que o nosso Senhor Jesus Cristo, que é eternamente Deus, tenha experimentado fraquezas e limitações quando esteve na terra como homem. Mas o fato é que, ao assumir identidade humana, ele se identificou conosco de tal maneira que, inevitavelmente, vivenciou as limitações peculiares à humanidade. Isso não implica que Jesus tenha sido imperfeito (nem como homem, nem como Deus) ou que tenha perdido seus atributos divinos. O que acontece é que Jesus voluntariamente “esvaziou-se”  de poder e glória, passando a depender em quase tudo da orientação do Pai e da capacitação do Espírito Santo.

Jesus Cristo, enquanto homem, teve de aprender tudo aquilo que é necessário para se tornar pessoa normal, madura e equilibrada. E nesse processo de desenvolvimento experimentou todas as dificuldades que um aprendizado acarretam – “...ainda que era Filho, aprendeu a obediência por meio daquilo que sofreu.” (Hb 5,8).

Procuraremos entender melhor a que ponte Ele teve de se humilhar a fim de nos resgatar. E esperamos que essa compreensão fortaleça ainda mais a nossa fé e submissão irrestrita àquele que tanto nos amou.

I – JESUS EXPERIMENTOU LIMITAÇÕES FÍSICAS.

Olhando para o que a Bíblia diz sobre a vida de Jesus , descobrimos muitos argumentos que comprovam sua perfeita humanidade, embora também fosse plenamente Deus. Sendo ele ser humano, estava sujeito às mesmas limitações próprias de nossa natureza.

1 – Seu organismo era limitado.

Embora tenha sido concebido de maneira sobrenatural, a verdade é que sem os nutrientes e o oxigênio recebidos de sua mãe na fase pré-natal, certamente teria perecido (morto). Depois de nascido, precisou de leite, papinha, fruta e etc... como qualquer bebê humano. Precisou de cuidados especiais, de higiene, remédio, agasalho. Ele estava sujeito a se desidratar, ferir, intoxicar, porque seu organismo era absolutamente normal.

2 – Seu corpo era limitado.

Jesus atravessou todas as etapas de desenvolvimento pelas quais passamos. Lucas diz: “E crescia Jesus em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens.”  (Lc 2,52). O fato de sabermos que ele crescia em estatura confirma que seu corpo precisou de se desenvolver, como o de qualquer pessoa. Ele não veio como um “Super-Homem”  à prova de balas. Jesus veio num corpo mortal, precisou ser cuidadoso enquanto manuseava as ferramentas na carpintaria – “Não é este o carpinteiro,” (Mc 6,3) – pois seu corpo poderia ferir tal como acontece conosco – “Porque isto aconteceu para que se cumprisse a escritura: Nenhum dos seus ossos será quebrado.” (Jo 19,36). O sangue derramado no flagelo e na crucificação é a maior prova dessa vulnerabilidade.

Há também aqui dois pontos a considerar, pois se de um lado Jesus diz que seus opositores “tirar-lhe-ão a vida” (Lc 18,33), por outro lado ele também afirma que ninguém a tira, mas, sim, que ele espontaneamente a entrega – “Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho autoridade para a dar, e tenho autoridade para retomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai.” (Jo 10,17-18). A divindade nos desfez a humanidade, nem a humanidade enfraqueceu sua divindade.

3 – Sua resistência era limitada.

Jesus ficava cansado – “achava-se ali o poço de Jacó. Jesus, pois, cansado da viagem, sentou-se assim junto do poço; era cerca da hora sexta.” (Jo4,6), sentia sono – “ele, porém, estava dormindo.” (Mt 8,24), sentia fome e fraqueza – “E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome.” (Mt 4,2), sentia sede – “Veio uma mulher de Samaria tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber.” (Jo 4,7), sentia dor – “Por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta.” (Hb 13,12). Deus tornou-se homem e, na limitação de seu corpo humano, não suportou o tratamento desumano a que foi submetido. Seus órgãos entraram em colapso, e Jesus morreu – “De novo bradou Jesus com grande voz, e entregou o espírito.” (Mt 27,50).

Paulo seguiu o exemplo de Jesus quando disse: “Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco, então é que sou forte.” (2Cor 12,10).

II – JESUS EXPERIMENTOU LIMITAÇÕES INTELECTUAIS.

É bom esclarecermos algo sobre as duas naturezas de Cristo antes de avançarmos, pois é certo que tanto a plenitude da humanidade como a plenitude da divindade estavam presentes na pessoa de Cristo. Estas duas naturezas não estão misturadas nem confundidas de maneira a formar uma terceira natureza, que não é uma nem outra. Pelo contrario, cada uma das naturezas reteve suas próprias características sem mudanças; de modo que em Cristo há inteligência e vontade finitas (natureza humana) e inteligência e vontade infinitas (natureza divina).

Em conseqüência dessa união  de duas naturezas tão distintas, podemos conceber a idéia de que a um só tempo Jesus Cristo foi mortal e imortal, finito e infinito, nascido no tempo e existente desde a eternidade, criatura e Criador, menor que Deus e igual a Deus, limitado e onisciente.

Tendo isso em mente é que analisaremos as limitações experimentadas por Cristo em sua natureza humana.

1 – Conhecimento limitado.

Se por um lado é verdade que Jesus demonstrava um conhecimento extraordinário para os padrões da época, é verdade também que, por vontade própria consentiu que a encarnação lhe privasse do absoluto conhecimento de todas as coisas. Ele conhecia o passado, o presente  e o futuro em grau não permitido a seres humanos comuns. Sabia por exemplo que Lazaro havia morrido – “Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono.” (Jo 11,11); que a mulher samaritana tivera cinco maridos, antes do amante com quem vivia – “...porque cinco maridos tiveste, e o que agora tens não é teu marido; isso disseste com verdade.” (Jo 4,18); conhecia os pensamentos dos amigos – “Mas Jesus, percebendo o pensamento de seus corações,...” (Lc 9,47) e dos inimigos – “Mas ele, conhecendo-lhes os pensamentos, disse ao homem que tinha a mão atrofiada: Levanta-te, e fica em pé aqui no meio.” (Lc 6,8). Mas  que ao esvaziar-se de sua onisciência sujeitou-se até mesmo a uma capacidade intelectual limitada. Jesus mesmo admitiu (como homem) que não sabia de tudo – “Quanto, porém, ao dia e à hora, ninguém sabe, nem os anjos no céu nem o Filho, senão o Pai.” (Mc 13,32). Também o vemos perguntando coisas que seriam desnecessárias se gozasse da plenitude de sua onisciência, porque parcialmente, pelo menos, há mostras de onisciência – “Há quanto tempo sucede-lhe isto?” (Mc 9,21).

2 – Aprendizado limitado.

Ele não nasceu conhecendo tudo, nem aprendeu tudo de uma só vez. Jesus (como criança) precisou aprender uma coisa de cada vez. O fato de ter crescido em sabedoria – (Lc 2,52) significa que lhe passou por um processo de aprendizado normal, assim como todas as crianças – aprendeu a comer, a falar, a andar, a ler e a escrever, a ser obediente aos pais – “...ainda que era Filho, aprendeu a obediência por meio daquilo que sofreu.” (Hb 5,8).

III – JESUS EXPERIMENTOU LIMITAÇÕES EMOCIONAIS.

Ainda que exercesse pleno domínio de suas emoções, Jesus estava exposto à instabilidade humana, que tantas às vezes nos causa transtornos. A diferença é que ele, na força do Espírito Santo , procurava sempre a manter o auto-controle de suas emoções, a fim de não cair em pecado ou desviar-se de seus objetivos.

1 – Jesus sentia tristeza – “E levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se.” (Mt 26,37).

2 – Jesus sentia alegria – “Estas coisas vos tenho dito, para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo.” (Jo 15,11).

3 – Jesus se angustiava – “E, posto em agonia, orava mais intensamente; e o seu suor tornou-se como grandes gotas de sangue, que caíam sobre o chão.” (Lc 22,44)

4 – Jesus ficava irritado – “Então Jesus entrou no templo, expulsou todos os que ali vendiam e compravam, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas; e disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; vós, porém, a fazeis covil de salteadores.” (Mt 21,12-13).

5 – Jesus ficava comovido – “Jesus, pois, quando a viu chorar, e chorarem também os judeus que com ela vinham, comoveu-se em espírito, e perturbou-se. Jesus, pois, comovendo-se outra vez, profundamente, foi ao sepulcro; era uma gruta, e tinha uma pedra posta sobre ela.” (Jo 11,33.38).

6 – Jesus ficava preocupado – “Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo.” (Lc 22,31).

7 – Jesus ficava admirado – “E admirou-se da incredulidade deles. Em seguida percorria as aldeias circunvizinhas, ensinando.” (Mc 6,6).

8 – Jesus sentia compaixão – “Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque andavam desgarradas e errantes, como ovelhas que não têm pastor.” (Mt 9,36).
IV – JESUS EXPERIMENTOU LIMITAÇÕES ESPIRITUAIS.

Como dissemos no inicio deste, poderá parecer estranho a simples hipótese de que Jesus tenha experimentado algumas limitações em decorrência da encarnação, mas a verdade declarada  nas Escrituras é que Jesus, deliberadamente, assumiu todas as limitações que um ser humano vivencia (física, emocional, intelectual e até espiritual) a fim de uma prefeita identificação conosco não obra que se propôs a fazer.

Embora tenha, por vontade própria, abdicado da manifestação de seus atributos divinos, como o propósito de tornar-se um de nós, Jesus ainda permaneceu plenamente Deus, sem nenhuma limitação, no entanto, ao assumir o papel de criatura submeteu-se a restrições nunca antes experimentadas pelo Criador. Na encarnação, Jesus colocou-se, de corpo e alma, sob a autoridade do Pai, tornando-se dependente dele tal qual foi planejado para os remidos do SENHOR. Vamos explicar melhor.

1 – Jesus (como homem) precisou cultivar sua “vida religiosa”.

Apesar de ser filho de Deus e ainda no ventre materno ter sido reconhecido como Deus – “Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, saltou a criancinha no seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo, e exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre! E donde me provém isto, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor? (Lc 1,41-43), desde a infância buscou desenvolver seu relacionamento com o Pai – “E crescia Jesus em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens.” (lc 2,52). Ele participava de cultos na sinagoga e o fazia regularmente – “Chegando a Nazaré, onde fora criado; entrou na sinagoga no dia de sábado, segundo o seu costume, e levantou-se para ler.” (Lc 4,16). Sua vida devocional era uma indicação clara da dependência humana do Pai. Jesus orava com regularidade – “Mas ele se retirava para os desertos, e ali orava.” (Lc 5,16), com intensidade – “E, posto em agonia, orava mais intensamente; e o seu suor tornou-se como grandes gotas de sangue, que caíam sobre o chão. (Lc 22,44), às vezes por longos períodos, buscando sempre a direção nas escolhas e decisões que iria tomar – “Naqueles dias retirou-se para o monte a fim de orar; e passou a noite toda em oração a Deus.” (Lc 6,12).

2 – Jesus buscou forças no Pai a fim de suportar as provocações.

Hebreus revela que Ele foi tentado - “...porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.” (Hb4,15b). É evidente que Jesus, por causa de sua limitação humana. Se sentia dependente do Pai até mesmo para resistir aos ataques do maligno nas horas de tentação – “...e não nos deixes entrar em tentação; mas livra-nos do mal. [Porque teu é o reino e o poder, e a glória, para sempre, Amém.]” (Mt 6,13); nos momentos de angustia – “E adiantando-se um pouco, prostrou-se com o rosto em terra e orou, dizendo: Meu Pai, se é possível, passa de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres. Retirando-se mais uma vez, orou, dizendo: Pai meu, se este cálice não pode passar sem que eu o beba, faça-se a tua vontade.” (Mt 26,39.42). Por outro lado, é verdade também que Satanás temia a pessoa divina de Cristo – “E veio espanto sobre todos, e falavam entre si, perguntando uns aos outros: Que palavra é esta, pois com autoridade e poder ordena aos espíritos imundos, e eles saem?” (Lc 4,36).

CONCLUINDO


Na encarnação, por amor de nós, Cristo se limitou, cumprindo o ministério a Ele entregue pelo Pai na força, no poder e na capacitação concedidas por Deus e Pelo Espírito Santo. Tudo que Ele fez, o fez nas limitações de Sua humanidade, a fim de demonstrar-nos o caminho da vitória, que podemos trilhar mesmo com nossas limitações, se nos submetermos inteiramente ao poder divino – “Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê em mim, esse também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas; porque eu vou para o Pai.” (Jo 14,12). O Ser espiritual se tornou humano, para que o Ser humano pudesse se tornar espiritual. O Filho de Deus se tornou “Filho do Homem” para que os filhos dos homens pudessem se tornar “filhos de Deus”.


“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos.” (1Pd 1,3).

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