quarta-feira, 5 de setembro de 2012

DOUTRINA DA IGREJA - LIÇÃO 01 – A PREPARAÇAO DA IGREJA NO A.T.



“...Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, a fim de a santificar, tendo-a purificado com a lavagem da água, pela palavra,  para apresentá-la a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreensível”. (Ef 5,25-27).

INTRODUÇAO – A NECESSIDADE DE UMA DOUTRINA BIBLICA NA IGREJA.

A doutrina da Igreja é atualmente uma das mais negligenciadas. Este tipo apresenta, dentre outras conseqüências, a proliferação de tantas novas igrejas e seitas, cada uma arrogando a si o direito de ser chamada “a única igreja neotestementária”! Há muita confusão e falta de conhecimento a respeito da verdadeira natureza da igreja. Organizada, e o resultado é que muitos deles estão se afastando, formando células desvinculadas e fora da igreja. Há, portanto, uma necessidade urgente de se estudar o que a Bíblia diz sobre a igreja.

  1. A igreja gloriosa.

Em Ef 5,25-27, Paulo resume  todo o compromisso que o Cristo tem para com a Igreja – Ele a ama e a purifica do pecado, e está preparando-a para ser “uma igreja gloriosa”. A Igreja é do Senhor, que deseja apresenta-la a Si mesmo “sem macula, sem ruga... porém santa e sem defeito”. Infelizmente na historia da Igreja, essa gloria nem sempre e refletida na igreja local. É um fato trágico que o testemunho de tantas igrejas não tenha nada a ver com o retrato da Igreja que Cristo desejava. Semanalmente ouvimos e lemos na mídia sob escândalos envolvendo igrejas que afirmam ser igrejas neotestamentárias.

  1. A igreja com sua imagem deformada.

Ray Stedman no seu livro A igreja corpo vivo de Cristo (Mundo Cristão) sugere que a palavra igreja traz à tona diferentes imagens

    1. A igreja é nada mais do que um esnobe clube religioso;
    2. A igreja é um grupo de ação política, lutando contra os males da sociedade;
    3. A igreja é uma espécie sala de espera para pessoas que estão aguardando o próximo ônibus para o céu;
    4. A igreja é uma reunião de fanáticos religiosos, gozando seu transe de fim de semana;
    5. A igreja é um lugar de barulho forte com bateria e som que vive prejudicando a paz da mesma vizinhança que deseja ganhar para Cristo.

  1. A igreja verdadeira.

Graças a Deus, através dos séculos, sempre tem havido um remanescente fiel - uma força em favor do bem, uma luz no meio das trevas, sal dentro da sociedade, retardando a propagação de corrupção moral dando um novo sabor a vida. E este remanescente é a igreja que queremos ser!

No meio da raça decaída e corrompida, Deus sempre teve um remanescente, separado e santificado para viver em comunhão com Ele e testificar dEle. Uma frase aparece varias vezes nas Escrituras: “Serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo” (Ex 6,7; Lv 26,12; Jr 30,22; Ez 11,20; Ap 21,2-3). Desde o começo, Deus “propôs criar para si mesmo um povo particular”, que no AT que era a nação de Israel, e no NT é a igreja.



            I.      O CHAMADO DE ABRAAO – Gn 12,1-9

Na historia do AT o povo peculiar de Deus começa com a escolha e a chamada de Abraão (“Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. Eu farei de ti uma grande nação; abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome; e tu, sê uma bênção”. vs 1-2).

1.       O plano de Deus para Abraão.

Deus tinha um grande plano para ávida de Abraão: que ele fosse uma benção. Através dele e de sua descendência, a graça de Deus para toda a humanidade, vista na criação, e que foi destruída na queda do homem, seria restaurada e cumprida (“Vós sois os filhos dos profetas e do pacto que Deus fez com vossos pais, dizendo a Abraão: Na tua descendência serão abençoadas todas as famílias da terra.” At 3,25).

a)      As exigências do plano

- “Sai de sua terra” (v 1ª) – Ur dos caldeus era uma cidade populosa, pecaminosa, violenta e imoral. Deus chamou Abraão para fora daquele ambiente porque Ele exige uma separação total da má influencia para aqueles que querem fazer parte de seu povo. Como vamos notar na próxima lição. A palavra do NT para a igreja no grego (ekklesia) literalmente quer dizer “chamado para fora”.

- “Vai para a terra que te mostrarei” (v 1b) – Deus começa a estabelecer um povo da aliança para si mesmo. O progresso do plano redentor de Deus é evidente ao separar. Abraão e ao transformar Israel em uma grande nação (Bíblia de estudo de Genebra). Como Abraão, somos chamados para fora e para ir ao mundo todo (“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura.” – Mc 16,15).

b)      A esfera do plano

“... todas as famílias da terra” (v 3)Deus estava prometendo que o Messias Haveria de nascer da família de Abraão e, através do povo de Deus. Ele quer abençoar todos os povos.

c)       A resposta da Abraão.

“Pela fé Abraão, quando chamado, obedeceu” (v 4; Hb11,8) – Devemos notar que foi Deus quem tomou a iniciativa. Ser membro do povo de Deus depende exclusivamente de uma benção de Deus (predestinação e eleição – “como pela revelação me foi manifestado o mistério, conforme acima em poucas palavras vos escrevi, pelo que, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo.” (Ef 1,3-4). Depois é que vêm a resposta humana – “Abraão invocou o nome do Senhor” (v 8).

         II.      O SINAL DA ALIANÇA – Gn 17,7.10-11.

Deus fez uma aliança com seu povo, através de Abraão, e deu como sinal, para os homens, o rito da circuncisão. O sinal mostrava que Deus prometeu ser  Seu Deus, e desejava que eles fossem Seu povo (“Toda a congregação de Israel a observará. Quando, porém, algum estrangeiro peregrinar entre vós e quiser celebrar a páscoa ao Senhor, circuncidem-se todos os seus varões; então se chegará e a celebrará, e será como o natural da terra; mas nenhum incircunciso comerá dela.” Ex 12,47-48). Foi um sinal visível indicando membresia. Somente aqueles que tinham o sinal guardavam o sábado e observavam a ordenação anual de comer na páscoa. Por estes sinais, era fácil para outros distinguirem os israelitas. Ficou claro que esta era uma comunidade com quem Deus, pela sua providencia e graça, teve um relacionamento especial.

É fácil ver a ligação com os dois sacramentos do evangelho dado por Jesus: o Batismo e a Santa Ceia (que iremos estudar depois). São dois sinais indicativos de que pertencemos à comunidade divina.

     III.      DISTINÇAO ENTRE MEMBRO NOMINAL E VERDADEIRO.

Na historia do AT, é claro que dentro daquela comunidade visível, há uma distinção entre membro nominal e o verdadeiro, entre aquele que professa e aquele que pratica (vista também no NT). Na família de Abraão todos os homens foram circuncidados (“No mesmo dia foram circuncidados Abraão e seu filho Ismael. E todos os homens da sua casa, assim os nascidos em casa, como os comprados por dinheiro ao estrangeiro, foram circuncidados com ele”. Gn 17,26-27), mas veja o comentário de Paulo: (“Não que a palavra de Deus haja falhado. Porque nem todos os que são de Israel são israelitas; nem por serem descendência de Abraão são todos os filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus; mas os filhos da promessa são contados como descendência.” – Rm 9,6-8).

Entre todos os membros da casa de Abraão, somente Isaque foi descendente verdadeiro. Não foi por causa  do sinal externo de circuncisão que Isaque conseguiu fazer parte da herança divina, pois todo o povo possuía a circuncisão e a descendência de Abraão. Isaque possuía ainda a eleição, a promessa de Deus e um nascimento sobrenatural. Em Rm 4,9-17, Paulo argumenta que Abraão gozava das bênçãos da justificação pela fé antes de ser circuncidado.

Por isso é muito importante diferenciar entre o nominal e o genuíno, entre a igreja visível e a igreja invisível, entre a igreja formal cuja membresia pode ser numerada e a membresia espiritual, só conhecida por Deus.

       IV.      A REDENÇAO DE ISRAEL

Conhecemos bem a historia do povo de Israel na escravidão – o povo que Deus escolheu para ser seu povo estava na escravidão e tinha que ser redimido (“Portanto dize aos filhos de Israel: Eu sou Jeová; eu vos tirarei de debaixo das cargas dos egípcios, livrar-vos-ei da sua servidão, e vos resgatarei com braço estendido e com grandes juízos. Eu vos tomarei por meu povo e serei vosso Deus; e vós sabereis que eu sou Jeová vosso Deus, que vos tiro de debaixo das cargas dos egípcios.” – Ex 6,6-7). Foi assim que Deus instituiu a Páscoa, lembrando-nos que o povo foi redimido pelo sangue do cordeiro. É interessante observar que foi neste contexto que encontramos a primeira referencia à Igreja no AT – “...toda a assembléia da congregação...” (Ex 12,6). Foi quando Israel sob o sangue do cordeiro tinha de comer o cordeiro pascoal (Sl 74,2; At 28,20; Ex 19,5).

          V.      O RENASCENTE FIEL.

Quando estudamos a historia do povo de Deus discemimos a emergência da idéia de um grupo renascente fiel que deseja obedecer à Sua Palavra (cuja membresia é visível somente a Deus), no meio da comunidade de Israel. Este é o verdadeiro povo de Deus.

1.      Elias (“Respondeu ele: Tenho sido muito zeloso pelo Senhor Deus dos exércitos; porque os filhos de Israel deixaram o teu pacto, derrubaram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada; e eu, somente eu, fiquei, e buscam a minha vida para ma tirarem. Todavia deixarei em Israel sete mil: todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda boca que não o beijou.” 1Rs 19,10.18).

Elias achava que estava sozinho, nas havia sete mil homens que não eram visíveis ao homem, somente a Deus. Temos que reconhecer que nem nós, nem nossos lideres, como Elias, podemos dizer quem e quantos são os membros fieis. A Igreja é visível somente a Deus.

2.      Isaias

No tempo dele os israelitas estavam formando alianças com poderes estrangeiros, consultando necromantes (como há membros de igrejas hoje que consultam horóscopos). Isaias formou um grupo de fieis a Deus e à Sua Palavra ( “Is 8,16-20).

Na historia da Igreja, varias vezes tem surgido este tipo de movimento, como, por exemplo, o dos reformadores do século XVI, que não agiram contra um mundo degenerado, mas contra uma igreja corrupta. Atentemos para o fato de que a base é sempre “a lei e o testemunho” dada por Deus.

       VI.      CONCLUSAO

Assim notamos que no AT, quando o povo estava no exílio na Babilônia, foi somente  uma minoria, unida, não meramente por raça, mas por fé em e devoção a Jeová, que respondeu ao desafio de voltar a Jerusalém e reconstruir o templo. Subseqüentemente os judeus da Dispersão deram boas-vindas a seus cultos na sinagoga proselitista entre as nações gentílicas. Tudo isso foi usado para demonstrar que a membresia no verdadeiro Israel  não era racial, ou simplesmente participação ritual em algumas cerimônias, mas algo do coração e da sua condição espiritual – assim o povo de Deus começa a ter uma visão de “todas as famílias da terra”.

Marco Antonio Lana

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