Por que o apóstolo Pedro diz que o evangelho foi pregado também a mortos?
(1) O apóstolo Pedro está fazendo uma exortação a respeito do viver cristão. Antes, quando viviam na carne, aqueles irmãos apoiavam todo tipo de devassidão e erro que os gentios praticavam e eles também: “Porque basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos gentios, tendo andado em dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e em detestáveis idolatrias” (1 Pedro 4:3). Pedro mostra que esse foi um tempo que ficou no passado. Porém, agora que esses irmãos andam nos caminhos de Cristo, são difamados por aqueles que ainda estão nos maus caminhos: “Por isso, difamando-vos, estranham que não concorrais com eles ao mesmo excesso de devassidão” (1 Pedro 4:4). Ou seja, aqueles que continuam no caminho mau agora perseguem os que saíram dele!
(2) Pedro continua mostrando que esse “excesso de devassidão” em que esses ímpios vivem os levará a ser severamente julgados por Deus: “os quais hão de prestar contas àquele que é competente para julgar vivos e mortos” (1 Pedro 4:5). Quando ele diz “julgar vivos e mortos” está falando do princípio de julgamento universal de Deus, ou seja, ninguém pode escapar dos juízos do Senhor. Sabemos que Deus julgará tanto os que já morreram (em todos os tempos) quanto os que ainda viverem quando Ele voltar em Sua segunda vinda.
(3) Agora, analisemos o verso que mais nos interessa na dúvida: “pois, para este fim, foi o evangelho pregado também a mortos, para que, mesmo julgados na carne segundo os homens, vivam no espírito segundo Deus” (1 Pedro 4:6). A pergunta central que precisamos responder é: quem são os mortos citados no texto? Para responder a isso, analisemos algumas possibilidades:
(i) Pedro está falando de mortos espirituais? Alguns pensam que Pedro esteja falando que o evangelho foi pregado a pessoas que estavam mortas em seus delitos e pecados (veja Efésios 2:1-2). Apesar de fazer muito sentido que todos os que recebem o evangelho estão, de fato, mortos sem seus delitos e pecados, o texto não parece estar falando de morte espiritual, pois faz uma clara menção de morte física, quando diz “pregado também a mortos, para que, mesmo julgados na carne segundo os homens…”. Observe o termo “carne”, parece apontar para vida física e não espiritual.
(ii) Pedro está falando que Cristo pregou aos mortos após a sua morte? Alguns relacionam esse texto a 1 Pedro 3:18-19, onde se diz que Cristo pregou aos espíritos em prisão. Veem que esses “mortos” seriam esses espíritos que receberam um tipo de pregação do evangelho após a morte de Cristo, que pessoalmente levou essa mensagem a eles. No entanto, sabemos que essa interpretação é pouco provável, já que é contrária a diversos textos que mostram que não há segunda chance após a morte (Por exemplo Hebreus 9:27).
(iii) Pedro está falando dos cristãos que já morreram? Nessa interpretação analisa-se que dentro do contexto Pedro está apontando que o evangelho foi pregado a pessoas (ainda vivas), mas que naquele momento estavam mortas, ou seja, foram mortas por alguma perseguição do mundo (julgados na carne segundo os homens)! Sendo assim, aos olhos humanos elas estavam mortas, parecia-lhes que elas haviam sido derrotadas em sua fé, porém, diante de Deus, estavam vivas, pois estavam salvas na presença do Deus vivo (vivam no espírito segundo Deus), o Deus que iria julgar esses perseguidores. Ou seja, elas estavam muito melhores que os perseguidores que estavam mortos em seus pecados ainda em vida!
(4) A meu ver essa última interpretação parece mais harmônica com todo o contexto. A primeira sobre “mortos espirituais” traz a dificuldade de que Pedro está falando no verso sobre morte física, ou seja, pessoas que realmente morreram. A segunda tem o claro erro de entender que Jesus teria pregado o evangelho para pessoas no inferno, como que dando uma segunda oportunidade a elas. Sendo assim, a ideia de que Pedro estava falando dos crentes que já haviam morrido, e que morreram no Senhor faz muito mais sentido em todo o contexto!
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