(1) De fato, o texto de Isaías, se considerado de forma isolada, causa certa confusão, veja: “Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas” (Isaías 45:7). Para a compreensão desse texto, primeiro falemos um pouco do contexto: Deus está trazendo uma profecia sobre um homem que Ele mesmo levantaria no futuro, que iria se chamar Ciro (Isaías 45:1). Esse homem não seria alguém que conheceria a Deus, seria um pagão (Isaías 45:4), mas Deus iria usá-lo para trazer juízo a muitas nações (Isaías 45:2). Ciro seria também usado para abençoar a Israel (Isaías 45:4). De fato, Ciro teve importante papel na volta de Israel do exílio babilônico muito tempo depois dessa profecia de Isaías, conforme nos mostra o texto bíblico (Esdras 1:1).
(2) Porém, no texto Deus deixa claro que Ele, o Senhor, é quem está na direção de todo esse poder que Ciro teria. Deus diz frases interessantes que mostram isso, como: “Eu irei adiante de ti, endireitarei os caminhos tortuosos, quebrarei as portas de bronze e despedaçarei as trancas de ferro” (Isaías 45:2). Observe a ênfase no próprio Deus agindo por meio de Ciro. Deus queria deixar isso muito claro. Deus também fala de Sua grandeza, soberania e autoridade para fazer essa profecia se realizar: “Eu sou o SENHOR, e não há outro; além de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que não me conheces” (Isaías 45:5). Dentro desse contexto temos a frase objetivo de nossa análise, onde Deus diz que “cria as trevas” e “cria o mal”. Vamos compreender melhor agora cada uma dessas expressões dentro desse contexto:
(3) Deus faz dois contrastes que precisam ficar claros:
(i) formo a luz e crio as trevas. Observe que no primeiro contraste temos a menção de luz e trevas que, nesse contexto, apontam para a bênção de Deus a Israel (luz) e o terrível juízo que Deus traria a muitos povos (trevas). No contexto, Deus traria através de Ciro bênçãos ao povo de Israel (luz) e juízo para os povos conquistados por Ciro (trevas). Não temos no primeiro contraste nenhuma intenção de apontar Deus como criador do pecado, do que é maligno, do mal moral, mas sim de Deus no controle da bênção derramada e também do juízo que traria muitas dores a muitos.
(ii) faço a paz e crio o mal. Esse contraste fica ainda mais claro. Observe que paz não é o contrário de mal, mas de guerra, de calamidade, de desordem. E é exatamente esse o foco aqui. Deus mostra que tem o poder em Suas mãos tanto de fazer as condições para a paz (no caso, aqui, da paz sobre Israel que seria conduzida futuramente de volta do cativeiro) como para criar as condições para a calamidade, para o juízo sobre pessoas e povos. E ele fará isso, pois tem o poder em Suas mãos. Trará novamente seu povo de Israel para o caminho da paz e sobre muitas nações malignas trará calamidades, destruição, trará esse “mal” a elas.
(4) Portanto, fica claro aqui que o profeta Isaías de forma alguma está ensinando que Deus é o criador do pecado, do mal moral, antes, a Bíblia afirma que Deus é amor (1 João 4:8), mas também afirma que Deus é justo juiz (Salmos 7:11) e é exatamente no papel de juiz que Ele é mencionado em diversos textos aplicando Sua justiça sobre nações conforme Seu julgamento preciso e conforme Sua soberania plena sobre tudo e todos!
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