(1) A primeira coisa a entendermos é que essa profecia foi direcionada a dois povos que seriam mais impactados diretamente: egípcios e etíopes: “assim o rei da Assíria levará os presos do Egito e os exilados da Etiópia, tanto moços como velhos, despidos e descalços e com as nádegas descobertas, para vergonha do Egito” Isaías 20:4).
Deus iria trazer juízo sobre Egito e Etiópia usando a império Assírio, dois dos povos com quem o reino do sul (Judá) fez alianças contrárias a vontade do Senhor, povos em quem colocaram sua confiança, desrespeitando o Senhor.
Essa profecia iria acontecer e, evidentemente, também traria males a quem do reino de Judá continuasse nessa aliança, pois o Egito e Etiópia (e aliados) seriam também impactados: “Então, se assombrarão os israelitas e se envergonharão por causa dos etíopes, sua esperança, e dos egípcios, sua glória” (Isaías 20:5).
(2) Essa profecia se deu por um sinal diretamente ligado à forma do profeta Isaías andar pelas ruas de Israel: “nesse mesmo tempo, falou o SENHOR por intermédio de Isaías, filho de Amoz, dizendo: Vai, solta de teus lombos o pano grosseiro de profeta e tira dos pés o calçado. Assim ele o fez, indo despido e descalço” (Isaías 20:2).
Esse verso confunde alguns, pois será que o profeta Isaías andou completamente pelado pelas ruas, publicamente, durante 3 anos inteiros? Na realidade não é bem isso que ocorreu. Vejamos:
(3) Na ordem de Deus o profeta deveria tirar o “pano grosseiro” e “dos pés o calçado”. O pano grosseiro citado era um tipo de roupa (manta) muito comum dos profetas (veja 2 Reis 1:8 e Marcos 1:6), protegia tanto do frio, da chuva, como do sol forte, e também era usado em situações de jejum e luto.
A ideia aqui é que o profeta Isaías se apresentasse como um escravo humilhado. É importante ressaltar que quando prisioneiros eram capturados por um exército inimigo era comum que fossem despidos e apresentados perante a população para que ficassem humilhados.
Era um tipo de desfile da humilhação para os capturados e glória para os vencedores. Ainda é importante pontuar que ficar somente com a “roupa de baixo”, expondo algumas partes da pele, e descalço, era inapropriado nessa cultura, ainda mais se falando de um profeta. Por isso, certamente chamou muita atenção!
(4) O profeta Isaías, que falava com reis, agora iria andar pelas ruas sem suas vestes características, seminu, descalço como os prisioneiros capturados andavam: “Então, disse o SENHOR: Assim como Isaías, meu servo, andou três anos despido e descalço, por sinal e prodígio contra o Egito e contra a Etiópia…” (Isaías 20:3). Isso duraria três anos e não passaria despercebido das pessoas.
É importante pontuar, porém, que não se tratava de andar totalmente nu, pelado. Todavia, apesar de haver ainda uma parte da roupa que cobria as partes íntimas, para a cultura da época, era como se estivesse nu, pois não era uma forma aceitável de uma pessoa da sociedade estar andando em público.
Talvez Deus tenha enviado esse sinal “mudo, sem voz” porque o rei e seus conselheiros estavam se recusando a dar ouvidos as palavras do profeta. Mas agora, com esse sinal, teriam que conviver com a mensagem que Deus estava mandando!
(5) Por fim, é possível que essa condição de Isaías fosse apenas quando estivesse em público. Seria difícil que o profeta conseguisse suportar, por exemplo, dias muito gelados estando todo o tempo seminu. Mas essa é uma informação que o texto não nos fornece de forma exata.
O que sabemos é que profetas como Isaías viviam a mensagem de Deus na própria pele, ainda que isso representasse a eles, pessoalmente, momentos difíceis de humilhação e privação, como esse de andar dessa forma e ser bastante julgado pelas pessoas, certamente!
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