domingo, 13 de junho de 2021

Apartai-vos de mim.



"Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade" (Mt 7.20-23).

 

O texto epigrafado é deveras precioso para o meu coração. Isso porque ele revela algumas características importantes sobre o modo como Deus julga as pessoas e, por conseguinte, algo diretamente relacionado ao caráter de Deus; e quem quer conhecê-Lo deve se preocupar com esse assunto. Mas, também, o texto revela uma pista enorme para responder a pergunta mais importante da vida: como entrar no reino de Deus? Em outras palavras, como ir para o céu ou como ser salvo...

 

Bom, à primeira vista o texto parece apoiar a ideia de que Jesus está mais preocupado com as obras do que com o discurso, mas não é este o caso no texto em questão. Podemos afirmar isso à luz do fato de que os rejeitados por Jesus tanto discursavam quanto faziam! Sim, observe: eles chamavam Jesus de Senhor publicamente, e o texto parece indicar que operavam milagres com relativa frequência; contudo, o Senhor não os (re)conheceu. O discurso estava correto, pois Jesus é, em verdade, o Senhor, e a prática não estava tão distante do ideal, pois faziam o bem. Mas então por que foram rejeitados?

Somos culturalmente educados a crer que Deus julga pelas obras, pelo que fazemos. Essa cultura religiosa brasileira fica mais transparente em se falar de pessoas falecidas que fizeram boas obras. Quem nunca ouviu em velórios: "se fulano não for para o céu, ninguém mais vai. Ele era bom demais", ou ainda; "nunca prejudicou ninguém, só ajudou. Ele está com Deus, pois era uma bondade só"? Essas expressões revelam o entendimento que a maioria das pessoas têm sobre o céu e sobre como alguém pode ser aceito por Deus para adentra-lo. Mas a verdade é que ortodoxia e poder não são suficientes para estabelecer um relacionamento pessoal com Deus, muito menos para salvar alguém. "Para muitos que dizem: Senhor, Senhor! e fazem coisas sensacionais (profecia, exorcismo, milagres) o veredicto, no juízo final (naquele dia, v. 22), será: Nunca vos conheci. Não que uma vez eles tivessem sido conhecidos depois esquecidos, mas eles nunca haviam entrado em um relacionamento salvador com Cristo".

 

O que é requerido por Jesus no texto não é fazer "milagres" de Deus, mas fazer "a vontade" de Deus (cf. Mt 6.10). Aqueles homens, provavelmente falsos mestres no contexto dos versos anteriores, praticavam milagres, mas suas práticas foram chamadas de iníquas (vs. 23). Note que Jesus nunca negou que fizessem milagres, apenas negou que Deus fosse glorificado por eles, por isso eram obras iníquas. Os milagres não foram praticados tendo a justiça e glória de Deus como alvo, mas provavelmente a glória pessoal.

 

A importância da prática cristã não está sendo descartada ou diminuída aqui de forma alguma, pois o verso 24 que continua o discurso de Jesus deixa muito claro: "Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha". Então, o que Jesus condenou naqueles homens não foi a prática em si, mas o que estava por detrás da prática. Nem condenou a ortodoxia (modo correto de crer), mas as motivações do coração.

 

Enfim, a lição maior que temos aqui é a seguinte:

 

"Um homem também pode enganar-se dolorosamente e sinceramente imaginar que está andando pela estrada certa quando não está. Pode empregar o vocabulário do crente, repetir as fórmulas do crente, recitar o credo do crente, e tomar parte nas atividades do crente, sem ser crente de verdade... Jesus afirma aqui com grande ênfase que a conduta correta, o fazer a vontade do Pai, e não a adoração de lábios, é que constitui o passaporte para a travessia da porta que conduz à vida e que resulta num veredicto de absolvição naquele dia (isto é, no dia do juízo)"

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