"Assim,
pois, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor!
entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está
nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não
temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em
teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca
vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade" (Mt
7.20-23).
O
texto epigrafado é deveras precioso para o meu coração. Isso porque ele revela
algumas características importantes sobre o modo como Deus julga as pessoas e,
por conseguinte, algo diretamente relacionado ao caráter de Deus; e quem quer
conhecê-Lo deve se preocupar com esse assunto. Mas, também, o texto revela uma
pista enorme para responder a pergunta mais importante da vida: como entrar no
reino de Deus? Em outras palavras, como ir para o céu ou como ser salvo...
Bom,
à primeira vista o texto parece apoiar a ideia de que Jesus está mais
preocupado com as obras do que com o discurso, mas não é este o caso no texto
em questão. Podemos afirmar isso à luz do fato de que os rejeitados por Jesus
tanto discursavam quanto faziam! Sim, observe: eles chamavam Jesus de Senhor
publicamente, e o texto parece indicar que operavam milagres com relativa
frequência; contudo, o Senhor não os (re)conheceu. O discurso estava correto,
pois Jesus é, em verdade, o Senhor, e a prática não estava tão distante do
ideal, pois faziam o bem. Mas então por que foram rejeitados?
Somos
culturalmente educados a crer que Deus julga pelas obras, pelo que fazemos.
Essa cultura religiosa brasileira fica mais transparente em se falar de pessoas
falecidas que fizeram boas obras. Quem nunca ouviu em velórios: "se fulano
não for para o céu, ninguém mais vai. Ele era bom demais", ou ainda;
"nunca prejudicou ninguém, só ajudou. Ele está com Deus, pois era uma
bondade só"? Essas expressões revelam o entendimento que a maioria das
pessoas têm sobre o céu e sobre como alguém pode ser aceito por Deus para
adentra-lo. Mas a verdade é que ortodoxia e poder não são suficientes para
estabelecer um relacionamento pessoal com Deus, muito menos para salvar alguém.
"Para muitos que dizem: Senhor, Senhor! e fazem coisas sensacionais
(profecia, exorcismo, milagres) o veredicto, no juízo final (naquele dia, v.
22), será: Nunca vos conheci. Não que uma vez eles tivessem sido conhecidos
depois esquecidos, mas eles nunca haviam entrado em um relacionamento salvador
com Cristo".
O
que é requerido por Jesus no texto não é fazer "milagres" de Deus,
mas fazer "a vontade" de Deus (cf. Mt 6.10). Aqueles homens,
provavelmente falsos mestres no contexto dos versos anteriores, praticavam
milagres, mas suas práticas foram chamadas de iníquas (vs. 23). Note que Jesus
nunca negou que fizessem milagres, apenas negou que Deus fosse glorificado por
eles, por isso eram obras iníquas. Os milagres não foram praticados tendo a
justiça e glória de Deus como alvo, mas provavelmente a glória pessoal.
A
importância da prática cristã não está sendo descartada ou diminuída aqui de
forma alguma, pois o verso 24 que continua o discurso de Jesus deixa muito
claro: "Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica
será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha".
Então, o que Jesus condenou naqueles homens não foi a prática em si, mas o que
estava por detrás da prática. Nem condenou a ortodoxia (modo correto de crer),
mas as motivações do coração.
Enfim,
a lição maior que temos aqui é a seguinte:
"Um
homem também pode enganar-se dolorosamente e sinceramente imaginar que está
andando pela estrada certa quando não está. Pode empregar o vocabulário do
crente, repetir as fórmulas do crente, recitar o credo do crente, e tomar parte
nas atividades do crente, sem ser crente de verdade... Jesus afirma aqui com
grande ênfase que a conduta correta, o fazer a vontade do Pai, e não a adoração
de lábios, é que constitui o passaporte para a travessia da porta que conduz à vida
e que resulta num veredicto de absolvição naquele dia (isto é, no dia do
juízo)"
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