(1) O contexto nos mostra que a humanidade estava em uma escalada cada vez mais de erros, cada vez mais envolvida em pecados dos mais terríveis, desde a queda do jardim do Éden: “Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração” (Gênesis 6:5).
(2) A Bíblia explica que diante dessa multiplicação de pecados Deus se arrependeu (Gênesis 6:6) e determinou uma punição que seria aplicada a toda humanidade, exceto à Noé e sua família, que seriam salvos:
“Disse o SENHOR: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, o homem e o animal, os répteis e as aves dos céus; porque me arrependo de os haver feito” (Gênesis 6:7).
Depois do texto identificar quem era Noé, Deus comunica a Noé o que iria fazer: “Então, disse Deus a Noé: Resolvi dar cabo de toda carne, porque a terra está cheia da violência dos homens; eis que os farei perecer juntamente com a terra” (Gênesis 6:13).
(3) Com esses esclarecimentos já conseguimos entender a questão dos 120 anos. Vejamos o texto: “Então, disse o SENHOR: O meu Espírito não agirá para sempre no homem, pois este é carnal; e os seus dias serão cento e vinte anos” (Gênesis 6:3). Existem duas interpretações principais para explicar o significado desses 120 anos. Vamos analisar as duas
(i) Os 120 anos são a média do tempo de vida do homem que iria diminuir. Essa interpretação aponta que Deus, diante do aumento do pecado naquele momento da história, onde sabemos que os homens viviam centenas de anos homens (Veja, por exemplo, Gênesis 5:27, Metusalém viveu 969 anos), resolveu tirar do homem a ideia de ser “quase imortal” devido às altas idades que vivia. Seria um ataque ao orgulho humano! Nesse caso, os 120 anos simbolizariam a redução drástica da idade de vida dali para frente, depois do diluvio.
Mas essa interpretação é bem contestada. Terá, pai de Abraão, viveu 205 anos (Gênesis 11:32). Noé viveu 950 anos ao todo (Gênesis 9:29). Abraão viveu 175 anos (Gênesis 25:7). Vemos que mesmo depois do dilúvio tivemos algumas idades ainda bem altas. Porém, é um fato que as idades de vida das pessoas diminuíram muito após o dilúvio.
(ii) Os 120 anos é o tempo entre a decisão de Deus de realizar o dilúvio e o começo do dilúvio. Podemos notar na cronologia do texto que Deus afirma que a vida do homem seria de 120 anos (Gênesis 6:3), apresenta detalhes de sua insatisfação com o ser humano e o objetivo de o destruir (Gênesis 6:7) e depois tem contato com Noé, dando instruções para a construção da arca (Gênesis 6:8-22).
Se voltarmos um pouquinho, vemos que o texto diz que Noé tinha 500 anos quando teve seus filhos: “Era Noé da idade de quinhentos anos e gerou a Sem, Cam e Jafé” (Gênesis 5:32). E mais à frente, que Noé tinha 600 anos quando começou o dilúvio: “Tinha Noé seiscentos anos de idade, quando as águas do dilúvio inundaram a terra” (Gênesis 7:6). n
Concluímos, então, que do tempo em que Deus resolveu que traria o dilúvio como juízo sobre os homens, passando pelo tempo em que Ele comunicou Noé sobre isso, até o tempo em que o dilúvio começou sobre a terra, temos esses 120 anos mencionados no texto!
(4) As duas interpretações conseguem se harmonizar dentro do
contexto, porém, a meu ver, a interpretação que aponta para os 120 anos como o
tempo da decisão de Deus sobre o dilúvio e o tempo até que o dilúvio chegasse
se harmoniza muito mais com o contexto todo, trazendo uma clara indicação da
misericórdia de Deus (dando tempo para a construção da arca) e também de Seu
juízo que seria derramado em breve sobre o mundo daquela época!
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