Quando ficou sabendo que seu pai
o havia amaldiçoado, Cão fugiu envergonhado, e fixou-se com sua família numa
cidade construída por ele, à qual deu o nome de sua esposa, Neelatamauque. Com
inveja de seu irmão, Jafé seguiu seu exemplo: construiu uma cidade e deu a ela
o nome de sua esposa, Adataneses. Sem foi o único filho de Noé que não o
abandonou. Nas redondezas da casa do pai, junto à montanha, Sem construiu sua
cidade, à qual deu também o nome de sua esposa, Zedequetelbabe. Essas três
cidades ficam próximas ao monte Lubar, a elevação sobre a qual repousou a arca.
A primeira encontra-se ao sul, a segunda a oeste, a terceira a leste.
Noé conseguiu inculcar em seus
filhos e nos filhos de seus filhos as ordenanças e mandamentos que conhecia.
Ele em particular advertiu-os contra a libertinagem, contra a impureza e contra
toda sorte de perversidade que havia provocado o dilúvio sobre a terra. Ele os
repreendeu por viverem longe uns dos outros e pela inveja que nutriam, pois
temia que depois de sua morte eles chegariam a derramar sangue humano. Contra
isso ele advertiu-os severamente, para que não fossem aniquilados da terra como
os que os haviam precedido.
Outra lei que Noé transmitiu-lhes
para que observassem foi que a fruta de uma árvore não deveria ser usada nos
três primeiros anos em que a árvore frutificar. Mesmo no quarto ano, as frutas
deveriam ser consumidas apenas pelos sacerdotes, depois que uma parte delas
fosse oferecida no altar de Deus.
Ao terminar de fornecer esses
ensinos e prescrições, Noé disse:
— Pois da mesma forma Enoque,
nosso ancestral, exortou seu filho Matusalém, e Matusalém seu filho Lameque, e
Lameque transmitiu-me tudo que seu pai lhe havia dito que fizesse; agora eu os
exorto, meus filhos, como Enoque exortou seu filho. Quando ele era vivo em sua
geração, que foi a sétima geração do homem, ele ordenou e testificou essas
coisas a seus filhos e aos filhos de seu filho, até o dia de sua morte.
No ano 1569 depois da criação do
mundo Noé dividiu a terra entre seus filhos, na presença de um anjo. Cada um
deles estendeu a mão e tirou um pedaço de papel do peito de Noé. No papel de
Sem estava escrito “o meio da terra”, e essa porção tornou-se herança para seus
descendentes por toda a eternidade. Noé exultou que aquela porção tivesse sido
designada a Sem. Dessa forma se cumpria a benção que proferira sobre ele,
“Deus… nas tendas de Sem”, pois três lugares santos situavam-se dentro dessa
área: o santo dos santos no Templo, o Monte Sinai, ponto central do deserto, e
o Monte Sião, o ponto central do umbigo da terra.
O sul coube a Cão, e o norte
tornou-se herança de Jafé. A terra de Cão é quente, a terra de Jafé é fria, mas
a de Sem não é fria nem quente: tem clima temperado.
A divisão da terra ocorreu perto
do fim da vida de Pelegue/Divisão, nome dado por seu pai Éber, o qual, sendo
profeta, sabia que a divisão da terra ocorreria perto da hora final de seu
filho. O irmão de Pelegue recebeu o nome de Joctã/Pequeno, porque em sua época
a duração da vida humana foi abreviada.
Os três filhos de Noé, ainda em
pé na presença dele, dividiram por sua vez a sua porção entre os seus filhos,
enquanto Noé ameaçava com sua maldição qualquer um que tentasse se apropriar de
uma área que não lhe tivesse sido designada. E todos exclamavam:
— Assim seja! Assim seja!
Dessa forma foram dividas cento e
quatro terras e noventa e nove ilhas entre setenta e duas nações, cada uma com
uma língua própria, e usando dezesseis alfabetos diferentes. A Jafé foram
destinadas quarenta e quatro terras, trinta e três ilhas, vinte e duas línguas
e cinco alfabetos; Cão recebeu trinta e quatro terras, trinta e três ilhas,
vinte e quatro línguas e cinco alfabetos; Sem recebeu vinte e seis terras,
trinta e três ilhas, vinte e seis línguas e seis alfabetos — um alfabeto a mais
do que receberam seus irmãos; este alfabeto extra é o hebraico.
A terra designada como herança
dos doze filhos de Jacó foi temporariamente concedida a Canaã, Sidom, Hete, os
jebuseus, os amorreus, os girgaseus, os heveus, os arqueus, os sineus, os
arvadeus, os zemareus e os hamateus. Era dever dessas nações cuidar da terra
até que seus verdadeiros possuidores chegassem.
Mal haviam os filhos de Noé e os filhos de seus filhos tomado posse das áreas designadas a eles, os espíritos imundos começaram a seduzir os homens e atormentá-los com dor e toda sorte de sofrimento, de modo a levá-los à morte física e espiritual.
Diante das súplicas de Noé, Deus mandou o anjo Rafael, que expulsou noventa por cento dos espíritos imundos da terra, deixando apenas dez por cento para Mastema/hostilidade, a fim de punir os pecadores através deles.
Rafael, assistido pelo chefe dos
espíritos imundos, revelou naquela ocasião a Noé todos os remédios que residem
nas plantas, para que ele recorresse a eles quando necessário. Noé registrou-os
num livro, que transmitiu a seu filho Sem. A esta fonte reportam todos os
livros médicos dos quais os sábios da Índia, de Arã, da Macedônia e Egito
extraem seu conhecimento. Os curandeiros da Índia devotaram-se especialmente ao
estudo das especiarias e árvores curativas; os arameus eram bem versados no
conhecimento das propriedades de grãos e sementes, e traduziram para sua
própria língua os antigos livros médicos. Os sábios da Macedônia foram os
primeiros a aplicar o conhecimento médico de forma prática, enquanto os
egípcios procuravam efetuar curas através de astrologia e de artes mágicas;
foram eles a ensinar o Midrash dos caldeus, composto por Kangar, filho de Ur,
filho de Quesede.
Os conhecimentos médicos foram se
espalhando cada vez mais até a época de Esculápio. Esse sábio macedônio,
acompanhado por quarenta magos doutos, viajaram país por país até chegarem à
terra além da Índia, na direção do Paraíso. Eles esperavam encontrar alguma
madeira da árvore da vida, e dessa forma divulgar sua própria fama ao redor do
mundo. Suas esperanças foram frustadas. Quando chegaram ao local, encontraram
árvores curativas e madeira da árvore da vida mas quando estendiam suas mãos
para pegar o que desejavam um relâmpago lançou-se da espada que se volvia por
todos os lados, derrubou-os ao chão e queimou-os por completo. Com eles
desapareceu todo o conhecimento da medicina, e não reviveu até a época do
primeiro Artaxerxes, sob a condução do sábio macedônio Hipócrates, Dioscorides
de Baala, Galeno de Caftor e o judeu Asafe.
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