“Podemos não ser responsáveis
por todas as coisas que ocorrem conosco, mas somos responsáveis pela maneira
como nos comportamos quando elas acontecem”. – Ralph Emerson.
A vida e o sucesso de José tem muito a ver com esta frase. Ao ser
vendido pelos irmãos, injustiçado pela mulher de Putifar e esquecido pelo
copeiro-chefe, tinha tudo para ser um homem revoltado, amargurado e ressentido,
mas não permitiu que nada dessas coisas negativas e destrutivas pudessem
afeta-lo. Não que ele fosse insensível ou de ferro, mas sabia, como homem que
andava com Deus, que homens prósperos não permitem que as ações dos outros
determinem as suas.
A beleza do
sucesso de José está no fato dele beneficiar outras pessoas com o seu sucesso,
como veremos a seguir.
I.
BENEFICIO
GERAL – Gn 41,14-57.
O sonho que o Faraó teve com as sete vacas gordas e as sete vacas
magras – Gn 41,1-4 – era, simplesmente um aviso de Deus que um tempo de fome
estava para vir. A interpretação de José, inspirada por Deus, não somente
abriu-lhe o caminho para ser Governador no Egito, com trouxe beneficio a todo
mundo da época.
Os magos do Egito - "Chegada à manhã, o faraó com o espírito
preocupado, mandou chamar todos os mágicos e sábios do Egito. Contou-lhes seus
sonhos, mas nenhum deles soube explicá-los". (Gn 41,8) – no hebraico “escribas
sagrados”, eram uma espécie de peritos em manusear os livros de assuntos “sagrados”.
É provável que para tentar interpretar este sonho de Faraó tenham consultado
literatura sobre sonhos, que era uma mescla de astrologia e ocultismo. A
pratica de interpretação de sonhos era comum na época, haja vista o fato do que
quando José interpreta o sonho do copeiro-chefe e do padeiro-chefe, ambos já
tinham procurado interpretação com outros - "“ Tivemos um sonho,
responderam; e não há ninguém para no-los interpretar.” “Porventura, não
pertence a Deus, replicou José, a interpretação dos sonhos? Rogo-vos que mos conteis.
”" (Gn 40,8).
A graça de Deus era tão abundante sobre a vida de José que ele teve autoridade
para aconselhar o Faraó sobre o que deveria fazer para enfrentar o tempo de
fome – vv 33-36 – Faraó gostou do conselho – v 37 – e escolheu o próprio José
para governar a sua casa – vv 38-40.
E o jovem governador, de apenas 30 anos de idade – “José tinha
trinta anos quando se apresentou diante do faraó, o rei do Egito” – Gn
41,46a – usa o seu poder para beneficiar toda a terra do Egito e todo o mundo –
Gn 41,53-57.
“41,1-36: Começa a ascensão de José. Além do seu discernimento para interpretar
a ação de Deus, ele demonstra também o tino administrativo que salvará da fome
o país. José é sábio: tem capacidade de discernir a ação de Deus e agir de
acordo, pois a providência de Deus não dispensa o homem de analisar as
situações e tomar atitudes adequadas.” -
Bíblia Pastoral.
“41,37-57: Por sua previdência e tino administrativo, José se torna vice-rei do
Egito e, graças a ele, é contida a situação de fome do povo. Seus filhos
Manassés e Efraim formarão duas tribos em Israel, que juntas formam a «Casa de
José».” – Bíblia Pastoral.
II.
BENEFICIANDO
OS IRMÃOS – Gn 42,1-45,28.
“Quanto a Deus, o seu caminho é
perfeito; a promessa do Senhor é provada; ele é um escudo para todos os que
nele confiam.” – Sl 18,30.
A fome inevitavelmente atingiria
os irmãos de José – os mesmos que o venderam. E onde havia comida? Somente no
Egito. E quem era o Governador do Egito? O irmão José. Quem decidiria se eles
poderiam ou não levar comida para casa? Ele mesmo – o irmão invejado e odiado.
1.
O primeiro encontro com os irmãos - Gn 42,6-17.
A principio, José não se dá conhecer a seus irmãos , parece evita-los e
chega até mesmo trata-los com aspereza - "José reconheceu-os
imediatamente, mas, comportando-se com eles como um estrangeiro, disse-lhes com
rudeza: “Donde vindes?” “Da terra de Canaã, responderam eles, para comprar
víveres.”" (Gn 42,7). Tudo indicava que um coração vingativo era o que
dominava José. Mas nosso personagem não é assim - "E José afastou-se
deles para chorar. Voltou em seguida e falou-lhes; e escolheu Simeão, ao qual
mandou prender na presença deles". (Gn 42,24); há amor e misericórdia
suficientes na vida desse Governador. E ao ver seus irmãos se prostrando diante
dele, lembra-se imediatamente dos sonhos que tivera – Gn 42,6.9; 37,5-10.
2.
José dá-se a conhecer a seus irmãos – Gn 45,1-15.
"Então José, já não se
podendo conter diante de todos os assistentes, exclamou: “Fazei sair todo o
mundo.” Desse modo, ninguém ficou com ele, quando se deu a conhecer aos seus
irmãos". (Gn
45,1).
Ele testou seus irmãos de todas as maneiras – Gn 42,9 – 44,34 – para
ter certeza de que agora tinham um novo coração. E o choro compulsivo - "Pôs-se
a chorar tão alto que os egípcios da casa do faraó o ouviram". (Gn
45,2) – revela que seu coração já não agüentava mais de tanta emoção!
"Mas agora não vos entristeçais, nem tenhais remorsos de me ter
vendido para ser conduzido aqui. É para vos conservar a vida que Deus me enviou
adiante de vós". (Gn
45,5). "Não sois vós, pois, que me haveis mandado para aqui, mas Deus
mesmo. Ele tornou-me como o pai do faraó, chefe de toda a sua casa e governador
de todo o Egito". (Gn 45,8).
3.
José encontra seu pai e abençoa toda a família – Gn 46,28-47,12.
"José mandou preparar o
seu carro e montou para ir ao encontro de seu pai em Gessém. E, logo que o viu,
jogou-se ao seu pescoço e chorou longo tempo em seus braços". (Gn 46,29)..
"José disse aos seus
irmãos: “Vou avisar o faraó, dizendo: Meus irmãos e a família de meu pai que
estavam em Canaã, vieram para junto de mim;" (Gn 46,31).
42,1-38: Os sonhos de José se concretizam: seus irmãos se prostram diante dele
(cf. 37,5-11). José os trata com severidade para verificar o arrependimento
deles, e os submete a uma série de provas. O que ele quer saber é se os irmãos
se modificaram, e se são capazes de agir com verdadeira fraternidade. Simeão
foi escolhido por ser o segundo filho, pois José fica sabendo que Rúben, o mais
velho, não era culpado. Como José, Benjamim era filho de Raquel, a esposa amada
de Jacó: será que os irmãos odeiam Benjamim como odiavam a José? – Bíblia
Pastoral
43,1-34: O teste de fraternidade a que José submete os irmãos começa a surtir
efeito: Judá se responsabiliza por Benjamim. A boa acolhida de José causa
espanto nos irmãos e prepara o ponto máximo do encontro. – Bíblia Pastoral.
44,1-34: Cf. nota em 42,1-38. Judá, que tinha sugerido vender José como escravo
(Gn 37,26-27) e fizera o pai sofrer, agora está disposto a se tornar escravo
para que seu irmão Benjamim, preferido do pai, possa voltar para casa. Dessa
forma, Judá redime a falta que cometera no passado contra a fraternidade. –
Bíblia Pastoral.
45,1-28: Até agora o tratamento entre José e os irmãos era de um senhor para
com os servos. Ao ver que os irmãos se transformaram, José se declara: «Eu sou
José, irmão de vocês». E o clima se torna fraterno. As palavras de José (vv.
3-8) mostram o ponto de vista da fé sobre os acontecimentos: Deus age através
dos homens e das situações para realizar seu projeto de vida. Muitas vezes não
compreendemos os acontecimentos e situações porque não somos capazes de
descobrir o que Deus quer com eles. Caminhamos no escuro e precisamos acreditar
que Deus vai realizando o seu projeto através da nossa própria incompreensão.
Só no fim compreenderemos que Deus estava junto conosco durante todo o tempo,
encaminhando nossa história para a liberdade e a vida. – Bíblia Pastoral
III.
BENEFICIANDO
NOVAMENTE A FARAÓ – Gn 47,13-26.
A capacidade administrativa de José e todas as sas boas intenções
fizeram com que pudesse ajudar o próprio faraó. A sua “política econômica”
tinha com base o evitar que pessoas morressem de fome; e permitir que Faraó
continuasse sendo proprietário das terras do Egito.
Deus quer que seus filhos sejam generosos, e José mostrou isso durante
toda a sua vida. Nunca quis armazenar gananciosamente para si mesmo e sua
família. Por isso, teve um final de vida abençoado.
47,13-26: A narrativa da política agrária de José foi escrita na corte de
Salomão, e tinha dupla finalidade: educar os funcionários da corte e justificar
a política do rei. Salomão adotou o sistema político-econômico do Egito,
instituindo os trabalhos forçados e o imposto em dinheiro e gêneros. O autor
procura justificar o sistema adotado por Salomão, mostrando que o sistema foi
criado por um hebreu. – Bíblia Pastoral.
IV.
OS
EFEITOS DA BENEVOLENCIA DE JOSÉ – Gn 47,27-50,26.
1. Os últimos dias de Jacó.
Þ "E, aproximando-se do seu termo os dias
de Israel, chamou o seu filho José e disse-lhe: “Se achei graça diante de teus
olhos, mete, rogo-te, tua mão debaixo de minha coxa e promete-me, com toda a
bondade e fidelidade, que não me enterrarás no Egito". (Gn 47,29).
Þ Jacó abençoou os filhos de José – Efraim e Manassés – Gn 48,11-20.
Þ Jacó proferiu bênçãos proféticas sobre seus filhos, e evidentemente, José não poderia ficar de
fora – Gn 49,22-26.
2. O sepultamento de Jacó.
"Gastaram nisso quarenta dias, que é o
tempo necessário ao embalsamamento. Os egípcios choraram-no durante setenta
dias". (Gn
50,3). "Chegando à eira de Atad, além do Jordão, fizeram uma grande e
solene lamentação, e José celebrou, em honra de seu pai, um pranto de sete
dias". (Gn 50,10).
3. José demonstra mais amor para com seus
irmãos.
"Não temais, pois: eu vos sustentarei a vós e os vossos filhos”.
Estas palavras, que lhes foram direto ao coração, reconfortaram-nos". (Gn 50,21).
47,27-48,22: O texto é uma
combinação de tradições para explicar várias coisas, projetando-as no passado
para apresentá-las como disposições de Jacó: por que Manassés e Efraim, filhos
de José, se tornaram antepassados de duas tribos? Por que essas tribos
prosperaram? Por que a tribo de Efraim superou a tribo de Manassés? – Bíblia
Pastoral
49,1-33: Estas previsões atribuídas a Jacó refletem evidentemente um período
posterior, quando o povo de Israel já estava organizado em tribos dentro da
terra de Canaã. Portanto, espelham uma situação depois do êxodo. De um lado,
mostram as dificuldades que as tribos tiveram de enfrentar, quando instaladas em Canaã. Por exemplo:
Issacar teve de lutar dentro do sistema de trabalhos forçados das
cidades-estado cananéias. Dã precisou enfrentar exércitos montados. Gad deparou
com uma estratégia guerrilheira. Efraim e Manassés (José) lutaram contra
exércitos de elite que usavam arcos. De outro lado, o texto mostra a sorte de
cada tribo, buscando explicações passadas, nem sempre muito claras: Rúben e
Simeão desapareceram como tribo; Levi não possui nenhum território para si;
Judá, aos poucos, foi ganhando importância, até que se tornou, com Davi, a
tribo principal na época do reino unido; Zabulon foi trabalhar na marinha. Outras
informações do texto são obscuras. – Bíblia pastoral.
50,1-26: O último capítulo retoma o ambiente familiar que predominou na
história de José, mas sem o mesmo tom dramático. Depois de narrar o funeral de
Jacó, retoma o tema teológico que conduziu toda a história de José (cf. nota em
45,1-28): Deus age dentro dos acontecimentos, e só aqueles que enxergam isso
poderão transformar a relação escravo-patrão em relações de fraternidade.
Dentro desse discernimento e clima, Deus formará um povo numeroso (v. 20) que,
escravizado, será por fim libertado para organizar uma sociedade onde haja
liberdade e vida. – Bíblia Pastoral.
CONCLUSÃO OS ÚLTIMOS DIAS DE
JOSÉ – Gn 50,22-26
A vida de José foi tão plena de recompensas que até seu pedido em
relação a seus ossos foi atendido – "E José fez que os filhos de Israel
jurassem: “Quando Deus vos visitar, disse ele, levareis daqui os meus
ossos". (Gn 50,25). E é justamente este o destaque que o autor aos
Hebreus faz da história de José - "Foi pela fé que José, quando estava
para morrer, fez menção da partida dos filhos de Israel e dispôs a respeito dos
seus despojos". (Hb 11,22).
José tinha fé que um dia seus descendentes partiriam do Egito para a
terra prometida. Com o passar do tempo os seus ossos foram levados do Egito,
quando os israelitas deixaram aquela terra sob a direção de Moisés -
"Moisés levou consigo os ossos de José, porque este fizera os filhos de
Israel jurarem: “Quando Deus vos visitar, levareis daqui os meus ossos
convosco”". (Ex 13,19).
E foi enterrado em Siquém, depois do estabelecimento em Canaã - "Sepultaram
também em Siquém os ossos de José que os israelitas tinham trazido do Egito;
depuseram-nos na porção da terra que Jacó havia comprado aos filhos de Hemor,
pai de Siquém, por cem peças de prata, e que se tornou propriedade dos filhos
de José". (Js 24,32); "Comprou por cem moedas de prata aos
filhos de Hemor, pai de Siquém, o pedaço de terra onde havia levantado sua
tenda". (Gn 33,19).
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