Todas as pessoas têm necessidades básicas; segurança
e a valorização são duas delas. Estas são necessidades que Jacó buscou
suprir na casa de seu pai e não conseguiu . Ele não tinha segurança no convívio
com seu pai, porque este amava mais Esaú, o filho mais velho, e Jacó teve que
se contentar com a companhia da mãe - "Isaac preferia Esaú, porque
gostava de caça; Rebeca, porém, se afeiçoou mais a Jacó". (Gn 25,28).
Jacó também não tinha sua necessidade de
valorização suprida. Neste caso, o artista de principal era Esaú, ele é que
herdaria as bênçãos do avô Abraão e do pai Isaque – "Prepara-me depois
um prato suculento, como sabes que gosto, e traze-mo para que o coma e minha
alma te abençoe antes que eu morra.” (Gn 27,4). Esta distinção entre
Jacó e seu irmão foi tão traumatizante para ele que, quando já estava velho e
foi abençoar os filhos,abençoou a todos. Não privilegiou ninguém, talvez para
demonstrar que não precisava ser excluído das benesses de seu pai – Gn 8-49.
Jacó não se encontrou como pessoa e isto trouxe conseqüências para toda a sua
vida.
Quando o lar falha na proteção – segurança – e na
construção da auto estima – valorização -, tudo fica mais difícil lá fora.
Vejamos as conseqüências desta crise familiar.
I.
OS RELACIONAMENTOS SÃO PERMEADOS PELO
ENGANO – Gn 27,1-46.
Nessa família, Rebeca
ensinou o filho a enganar o pai – Gn 27,8-13. Jacó não teve o menor remorso em
enganar o seu pai - "Jacó respondeu: “Eu sou Esaú, teu primogênito; fiz
o que me pediste. Levanta-te, assenta-te e come de minha caça, a fim de que tua
alma me abençoe.”" (Gn 27,19), como não tivera quando enganou seu
irmão Esaú há tempos passado – Gn 25,27-34.
Quando foi embora, Jacó foi
vitima da malandragem do seu tio Labão – Gn 29,21-30;30,35, no entanto
respondeu à altura – Gn 30,40-43. Parece que é um ciclo – Labão é enganador e
ensina a terrível arte à sua irmã, que por sua vez a repassa ao filho Jacó, que
mais tarde vai usar do mesmo recurso enganando o tio labão.
·
“Não faça do seu filho uma arma, a vitima
pode ser você”.
·
Quando os pais não vivem um relacionamento
sadio, os filhos se sentem a vontade
para atitudes também doentias.
Se eu fosse Isaque, de vez
e sempre colocaria Esaú e Jacó juntos e lhes diria: “Esaú você é o mais
velho, a herança maio é a sua, proteja o seu irmão, ame-o, abrace-o, seja
benévolo para com ele, Jacó seja amigo
do seu irmão, ajude-o a administrar a herança, ore sempre para ele e com ele,
beneficie-se das bênçãos da primogenitura que Deus deu a ele. Você também é
muito importante”.
“27,1-40: Jacó antes se aproveitou da
fome do irmão para lhe tirar o direito de primogenitura; agora, para roubar a
bênção patriarcal, ele se une à esperteza da mãe e aproveita a cegueira do pai.
O texto está preocupado em mostrar a supremacia de Israel, povo descendente de
Jacó, sobre Edom, povo descendente de Esaú.” – Bíblia Pastoral.
II.
A FAMILIA É DESTRUIDA PELA DISTANCIA.
Com a crise instalada,
Jacó enganou o pai teve de fugir do seu irmão. Veja o alcance dessa tragédia:
1.
Jacó – Saiu de casa ainda jovem, ficou
desprotegido diante da malicia dos adultos e perdeu para sempre o que deveria
ser de preciosa companhia dos pais - "E morreu. A morte reuniu-o aos
seus, velho e saciado de dias. Esaú e Jacó, seus filhos, sepultaram-no".
(Gn 35,29);
2.
Esaú – Ficou sem a benção do pai, como
vingança se casou com as filhas de Ismael para desgosta-lo com intensidade – “Rebeca
disse a Isaac: “Estou desgostosa da vida por causa das filhas de Het. Se Jacó
tomar uma mulher entre as filhas de Het, para que ainda viver?” Gn 27,46; “Viu
também que Jacó, obedecendo aos seus pais, partira para Padã-Arã. E,
compreendendo que as filhas de Canaã não eram bem vistas pelo seu pai, 28,8-9.
3.
Rebeca – Na tentativa de beneficiar a
Jacó, acabou perdendo os dois. Perdeu a presença física de Jacó e a presença
emocional de Esaú.
4.
Isaque – Sempre foi omisso na criação dos
filhos. Mais do que cego fisicamente,era cego espiritualmente. Colocou sua
família em crise sem que um momento algum buscasse reorganiza-la.
As conseqüências para uma
família sem os princípios divinos são incalculáveis. Talvez seja por isso que
Jesus mandava aqueles a quem curava para casa, pois é na casa que eles começam
a ficar doente - "Jesus não o admitiu, mas disse-lhe: Vai para casa,
para junto dos teus e anuncia-lhes tudo o que o Senhor fez por ti, e como se
compadeceu de ti". (Mc 5,19).
III.
O CARATER É DEFORMADO PELA FALTA DE
VALORIZAÇÃO E DE SEGURANÇA.
“Quem é eu? O que sou? A que assisto? Que intervalo é este entre mim e
mim? – Fernando Pessoa”.
Quando Jacó nasceu,
deram-lhe um nome cheio de significado negativo – Jacó = usurpador, suplantador
– Ele nutriu não uma maldição, mas uma aceitação de que de fato era o que seu nome sugeria – Gn 27,35-36. Mais do
que o nome, ele tinha um caráter que não foi trabalhado por seus pais. Era
usurpador e suplantador. Ursupou a primogenitura, ursupou o rebanho de
Labão. Enganou a todos. No entanto não
enganou a Deus.
Ficou nu diante daquele que
conhece todo coração humano -
"Nenhuma criatura lhe é invisível. Tudo é nu e descoberto aos olhos
daquele a quem havemos de prestar contas". (Hb 4,13). Na volta para
casa – Gn 32,22-32, Jacó ouviu de Deus a mesma pergunta feita por seu pai –
“como re chamas” – Gn 32-27. E diante daquele que discerne o coração humano –
Sl 139 – ele passou por um processo maravilhoso de transformação. Jacó se
apresentou como verdadeiramente era.
1. Jacó
confessou seu pecado – Gn 32,27.
"Ele perguntou-lhe:
“Qual é o teu nome?” “Jacó.”" – que quer dizer: “eu sou o usurpador”.
"Se reconhecemos os
nossos pecados, (Deus aí está) fiel e justo para nos perdoar os pecados e para
nos purificar de toda iniqüidade". (1Jo 1,9)
2. Jacó
buscou uma benção especial – Gn 32,26.
"E disse-lhe: “Deixa-me
partir, porque a aurora se levanta.” “Não te deixarei partir respondeu Jacó,
antes que me tenhas abençoado.”" (Gn 32,26).
"Se vós, pois,
sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai
celestial dará o Espírito Santo aos que lho pedirem". (Lc 11,13).
O que não alcançara na casa
do pai Isaque e do tio Labão estava agora bem perto e Jacó não perderia esta
oportunidade.
3. Jacó
recebeu um novo nome – Gn 32,28.
“Teu nome não será mais
Jacó, tornou ele, mas Israel, porque lutaste com Deus e com os homens, e
venceste.” Jacó perguntou-lhe:" (Gn 32,28). “Israel = Príncipe
de Deus”.
Era um sinal de que também
o seu caráter estava sendo transformado de usurpador a príncipe. São
transformações que só o Espírito Santo pode operar em nós - "Mas todos
nós temos o rosto descoberto, refletimos como num espelho a glória do Senhor e
nos vemos transformados nesta mesma imagem, sempre mais resplandecentes, pela
ação do Espírito do Senhor". (2Cor 3,18).
4. Jacó
recebeu uma marca especial – Gn 32,25.31.32.
Era um sinal externo de que
havia lutado com Deus. Da mesma forma o fruto do Espírito Santo é o melhor
sinal de que temos andado com Deus – “Ao contrário, o fruto do Espírito é
caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura,
temperança. Contra estas coisas não há lei.” – Gl 5,22-23.
“32,4-22: Jacó sente-se culpado: depois
de ser explorado por vinte anos, percebe melhor a trapaça que fizera contra o
irmão. Tem medo e toma providências para que Esaú o receba bem.” – Bíblia
pastoral.
“32,23-33: Na tensão frente ao encontro
com o irmão, Jacó fica sozinho, à noite. Desencadeia-se uma luta misteriosa com
um desconhecido, que é o próprio Deus. Jacó luta a noite toda, porque deseja a
bênção que preserve sua pessoa e seus bens. Antes de abençoá-lo, o desconhecido
lhe dá o nome de Israel, que será o nome do povo da promessa: a bênção não terá
em vista pretensões pessoais, mas a formação de um povo. O desconhecido, porém,
não revela o próprio nome: Jacó não poderá manipular a Deus, como fez com o pai
e o irmão. De Jacó nascerá um povo: este vai ter como missão realizar o projeto
de Deus, e jamais poderá trapacear esse projeto sem sofrer sérias
conseqüências.” – Bíblia Pastoral.
“No decorrer da vida, o homem acaba tendo um encontro
decisivo com Deus. No centro desse encontro há uma luta tenaz, em que o homem
acaba reduzido (ferido) nas suas pretensões egocêntricas; mas, ao mesmo tempo,
descobre o destino (novo nome) que Deus lhe prepara na história.” – Bíblia
Pastoral.
CONCLUINDO
A valorização e a segurança
que Jacó não encontrou no lar,
encontrou-os numa experiência maravilhosa com Deus.
Na conversão, o nosso velho
homem morre e nasce uma nova criatura - "Todo aquele que está em Cristo
é uma nova criatura. Passou o que era velho; eis que tudo se fez novo!"
(2Cor 5,17). Dia a dia vamos crescendo
na busca da perfeição em
Cristo Jesus – Fl 3,12-16. No entanto, esta experiência
espiritual não exime os pais de buscarem suprir as necessidades físicas,
emocionais e espirituais de seus filhos. Que a nossa casa seja um instrumento
de Deus para a formação dos mais altos valores sociais e espirituais. Que ali
não sejam encontrados os mesmos sentimentos e atitudes que formaram a Jacó.
Pelo contrario, que príncipes e princesas do Senhor crescem diante de nossos
olhos na graça e no conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo - "Mas
crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A
ele a glória agora e eternamente". (2Pd 3,18).
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