Nos capítulos
anteriores constatamos que temos um inimigo incansável, que de muitas maneiras
investe contra a humanidade e contra os santos. Não podemos ignorar que existem
forças demoníacas atuando na esfera espiritual, possuindo pessoas, oprimindo,
influenciando.
Contudo,
muitos exageros têm surgido quanto a isso. Batalha espiritual,
para muitos crentes, se tornou uma obsessão. Restringe-se a guerra a um ataque
aos demônios e a tudo que acham identificar-se com eles. “A batalha não se
limita somente à eliminação de forças demoníacas. Ela também se encarna nos
vícios e nas malignidades humanas” – Ricardo Gondin. Esta batalha
espiritual é muito mais abrangente do que os “movimentos de batalha
espiritual” modernos sugerem.
Antes de
desenvolver-se na terra, esta batalha teve seu enredo no ambiente celestial.
Quando Lúcifer se rebelou conterá Deus – cf. Is 14,12-17, ai a guerra
estava declarada. Mas não havia como encarar o Senhor. Embora desejasse, nenhum
outro ser celestial, alem do que arrastara consigo, poderia tornar-se sua
presa. Lúcifer, então, encontra espaço para sua atuação no ambiente terreno.
I.
O INICIO DA BATALHA.
Quando,
então, a batalha espiritual que até hoje vigora teve seu inicio? Iniciou-se no
Éden. Satanás viu o homem, criatura de Deus, como um ser contra quem poderia
investir, e investiu. Nossos primeiros pais foram tentados e cederam à
tentação. Já havia inimizade entre Deus
e o diabo. Agora passava a existir inimizade entre este e a “semente da
mulher” - "Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência
e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu ferirás o calcanhar.” (Gn 3,15),
que é Jesus Cristo. Esta inimizade se mantém no confronto com o povo de Deus. A
tentativa do diabo, como ocorreu no Éden, é levar o homem acreditar que Deus
não é confiável, que Ele governa com tirania e suborno. Este é um tema
desenvolvido por Gondin nas paginas 35-54 do seu livro.
II.
O CLIMAX DA BATALHA.
A batalha
chegou ao seu ápice quando Jesus Cristo encarnou. Veio ao mundo para morrer
pelos homens, a fim de salva-los da morte eterna. Mas, em relação a Satanás, a
vinda do Senhor teve outras finalidades:
·
Ele veio para “expulsar o príncipe deste mundo” – Jo 12,31.
·
Ele veio para “destruir as obras do diabo” – 1Jo 3,8;
Logo que
Jesus nasceu no mundo, o inimigo tentou
barrar-lhe o caminho. Primeiro através de Herodes, na matança dos inocentes - "Vendo,
então, Herodes que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irado e mandou
massacrar em Belém e nos seus arredores todos os meninos de dois anos para
baixo, conforme o tempo exato que havia indagado dos magos". (Mt
2,16). Depois com a tentação – Mt 4,1-11.
Todo o
mistério de Jesus foi um golpe desferido contra Satanás, pois através dele se
cumpria esta profecia de Isaias - "O povo que andava nas trevas viu uma
grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma
luz". (Is 9,1). Mas o golpe mais duro desferido contra Satanás ocorreu
no calvário. Ali ele foi vencido. Porque Jesus, "cancelando o documento
escrito contra nós, cujas prescrições nos condenavam. Aboliu-o definitivamente,
ao encravá-lo na cruz. Espoliou os principados e potestades, e os expôs ao
ridículo, triunfando deles pela cruz". (Cl 2,14-15).
III.
O FIM DA BATALHA.
Þ
Satanás e os demônios, por enquanto, estão soltos
ativos.
Não estão no
inferno, como pensam alguns. Eles habitam nos ares. Três expressões bíblicas
dão-nos a idéia do ambiente de ação das forças do mal, cumprindo o seu
propósito de infligir tormento aos homens da terra.
·
Estão nas “regiões celestes” – "Pois
não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os
principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as
forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares". (Ef 6,12).
·
Vivem a “rodear a terra e passear por ela - "O
Senhor disse-lhe: De onde vens tu? Andei dando volta pelo mundo, disse Satanás,
e passeando por ele". (Jó 1,7).
·
“Anda em derredor” - "Sede
sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão
que ruge, buscando a quem devorar". (1Pd 5,8).
Mas um dia
encerraram suas atividades e serão lançados no inferno, lugar que foi
previamente preparado para eles - "Voltar-se-á em seguida para os da
sua esquerda e lhes dirá: - Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo
eterno destinado ao demônio e aos seus anjos". (Mt 25,41).
Þ
O relato da cessação de suas atividades.
No apocalipse
encontramos o relato da cessação de suas atividades em dois momentos:
·
No milênio – quando Satanás será impedido de
agir por um longo período de tempo - "Vi, então, descer do céu um anjo
que tinha na mão a chave do abismo e uma grande algema. Ele apanhou o Dragão, a
primitiva Serpente, que é o Demônio e Satanás, e o acorrentou por mil
anos". (Ap 20,1-2).
·
No julgamento final – “o diabo,
o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago do fogo e enxofre, onde também
se encontram não só a besta como o falso profeta; e serão atormentados de dia e
de noite pelos séculos dos séculos” – Ap 20,10.
IV.
DEUS VERSUS SATANÁS.
Tem-se
cometido o engano de pensar que Deus e o Diabo estão medindo forças; que são
poderes opostos iguais e que, neste caso, o inimigo se torna uma ameaça a
Deus.na verdade são dois poderes diferentes, um maior e outro menor. Satanás
bem que tentou ser igual a Deus - "Subirei sobre as nuvens mais altas e
me tornarei igual ao Altíssimo". (Is 14,14) mas não é. Todos os que
pensam que sim estão sendo enganados por ele, o que é parte do seu trabalho - "Vós
tendes como pai o demônio e quereis fazer os desejos de vosso pai. Ele era
homicida desde o princípio e não permaneceu na verdade, porque a verdade não
está nele. Quando diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso
e pai da mentira". (Jo 8,44). Satanás é limitado tanto em suas ações
como em sua existência. Ele não é onipotente, nem onipresente, nem onisciente.
Nada faz neste mundo que não esteja dentro da vontade permissiva de Deus, nada
faz sem seu consentimento - "Pois bem!, respondeu o Senhor. Tudo o que
ele tem está em teu poder; mas não estendas a tua mão contra a sua pessoa. E
Satanás saiu da presença do Senhor". (Jó 1,12).
CONCLUINDO
A batalha
teve seu inicio e se desenvolve. Mas o seu fim já é previsto e o inimigo já
teve sua condenação decretada. Não nos deixemos envolver na onda de misticismo
em torno desta batalha espiritual. Nada mais
se requer que nós a não ser o que o Senhor deixa claro em Sua Palavra. Qualquer
atividade, mesmo que extremamente religiosa, se não tem o respaldo das
Escrituras ou se contraria o bom senso, não é da vontade de Deus que a
pratiquemos.
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