“Tende também vós paciência e fortalecei os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima.” Tg 5,8.
- INTRODUÇAO.
Paciência é a virtude que faz parte do fruto do Espírito que consiste em suportar sofrimentos e provações com resignação – “Não só isso, mas nos gloriamos até das tribulações. Pois sabemos que a tribulação produz a paciência” – Rm 5,3. Na sua origem bíblica, paciência e longanimidade vêm da mesma raiz com a idéia de suportar, perseverar e persistir na convicção de se opor ao erro, ainda que sob circunstancias adversas (Tg 1,12; 5,7; Rm 9,22; Cl 3,12).
Vemos que o Deus da paciência, ao invés de explodir o seu furor, sua ira santa e destruir a humanidade corrupta, adia o julgamento e dá nova oportunidade através de um homem que temia ao Senhor (Gn 6,5-8).
Esta deve ser a nossa meta no dia a dia: deixar a ira abandonar o furor e não ser impaciente (Sl 37,8). Haverá alguma recompensa por levarmos pacientemente a nossa cruz? È o que vamos ver a seguir, através de alguns exemplos baseados no texto que estamos estudando.
- O EXEMPLO DO LAVRADOR PACIENTE – Tg 5,7-9.
È evidente, no contexto da epistola, o sofrimento dos cristãos mais pobres da Dispersão, sob a opressão dos ricos (Tg 5,4-6). Muitos deles podem até ter se convertido na Igreja de Jerusalém, onde Tiago parece ter sido pastor por algum tempo (At 15,13-21). Parece que Tiago procura pastoreá-los à distancia, através da epístola, na qual os exorta animando, confortando e consolando, até porque reverter o comportamento injusto dos poderosos opressores na época era difícil (Tg 2,4-7).
Uma vez que Deus irá punir estes opressores, os crentes precisam esperar com paciência.
a) A paciência do lavrador em relação à natureza – Tg 5,7.
O lavrador prepara a terra, ara, semeia, limpa o mato, e vem sobre ele sol causticante, chuva, animais peçonhentos e outros. Tudo ele suporta pacientemente desde a primeira chuva da primavera até a última do verão.
O lavrador faz fielmente a sua parte e, se a natureza colabora, finalmente nascem frutos exuberantes, que enchem os seleiros, e o coração de quem tanto se esforçou transborda de alegria. É a recompensa do trabalho sofrido, perseverante e paciente; exemplo que devemos imitar (Tg 5,7).
b) O limite da paciência cristã para vencer as provações – Tg 5,8ª.9ª.
Para Tiago, perder a paciência não deve ser atitude do cristão, uma vez que ela deve durar até a volta de Cristo (Tg 5,7ª). Quando o Senhor voltar, fará justiça. Os maus serão castigados e os justos, como recompensa, serão recolhidos no glorioso reino, onde não haverá mais pranto e até as lagrimas dos sofrimentos serão enxugadas dos nossos olhos (Ap 21,4).
A principio, pode aparecer que a queixa de uns contra os outros (v. 9) não tem muita coisa à ver co o contexto. Todavia, devemos lembrar que queixa ou numeração contra os outros é tentação comum nos tempos de muita pressão.
c) A paciência e a Segunda Vinda – Tg 5,8b e 9b.
O final dos versos 8 e 9 tem em comum referencias à volta do Senhor e ao julgamento a ele associado. Sabemos que o próximo grande acontecimento na historia da redenção será a volta do Senhor. Ao mencionar que “o juiz está às portas” – v. 9b, o autor relembra-nos que o Senhor voltará como juiz (Mt 25,31-34; At 17,31; 2 Tm 4,1).
- O EXEMPLO DOS PROFETAS DO ANTIGO TESTAMENTO – Tg 5,10.
Certamente não foram só os irmãos da Dispersão a sofrerem provações. O Apostolo destaca o sofrimento dos profetas na trajetória de seus ministérios.
a) O testemunho do profeta Amós – “Eles aborrecem os que os repreendem à porta, e detestam o homem de palavras íntegras.” Am 5,10;
b) O testemunho do profeta Jeremias – “A espada dizimou vossos profetas qual leão devastador.” Jr 2,30b.
c) O testemunho do profeta Elias – “... Porque os israelitas abandonaram a vossa aliança, derrubaram os vossos altares e passaram os vossos profetas ao fio da espada. Só eu fiquei, e querem tirar-me a vida.” 1Rs 19,10.
d) O testemunho do escritor aos Hebreus – “E, no entanto, todos estes mártires da fé não conheceram a realização das promessas! Porque Deus, que tinha para nós uma sorte melhor, não quis que eles chegassem sem nós à perfeição (da felicidade).” Hb 11,39-40. Sobre isso afirmou Jesus: “No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo.” Jô 16,33b.
e) O testemunho de Jesus Cristo – “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas aqueles que te são enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a galinha reúne seus pintinhos debaixo de suas asas... e tu não quiseste!” Mt 23,37. Mas ele também ofereceu consolo: “Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus! Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.” Mt 5,10-12.
- O EXEMPLO DE JÓ – Tg 5,11.
Tiago é o único escritor do N.T. que cita Jó. “Notaste o meu servo Jó? Não há ninguém igual a ele na terra: íntegro, reto, temente a Deus, afastado do mal.” – Jó 1,8, conforme o testemunho do próprio Deus ao adversário. Todavia, por permissão de Deus, foi provado. Satanás só não lhe tocou a alma, mas os bens, família e saúde. A desgraça foi total.
a) As aprovações de Jó.
· Perda repentina e total de todos os bens através de uma ação satânica, ficando totalmente pobre – Jó 1,13-17;
· Perda dos dez filhos de uma só vez, enquanto se confraternizavam na casa do irmão primogênito – Jó 1,18-19;
· Perda da saúde, ficando torturado e humilhado no corpo, em conseqüência das chagas que o maligno lhe pôs da cabeça aos pés – Jó 2,6-8.
A despeito de tão pesada provação, Jó se humilhou e adorou o Deus que tudo lhe deu e tirou, provando que sua vida estava escolhida em Deus, e em nenhuma das coisas terrenas – Jô 1,20-22; 19,25-27.
Tiago diz que são bem-aventurados os que são perseverantes no sofrimento e exemplifica com a vida do justo Jó, relembrando quantas recompensas ele recebeu do Senhor.
b) As recompensas de Jô.
a) Na vida espiritual – Deus lhe restaurou a posição de sacerdote que tivera antes – Jó 1,5; 42,8-9.
b) Na vida material – Deus lhe dobrou a quantidade de animais que possuíra antes – Compare Jó 1,3 com Jó 42,12;
c) Na vida domestica e social – Deus lhe deu outros dez filhos. Também os parente e amigos que dele se afastaram por sua doença e pobreza voltaram ao convívio, até lhe trazendo presentes custosos – Jó 42,11-15.
d) Na longevidade – Deus concedeu a Jó uma vida longa para que ele pudesse desfrutar, juntamente com sua família, as recompensas de sua provação e paciência – Jó 42,16-17.
- CONCLUSAO.
Na pratica, exercer paciência não é fácil, mas necessário. Especialmente olhando para o mundo conturbado de hoje, sem paciência, como vencê-lo? Se até os descrentes já entendem assim, imagine a responsabilidade dos cristãos – “Portanto, como eleitos de Deus, santos e queridos, revesti-vos de entranhada misericórdia, de bondade, humildade, doçura, paciência.” Cl 3,12.
Tiago, já na sua época, via a necessidade do cristão reforçar a sua fé com uma dupla dose de paciência, como forma de vencer a opressão do mundo ímpio e as diferentes opiniões e reclamações entre os próprios irmãos de fé – Tg 5,8-9.
Para tanto, temos de nos espelhar na exemplar paciência exercida em meio a tanto sofrimento pelo lavrador, pelos profetas, por Jó e principalmente, por Jesus. Afinal, o texto encerra declarando que “Vós sabeis que felicitamos os que suportam os sofrimentos de Jó. Vós conheceis o fim em que o Senhor o colocou, porque o Senhor é misericordioso e compassivo.” Tg 5,11. Portanto, o filho de Deus não precisa pensar que está sozinho ao ter que exercer paciência nas provações. Ele tem um Deus misericordioso e compassivo olhando para sua difícil jornada, que certamente terá um final feliz!
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