domingo, 19 de fevereiro de 2012

SERMAO DA MONTANHA - LIÇÃO 02 – O CARATER DO CRISTÃO (1)


“Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto.” Sl 32,1.


  1. INTTRODUÇAO.

Começamos a estudar a primeira parte do Sermão da Montanha – as bem-aventuranças – que demonstram o tipo do caráter que Cristo espera dos seus discípulos no dia a dia, que é bem diferente das qualidades que o mundo exige hoje. O mundo não acha que a pessoa “humilde de espírito”, “mansa” ou “pacificadora” é feliz.

Nos termos do mundo, para ser feliz a pessoa tem de procurar seus próprios direitos, buscar realização pessoal a todo custo, sem pensar em quem pisa para alcançar objetivos e felicidade. Mas Cristo, nesse trecho do Sermão, mostra que a verdadeira felicidade é bem diferente. Seu perdão de vida para os discípulos entre em choque com os padrões do mundo.

  1. QUEM SÃO OS OUVINTES.

Temos um problema aqui, no inicio do sermão notamos que, depois que Jesus se assentou, “Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele. Então abriu a boca e lhes ensinava, dizendo.” – Mt 5,1-2. Essa afirmação parece excluir todos os demais. Entretanto, no fim do sermão, lemos que: “Ao concluir Jesus este discurso, as [multidões] se maravilhavam da sua doutrina.” – Mt 7,28. Isto não teria acontecido se elas estivessem não tivessem presentes.

A resposta parece simples e óbvia.

                      I.    Seus discípulos.

Jesus começou seu ensinamento dirigindo as palavras a seus discípulos. Jesus quis desafiá-los em relação ao seu estilo de vida, sua dedicação exclusiva ao serviço do reino. Não há duvida que Jesus tinha inicialmente os discípulos como o alvo do seu ensino. Como John Stott comenta: “As bem-aventuranças descrevem o caráter equilibrado do povo cristão”. No Evangelho de Lucas, o Sermão da Montanha segue imediatamente depois da escolha dos Doze – Lc 6,13-26. Por causa disso os estudiosos têm chamado o sermão de: “O sermão de ordenação aos doze”, “O compendio de doutrina cristã”, “A Magna carta do Reino”. Essencialmente Jesus estava ensinando as qualidades que devem caracterizar todos os seus discípulos, cada cidadão do Reino de Deus.

Uma frase que aparece em Mt 6,8 enfatiza essa verdade – “Não os imiteis”. No contexto Jesus estava ensinando sobre oração, fazendo uma comparação com os fariseus  que gostavam de chamar atenção seu modo hipócrita de orar em público. Os verdadeiros discípulos tinham de ser diferentes daqueles que estavam fora do reino diferentes do pagãos que não queriam ter nada com o Evangelho, mas diferentes também dos cristãos nominais, dos hipócritas religiosos, diferentes daquelas pessoas que Paulo descreve em 2Tm 3,5 – “... ostentarão a aparência de piedade, mas desdenharão a realidade. Dessa gente, afasta-te!”.

É bom notar também que os bens que as bem-aventuranças não são uma série de regulamentos que uma pessoa deve obedecer para se tornar um cristão, mas uma discrição de como uma pessoa cristã deve viver. Por isso quero destacar mais duas verdades\;

a)    Todos os cristãos devem demonstrar essas qualidades.

Jesus em nenhum lugar sugere que essas qualidades são restritas à liderança da igreja. As Bem-aventuranças refletem as qualidades da vida cristã normal (não anormal), e devem ser vistas na vida de cada crente sem exceção, porque “Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Passou o que era velho; eis que tudo se fez novo!” 2Cor 5,17.

b)   Todos os cristãos devem demonstrar todas essas qualidades.


“Não existem oito grupos separados e distintos de discípulos, alguns dos quais são mansos, enquanto outros são misericordiosos e outros, ainda, chamados para suportar perseguições. São, antes, oito qualidades do mesmo grupo de pessoas que, ao mesmo tempo, são mansas e misericordiosas, humildes de espírito e limpos de coração, choram e tem fome, são pacificadoras e perseguidas” (John Stott). Alguns cristãos são extrovertidos, outros introvertidos, alguns enfrentam os problemas de maneira positiva, enquanto outros de maneira negativa. Ninguém sugere que todos nós temos de ter mesmo temperamento ou os mesmos dons. As Bem-aventuranças não falam de dons, nem de temperamento, mas das características que devem ser vistas da vida daqueles que pertencem ao reino de Deus.

                    II.    As multidões.

Não há duvida que as multidões viram Jesus subindo ao monte – “Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha.” Mt 5,1ª, e pouco a pouco aproximaram-se dEle. Enquanto o sermão visava primeiramente aos discípulos, Jesus ampliou seu ensino para todos. O discurso de Jesus incluiu o tipo de desafio que esperamos no fim de um sermão evangelístico – “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram.” Mt 7,13-14.

  1. QUAIS AS QUALIDADES RECOMENDADAS?

Por causa da versão de Lc 6,20-21 – “Então ele ergueu os olhos para os seus discípulos e disse: Bem-aventurados vós que sois pobres, porque vosso é o Reino de Deus! Bem-aventurados vós que agora tendes fome, porque serão fartos!” – algumas pessoas acham que Jesus estava julgando os pobres e os famintos do ponto de vista material e que Ele estava prometendo alimento aos subnutridos. Mas esta não é a mensagem aqui.

Jesus sempre demonstrava compaixão pelos necessitados, mas não estava prometendo que ser cristão, fazendo parte do reino de Deus, traz vantagem econômica. Quando Jesus falava de pobreza e fome nas bem-aventuranças Ele está falando de condições espirituais. Os bem-aventurados são “os pobres (humildes) de espírito” e aqueles que “tem fome e sede de justiça”. Podemos deduzir disso que as outras qualidades também são espirituais.

  1. QUAIS SÃO AS BENÇÃOS PROMETIDAS?

                      I.    Felicidade.

A primeira palavra do sermão, “Bem-aventurados”, que seria repetida mais sete vezes nesse trecho, chamaria a atenção dos ouvintes. Há Bíblias na linguagem de hoje traduzem esta palavra por “felizes”, mas isso não descreve bem o verdadeiro sentido seu. Don Carson comenta: “Aqueles que são abençoados geralmente são bastante felizes, mas bem-aventurança não pode ser reduzida à felicidade”. Em outras palavras há pessoas que procuram felicidade (por algum tempo) por meio do álcool ou drogas, ou do sexo fora do casamento. Tais pessoas não podem ser consideradas abençoadas!

                    II.    Felicidade vazia.

O rei Salomão era um administrador brilhante, um compositor com mais de 1.000 cânticos e um sábio com mais de 3.000 provérbios. O rei mais rico 1.400 carros e 12.000 mil cavalos, e seu rendimento anual inclui 666  talentos de ouro – “O peso de ouro, que era levado anualmente a Salomão, era de seiscentos e sessenta e seis talentos.” 1Rs 10,14. Sua paixão sexual foi satisfeita por 700 esposas e 300 concubinas – “A estas nações uniu-se Salomão por seus amores. Teve setecentas esposas de classe principesca e trezentas concubinas. E suas mulheres perverteram-lhe o coração.” 1Rs 11,3 (Bíblia Ave Maria). Mas no fim da vida ele exclamou: “Tudo que meus olhos desejaram, não lhes recusei; não privei meu coração de nenhuma alegria. Meu coração encontrava sua alegria no meu trabalho; este é o fruto que dele tirei. Mas, quando me pus a considerar todas as obras de minhas mãos e o trabalho ao qual me tinha dado para fazê-las, eis: tudo é vaidade e vento que passa; não há nada de proveitoso debaixo do sol.” Ecl 2,10-11.

                   III.    A verdadeira felicidade.

A palavra “bem-aventurados” é uma palavra especial no grego – makarioi. Os gregos sempre chamaram Chipre de a Ilha feliz porque creram que Chipre era tão linda, toa rica e tão fértil que um homem jamais precisava sair da ilha para achar a vida perfeitamente feliz. A ilha tinha um clima tão bom, flores e árvores tão bonitas, minerais tão úteis que possuía dentro de si mesma todas as condições materiais para a alegria perfeita.

A palavra “bem-aventurados” descreva alegria de quem tem o seu segredo dentro de si mesmo e é completamente independente  das coisas externas da vida.  Jesus disse: “... ninguém vos tirará a vossa alegria” Jô 16.22. As bem-aventuranças do cristão são intocáveis.

É verdade que o mundo tem suas felicidades, mas quando alguma coisa má acontece a alguém, esse pode logo perdê-las. Um colapso na saúde, mau sucesso nos negócios, frustrações da ambição (mesmo mudanças no clima) podem tirar a felicidade vazia que o mundo pode dar. Mas o cristão tem uma alegria totalmente diferente que não depende das circunstancias lá fora, mas do seu estado espiritual lá dentro, visto aos olhos de Deus. Há cinco verdades que a Bíblia declara sobre isso.

a)    Bem-aventurança é algo que somente Deus pode dar.

Nós não temos os recursos para produzir a condição espiritual que seria aceitável por Deus. O salmista Davi acertou bem quando escreveu: “Bem-aventurado o povo a quem assim sucede! Bem-aventurado o povo cujo Deus é o Senhor.” Sl 144,15.

b)    Bem-aventurança é um estado que Deus deseja que seu povo desfrute.

Quando Deus criou o homem e a mulher, lemos que “Deus os abençoou” Gn 1,27-28, assegurando o favor divino sobre eles. Na bênção abraônica temos o mesmo sentido – “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor te mostre a sua face e conceda-te sua graça! O Senhor volva o seu rosto para ti e te dê a paz!” Nm 6,24-26.

c)    Bem-aventurança não depende das circunstancias.

Paulo pode escrever aos filipenses – “Fiquei imensamente contente, no Senhor, porque, finalmente, vi reflorescer o vosso interesse por mim. É verdade que sempre pensáveis nisso, mas vos faltava oportunidade de mostrá-lo. Não é minha penúria que me faz falar. Aprendi a contentar-me com o que tenho.” Fl 4,10-11; e aos coríntios – “Tenho grande confiança em vós. Grande é o motivo de me gloriar de vós. Estou cheio de consolação, transbordo de gozo em todas as nossas tribulações.” 2Cor 7,4, e mais adiante na mesma carta – “Eis por que sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte.” 2Cor 12,10.


d)    Bem-aventurança é relacionada com a obediência à palavra de Deus.

Um dia, uma mulher, no meio da multidão, exclamou: “Bem-aventurado o ventre que te trouxe, e os peitos que te amamentaram! Mas Jesus replicou: Antes bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e a observam!” Lc 11,27-28. Se quisermos ser um povo bem-aventurado, necessitamos obedecer totalmente a Palavra de Deus. O salmista descreve perfeitamente aquilo que queremos dizer: “Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.” Sl 1,1.

  1. QUE É REINO?

É interessante notar que a primeira bem-aventurança e a última fazem a mesma promessa – “porque deles é o reino dos céus” Mt 5,3.10. No resto do sermão em Mt 5-7, descobrimos que Jesus menciona “o reino” mais sete vezes, mostrando-nos que “o reino dos céus” é o grande tema do sermão.

Quando estudamos a Bíblia, percebemos que há mais de 100 referencias ao “reino dos céus” ou ao “reino de Deus”. Há alguma diferença entre esses dois termos? Embora haja bastante discussão sobre isso, creio que não! Quando Jesus falou a respeito do jovem rico, ele disse: “Em verdade vos declaro: é difícil para um rico entrar no Reino dos céus! Eu vos repito: é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus.” Mt 19,23-24. É obvio que Jesus estava usando estes dois termos como sinônimos. Jesus não estava falando de dois reinos, mas um. E quando os discípulos perguntaram: “Quem pode ser salvo?”, eles não estavam pensando num reino aqui na terra no futuro. Veja outros textos paralelos – Mt 5,3 com Lc 6,20; Mt 13,1 com Mc 4,11; Mt 19,14 com Mc 10,14.

Destaco quatro fatos sobre esse reino:

                      I.    É um reino eterno – Sl 145,13; Dn 4,34-35; 1Cr 29,10-11; 1Tm 1,17; 6,15-16.

O reino universal e eterno de Deus é o último fato. Sua soberania absoluta é o alicerce de toda a verdade bíblica  e nenhuma compreensão de História ou teologia é possível sem ela.

                    II.    É um reino espiritual.

Os judeus sempre procuraram um reino terrestre e um messias que estabeleceria seu reino aqui na terra. Depois da ressurreição, Jesus apareceu aos seus discípulos “falando das coisas do Reino de Deus” – At 1,3. É incrível que os próprios discípulos ainda tinham a mente fixa num reino político, territorial e nacional: “Senhor, é porventura agora que ides instaurar o reino de Israel?” – At 1,6. Jesus nunca prometeu estabelecer um reino político. A Pilatos, Jesus afirmou: “O meu Reino não é deste mundo” Jô 18,36.
                   III.    É um reino contemporâneo.

O reino de Deus, contudo, só será consumado totalmente consumado depois da segunda vinda de Cristo. A Bíblia, contudo, deixa claro que Cristo inaugurou o reino d=na sua primeira vinda. Quando os fariseus perguntaram quando o reino de Deus chegaria, Jesus respondeu: “O Reino de Deus não virá de um modo ostensivo. Nem se dirá: Ei-lo aqui; ou: Ei-lo ali. Pois o Reino de Deus já está no meio de vós.” Lc 17,20-21. O reino já tinha chegado, porque Ele já chegou! O reino de Deus é aqui e agora!

                  IV.    É um reino dinâmico.

O reino de Deus, em ultimo lugar, quer dizer reino absoluto de Deus na minha vida. Por causa da minha união espiritual e dinâmica com o Rei, posso viver segundo as normas do reino. O reino de cristo em e pela vida do povo de Deus não é estático, mas dinâmico.

Cristãos vivem sob o reino gracioso de Cristo. Pela graça de Deus, foram libertados “do império das trevas”, transportados “para o reino do Filho do seu amor” (Cl 1,13) e receberam “os mistérios do reino dos céus” (Mt 13,11)

  1. CONCLUSAO.

Depois de ter feito um estudo introdutório das bem-aventuranças, na próxima lição vamos estudá-las individualmente.


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