“Eis que o salário que fraudulentamente retivestes aos trabalhadores que ceifaram os vossos campos clama, e os clamores dos ceifeiros têm chegado aos ouvidos do Senhor dos exércitos.” Tg 5,4.
- INTRODUÇAO.
Ao ler estes versos de Tiago parece que estamos lendo o jornal de nossa cidade ou estado. A nítida divisão de classes sociais, ricos e pobres, está estampada neste texto. Sempre houve exploração econômica no mundo; pessoas e países ricos oprimindo os mais pobres. Desde o AT o Senhor vem condenando essa pratica (Is 3,14-15; Jr 5,26-27; Am 5,10-12). O próprio Tiago faz menção deste tema em capítulos anteriores (Tg 1,10; 2,16). Atualmente, a desigualdade social constitui um dos principais problemas do mundo, especialmente do Brasil.
Nós, cristãos, como Igreja contemporânea, podemos contribuir muito para manter o equilíbrio. Tratar do tema da responsabilidade social é como tocar em uma ferida de nosso mundo. Às vezes até a própria igreja em tratar deste assunto, sob o pretexto de que devemos somente evangelizar. Não nos esqueçamos, no entanto, que a evangelização foi acompanhada, no inicio da Igreja, por um dedicado trabalho social a fim de minimizar a necessidade de alguns (At 2,42-47; 6,1-3; 2Cor 9,1-14). No inicio da Igreja aqueles que tinham mais repartiam com os necessitados.
Segundo Tiago, como devemos agir diante da riqueza e da pobreza? Vejamos:
- O PERIGO DA RIQUEZA MAL ADQUIRIDA.
a) A bíblia condena a riqueza adquirida através da corrupção, exploração e desonestidade.
Temos noticia de pessoas que eram ricas e ao mesmo tempo abençoadas por Deus (Jó, Abraão, Jacó, outros). Elas enriqueceram enquanto serviam ao Senhor e não usaram de corrupção para tal. Aos seus amados, Deus dá o que necessitam enquanto dormem (Sl 127,2). O Senhor desaprovou a conduta de pessoas que, sem a autorização dele, lançaram mãos de riquezas. Vejamos como Deus pesou a Mao sobre todo o Israel por causa da ganância e da avareza de Acaz (Is 7) e como respondeu Geazi, com lepra, por este ter lançado mão do que Deus não aprovara (2Rs 5,20-27). Tiago condena os que se enriqueceram por causa da corrupção (Tg 5,2) e retendo o salário de seus trabalhadores (Tg 5,4). O AT regulava as leis trabalhistas e proibia o pagamento injusto e a opressão (Lv 19,13). Não podia haver retenção do salário (Dt 24,14-15; Jr 22,13).
b) O salvo não deve enriquecer de maneira fraudulenta e nem de maneira fácil.
A ordem bíblica é para que trabalhemos honestamente e vivamos do suor do nosso rosto (Gn 3,17-19; 2 Ts 3,10). Devemos viver de maneira que dignifique a nossa vocação cristã (Ef 4,1), pagando as nossas contas (Rm 13,8), e confiar que Deus há de suprir cada uma de nossas necessidades (Fl 4,19).
c) Devemos tomar cuidado com o desejo de ficar ricos, mesmo que de forma honesta, visto que o dinheiro, que é neutro, pode se tornar senhor e não servo nosso.
Jesus fala quando do perigo de se colocar o coração na riqueza e com isso abandonar o Deus verdadeiro (Mt 6,24; Lc 16.13). Devemos buscar em primeiro lugar o reino e Deus e a sua justiça e não duvidar da providencia de Deus em relação às nossas necessidades (Mt 6,33). É bom lembrar, no entanto, que não é pecado ganhar dinheiro nem ficar rico. Parece que este é o principio que Paulo ensinou quando disse que se um escravo pode tornar-se livre, que não perca a oportunidade (1 Cor 7,21). O que se requer, no entanto, é uma disposição mental e espiritual de não se tornar servo da riqueza. O teólogo peruano Pedro Arana adverte que podemos viver uma “crise de ansiedade” se começarmos a nos comparar com o mundo e a querer enriquecer usando os mesmos padrões. Devemos, pelo contrario, nos comparar a Cristo, que sendo rico se fez pobre por amor de nós (“Vós conheceis a bondade de nosso Senhor Jesus Cristo. Sendo rico, se fez pobre por vós, a fim de vos enriquecer por sua pobreza.” 2 Cor 8,9.
- DESAFIO DA RIQUEZA MAL DISTRIBUIDA.
a) Assim como devemos tomar cuidado com a forma de adquirir os bens, devemos tomar cuidado dobrado ao gastá-los
Tiago fala dos que vivem regaladamente com seus bens, em detrimento de outras pessoas menos favorecidos (Tg 5,5-6). Algumas estavam usando os seus recursos para destruir outras pessoas (v 6). Veja o mau exemplo do rei Acabe, que mesmo tendo tanto terra e bem ainda usurpou a terra do pobre Nabote e o matou (1Rs 21,1-16). Jesus fala em Lc 12,13-21 de um homem que não repartia, não dava nada a ninguém, mesmo tendo o seu celeiro transbordando. Ele se regalava em sua riqueza e colocava nela todo o seu prazer. A este, Jesus chama de louco.
b) Paulo alerta os cristãos ricos a que não depositem na confiança na riqueza, que é instável – 1 Tm 6,17-19.
Pelo contrario, devem ser generosos e repartir os bens temporários que possuem. O empenho maior deve ser em praticar boas obras, acumulando assim riquezas eternas nos céus. É o mesmo principio ensinado por Jesus em Mt 6,19-21, que na Nova Tradução na língua de hoje está assim: “Não ajunteis para vós tesouros na terra; onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consumem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração.” Para administrar bem o que Deus tem nos dado, observemos dez princípios para a saúde financeira.
I. Faça uma lista de suas reais necessidades e só compre o que de fato precisa. Não gaste desnecessariamente. De oportunidade para Deus agir na provisão de suas necessidades reais.
II. Antes de comprar é preciso orar e esperar o conselho de Deus para decidir.
III. Evite o luxo. A simplicidade nunca fez mal a ninguém.
IV. Não gaste além do que ganha.
V. Procure equilibrar receita e despesa.
VI. Não torne fiador de estranhos (“Quem fica por fiador de um estranho cairá na desventura” Pr 11.15ª).
VII. Tente comprar somente a dinheiro, à vista. Evite o excesso de prestações.
VIII. Não torne dinheiro emprestado sem analisar os riscos. Não desafie Deus a pagar as contas. A fé não é irresponsável.
IX. Seja generoso. Os que contribuem liberalmente têm a promessa do Senhor de que serão recompensados (“Colocar-vos-ão no regaço medida boa, cheia, recalcada e transbordante, porque, com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos vós também.” (Lc 6,38).
X. Seja sempre fiel nos dízimos.
Há promessas maravilhosas para quem é fiel ao Senhor (“Pagai integralmente os dízimos ao tesouro do templo, para que haja alimento em minha casa. Fazei a experiência - diz o Senhor dos exércitos - e vereis se não vos abro os reservatórios do céu e se não derramo a minha bênção sobre vós muito além do necessário.” Ml 3,10).
- O RESULTADO DA RIQUEZA NÃO CONSAGRADA.
A riqueza mal adquirida, mal distribuída e mal consagrada produz resultados indesejáveis para nós. Tiago fala de algumas conseqüências, imediatas e futuras, advindas da não consagração dos bens ao Senhor. Vejamos.
a) A destruição da riqueza – Tg 5,2-3.
A traça come o que não está a disposição do Senhor (“Vossas riquezas apodreceram e vossas roupas foram comidas pela traça.” Tg 5,2) e a ferrugem o destrói (“Vosso ouro e vossa prata enferrujaram-se e a sua ferrugem dará testemunho contra vós e devorará vossas carnes como fogo.” Tg 5,3). Jesus já tinha dito que os que ajuntam tesouros na terra terão muita decepção. Quantas tristezas têm as famílias que se firmam em suas riquezas! Quantas brigas judiciais entre irmãos quando a questão é o dinheiro deixado pelos pais. O mesmo Pedro Arana, citado anteriormente, fala da “crise do matrimonio”, em função do muito e até do pouco dinheiro do casal. Para ele, muito do romantismo do casamento vai embora quando os cônjuges não consagram seus bens ao Senhor.
b) A destruição futura – Tg 5,3-4.
O dinheiro, como instrumento de opressão, há de se voltar contra o que oprime (“... dará testemunho contra vós e devorará vossas carnes como fogo.” Tg 5,3). As riquezas mal adquiridas e mal administradas devorarão como fogo a carne dos que nelas confiaram. Fica registrado diante do Senhor o que fazemos com o que temos (“Eis que o salário, que defraudastes aos trabalhadores que ceifavam os vossos campos, clama, e seus gritos de ceifadores chegaram aos ouvidos do Senhor dos exércitos.” Tg 5,4). Podemos entender que quando usamos nossos recursos para abençoar os outros, para salvar vidas, para sustentar a obra de Deus, estamos ajuntando nos céus um tesouro que ninguém poderá tirar de nós (Mt, 6,19-21). Se para alguns o dinheiro se torna um tormento para os que confiam no Senhor é um instrumento a seu serviço.
- CONCLUSAO.
A Bíblia fala muito de dinheiro (125 vezes) de ouro (466 vezes) e de prata (296 vezes). Segundo ela, o dinheiro não é bom e nem ruim, ele é neutro. O que o torna bom ou mau é a maneira como o obtemos e como o usamos. Ele pode ser uma benção (“Assim, enriquecidos em todas as coisas, podereis exercer toda espécie de generosidade que, por nosso intermédio, será ocasião de agradecer a Deus. Realmente, o serviço desta obra de caridade não só provê as necessidades dos irmãos, mas é também uma abundante fonte de ações de graças a Deus.” 2 Cor 9,11-12) ou uma maldição (“Porque a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Acossados pela cobiça, alguns se desviaram da fé e se enredaram em muitas aflições.” 1 Tm 6,10).
Que cada um de nós consagre primeiramente sua vida ao Senhor, e depois os recursos que Deus nos deu (“E ultrapassaram nossas expectativas. Primeiro deram-se a si mesmos ao Senhor e, depois, a nós, pela vontade de Deus.” 1 Cor 8,5). Lembremo-nos sempre que o nosso valor não depende do que temos (“E disse então ao povo: Guardai-vos escrupulosamente de toda a avareza, porque a vida de um homem, ainda que ele esteja na abundância, não depende de suas riquezas.” Lc 12,15.
- Você já consagrou sua vida ao Senhor? E seus bens: são propriedade sua ou dEle? Caso esteja em dificuldades nessa área, ore, peça ajuda, mas não permaneça no erro.
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