A historia de José é uma das mais cativantes do Antigo Testamento. Na vida desse homem está impresso, com marcas indeléveis, o ideal de honestidade, de pureza e de submissão a Deus. Também pode ser visto, contra ele, aquele tipo de perseguição injusta e invejosa que sempre caracteriza a vida que tem sobre si a benção de Deus. Quando lemos toda a sua longa historia, percebemos o quanto a direção de Deus foi vital em tudo que passou em sua firmeza ao enfrentar os desafios do mundo. Essas coisas fazem de José uma das mais importantes figuras do Antigo Testamento e certamente um tipo de Cristo.
- AMADO E ODIADO.
A primeira coisa que percebemos na vida de José que ele era ao mesmo tempo amado e odiado, seu pai o amava, como pode ser visto em Gn 37,3-4 – “Israel amava mais a José do que a todos os seus filhos, porque era filho da sua velhice; e fez-lhe uma túnica de várias cores. Vendo, pois, seus irmãos que seu pai o amava mais do que a todos eles, odiavam-no, e não lhe podiam falar pacificamente”. O ódio de seus irmãos se acentuava ainda mais porque José claramente não compactuava com as coisas erradas que eles faziam, e as relatava ao pai – “José, aos dezessete anos de idade, estava com seus irmãos apascentando os rebanhos; sendo ainda jovem, andava com os filhos de Bila, e com os filhos de Zilpa, mulheres de seu pai; e José trazia a seu pai más notícias a respeito deles.” – Gn 37,2. Ainda por cima, Israel havia dado uma túnica especial a José, o que encheu o coração dos irmãos de ciúmes. Para piorar a situação. José teve dois sonhos nos quais via toda a sua família se prostrando diante dele – Gn 37,5-11.
A gota d’água se deu quando José foi enviado por seu pai até o campo para encontrar os irmãos que se encontravam fora e havia alguns dias. José foi ao encontro deles vestido com a túnica que havia ganhado de seu pai. Naquele momento seus irmãos resolveram mata-lo, mas por interferência de Ruben, venderam-no para uma caravana de midianitas que se dirigia para o Egito. Ao pai, entregaram a túnica manchada com sangue de um bode, induzindo-o a pensar que seu filho estava morto – Gn 37,12-36.
Jesus também foi amado e odiado. Foi amado por seu Pai, como pode ser visto em Mc 1,11 – “... e ouviu-se dos céus esta voz: Tu és meu Filho amado; em ti me comprazo.” Já seus irmãos, aparentemente não lhe tinham muito apreço, pois em Jô 7,5 diz: “Pois nem seus irmãos* criam nele”. Neste mesmo texto, João diz que Jesus ainda não andava pela Judéia porque sabia que os judeus queriam matá-lo. Seus irmãos “bondosamente” lhe sugeriram que fosse para a Judéia a fim de se mostrar a todos – Jô 7,1-4. Aquele certamente foi um conselho de amigo – da – onça. Realmente, ele não foi muito amado por seus irmãos e menos ainda pelo mundo. O mundo o odiou – “O mundo não vos pode odiar; mas ele me odeia a mim, porquanto dele testifico que as suas obras são más”. Jô 7,7.
* De acordo com o a Bíblia a palavra Irmão significa:
· Filhos do mesmo pai e da mesma mãe – (Isaque e Rebeca tiveram Esaú e Jacó);
· Filhos do mesmo pai com mães diferentes – (Jacó teve 13 filhos, 12 homens e uma mulher, com mulheres diferentes);
· Segunda união – filhos do mesmo pai com mães diferentes ou vice-versa.
· Parentes – (Abraão e Ló, Abraão era tio de Ló então Ló era sobrinho de Abraão, em Gn 13,8 Abraão chama Ló de irmão).
· Cada um com a sua fé tiram suas conclusões.
- DE FILHO A CRIMINOSO.
Outra coisa que podemos perceber na vida de José é amaneira como foi caindo de posição de filho passou a servo, e por fim, a criminoso, levado para o Egito, foi vendido para Potifar, um oficial do faraó – “Os midianitas venderam José no Egito a Potifar, oficial de Faraó, capitão da guarda”. – Gn 37,36. Sua honra e seu destaque como filho amado de Israel já não lhe valiam mais nada. Era um escravo, não tinha qualquer honra ou privilégios, mas, por causa das benções de deus, tudo que fazia prosperava, a ponto de ele alcançar posição importante não casa de Potifar, embora permanecesse como escravo – Gn 39,1-6. Foi então que seus problemas recomeçaram.
A mulher de Potifar se interessou por José e tentou induzi-lo a adulterar, mas ele se manteve fiel ao seu senhor e, especialmente a seu Deus, recusando-se a cometer aquele ato infame, como ele mesmo declarou – “... ele não é maior do que eu nesta casa; e nenhuma coisa me vedou, senão a ti, porquanto és sua mulher. Como, pois, posso eu cometer este grande mal, e pecar contra Deus?”Gn 39,9. A recusa de José lhe trouxe grandes problemas. A mulher, irada contra José, preparou-lhe uma armadilha, e conseguiu incrimina-lo com provas falsas, de maneira que ele foi lançado na prisão – Gn 39,10-20.
Essa “descida” de José nos faz pensar na “descida” de Jesus. Sendo Filho e sendo Deus, como Paulo escreve – Fp 2,6-8.
Também houve estágios na vida de Jesus. De posição de Filho, ele se esvaziou assumindo a forma humana. Esvaziou-se ainda mais assumindo a forma de servo. De servo, desceu ainda mais a ponto de se tornar criminoso digno de morte de cruz. Também Jesus foi incriminado com provas falsas – Mt 26,27-64, resistiu a tentação do diabo e jamais cedeu o pecado – Mt 4, 1-11.
- DE CRIMINOSO A PRINCIPE.
A benção de Deus nunca abandonou José, nem mesmo nos duros momentos pelos quais passou. O texto volta a enfatizar – “O Senhor, porém, era com José,” Gn 39,21. Mesmo na prisão, José desfrutou da bondade de Deus e foi bem tratado pelo carcereiro, que viu nele um homem de confiança, mas ainda o mantinha preso. Até que um dia, Deus lhe deu uma oportunidade sair daquele estado de humilhação. Foi quando o mordomo e o padeiro do faraó foram lançados na prisão por ter ofendido o rei. Na prisão, ambos sonharam, e José interpretou os sonhos de ambos, que se cumpriram em três dias. O padeiro foi morto e o mordomo foi restabelecido.
Por dois anos o mordomo não se lembrou de José. Um dia, porem, quando o Faraó teve um sonho estranho que ninguém soube identificar, o mordomo se lembrou de José e contou ao faraó. José foi buscando na prisão e interpretou o sonho do Faraó. O sonho dizia a respeito a sete anos de fartura que seriam seguido de sete anos de escassez. José aconselhou ao faraó a fazer reservas dos sete anos de fartura para os sete anos de escassez. Aquilo tudo agradou tanto o faraó que este nomeou José príncipe do Egito e lhe deu poderes era realizar tudo que fosse preciso para minimizar os efeitos da seca. Assim Jose passou de criminoso a príncipe, ocupando o segundo lugar em importância em todo o reino do Egito. Assim foi ascensão de José.
Podemos identificar algo semelhante na pessoa de Jesus. Da cruz, da morte maldita como criminoso, ele foi exaltado à destra do Pai, tendo recebido toda a autoridade sobre os céus e a terra – “E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra”. Mt 28-18. Paulo também demonstra essa ascensão após a humilhação – “Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu o nome que é sobre todo nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai”. Fp 2,9-11.
- O SUPREMO PROPÓSITO DE DEUS
O que mais destaca na vida de José é o cumprimento do supremo propósito de Deus. Tudo que ele passou contribuiu para que o propósito de Deus se cumprisse em relação ao povo de Israel. Podemos notar que José entendeu perfeitamente tudo isso pelas declarações que fez a seus irmãos, quando estes, ao enfrentar os sete anos de seca, tiveram de descer ao Egito para comprar comida e reencontraram seu irmão. José disse aos temerosos irmãos – “Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos aborreçais por me haverdes vendido para cá; porque para preservar vida é que Deus me enviou adiante de vós.” Gn 45,5. Embora sabendo muito bem que os irmãos foram culpados pelo ato infame de vendê-lo, José entendia acima de tudo que Deus havia dirigido aquilo tudo para o bem maior do seu povo.
Podemos pensar que, se Jose não tivesse sido vendido ao Egito, toda a família de Israel pereceria com fome que assolou a terra. Por isso Jose declarou – “Porque já houve dois anos de fome na terra, e ainda restam cinco anos em que não haverá lavoura nem sega. Deus enviou-me adiante de vós, para conservar-vos descendência na terra, e para guardar-vos em vida por um grande livramento. Assim não fostes vós que me enviastes para cá, senão Deus, que me tem posto por pai de Faraó, e por senhor de toda a sua casa, e como governador sobre toda a terra do Egito”. Gn 45,6-8.
Em outra ocasião ele novamente disse aos irmãos – “Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; Deus, porém, o intentou para o bem, para fazer o que se vê neste dia, isto é, conservar muita gente com vida. Agora, pois, não temais; eu vos sustentarei, a vós e a vossos filhinhos. Assim ele os consolou, e lhes falou ao coração.” Gn 50,20-21. Este foi o entendimento do José – todo sofrimento pelo qual passou não foi sem motivo ou propósito. Por traz de tudo estava Deus agindo em favor de seu povo. Afim de que seu propósito supremo se cumprisse.
Podemos ver neste mesmo entendimento na vida de Jesus. Jesus sabia muito bem que sua dolorosa missão neste mundo era para o cumprimento de Deus. Por isso ele podia dizer, como tantas vezes anunciou, que precisava morrer e ressuscitar – “Desde então começou Jesus Cristo a mostrar aos seus discípulos que era necessário que ele fosse a Jerusalém, que padecesse muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes, e dos escribas, que fosse morto, e que ao terceiro dia ressuscitasse”. Mt 16,21. Sua oração antes da terrível sexta – feira também demonstra isso – “Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai me salva desta hora? Mas para isto vim há esta hora.” Jô 12,27. Jesus tinha consciência de sua missão, por isso, podia dizer – “É necessário que o Filho do homem padeça muitas coisas, que seja rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e escribas, que seja morto, e que ao terceiro dia ressuscite”. Lc 9,22. Sempre esteve muito claro em sua mente o propósito de Deus pelo qual ele havia vindo a este mundo. Por isso, o sofrimento não foi empecilho para que se cumprisse sua missão. Ele sabia que sua morte seria salvação para todo o povo de Deus.
- CONCLUSÃO
na vida do.. ?
ResponderExcluir