- PECADO E GRAÇA NO PARAISO – Gn 3,1-9
Como todos já estão amplamente acostumados com o texto, não há necessidade de recontar toda a história; apenas destacarei alguns detalhes. Primeiramente devemos pensar na posição de extremo significado que Deus conferiu ao homem. Feito á imagem e semelhança de Deus, o homem administraria toda a criação, podendo explorar livremente e de forma responsável todos os recursos naturais existente no paraíso. Deus apenas desejava fazer um teste de fidelidade, e por isso a “a arvore do conhecimento do bem e do mau” foi posta no mio do jardim. Aquela era a única exceção; tudo o mais estava à disposição do homem.
Devemos prestar atenção à tática maligna para fazer o homem cair no pecado. Primeiro a serpente tentou corromper a afirmação divina torcendo suas palavras – “É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?” Gn 3,1. Na verdade não foi isso que Deus disse, mas a mulher mordeu a isca – “Respondeu a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais.” Gn 3,2-3. Induzida pela astúcia do maligno, a mulher começou também a torcer a Palavra de Deus. Nosso Pai Celeste não havia proibido Adão e Eva olhar para a arvore e nem mesmo toca-la, eles não deveriam “comer” o fruto da arvore. A primeira coisa, portanto, que a mulher fez foi acrescentar algo a Palavra.
Esse porem não foi o único erro, pois Deus havia dito: “... porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” Gn 2,17b. A morte não era apenas uma possibilidade – era uma certeza absoluta. Na resposta da mulher, há uma perda da força da punição, apenas uma possibilidade, mas fraca aparece – “... para que não morrerais” Gn 3,3. Aqui vemos uma diminuição do ensino da Palavra. Quando o maligno viu que havia conseguido enredar o ser humano em sua argumentação, opôs diretamente a Palavra de Deus. – “... Certamente não morrereis” Gn 3,4. Estava dado o golpe final; a mulher e o homem estavam como passarinhos, hipnotizados pela serpente. O próximo passo, uma vez que a duvida já estava arraigada no coração, foi sucumbida à tentação e comer da arvore – “Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, comeu, e deu a seu marido, e ele também comeu.” Gn 3,6.
O pecado é a causa de todas as mazelas da sociedade. Esse é um fato que não deve ser ignorado. O pecado cortou de uma forma precoce e dolorida o relacionamento pessoal do homem com Deus. Conscientes do erro, envergonhados de sua nudez e temerosos de se encontrar com Deus, o homem e a mulher só podiam tentar fugir da presença dEle, escondendo-se por entre as arvores do jardim – “E, ouvindo a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim à tardinha, esconderam-se o homem e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim.” Gn 3,8. Essa é a cena mais trágica que poderia ser pintada neste mundo. Ela representa quão profunda é esse poço em que o homem caiu. Quem antes se encontrava alegremente com o Senhor, para conversar sobre a criação e desfrutar da presença santa, agora só pode fugir desesperadamente torcendo para não ser encontrado. A cena seguinte, porem, é a mais cheia de misericórdia que pode ser encontrada – “Mas chamou o Senhor Deus ao homem, e perguntou-lhe: Onde estás?” Gn 3,9.
Em vez de deixá-los, abandonados a seu próprio destino, Deus se digna procurar o homem e a mulher a fim de redimi-los.
- UMA INIMIZADE HISTÓRICA – Gn 3,10-15ª.
Quando Deus encontrou o homem e iniciou o dialogo que foi estendendo até chegar ao maligno, demonstrou seu desejo de solucionar aquele problema. Não é apenas o Deus vingador que desejava executar justiça e derramar a ira, mas também o Deus gracioso que deseja estabelecer uma forma de salvar a humanidade, o que pode ser demonstrado pela confissão de culpa que ele levou o homem a fazer.
Aquele triste relacionamento que começou entre o ser humano e o maligno e que motivou a queda no pecado não pode ser ignorado. Esse relacionamento é o mais terrível que poderia existir. A partir do momento em que aquele dialoga entre a mulher e a serpente se iniciou, uma estreita amizade começou uma amizade extremamente prejudicial para mulher, que influenciada pela serpente, cedeu a tentação. Se tal amizade continuasse, não haveria a menos chance para a raça humana. Foi por isso que Deus se interpôs entre a serpente e a mulher, falando diretamente aquela – “Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” Gn 3,15. Em outras palavras é como se Deus falasse: - “Essa amizade entre você e a mulher não vai permanecer, ao contrario, no lugar dela colocarei uma inimizade que vai se estender até o fim”.
A inimizade entre a mulher e o maligno perduraria pelas gerações seguintes. Em especial Deus de uma inimizade entre os descendentes da mulher e a descendência da serpente. Literalmente, descendência significa “semente”, assim haveria uma inimizade histórica entre a semente do maligno e a semente da mulher. De fato o Senhor impôs essa hostilidade e, dessa forma, estabeleceu o grande abismo entre Ele mesmo e o maligno, entre os que “estão ao seu lado” e s que estão “ao lado do maligno”, essa guerra de descendência certamente culmina com a vinda do Senhor Jesus, que pode ser identificado com a semente da mulher, conforme o texto de Gl 4,4 – “... mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo de lei,”. A mulher aqui é Maria ver Lc 1,27-32.
Uma visão do Apocalipse é de importância crucial para entender este assunto. João vê: “... uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça.” Ap 12,1. Essa mulher que deve ser tipificada como “Maria – a segunda Eva” está grávida – “E estando grávida, gritava com as dores do parto*, sofrendo tormentos para dar à luz.” Ap 12,2. Vê também um dragão forte e poderoso – “... eis um grande dragão vermelho que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas;” Ap 12,3, o qual ele informa ser a mesma antiga serpente chamada Satanás – “E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, que se chama o Diabo e Satanás, que engana todo o mundo; foi precipitado na terra, e os seus anjos foram precipitados com ele.” Ap 12,9.
*As sete dores de Maria:
Profecia de Simeão;
A perseguição de Herodes e a fuga da Sagrada família para o Egito;
A perda do Menino Jesus no templo de Jerusalém;
O encontro desta mãe admirável com seu Filho, carregando a cruz, no caminho para o Calvário;
Quando depositou Jesus no sepulcro, ficando ela em triste solidão.
Sabemos que muitas foram às tentativas diabólicas para impedir que Jesus nascesse. Ainda no éden, o maligno provocou a morte de Abel, acreditando assim ter impedido a vinda do descendente da “mulher”. O maligno pensou que a “mulher” neste caso seria Eva. Em seguida, fez que se misturasse a semente de Sete com a semente maligna de Caim, o que resultou no próprio dilúvio, em muitas outras ocasiões o dragão se colocou diante da mulher para destruir-lhe o filho, por exemplo, na esterilidade de Sara e de Rebeca, na inimizade de Esaú e Jacó, e no pecado do povo no deserto. Posteriormente, Deus mostrou que o descendente viria de Davi, e o dragão voltou-se para esse serviço de Deus, usando Saul na tentativa de matá-lo. Em varias ocasiões, o maligno tentou destruir todo o povo, como no cativeiro e no tempo de Ester. Mesmo depois de nascido o Filho em Belém, o dragão agiu matando as crianças com menos de dois anos. Em todas essas ocasiões, o dragão fracassou. Ele não conseguiu impedir que o Filho nascesse, mas a historicidade da inimizade se comprovou.
- O FERIMENTO MORTAL.
Certamente a declaração que mais causou temor no maligno foi a d que teria sua própria cabeça esmagada – “... esta te ferirá a cabeça” Gn 3.15, pois essa seria um ferimento mortal. Daí sua luta para impedir que a semente da mulher se estabelecesse. A frase “esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” (Gn 3,15) nos dá entender que os ferimentos são mútuos, mas não como filmes de bang-bang, em que, num duelo, os oponentes atiram juntamente e caem mortos simultaneamente, feridos no peito. A qualidade dos ferimentos e diferente. A semente da mulher seria ferida pela semente do maligno no calcanhar, enquanto esta seria ferida na cabeça.
Às vezes, quando algo que intentamos fazer acaba saindo meio invertido, usamos a expressão: “o tiro saiu pela culatra”. Foi exatamente isso que aconteceu com o maligno – seu tiro saiu pela culatra. No desespero de destruir o Senhor Jesus, a semente da mulher, o maligno o levou a cruz, mas, justamente quando pensou que triunfava, estava na verdade sendo destruído, pois a cruz esmagaria sua cabeça. Assim, ao mesmo tempo em que feria o descendente no calcanhar, estava sendo esmagado. A situação é até irônica. Imaginemos que o maligno sempre soube dessa profecia, mas graças a Deus, nunca a entendeu. O maligno, em certo sentido, causou sua própria morte, quase podemos dizer que foi morto pelo próprio veneno.
Alguém poderia perguntar – mas em que sentido ele teve sua cabeça esmagada? De acordo com a mensagem do Evangelho, Jesus morreu pelos nossos pecados – “ela dará à luz um filho, a quem chamarás JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.” (Mt 1,21; ver também – Mt 9,6; Mc 3,28, Lc 5,24). O pecado era a grande força do maligno, pois ele usava o erro humano para exigir que Deus executasse sua justiça e destruísse o homem. Se Deus estivesse destruído o homem, o maligno teria finalmente vencido, pois teria demonstrado que Deus não foi capaz de levar todos os seus propósitos a efeito. Ao morrer pelos pecados, Jesus tirou a grande arma do maligno e o derrotou definitivamente. Não há mais nada que ele possa fazer, seu tiro saiu pela culatra. Ele intentou destruir Jesus, mas, ao morder-lhe o calcanhar, foi esmagado. Agora só lhe resta o desespero, pois sabe do pouco tempo que lhe resta – “...porque o Diabo desceu a vós com grande ira, sabendo que pouco tempo lhe resta.” Ap 12,12.
- CONCLUSAO
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