Marco Antônio Lana (Teólogo Bíblico)
Misoginia é o desprezo ou a repulsa contra mulheres. Uma pessoa misógina não gosta de mulheres e trata-as de maneira errada. A Bíblia não promove nem aprova a misoginia. Deus criou tanto homens quanto mulheres para Sua glória, com valor igual. Cada pessoa é importante e preciosa para Deus, seja homem ou mulher.
A misoginia vai contra os princípios bíblicos do amor e do respeito. Onde há misoginia acontece todo tipo de abusos contra mulheres, como maus-tratos, desrespeito, restrição de direitos e liberdades e até violência. A misoginia estraga o relacionamento entre homens e mulheres, que deveria ser de amizade e companheirismo. Isso oprime as mulheres, causando-lhes muito sofrimento, e também tem consequências negativas para os homens, que rejeitam o dom que Deus lhes deu da amizade com mulheres (Então o Senhor Deus declarou: "Não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que o auxilie e lhe corresponda". Gênesis 2,18).
O pecado - o origem da misoginia
No princípio, Deus criou o homem e a mulher à Sua imagem e semelhança (‘Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou’. - Gênesis 1,27). A mulher foi criada como companheira do homem, alguém que o entendia e lhe podia corresponder. Esse tipo de amor e entre - ajuda somente acontece quando há respeito dos dois lados. Rebaixar a mulher para uma posição de servidão, ridículo ou desprezo é um afastamento do plano de Deus.
O pecado trouxe a maldição da luta entre homens e mulheres (‘À mulher, ele declarou: "Multiplicarei grandemente o seu sofrimento na gravidez; com sofrimento você dará à luz filhos. Seu desejo será para o seu marido, e ele a dominará"’. - Gênesis 3,16). Os homens, sendo geralmente mais fortes, tendem a dominar, mas o pecado corrompe quem tem poder. Isso leva a abusos. A misoginia está muito ligada ao desprezo por tudo que parece mais fraco ou vulnerável e à glorificação da força e violência. A Bíblia, por outro lado, dá valor a todos, sejam fracos ou fortes, oprimidos ou poderosos.
Jesus veio para derrotar o pecado e restaurar todas as coisas. Na vida do cristão não deve haver lugar para a misoginia porque é pecado. Quem ama Jesus ama a todos, porque em Jesus não há diferença entre homens e mulheres (‘Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus, pois os que em Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram. Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus’. - Gálatas 3,26-28). Todos nós somos alvo de seu amor!
A Bíblia nos ensina a amar e valorizar cada pessoa. Algumas pessoas usam a Bíblia para justificar a misoginia, mas isso é distorcer a palavra de Deus. A Bíblia ensina que homens e mulheres têm algumas diferenças físicas, mas nunca diz que as mulheres são inferiores. No Antigo Testamento, Deus estabeleceu várias leis em Israel para proteger as mulheres da misoginia e, no Novo Testamento, Jesus sempre valorizou as mulheres e várias tiveram um papel importante na pregação do evangelho.
A misoginia e suas consequências na Bíblia
Embora não aprove da misoginia, a Bíblia relata casos de misoginia na vida real. A Bíblia reconhece que esse tipo de atitude acontece. Foi por isso que Deus criou leis para proteger as mulheres.
Na lei de Moisés, o homem israelita não poderia usar sua esposa como objeto, para depois ser jogada fora ou trocada por outra. Ele tinha de tratá-la direito e garantir seu sustento. Nos tribunais as mulheres tinham o mesmo direito a um julgamento justo que os homens. Deus até declarou maldições contra quem maltratasse mulheres indefesas (‘"Maldito quem negar justiça ao estrangeiro, ao órfão ou à viúva". Todo o povo dirá: "Amém! "’ - Deuteronômio 27,19).
Mesmo assim, o povo de Israel não obedeceu fielmente à lei de Deus e aconteceram vários casos de misoginia.
Ló e os homens de Sodoma
Ló, sobrinho de Abraão, morava em Sodoma e tinha duas filhas que ainda não eram casadas. Quando Deus enviou dois anjos (que pareciam homens) a Sodoma para avaliar a situação da cidade, Ló abriu sua casa para eles passarem a noite. Mas os homens da cidade cercaram a casa e tentaram tirar os homens de lá para violentá-los. Ló, considerando a vida de suas visitas mais importante, ofereceu suas próprias filhas aos homens, para serem usadas! – (‘Ló saiu da casa, fechou a porta atrás de si e lhes disse: "Não, meus amigos! Não façam essa perversidade! Olhem, tenho duas filhas que ainda são virgens. Vou trazê-las para que vocês façam com elas o que bem entenderem. Mas não façam nada a estes homens, porque se acham debaixo da proteção do meu teto"’. Gênesis 19,6-8)
Felizmente, os anjos salvaram o dia, ferindo os atacantes com cegueira. Mas essa situação mostrou como o relacionamento de Ló com suas filhas não era bom. Mais tarde, essa misoginia teve consequências muito ruins. As filhas de Ló, se sentindo completamente dependentes de homens, desesperaram quando viram que não iriam conseguir casar nem ter filhos (‘Um dia, a filha mais velha disse à mais jovem: "Nosso pai já está velho, e não há homens nas redondezas que nos possuam, segundo o costume de toda a terra. Vamos dar vinho a nosso pai e então nos deitaremos com ele para preservar a linhagem de nosso pai"’. - Gênesis 19,31-32). Por isso, embebedaram e estupraram o próprio pai!
O levita e os homens de Benjamim
Séculos mais tarde, no tempo dos juízes, aconteceu um caso parecido em uma cidade da tribo de Benjamim. Um levita estava passando a noite na cidade com sua concubina e vários homens vieram para atacar. O levita, em um ato de covardia total, mandou sua concubina para fora, para ser atacada no seu lugar! Os homens estupraram a mulher a noite toda e ela morreu (‘Mas os homens não quiseram ouvi-lo. Então o levita mandou a sua concubina para fora, e eles a violentaram e abusaram dela a noite toda. Ao alvorecer a deixaram.’ Juízes 19,25-26).
A misoginia de todos os homens envolvidos nessa história levou a uma guerra entre a tribo de Benjamim e as outras tribos de Israel. A tribo de Benjamim quase foi exterminada e muitas pessoas sofreram as consequências. Nessa época, o povo de Israel não tinha líder e cada um fazia o que achava melhor, muitos sem respeito pela lei de Deus (‘Naquela época não havia rei em Israel; cada um fazia o que lhe parecia certo.’ - Juízes 21,25).
Tamar e Amnom
Quando Davi se tornou rei, ele teve vários filhos de esposas diferentes. (Deus recomendou contra o rei ter várias esposas, mas Davi não obedeceu.) Um de seus filhos, chamado Amnom, se apaixonou por sua meia-irmã Tamar. Em vez de olhar para ela como uma pessoa digna de respeito e ficar longe dela, Amnom apanhou sua irmã sozinha e a violentou. Quando tinha terminado, ele teve nojo de Tamar e a expulsou de sua presença (‘Mas Amnom não quis ouvir e, sendo mais forte que ela, violentou-a. Logo depois Amnom sentiu uma forte aversão por ela, mais forte que a paixão que sentira. E disse a ela: "Levante-se e saia! "’ - 2 Samuel 13,14-15).
Esse ato terrível e misógino não foi punido por Davi, embora ele tivesse ficado indignado com Amnom. O resultado foi que Absalão, irmão inteiro de Tamar, assassinou Amnom e passou a odiar o pai por não ter feito justiça. Absalão mais tarde conspirou para roubar o trono ao pai, causando uma guerra civil. Muitas pessoas morreram por causa de um ato de crueldade contra uma mulher.
Jesus e a mulher apanhada em adultério
Em certa ocasião durante seu ministério, Jesus foi confrontado pelos fariseus com o caso de uma mulher apanhada em adultério (‘Os mestres da lei e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher surpreendida em adultério. Fizeram-na ficar em pé diante de todos e disseram a Jesus: "Mestre, esta mulher foi surpreendida em ato de adultério. Na Lei, Moisés nos ordena apedrejar tais mulheres. E o senhor, que diz? "’ - João 8,3-5). Eles afirmaram que a lei de Moisés mandava executar mulheres adúlteras por apedrejamento. Na verdade, a lei ordenava que tanto o homem quanto a mulher apanhados em adultério deveriam morrer, depois de um julgamento justo (‘Se um homem cometer adultério com a mulher de outro homem, com a mulher do seu próximo, tanto o adúltero quanto a adúltera terão que ser executados.’ - Levítico 20,10). Mas os fariseus estavam colocando a culpa toda sobre a mulher.
Jesus respondeu que quem não tivesse nunca pecado deveria lançar a primeira pedra. Analisando suas próprias vidas, todos foram embora, deixando a mulher livre. Jesus também não condenou a mulher, mas apenas a advertiu a não pecar mais (‘João 8,9-11). Jesus não permitia uma leitura misógina da lei de Deus.
Jesus e a mulher samaritana
Em outro momento de seu ministério, Jesus estava passando por uma cidade samaritana e começou uma conversa com uma mulher junto ao poço da cidade. Quando os discípulos voltaram de comprar comida na cidade, eles ficaram surpresos que Jesus estava conversando com ela (‘Naquele momento os seus discípulos voltaram e ficaram surpresos ao encontrá-lo conversando com uma mulher. Mas ninguém perguntou: "Que queres saber? " ou: "Por que estás conversando com ela? "’ - João 4,27). Sua surpresa não era por ela ser samaritana, nem por ter má fama, mas por ela ser mulher!
Nessa época, homens importantes não se dignavam a ter conversas com mulheres. Mas Jesus foi diferente. Ele ensinou à mulher algumas lições muito importantes sobre a salvação e a verdadeira adoração a Deus. Enquanto os discípulos tinham dificuldade em ver além de sua cultura misógina, Jesus deu valor à mulher e a tratou como igual. O resultado foi que a mulher levou a cidade toda para Jesus (‘Muitos samaritanos daquela cidade creram nele por causa do seguinte testemunho dado pela mulher: "Ele me disse tudo o que tenho feito". Assim, quando se aproximaram dele, os samaritanos insistiram em que ficasse com eles, e ele ficou dois dias. E por causa da sua palavra, muitos outros creram’. - João 4,39-41).
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