“Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante” ( 1Co 15:45 )
Adão e Cristo: duas portas e dois caminhos
Adão e Cristo são os dois personagens de maior importância para a interpretação bíblica.
Grande parte das parábolas de Jesus e das figuras do Novo Testamento são referências específicas aos eventos no Éden e na cruz. Muitas figuras e parábolas ilustram as consequências destes eventos para a humanidade.
Um exemplo é a parábola dos ‘Dois Caminhos’, que, implicitamente, faz referência as consequências decorrentes dos eventos que sucederam no Éden e na cruz.
Observe: Adão foi feito (criado) alma vivente e participante da vida que há em Deus, porém, após desobedecer à determinação divina passou a condição de morto para Deus. A ‘nova’ condição de Adão após a queda passou a ser de sujeição ao pecado pela natureza adquirida.
A sujeição ao pecado deixou Adão em inimizade com Deus e, por causa da condenação, deixou de ser participante da vida que há em Deus, passando a viver para o mundo e suas concupiscências (morto para Deus e vivo para o mundo).
Todos os nascidos de Adão (nascidos da carne, vontade do varão e do sangue) passaram à condição de filhos da ira e da desobediência. Desta forma, todos os homens passaram a estar destituídos da glória de Deus, pois todos pecaram.
Esta condição pertinente à toda humanidade é ilustrada através da parábola das duas portas e dos dois caminhos, ou seja, todos os homens ao nascerem, por serem descendentes de Adão, entram pela porta larga, e seguem pelo caminho espaçoso que conduz à perdição ( Mt 7:13 ).
Em Adão todos os homens morreram e destituídos estão da glória de Deus. Em Adão, a ‘porta larga’, todos os homens seguem o caminho de perdição. Todos os homens morreram em Adão e passaram a viver para o pecado, para o maligno e para o mundo.
Através do último Adão, que é Jesus Cristo, constituído espírito vivificante por Deus, todos os que creem no evangelho entram pela porta estreita, ou seja, nascem de novo. São criados por Deus em verdadeira justiça e santidade, segundo o poder concedido através do evangelho, sendo feitos (criados) filhos de Deus ( Jo 1:12 ).
Ao crer em Cristo, o homem entre pela porta estreita (novo nascimento) e passa a trilhar o caminho estreito que conduz à vida. O caminho é estreito porque poucos entram por Cristo, a porta estreita. Quando se fala em quantidade, muitos vem ao mundo segundo Adão, a porta larga, e poucos são os que creem para a salvação, ou seja, que entram por Cristo, o último Adão.
Em números absolutos, em Adão todos morreram para Deus, e em Cristo, o último Adão, todos quantos crerem morrem para o pecado. Em Adão toda a humanidade morreu e passou a viver para o mundo, em Cristo, o último Adão, todos os que creem, morrem para o pecado, para o maligno e para o mundo, e são de novo criados, e passam a viver para Deus. Amém.
Vasos de honra e desonra
Outro exemplo é a figura dos “vasos”, conforme Paulo escreveu aos Romanos, veja: “Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?” ( Rm 9:21 ). Como entender esta figura apresentada por Paulo?
Sabemos que Deus é o oleiro, e é Ele que detém o poder sobre o barro, que é o homem. Todos os homens decorrem de uma mesma massa e foram feitos almas viventes conforme Adão, mas em Cristo da mesma massa Deus faz homens espirituais.
Todos os homens que veem ao mundo são criados pelo poder de Deus, porém, por serem descendentes de Adão, todos são feitos vasos para desonra. Todos os descendentes de Adão são vasos para ira, preparados para perdição. Através deles Deus demonstra a sua ira, e dá a conhecer o seu poder, suportando-os com muita paciência.
Deus chama pacientemente os vasos preparados para a ira a fim de torná-los vasos para honra, ou seja, o evangelho é o chamado de Deus a todos os homens nascidos segundo Adão. Todos os cristãos foram chamados por Deus, e neles é demonstrado o poder de Deus e as riquezas de sua graça. Todos os que são chamados e creem são os vasos de misericórdia, e, portanto, vasos para a honra.
Observe que, tanto os nascidos em Adão, quanto os nascidos em Cristo, se constituem vasos formados da mesma massa, como nos afirma o apóstolo Paulo: “Mas não é primeiro o espiritual, senão o natural; depois o espiritual” ( 1Co 15:46 ). Todos os homens precisam ser feitos almas viventes (homem natural), para depois serem criados espirituais (homem espiritual).
Quando criados, os homens naturais passam à condição de escravos do pecado, por causa do pecado de Adão. Percebe-se então que, o grande diferencial é, os nascidos segundo Adão são vasos para a desonra, e os nascidos em Cristo são vasos para honra.
Erros comum de interpretação
Quando o leitor não compreende a verdade sobre os eventos da cruz e do Éden, acaba por interpretar a Bíblia erroneamente. Ao deparar-se com parábolas e ilustrações como as apresentadas acima terão um entendimento segundo a concepção humana, e permanecerá enfatuado, segundo uma carnal compreensão.
Muitos interpretam que a porta é larga porque as pessoas do mundo estão entregues aos prazeres, são sensuais, céticas e criminosas. Entendem que a porta é larga por não apresentar ‘dificuldades’ ou condições para entrada. Entendem que o caminho estreito está diretamente relacionado com dificuldades, proibições, restrições de ordem moral, comportamental e religiosa.
Entendem que, para trilhar o caminho estreito, ou que, para entrar pela porta estreita basta seguir preceitos religiosos, cumprir leis nacionais, ou seguir filosofias de vida.
Diante deste entrave surgem muitas religiões, igrejas e denominações. Avolumam-se os discursos sobre disciplina, sofrimento, penitências, orações, rezas, moralidade, santidade, serviço, pró-atividade. As qualidades procedentes do ego humano são louvadas insistentemente, como: coragem, determinação, empenho, disciplina, resignação, etc.
O ritualismo, o formalismo e o legalismo são ferramentas utilizadas para caracterizar devoção religiosa. Criam mecanismos para medirem e serem medidos e forçam outros a seguirem o que preceituam como necessário à salvação. Estabelecem padrões de justiça e santidade a ser seguido. Procuram lições provenientes do paganismo e das filosofias humanas.
Esquecem de observar o que Jesus disse a Nicodemos: “Em verdade, em verdade te digo que quem não nascer de novo, não pode ver o reino dos céus” ( Jo 3:3 ). Não observam que o ‘melhor’ da religião, da lei, da moral, do comportamento não faz o homem agradável a Deus, e, por tanto, esquecem também a recomendação de Jesus a um dos mestres do judaísmo: nascer de novo.
O mundo ainda continua apegado a elementos fracos e pobres, que não pode livrar o homem da condição de sujeição ao pecado ( Gl 4:9 -10).
O apóstolo Paulo demonstra estar consciente das consequências decorrente da desobediência de Adão e da obediência de Cristo ao escrever aos cristãos de Corintos ( 1Co 15:45 -50).
Ao escrever a Timóteo, Paulo alerta sobre este pretenso ‘evangelho’: “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos alguns apostatarão da fé (…) que proíbem o casamento, e ordenam a abstinência de alimentos” ( 1Tm 4:1 -3).
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