Sobre o tema ‘obras da carne’ e ‘fruto do espírito’, é comum nos
púlpitos cristãos o pensamento plantonista de quem for mais alimentado e
estiver mais forte vence…
O que o apóstolo Paulo quis dizer no verso 4, de 2 Coríntios 10:
“… as armas da nossa milícia não são carnais, mas poderosas em Deus para destruição de fortalezas”?
Quais são estas armas à disposição do cristão? Quais são as fortalezas que devem ser destruídas?
O
apóstolo não estava falando de ferramentas e apetrechos preparados por
homens como espadas, lanças, escudos, aríetes, flechas, etc.
As
armas são espirituais e o embate é espiritual, visto que o crente não
tem que lutar contra a carne e o sangue, e sim, contra as potestades, os
príncipes das trevas deste século, as hostes espirituais da maldade
(Efésios 6.12). As armas à disposição do crente em Cristo, na batalha
que está envolvido, jamais poderiam ser carnais.
O
poder das armas dadas aos cristãos não está em quem maneja a arma,
antes o poder decorre de Deus. O crente deve tomar a espada do espírito,
pois ela é poderosa e realiza o que foi estabelecido por Deus.
“assim
também ocorre com a palavra que sai da minha boca: ela não voltará para
mim vazia, mas fará o que desejo e atingirá o propósito para o qual a
enviei” (Isaías 55.11).
Se
comparado à melhor ferramenta de corte preparada pelo homem, a palavra
de Deus é mais penetrante, pois vai até o local que a mais cortante e
precisa ferramenta conhecida pelo homem não pode alcançar: a divisão da
alma e do espírito, portanto, eficaz para discernir tanto os pensamentos
quanto as intenções do coração.
“Porque
a palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de
dois gumes e atinge até a divisão da alma e do espírito, das juntas e
medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração” (Hebreus 4.12).
A palavra do evangelho é espírito e vida, poder de Deus para salvação de todo que crê “O espírito dá vida; a carne não produz nada que se aproveite. As palavras que eu disse são espírito e vida” (João 6.63); “… mas não quereis vir a mim para terdes vida!” (João 540).
É
possível alguém sendo carnal manejar a espada do espírito? Não! O que
torna uma pessoa capacitada para manejar as armas poderosas da nossa
milícia é crer em Cristo como o Filho de Deus, pois só assim se deixa a
condição de homem natural e passa a condição de homem espiritual (1
Coríntios 15.46).
“Ora,
o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque
lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem
espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de
ninguém é discernido” (1 Coríntios 2.14-15).
Somente
após ser gerado de novo, da semente incorruptível, crendo na mensagem
do evangelho, é que o homem está habilitado a manejar a espada do
espírito. Ao ser gerado de novo, o cristão é potencialmente capaz de
manejar a espada do espírito, porém, necessita pegar a espada do
espírito, treinar e, quando apto, apresentar-se a Deus na condição de
obreiro que não tem do que se envergonhar (Efésios 6.17).
É
imprescindível ao cristão recém-convertido exercitar-se, ou seja,
estudar a palavra de Deus para se tornar perito no manejo da palavra de
Deus. O obreiro que maneja bem a palavra da verdade, assim como o
apóstolo Paulo, jamais se envergonhará do evangelho de Cristo (Romanos
1.16; 2 Timóteo 1.8 e 12).
“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.” (2 Timóteo 2.15).
As
armas de guerra à disposição do cristão são poderosas e eficazes, mas é
imprescindível a quem lança mão das armas saber manejá-las! Após
tornar-se um com o Senhor, é necessário prosseguir em conhecê-Lo (Oseias
6.3), ou seja, após estar forte através da união com o Senhor
(ἐνδυναμοῦσθε), o cristão precisa ser pleno no poder de Deus (Efésios
6.10 ;1 João 2.14).
Por que é
necessário ao cristão estar plenamente inteirado da palavra de Deus?
Porque o crente recém-convertido é menino, e Deus não coloca meninos na
frente de batalha. É vetado aos neófitos exercerem o ministério (1
Timóteo 3.6), pois será necessário que ele dê aos seus irmãos em Cristo
alimento sólido. Como um neófito dará alimento sólido se ainda depende
de leite? Como convencerá os contradizentes sem o conhecimento
necessário?
“Mas
o mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume,
têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal” (Hebreus 5.14).
O
bom soldado de Cristo batalha em defesa do evangelho (Judeus 1.3; 1
Timóteo 6.12), pois o evangelho é poder de Deus que destrói as barreiras
erguidas contra o conhecimento de Deus revelado em Cristo.
“Retendo
firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja
poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os
contradizentes” (Tito 1.9).
O
soldado de Cristo não luta por conquistas de cunho pessoal, pois para
agradar aquele que o alistou não pode estar embaraçado com negócios
desta vida (2 Timóteo 2.4; 1 Coríntios 9.25).
Através
da espada do espírito o crente discerne se os espíritos são de Deus ou
não, e as intenções dos homens (1 João 4.1). Por meio dela o crente é
poderoso para admoestar e discernir o espírito dos contradizentes: se as
doutrinas deles têm por base vãs filosofias, se é um judaizante, se é
um anticristo, se é um falso profeta, etc.
O
apóstolo Paulo enfatiza que Deus nos deu do seu espírito, ou seja, deu
da sua palavra, para que pudéssemos compreender o que Deus nos concedeu
em Cristo (1 Coríntios 2.12). Já o homem natural, aquele que é nascido
da carne, do sangue e da vontade do homem, este não conhece e não pode
entender as coisas de Deus, pois elas se discernem espiritualmente.
O
novo convertido precisa ser ensinado para que possa entender o que Deus
lhe concedeu ao crer em Cristo. Ora, a compreensão da palavra de Deus é
gradual e demanda ensino, estudo e tempo. Sem o ensino da palavra o
novo convertido corre grande perigo, pois Cristo mesmo alertou que o
diabo arrebata o que foi semeado no coração daquele que não compreende
(Mateus 13.19; 1 Timóteo 3.5).
A
confiança do crente não tem por base a sabedoria dos homens, quer seja
de cunho filosófico, quer seja segundo a tradição dos homens. A
confiança do cristão tem por base o evangelho, que é poder de Deus.
Um
crente em Cristo instruído na verdade consegue discernir os espíritos,
se são de Deus ou não. O crente deve analisar especificamente a mensagem
que a outra pessoa professa acerca de Cristo, e não questões
comportamentais, que por tradição os homens guardam. O dom de discernir
os espíritos é dado àquele que compreende as coisas que são de Deus
(Mateus 16.23).
Ao crer na mensagem do
evangelho, o cristão está apto a participar da herança dos santos em
Cristo (Colossenses 1.12). Na condição de homem espiritual pode ser
ensinado que compreenderá o mistério oculto revelado em Cristo, ou seja,
através da compreensão do evangelho o crente se reveste de toda a
armadura de Deus, o que o torna apto para explanar a outros o mistério
oculto que Deus estabeleceu antes dos séculos para a glória dos que
creem: Cristo, esperança da glória.
É
através do evangelho que Deus revela a sua sabedoria aos homens, pois a
palavra de Deus penetra todas as coisas, até mesmo as coisas ocultas de
Deus.
Se alguém se diz ministro do
evangelho de Cristo e a sua mensagem só aborda questões terrenas, na
verdade não é espiritual e nem sobre ele está o espírito de Deus, pois
aquele que conhece a Cristo fala de coisas que o olho dos homens não
viu, os ouvidos dos homens não ouviram e que não faz parte da imaginação
deles.
Um ministro conhecedor da
sabedoria de Deus fala daquilo que Deus estabeleceu antes dos séculos
dos séculos, e que Deus preparou para os que creem em Cristo: serão
conformes a imagem do seu Filho Jesus Cristo, para que Ele seja
primogênito entre muitos irmãos (1 Coríntios 2.5-10; Romanos 8.28-29).
Já um cristão verdadeiro, seja neófito ou não, é aquele que professa que Jesus é o Filho de Deus que havia de vir ao mundo.
A armadura de Deus
“Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo.” (Efésios 6.11).
O
apóstolo Paulo recomenda aos cristãos que se revistam de toda a
armadura de Deus para poderem resistir os ataques do inimigo e
permanecessem firmados em Cristo.
“Somente
deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo, para que,
quer vá e vos veja, quer esteja ausente, ouça acerca de vós que estais
num mesmo espírito, combatendo juntamente com o mesmo ânimo pela fé do evangelho“ (Filipenses 1:27).
Como
Cristo previu que no mundo os seus seguidores seriam perseguidos, para
que o crente permaneça firme, é imprescindível revestir-se de toda a
armadura de Deus.
Só permanece firme o
crente que se revestir de toda palavra de Deus, pois só através dela
perceberá as armadilhas do diabo. O crente não pode ignorar os ardis de
Satanás, e somente através do conhecimento da palavra de Deus é possível
repelir as setas de engano (2 Coríntios 2.11).
Os
cristãos não lutam contra judeus, gregos, bárbaros, servos, etc., e
sim, contra os principados, potestades, os príncipes das trevas deste
século, que são hostes espirituais da maldade. E onde ficam estes filhos
do diabo? Nos lugares celestiais! Como?
Os
judaizantes eram tais príncipes com autoridade dos chefes das sinagogas
(1 Coríntios 2.8), verdadeiras ‘hostes’ espirituais da maldade. Aonde o
apóstolo Paulo ia pregar o evangelho, não demorava para chegar os
emissários do diabo para se opor ao ministério do apóstolo dos gentios.
“Mas,
logo que os judeus de Tessalônica souberam que a palavra de Deus também
era anunciada por Paulo em Bereia, foram lá, e excitaram as multidões.” (Atos 17.13).
Quando
se lê que tais hostes estão nos lugares celestiais, muitos são levados a
acreditar que o apóstolo estava falando de uma luta contra demônios que
habitam em regiões inacessíveis ao homem, outra dimensão, etc., porém,
se lembrarmos que cada cristão está assentado nas regiões celestiais em
Cristo, verá que o adversário estará ao derredor, buscando a quem possa
tragar (Efésios 1.3; 1 Pedro 5.8).
Em
todas as cidades que o apóstolo Paulo ia anunciar o evangelho, logo em
seguida chegavam os judeus para incitar as multidões contra o apóstolo, o
que demonstra que só há resistência, embate, onde o cristão está, ou
seja, nas regiões celestiais.
Certa
feita Jesus chamou os escribas e fariseus de filhos do diabo (João
8.44), e são eles os integrantes das hostes espirituais da maldade, os
príncipes deste mundo envolto em trevas, os quais crucificaram o
príncipe da vida (1 Coríntios 2.6 e 8).
Ao
escrever aos cristãos de Éfeso, o apóstolo destaca que, antes de crerem
em Cristo, todos os cristãos andavam segundo o curso deste mundo
(perdidos), segundo o príncipe das potestades do ar, o espírito que
opera nos filhos da desobediência (engano).
O engano é o espírito que opera sobre os homens que estão no caminho que leva a perdição “Para
que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o
vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam
fraudulosamente” (Efésios 4.14).
‘Espírito’ é mensagem, doutrina, daí ‘espírito enganadores’, o mesmo que ‘doutrina de demônios’:
“Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência” (1 Timóteo 4.1-2).
O
‘espírito’ que opera nos filhos da desobediência é a doutrina de
demônios, o engano de homens que, com astucia, enganam fraudulosamente,
pois produzem ventos de doutrinas, que impelem ‘as nuvens sem água’
(Judas 1.12-13; 2 Pedro 2.17).
O curso do mundo, que é segundo ‘τὸν ἄρχοντα τῆς ἐξουσίας τοῦ ἀέρος’, comumente traduzido por ‘o príncipe das potestades do ar’, diz da influencia que as doutrinas produzidas por mentes carnais exercem sobre as pessoas “… estando debalde inchado na sua carnal compreensão” (Colossenses 2.18).
O
espírito de engano que opera sobre os filhos da desobediência diz do
poder da mentira dos homens altivos que possuem a mente cauterizada,
pois estão entregues a um sentimento perverso, executando a vontade da
carne e dos pensamentos (Efésios 2.2 e Romanos 1.24 e 28).
Cada
crente em Cristo entrou no descanso de Deus, portanto, está nas regiões
celestiais, assentado nos lugares celestiais com Cristo (Efésios 1.3;
Efésios 2.6). Mas, o diabo, como adversário, está ao derredor de quem
está nas regiões celestiais, rugindo como leão, buscando a quem possa
tragar.
O maior engano é entender que o
apóstolo Paulo afirmou que o diabo está nas regiões celestiais, sendo
que quem está nas regiões celestiais são os cristãos.
Um
dos ardis do diabo é espreitar a liberdade que os filhos de Deus
possuem através dos falsos irmãos, que se intrometem secretamente no
seio da comunidade buscando ocasião para subterrem os irmãos à servidão.
“E
isto por causa dos falsos irmãos que se intrometeram, e secretamente
entraram a espiar a nossa liberdade, que temos em Cristo Jesus, para nos
porem em servidão” (Gálatas 2.4).
Somente
através da espada do espírito é possível ao crente discernir o fermento
que os falsos irmãos querem introduzir secretamente. Geralmente se
apresentam com ideias de cunho filosófico ou decorrente da tradição dos
homens. Através de restrições à comidas e bebidas, ordenanças próprias
acerca de usos e costumes, tentam subjugar aqueles que estão em
liberdade sob pretexto de humildade.
A
espada do espírito é a ferramenta para discernir a intenção dos falsos
apóstolos e, permanecer na doutrina de Cristo (fé) é o escudo que apaga
os dardos inflamados do maligno. Não se demover da fé é o que protege o
crente das setas de engano, e é garantia de salvação.
“E odiados de todos sereis por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até ao fim será salvo” (Mateus 10.22).
Cingir
os lombos com a verdade é compreender a verdade do evangelho,
capacitado a esperar tão somente na graça que há no evangelho, sóbrios,
sem fazer uso do vinho da contenda proveniente da doutrina dos fariseus.
“Portanto,
cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios, e esperai
inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo” (1 Pedro 1.13).
Ao
crer em Cristo, o homem recebe a couraça da justiça, o que dá certeza
ao cristão que não há condenação por estar em Cristo Jesus (Romanos
8.1). Através do evangelho da paz, o cristão tem a certeza que, por meio
da carne de Cristo trilhou um novo e vivo caminho que dá comunhão com
Deus.
Toda a armadura diz de se
revestir da palavra de Deus. O capacete, a couraça, os sapatos, o escudo
e a espada é a palavra de Deus, de modo que estar revestido da armadura
é o mesmo que a palavra de Cristo estar habitando plenamente no crente.
“A palavra de Cristo habite em vós abundantemente,
em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros,
com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao SENHOR com graça
em vosso coração” (Colossenses 3.16).
As obras da carne
“Porque
as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, fornicação,
impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias,
emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios,
bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais
vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não
herdarão o reino de Deus” (Gálatas 5:19- 21).
Para
resistir os dias maus é necessário estar revestido da armadura de Deus.
A armadura de Deus promove a compaixão, a bondade, a humildade, a
mansidão, a longanimidade, e sobre todas estas virtudes sobressai o
amor.
“REVESTI-
VOS, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de coração
compassivo, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade… E sobre
tudo isso, REVESTI-VOS do amor…” (Colossenses 3.12 e 14).
Antes
de enfatizar a necessidade dos colossenses de se revestirem da armadura
de Deus, o apóstolo Paulo traz à memória que Epafras deu testemunho
acerca dos cristãos de Colossos, de como obedeceram (amor) a palavra do
evangelho (espírito): creram em Cristo.
“O qual nos declarou também o vosso amor no Espírito” (Colossenses 1.8);
“Purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade, para o amor fraternal, não fingido; amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro;” (1 Pedro 1.22);
“Mas
que se manifestou agora, e se notificou pelas Escrituras dos profetas,
segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações para obediência da fé;” (Romanos 16.26).
Após
saber que os cristãos de Colossos haviam crido, o apóstolo Paulo não
cessou de rogar a Deus para que eles fossem pleno do conhecimento da
vontade de Deus, em toda sabedoria e inteligência segundo a palavra de
Cristo, para que pudessem andar dignamente diante de Deus, agradando a
Deus em tudo, frutificando em toda boa obra e crescendo no conhecimento
de Deus.
O crescimento no conhecimento
de Deus promove fortaleza, segurança, segundo a força do poder que há no
evangelho, o que promove toda a paciência (perseverança), longanimidade
com gozo (Colossenses 1.11). Ora, após fazer a vontade de Deus, que é
crer em Cristo, do que o crente necessita? De perseverança!
“Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa” (Hebreus 10.36).
A paciência e a longanimidade com gozo só produz quem permanece fundado e firme no evangelho, não se demovendo da esperança “Se,
na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé, e não vos moverdes
da esperança do evangelho que tendes ouvido, o qual foi pregado a toda
criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, estou feito
ministro” (Colossenses 1.23).
Mas,
para que os cristãos de Colossos permanecessem firmes no evangelho, o
combate do apóstolo Paulo e de Epafras era grande, pois havia o risco de
serem enganados com palavras persuasivas e se demoverem do evangelho de
Cristo “Como, pois, recebestes o Senhor
Jesus Cristo, assim também andai nele, arraigados e edificados nele, e
confirmados na fé, assim como fostes ensinados, nela abundando em ação
de graças” (Colossenses 2.6-7; 1 João 1.9).
Abundar na fé em ação de graça é ser longânime com gozo!
O
apóstolo demonstra que os cristãos foram abençoados com todas as
bênçãos espirituais (Efésios 1.3), pois como membros do corpo de Cristo
eram perfeitos (Colossenses 2.10), e por serem participantes da natureza
divina, escaparam da corrupção (2 Pedro 1.4).
Cada
cristão foi circuncidado com a circuncisão de Cristo, na qual foi
despojado (removido) o corpo da carne (Colossenses 2.11). Todos foram
sepultados e ressurgiram por crerem no evangelho “Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos” (Colossenses 2.11).
Após
descrever todos estes eventos que estabelece a perfeição dos cristãos, o
apóstolo enfatiza que os cristãos não deviam se deixar levar por
qualquer pensamento humano, como filosofias ou tradições “Tende
cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e
vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do
mundo, e não segundo Cristo” (Colossenses 2.8).
Por
estarem mortos para o pecado (Colossenses 3.3), ressurgido com Cristo
(Colossenses 3.1), os cristãos jamais poderiam se deixar levar por
ordenanças (não toque, não prove e não faça uso) ou se deixar julgar por
aqueles que estão iludidos por não compreenderem as sombras dos bens
futuro, como festas, sábados, luas, etc. (Colossenses 2.16 e 20).
É
imperativo aos cristãos jamais se sujeitarem a qualquer ordenança
humana como forma de alcançar a justiça de Deus. O único mandamento que
aproxima o homem de Deus é o evangelho de Cristo, pois sem Cristo é
impossível agradar a Deus.
Os judeus
queriam se aproximar de Deus através da carne e do sangue, alegando
serem descendentes da carne de Abraão, porém, nem mesmo Abraão alcançou a
justiça de Deus através da carne (Romanos 4.1). Em lugar de se
fortificarem na fé (palavra de Deus) como o crente Abraão, que apesar
das circunstâncias estava convicto que Deus é poderoso para cumprir a
sua promessa (Romanos 4.20 -21), os filhos de Israel se sobrecarregam de
ordenanças de homens.
Ora, o crente
anda segundo o evangelho (espirito) de Cristo, que é contrário às
concupiscências da carne. Quando o crente ‘pensa’ nas coisas que são do
alto está se revestindo do Senhor Jesus, mas quando segue após
filosofias e vãs sutilizas, segundo a tradição dos homens que tem por
base os rudimentos do mundo, cuida da concupiscência da carne.
“Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e não tenhais cuidado da carne em suas concupiscências” (Romanos 13.14).
Quais
são as ‘concupiscências’ da carne? Prostituição, impureza, afeição
desordenada, vil concupiscência e avareza, que é idolatria (Colossenses
3.5).
Uma má leitura levará o leitor a
achar que o apóstolo está tratando da imoralidade dos gentios, ou da
depravação da humanidade, no entanto, o apóstolo dos gentios utilizou
figuras para apresentar as características de quem anda segundo a carne,
ou seja, segundo mandamento de homens.
O
povo de Israel, apesar de se intitular povo de Deus (Isaías 48.1),
vivia na idolatria. Como? Ora, o fato de terem se assentado a comer e a
beber, e se levantarem para folgar diante do bezerro de ouro,
rendeu-lhes a alcunha de idólatras.
“Não
vos façais, pois, idólatras, como alguns deles, conforme está escrito: O
povo assentou-se a comer e a beber, e levantou-se para folgar” (1 Coríntios 10.7; Êxodo 32.6).
Prometeram
cumprir a lei (Êxodo 24.3), porém, quando em Sitim, os filhos de Israel
se prostituíram com as filhas dos moabitas, pois a convite delas se
assentaram a comer e se prostravam diante de Baal-Peor, ao que Deus
exterminou vinte e quatro mil israelitas em um dia.
“E não nos forniquemos, como alguns deles fizeram; e caíram num dia vinte e três mil” (1 Coríntios 10.8; Números 25.1).
Ao
ficarem angustiado no deserto, a reação do povo foi murmurar, e
alegarem que estavam enjoados do maná, e chamaram o maná de pão vil.
“E não tentemos a Cristo, como alguns deles também tentaram, e pereceram pelas serpentes” (1 Coríntios 10.9; Números 21.5-6).
Tudo
o que sobreveio aos israelitas nos serve de figura, pois está
registrado como aviso para os cristãos (1 Coríntios 10.11). Devemos
lembrar que os filhos de Israel souberam o quanto os seus pais se
rebelaram no deserto, no entanto, permaneceram rebeldes, desobedientes à
palavra de Deus e persistiam (porfiavam) em seguir mandamento de
homens, o que é declarado por Deus como feitiçaria, iniquidade e
idolatria.
“Porque
a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniquidade
e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do Senhor, ele também te
rejeitou a ti, para que não sejas rei” (1 Samuel 15.23).
Ao
fazer uma lista de comportamentos reprováveis segundo a moral humana, o
apóstolo Paulo não estava julgando os não cristãos (1 Coríntios 5.12).
Fazê-lo seria julgar segundo a aparência (João 8.15; Isaías 11.3), mas o
apóstolo estava julgando segundo a reta justiça: as Escrituras.
Neste
quesito, o apóstolo Paulo enfatiza que a lei não foi dada a justos, mas
a pecadores, evidenciando assim a condição dos judeus.
“Sabendo isto, que a lei não é feita para o justo,
mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores, para os
profanos e irreligiosos, para os parricidas e matricidas, para os
homicidas, Para os devassos, para os sodomitas, para os roubadores de
homens, para os mentirosos, para os perjuros, e para o que for contrário
à sã doutrina” (1 Timóteo 1.9-10);
“Não é por causa da tua justiça, nem pela retidão do teu coração que entras a possuir a sua terra,
mas pela impiedade destas nações o SENHOR teu Deus as lança fora, de
diante de ti, e para confirmar a palavra que o SENHOR jurou a teus pais,
Abraão, Isaque e Jacó.” (Deuteronômio 9.5).
As
obras da carne são manifestas, pois o que se via no povo de Israel era:
feitiçaria, iniquidade, idolatria, inimizades, porfias, emulações,
iras, pelejas, dissensões, heresias, etc.
“Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias” (Gálatas 5.20).
Qualquer
que não se sujeita ao mandamento de Deus está em inimizade com Deus, é
um adultero, pois é amigo do mundo (Romanos 8.7; Tiago 4.4). Qualquer
que porfia em desobedecer é idólatra, avarento.
“Tendo
os olhos cheios de adultério, e não cessando de pecar, engodando as
almas inconstantes, tendo o coração exercitado na avareza, filhos de
maldição” (2 Pedro 2.14).
As
obras da carne vinculam-se as heresias, contendas de palavras, más
conversações, questões loucas, genealogias, de onde nascem as invejas,
porfias, blasfêmias, ruins suspeitas, etc. (1 Timóteo 6.4; 1 Timóteo
1.4; Tito 3.9).
Ora, quando o homem não
anda segundo o evangelho de Cristo, antes segundo a carne, o resultado é
o que vemos na igreja de Corintos:
“Porque
receio que, quando chegar, não vos ache como eu quereria, e eu seja
achado de vós como não quereríeis; que de alguma maneira haja
pendências, invejas, iras, porfias, detrações, mexericos, orgulhos,
tumultos” (2 Coríntios 12.20).
Enquanto
a mensagem do evangelho promove a unidade do corpo de Cristo, a obra
dos falsos apóstolos, que tem por base outro espírito, diferente do
anunciado pelos apóstolos (2 Coríntios 11.4-5), promove julgamentos
segundo a aparência (2 Coríntios 10.7), homens que medem a si mesmos e
se comparam entre si (2 Coríntios 10.12).
Qualquer
que anda pela palavra de Deus jamais satisfaz a cobiça da carne. É
impossível andar em espírito (evangelho) e satisfazer a concupiscência
da carne, pois os que creem em Cristo já crucificaram a carne juntamente
com as suas paixões e concupiscência.
“E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências” (Gálatas 5.24).
Quando o apóstolo ordenou: “Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne” (Gálatas 5.16), temos uma ordem: “Andai em espírito…”, e em seguida, temos a consequência da ação anterior: “… e não cumprireis a concupiscência da carne”.
Quem
anda segundo o espírito, ou seja, segundo o evangelho de Cristo, está
livre de condenação, diferente dos que andam segundo a letra, ou seja,
segundo a carne, pois a ira de Deus permanece sobre os que não se
sujeitam ao mandamento de Deus (Romanos 8.7).
“PORTANTO, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito. (…)Para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito.” (Romanos 8.1);
“O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.” (2 Coríntios 3.6);
“Só
quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou
pela pregação da fé? Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo
Espírito, acabeis agora pela carne?” (Gálatas 3.2-3).
Qualquer
desvio da verdade do evangelho, por menor que seja, traz consequências
funestas. Se um crente em Cristo for persuadido a circuncidar-se, e se
deixar circuncidar, adicionou um pouco de fermento à massa do ázimo da
sinceridade. Ao obedecer a tal persuasão, sujeitou-se a um jugo de
servidão, rejeitou a verdade (Gálatas 5.7-9). Ao rejeitar a verdade do
evangelho, será rejeitado pelo Senhor (2 João 1.9). Por causa da
rebelião tornou-se um feiticeiro, e se persistir no erro após ser
admoestado, é iníquo e idólatra.
Ao
sujeitar-se a uma ordenação segundo preceitos dos homens, tornou-se
amigo do mundo e inimigo de Deus, portanto, é um adúltero, infiel para
com Deus (Tiago 4.4). Sujeitar a algo aparentemente benéfico como lavar
as mãos antes das refeições, se não for por questões de higiene, mas
para tentar purificar-se, é tornar-se inimigo de Deus (Mateus 15.20).
Os
judeus ensinavam continuamente que era proibido matar, roubar, furtas,
adulterar, blasfemar, etc., mas desonravam a Deus obedecendo mandamento
de homens.
“Tu,
pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas
que não se deve furtar, furtas? Tu, que dizes que não se deve adulterar,
adulteras? Tu, que abominas os ídolos, cometes sacrilégio? Tu, que te
glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei? Porque, como
está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de
vós” (Romanos 2.21-24).
Qualquer
um que anuncie que é necessário deixar de beber, fumar, mentir, roubar,
furtar, matar, etc., para o homem ser salvo, não fala segundo a verdade
do evangelho. O evangelho não consiste em deixar ou adotar certas
práticas ou condutas. O evangelho é mistério oculto que foi revelado aos
homens em Cristo na plenitude dos tempos (1 Coríntios 2.7; Colossenses
1.26), poder de Deus para salvação do que crê, e não um programa de
reabilitação ou de conscientização acerca de saúde, bem-estar, etc.
Um
comportamento digno em sociedade de acordo com a razão não promove a
salvação do homem. Promover determinados valores morais, estilo de vida,
ética, comportamento social, etc., é matéria comum a diversos
seguimentos religiosos, tais como: doutrinas espirita, filosofias
orientais, resignações e ascetismos do hinduísmo, tendências do
sincretismo religioso, etc.
Utilizar passagens bíblicas como: “Ficarão
de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os
homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira”
(Apocalipse 22.15), para demonstrar que, para ser salvo é necessário
deixar de praticar algumas ações reprováveis do ponto de vista da moral
humana é o mesmo que andar segundo a carne. Produzirá homens com
entendimento igual ao fariseu que subiu ao templo para orar:
“O
fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te
dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e
adúlteros; nem ainda como este publicano.” (Lucas 18.11).
A
salvação é concedida ao homem única e exclusivamente em Cristo, pois
Ele é a fé manifesta aos homens na plenitude dos tempos pela qual o
homem que crer é salvo. Depois de ser inteirado acerca da sua nova
condição em Cristo (salvação), e da necessidade de andar como filhos da
luz (comportamento), o que só é possível quando o homem ouve o genuíno
evangelho e crê, com efeito terá um novo proceder.
“A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei. Com efeito:
Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho,
não cobiçarás; e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se
resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. O amor não faz mal ao
próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Romanos 13.8-10).
O
salvo em Cristo deve transformar-se pela renovação do entendimento, de
modo que, se roubava, furtava, matava, prostituía, mentia, etc., é
instruído a não se portar deste modo (Efésios 4.28). Por que? Para ser
salvo? Não! O bom comportamento serve de adorno ao evangelho, ou seja,
não é causa de salvação.
“Não defraudando, antes mostrando toda a boa lealdade, para que em tudo sejam ornamento da doutrina de Deus, nosso Salvador” (Tito 2.10).
A
moderação é a marca do comportamento do cristão na sociedade, devendo
portar-se de modo a não dar escândalo a judeus, gregos ou a igreja de
Deus “Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens”
(Filipenses 4.5; 1 Coríntios 10.32; Tito 2.1-6). Com relação a igreja
de Deus, o apóstolo Paulo instrui os cristãos a serem benignos,
misericordiosos, perdoando uns aos outros, tendo como exemplo Cristo
(Efésios 4.32).
O cristão deve
compreender que, para levar a fragrância do conhecimento de Deus a todo
lugar, deve ser um homem honrado, pois concede aos que creem serem o bom
perfume de Cristo para todos os homens.
“E
graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós
manifesta em todo o lugar a fragrância do seu conhecimento. Porque para
Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se
perdem” (2 Coríntios 2.15).
Quem
ficará de fora? Os cães! Mas, quem são os cães? Homens réprobos quanto
ao evangelho, que apesar de se portarem como atalaias, são cegos, pois
nada sabem. Pastores que nada compreendem e seguem a sua própria
ganância “Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão” (Filipenses 3.2; Isaías 56.10-11); “Porque
os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre; e
com suaves palavras e lisonjas enganam os corações dos simples” (Romanos 16.18; Filipenses 3.19).
Ora,
como já vimos, qualquer que segue a sua própria ganancia é avarento,
portanto, idólatra. É rebelde, portanto, feiticeiro (1 Samuel 15.23).
Pelo fato de prevaricar quanto à compreensão e explanação da palavra de
Deus é transgressor, pecador e iníquo (Isaías 59.12–13). Qualquer um
que furta a palavra de Deus ao seu companheiro é ladrão e homicida (João
10.8 e 10; João 8.44; 1 João 3.15).
A
mensagem do evangelho é a mesma tanto para homens corretos na sociedade
quanto para os criminosos. Todos precisam crer que Jesus é o Cristo para
serem salvos, quer sejam bons ou maus do ponto de vista do
comportamento humano e da moral da sociedade.
A
mensagem de Cristo para Nicodemos, que era o príncipe dos judeus, juiz,
mestre em Israel e fariseu é a mesma anunciada a mulher samaritana que,
teve cinco maridos, e o atual não lhe pertencia.
O irmão Tiago apresenta elementos que auxilia diferenciar ‘obras da carne’ do ‘fruto do espírito’ (evangelho):
“Quem
dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras
em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento
faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a
verdade. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e
diabólica. Porque onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e
toda a obra perversa. Mas a sabedoria que do alto vem é, primeiramente
pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de
bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia. Ora, o fruto da justiça
semeia-se na paz, para os que exercitam a paz” (Tiago 3.13-18).
As
obras da carne decorrem de palavras, diferente do que muitos entendem
que se dá por mau comportamento. No entanto, qual era a obra de
Diótrefes? Proferia contra os apóstolos palavras maliciosas (3 João
1.10). O apóstolo recomenda aos cristãos não receberem em casa
(comunhão) quem não professasse a doutrina de Cristo, pois se o fizesse,
era participante das suas obras más, ou seja, da sua doutrina.
O
termo ‘obra’ remente a obediência, de modo que, obedecer a Deus não
pode ser de palavra ou de língua, antes por obra e em verdade, ou
obediência ao evangelho (1 João 3.18; Tiago 1.25; 2 Tessalonicenses
2.17). Qual a obra da fé? Crer em Cristo (2 Tessalonicenses 1.11; João
6.29).
Quem é sábio e compreende as
coisas de Deus precisa demonstrar com postura (conduta, comportamento) a
sua doutrina (obra) em mansidão e sabedoria (1 Pedro 3.15). No
contexto, o irmão Tiago diferencia ‘boa conduta’, ‘bom trato’
(ἀναστροφῆς/anastrophe) de ‘obras’ (ἔργα/trabalho).
Se
alguém dentre aqueles cristãos se entendia como mestre de Cristo, mas
que ao demonstrar a sua doutrina (obra) fizesse por ciúme intenso e
astutamente fosse faccioso (Filipenses 1.15), a sabedoria que possuía
era terrena, animal e diabólica, ou seja, não era segundo o evangelho.
“Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras.” (2 Coríntios 11.15).
Se
alguém se diz ministro de Cristo e ensina por inveja e espírito
faccioso, na verdade é alguém que transtorna o evangelho de Cristo
(Gálatas 1.7; Tito 1.11), pois quem é sábio segundo a sabedoria que é do
alto possui característica peculiar que reflete a essência do
conhecimento de Deus (Filipenses 2.3).
Quando
alguém anuncia outra doutrina que não o evangelho, é classificado como
soberbo (nada sabe), antes delira segundo a sua carnal compreensão,
donde surge invejas, porfias, blasfêmias, desconfiança, etc.
“Se
alguém ensina alguma outra doutrina, e se não conforma com as sãs
palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a
piedade, é soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e
contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias,
ruins suspeitas, perversas contendas de homens corruptos de
entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa
de ganho; aparta-te dos tais” (1 Tm 6.3-5).
A
perturbação, o escândalo, as dissensões, as invejas, etc., a que o
apóstolo Paulo se refere diz de tudo que visa transtornar a ideia de que
o Verbo eterno se fez carne, habitou entre os homens, foi crucificado e
morto, ao terceiro dia ressuscitou e está assentado à destra da
majestade nas alturas.
No mundo há
inúmeros escândalos envolvendo religiões, igrejas, ministérios,
pastores, doutores, etc., como quando se divulga que tais pessoas
furtaram, roubaram, prostituíram, enganaram, etc. No entanto, o
verdadeiro escândalo da qual o apóstolo faz referência diz da doutrina
divulgada por este homens, pois ela é contrária a doutrina do evangelho.
“E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles” (Romanos 16.17).
A
exemplo, verifica-se no livro dos Atos dos apóstolos que o apóstolo
Paulo e Barnabé tiveram uma grande discussão e contenda contra os
judaizantes acerca da circuncisão ( At 15:1 -2), o que se nomeia
perturbação, pois a doutrina dos judaizantes promove escândalo,
dissensão e invejas.
Ora, a doutrina
dos judaizantes é contrária ao evangelho, pois eles apregoavam que, para
os gentios se salvarem era necessário circuncidarem-se conforme o uso
de Moisés “Então alguns que tinham descido
da Judeia ensinavam assim os irmãos: Se não vos circuncidardes conforme
o uso de Moisés, não podeis salvar-vos. Tendo tido Paulo e Barnabé não
pequena discussão e contenda contra eles, resolveu-se que Paulo e
Barnabé, e alguns dentre eles, subissem a Jerusalém, aos apóstolos e aos
anciãos, sobre aquela questão” (Atos 15.1-2).
Algum
tempo depois, o apóstolo Paulo propôs a Barnabé que voltasse de cidade
em cidade visitando aqueles que ouviram a mensagem do evangelho, e
Barnabé sugeriu que o apóstolo Paulo levasse como companheiro o irmão
João, chamado Marcos, porém, o apóstolo Paulo não achou razoável levar
quem não havia evangelizado com eles desde a Panfília, o que gerou uma
contenda entre o apóstolo Paulo e Barnabé.
A
contenda que houve entre o apóstolo Paulo e Barnabé fez com que se
apartassem um do outro, sendo que Barnabé levou consigo Marcos para
Chipre, e o apóstolo Paulo levou Silas em direção à Síria e Cilícia.
Tendo
por base esses dois eventos, conclui-se que a inveja e espírito
faccioso da qual o irmão Tiago fala diz da doutrina dos judaizantes,
conforme registrado nos versos 1 e 2, do capítulo 15, de Atos, que faz
aos que dão ouvidos se apartarem da simplicidade que há em Cristo. Já a
contenda que houve entre o apóstolo Paulo e Barnabé não deve ser
classificado desta forma, pois se refere a uma conduta decorrente das
relações humanas, mas não atenta contra a verdade do evangelho.
Onde
há ‘inveja’ e ‘espírito faccioso’, certo é que a doutrina divulgada é
‘perturbação’ e ‘todo mal’. Na versão grega da Bíblia não há o termo
‘obra’ (ἔργα) no final do verso 16, de Tiago 3, e sim o termo πρᾶγμα
(ação, negócio, questão).
A sabedoria
do alto (evangelho) primeiramente é pura (imaculado), pacífica (promove a
paz com Deus), moderada (integro, justo, reto), tratável (complacente),
cheia de misericórdia (pleno de misericórdia) e bons frutos (resulta em
boa obra, ação, fruto, louvor).
Aquilo
que a justiça que há no evangelho produz (fruto da justiça) deve ser
semeado (ensinado) na paz, para os que exercitam a paz. Ora, só é
exercitado na paz aquele que é perfeito (se alimenta de alimento
sólido), ou seja, que em razão do costume tem os sentidos exercitados no
evangelho pleno, que é a piedade (1 Timóteo 4.7; Hebreus 5.14).
Os ‘bons frutos’ refere-se às características do ‘fruto do espírito’ em quem é perfeito na palavra da verdade.
A
justiça da lei já se cumpriu naqueles que creem em Cristo (Romanos
8.4), portanto, não há mais nenhuma ordenança a ser cumprida pelos
crentes para estar em Deus (Atos 15.20 e 29; Atos 21.25). Qualquer
ordenança diferente de crer em Cristo imposta a um crente, tais como
circuncisão, festas, sábados, sacrifícios, roupas, alimentos, bebidas,
etc., é andar segundo a carne.
Se
alguém anuncia que são necessárias indulgências, esmolas, penitência,
instituição humana (igreja), líder religioso, etc., para ser salvo,
ainda que tenha alguma aparência de devoção voluntária, disciplina do
corpo (ascetismo) ou sabedoria, na verdade tais práticas servem somente
para satisfazer as concupiscências da carne (Colossenses 2.23).
Não
é pela aparência que se verifica se alguém anda segundo o espírito
(evangelho). Só é possível verificar se alguém está em Cristo através do
fruto dos lábios, quando se verifica que este alguém professa Jesus
segundo as Escrituras (Hebreus 13.15).
Cristo
alertou que os falsos profetas possuem aparência de ovelha (Mateus
7.15), ou seja, possuem aparência de que deram ouvidos ao Bom Pastor,
porém, negam a eficácia do evangelho “Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te” (2 Timóteo 3.5).
Enquanto
a Bíblia demonstra que o verdadeiro sacrifício que Deus se agrada é o
fruto dos lábios que professam que Jesus veio em carne, foi crucificado,
morreu, foi sepultado e ressurgiu ao terceiro dia para a gloria de Deus
Pai, os falsos profetas exigem dos seus seguidores sacrifícios com base
na sombra dos bens futuros que estava na lei.
“PORQUE
tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas,
nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano,
pode aperfeiçoar os que a eles se chegam” (Hebreus 10.1).
O fruto do espírito
“Mas
o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade,
bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei” (Gálatas 5.22-23)
As
‘obras da carne’ são manifestas naqueles que não tem o espírito de
Deus, pois andam segundo a carne, e o ‘fruto do espírito’ é pertinente
aos que tem o espírito de Deus.
“Estes são os que a si mesmos se separam, sensuais, que não têm o Espírito” (Judas 1.19).
Embora
o termo ‘espírito’ esteja grafado em nossas Bíblias com letra
maiúscula, o que dá a entender que se refere a terceira pessoa da
trindade, o Espírito Santo, na verdade o termo se refere ao evangelho de
Cristo.
Por causa da grafia do termo
espírito com ‘e’ maiúsculo, surge o primeiro grande equívoco por má
leitura da passagem da carta aos Gálatas 5, versos 22 a 23, de que o
fruto é resultado da atuação do Espírito Santo na vida do cristão. O
segundo equívoco, refere-se à ideia de que o ‘fruto do espírito’ guarda
relação direta com a reformulação do caráter e da conduta do cristão em
sociedade.
Antes de prosseguir, se faz
necessário compreender que o termo ‘espírito’ foi empregado no verso em
comento para fazer referencia à mensagem do evangelho. Devemos ter em
mente que, tanto a palavra do evangelho, quando a mensagem de engano,
são denominados ‘espírito’:
“Nós
somos de Deus; aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele que não é de
Deus não nos ouve. Nisto conhecemos nós o espírito da verdade e o
espírito do erro” (1 João 4.6).
O
cristão, ao crer na mensagem do evangelho, creu no ‘espírito de Deus’,
porém, como no mundo levantaram-se muitos falsos profetas, faz-se
necessário ao cristão provar os espíritos.
“Amados,
não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus,
porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (1 João 4.1).
A ‘formula’ para analisar (provar) se uma mensagem é de Deus ou se é falsa, foi apresentada pelos apóstolos:
a)
Se uma mensagem diz que Jesus veio em carne é de Deus, mas se nega que
Jesus veio em carne, é mensagem do anticristo (1 João 4.2-3; 1 João
2.22), e;
b) Se uma mensagem diz que Jesus é o Cristo, mas nega a eficácia da sua obra, é mensagem de um falso profeta (2 Timóteo 3.5).
Os versos que se seguem, o termo ‘espírito’ pode ser substituído por ‘evangelho’, ‘mensagem’, ‘doutrina’, ‘corpo’, etc.
“Purificando
as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade, para o amor
fraternal, não fingido; amai-vos ardentemente uns aos outros com um
coração puro;” (1 Pedro 1.22);
“Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação.” (2 Timóteo 1.7);
“O
qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não
da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.” (2 Coríntios 3.6);
“Mas
o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns
da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de
demônios;” (1 Timóteo 4.1);
“Como não será de maior glória o ministério do Espírito?” (2 Coríntios 3.8);
“Mas
nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de
Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por
Deus.” (1 Coríntios 2.12);
“Que
não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis,
quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós,
como se o dia de Cristo estivesse já perto.” (2 Tessalonicenses 2.20);
“Porque,
se alguém for pregar-vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se
recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não
abraçastes, com razão o sofreríeis.” (2 Coríntios 11.4);
“Mas o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito.” (1 Coríntios 6.17);
“Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus.” (1 Coríntios 2.10).
Após
a análise acima, pode-se dizer que o ‘fruto do espírito’ diz daquilo
que é pertinente ao evangelho de Cristo, pois o que foi estabelecido na
promessa é segundo a graça e tem por alvo todos os homens (Romanos
4.16).
Por que o fruto do espírito não é
manifesto assim como é manifesta as obras da carne? Porque a lei foi
dada aos pecadores de Israel objetivando evidenciar a condição e as
obras deles (1 Timóteo 1.9-11), e o evangelho foi anunciado
primeiramente a Abraão evidenciando as virtudes de Deus (1 Pedro 2.9;
Hebreus 6.5).
Ao tratar das ‘obras da
carne’ e do ‘fruto do espírito’, o apóstolo dos gentios não está
analisando a conduta dos homens, antes está demonstrando o quanto são
antagônicos estes dois sistemas doutrinários.
Quando
o apóstolo determina aos cristãos a andarem pelo espírito (πνεύματι
περιπατεῖτε), e evidencia que se andarem segundo o evangelho de modo
algum cumpririam o que a carne deseja, fica claro que se trata de dois
sistemas doutrinários antagônicos.
Da
mesma forma que, através de Sara e Hagar temos uma alegoria que aponta
duas alianças (Sinai e Jerusalém), e que o filho da escrava perseguia o
filho da livre (Gálatas 4.21-31), as ‘obras da carne’ e o ‘fruto do espírito’ retratam essa mesma realidade.
Se
a conclusão do verso 31, do capítulo 4 da carta aos Gálatas é que os
cristãos são filhos da promessa, e não da escrava, sendo que os filhos
dessa foram gerados segundo a carne, e o daquela, segundo a promessa,
compreende-se o motivo pelo qual a carne é contrária ao espírito.
Percebe-se
através do verso 17, do capítulo 5 da carta aos Gálatas, que as
pessoas, com relação às duas alianças, estão sendo disputadas. A carne
quer o domínio do homem, e, igualmente, o espirito quer o domínio do
homem. O espírito quer que o homem creia que Jesus é o Cristo, o enviado
de Deus, e a carne que que o homem se submeta à circuncisão, aos
sábados, festas, luas, etc.
O apóstolo evidencia aos Gálatas o que foi dito aos Romanos:
“Não
sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer,
sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da
obediência para a justiça?” (Romanos 6.16).
Para
encerrar qualquer argumento contrário ao evangelho e a favor da lei, o
apóstolo lembra que os que pertencem a Cristo crucificaram a carne com
suas paixões e concupiscências, alertando que: se vivemos no espírito,
que andemos no espírito.
Agir como o apóstolo Pedro, quando tentou se afastar dos cristãos gentios por causa dos cristãos judeus, jamais:
“E
os outros judeus também dissimulavam com ele, de maneira que até
Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação. Mas, quando vi que não andavam bem e direitamente conforme a verdade do evangelho,
disse a Pedro na presença de todos: Se tu, sendo judeu, vives como os
gentios, e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como
judeus?” (Gálatas 2.13-14).
Analisando
o termo grego πνεύματός (pneuma) em um dicionário bíblico bom, como o é
o Dicionário Bíblico Strong, não há entre os possíveis significados do
termo a possibilidade de ‘espírito’ fazer referência ao evangelho ou a
uma outra doutrina.
Em se tratando do
‘fruto do espírito’ (καρπὸς τοῦ πνεύματός), poucos conseguem compreender
que o fruto é pertinente ao espírito (evangelho), e não ao cristão.
Uma
das características do fruto do espírito é o ἀγάπη (agapē), comumente
traduzido por amor. Ao se deparar com o termo, os significados do termo
são: amor fraterno, de irmão, afeição, boa vontade, benevolência, etc.,
sempre prezando por um sentimento afetuoso.
Entretanto, o termo ἀγάπη (agapē) deve ser compreendido com outra perspectiva, a de mandamento:
“Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados.” (1 João 5.3).
O
poder, o amor e a moderação (ἀλλὰ δυνάμεως καὶ ἀγάπης καὶ σωφρονισμοῦ)
são pertinentes ao evangelho, o espírito da verdade, diferentemente do
espírito do erro (1 João 4.6). O evangelho é poder de Deus, no evangelho
está o amor de Deus, o evangelho é um chamado a sobriedade, o que
contrapõe ao medo decorrente da desobediência.
“Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação.” (2 Timóteo 1.7);
“No
amor não há temor, antes o perfeito amor lança fora o temor; porque o
temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor.” (1 João 4.18).
Na
obediência não há medo, pois, a obediência perfeita lança fora o medo.
Já o medo decorre da pena, e quem teme é porque não obedeceu.
O
fruto do espírito é χαρά (chara), ou seja, regozijo, alegria. O termo
χαρά é cognato, cujo termo que se traduz por graça também é cognato, do
que se depreende que o ‘fruto do espírito’ é graça, remete ao favor
divino.
Daí a colocação paulina:
“Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.” (Romanos 14.17).
As
obras da carne se firmam em comidas e bebidas devido as festas, luas,
sábados, etc., diferente do reino de Deus, que é Cristo, que promove a
justiça, a paz e a alegria.
O fruto do
espírito é εἰρήνη (eiréné), ou seja, paz. Diz da paz que excede todo
entendimento (Filipenses 4.7), a paz que se estabelece entre Deus e os
homens através de Cristo, e não a paz que é segundo este mundo (João
14.27).
O fruto do espírito é μακροθυμία (makrothumia), ou seja, longanimidade, esperando tempo suficiente antes de expressar a ira.
“O
Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia;
mas é longânime para conosco, não querendo que alguns se percam, senão
que todos venham a arrepender-se.” (2 Pedro 3.9).
O
fruto do espirito é χρηστότης (chrestotes), que se traduz por
benignidade. Trata da bondade de Deus em satisfazer a necessidade de
salvação da humanidade, a Sua maneira e modo.
“(Porque o fruto do Espírito (φωτὸς) está em toda a bondade, e justiça e verdade);” (Efésios 5.9);
Ao
escrever aos cristãos em Éfeso, contrapondo ‘evangelho’ e ‘lei’ através
das figuras ‘luz’ e ‘trevas’, o apóstolo Paulo demonstra que o fruto da
luz (καρπὸς τοῦ φωτὸς) equivale ao fruto do espírito.
Devemos considerar a bondade de Deus demonstrada no evangelho, um fruto do espírito (luz):
“Considera,
pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram,
severidade; mas para contigo, benignidade, se permaneceres na sua
benignidade; de outra maneira também tu serás cortado.” (Romanos 11.22).
O
fruto do espírito é ἀγαθωσύνη (agathōsynē), traduzido por bondade.
Através da sua palavra Deus cumpre o desejo da sua bondade, ou seja,
trata-se de um fruto do espírito.
“Por
isso também rogamos sempre por vós, para que o nosso Deus vos faça
dignos da sua vocação, e cumpra todo o desejo da sua bondade, e a obra
da fé com poder;” (2 Tessalonicenses 1.11).
O
fruto do espírito é πίστις (pistis), traduzido por fé, fidelidade,
verdade, firmeza, fundamento. O fruto do espírito é verdade, pois diz da
palavra de Deus que é firme e imutável.
O
fruto do espírito é πραΰτης (prautēs), que se traduz por mansidão. A
mansidão, neste caso, diz de um poder que não se impõe, pois preserva a
liberdade do homem.
“Ora, o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.” (2 Coríntios 3.17).
E por fim, o fruto do espírito é ἐγκράτεια (egkrateia), traduzido por domínio próprio.
“Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação.” (2 Timóteo 1.7).
A
ideia de domínio próprio não está relacionada com questões de ordem
moral ou comportamental, antes está vinculada a sobriedade, moderação.
O capítulo 5 da carta aos Efésios contém uma aplicação prática das questões pertinentes as obras da carne e o fruto do espírito:
“SEDE,
pois, imitadores de Deus, como filhos amados; E andai em amor, como
também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e
sacrifício a Deus, em cheiro suave. Mas a prostituição, e toda a
impureza ou avareza, nem ainda se nomeie entre vós, como convém a
santos; Nem torpezas, nem parvoíces, nem chocarrices, que não convêm;
mas antes, ações de graças. Porque bem sabeis isto: que nenhum devasso,
ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no reino de
Cristo e de Deus. Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas
coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. Portanto, não
sejais seus companheiros. Porque noutro tempo éreis trevas, mas agora
sois luz no SENHOR; andai como filhos da luz” (Efésios 5.1-8).
Os
cristãos têm que imitar a Cristo, como filhos amados. O cristão deve
andar em obediência (amor), pois Cristo amou os cristãos e se entregou
em oferta e sacrifício, ou seja, em obediência a vontade do Pai. Se o
cristão quer imitar a Cristo, deve ser obediente, pois o exemplo que
Cristo nos deixou foi de obediência (Romanos 5.19).
“E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.” (Filipenses 2.8).
Noutro
tempo os cristãos eram trevas, mas agora são luz no Senhor, de modo que
tem que andar como Cristo. Ora, os filhos de Deus não são companheiros
dos filhos da desobediência, que enganam os incautos com palavras
persuasivas. Os elementos das obras da carne são evidentes: devasso,
impuro, avarento, etc. Chama-nos atenção o fato de que a avareza é o
mesmo que idólatra, o que demonstra que as obras da carne elencadas são
figuras que remetem aos filhos de Israel.
“(Porque
o fruto do Espírito está em toda a bondade, e justiça e verdade);
Aprovando o que é agradável ao Senhor. E não comuniqueis com as obras
infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as. Porque o que eles fazem
em oculto até dizê-lo é torpe. Mas todas estas coisas se manifestam,
sendo condenadas pela luz, porque a luz tudo manifesta. Por isso diz:
Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te
esclarecerá. Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios,
mas como sábios, Remindo o tempo; porquanto os dias são maus. Por isso
não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor. E não
vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do
Espírito; Falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais;
cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração;” (Efésios 5.9-19).
As
‘obras infrutuosas das trevas’ dizem das ‘obras da carne’, e que por
isso mesmo são manifestas sendo condenadas pela luz (Gálatas 5.19).
Sobre tais obras, disse o evangelista João:
“E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más.
Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz,
para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade
vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são
feitas em Deus.” (João 3.19-21).
Daí
a recomendação para os cristãos não serem como os filhos de Israel:
insensatos! (Deuteronômio 32.6). A aquele que compreende a vontade de
Deus não se embriaga no vinho em que há contenda, antes torna-se pleno
do espírito, ou melhor, torna-se sóbrio, moderado, pois este é o fruto
do espírito.
“Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação.” (2 Timóteo 1.7).
Sobre o tema ‘obras da carne’ e ‘fruto do espírito’, é comum nos púlpitos cristãos o pensamento plantonista[1]
de quem for mais alimentado e estiver mais forte vence, porém, a Bíblia
é clara em demonstra que só terá domínio aquele aquém o homem se
sujeitar, fazendo-se servo.
“Com
efeito, todos os corpos movidos por um agente exterior são inanimados,
enquanto o corpo movido de dentro é animado, pois que ele é o movimento e
natureza da alma. O que se move a si mesmo não pode ser outra coisa
senão a alma, logo a alma é simultaneamente incriada e imortal. (…) a
alma pode comparar-se a não sei que força activa e natural que unisse um
carro a uma parelha de cavalos alados conduzidos por um cocheiro. Os
cavalos dos deuses são de boa raça, mas os dos outros seres são
mestiços. Quanto a nós, somos os cocheiros de uma atrelagem puxada por
dois cavalos, sendo um belo e bom, de boa raça, e o outro precisamente o
contrário, de natureza oposta, de onde vem a dificuldade de conduzirmos
o nosso próprio carro.” – Cf. Platão, Fedro, Lisboa, Guimarães Editores, 1994, 5ª ed., ps. 58-59.
“Não
sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer,
sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da
obediência para a justiça?” (Romanos 6.16).
[1] “Tinha
ouvido que Antão, assistindo por acaso a uma leitura evangélica, sentiu
um chamado, como se a passagem lida fosse, pessoalmente, dirigida a
ele: ‘Vai, vende os teus bens e dá aos pobres e terás um tesouro nos
céus. Depois, vem e segue-me’. E logo, voltei ao lugar onde Alípio
ficara sentado, pois, ao levantar-me, havia deixado ai o livro do
Apóstolo. Peguei-o, abri e li em silêncio o primeiro capítulo sobre o
qual caiu o meu olhar: ‘Não em orgias nem bebedeiras, nem a devastação e
libertinagem, nem nas rixas e ciúmes. Mas revesti-vos do Senhor Jesus
Cristo e não procureis satisfazer os desejos da carne’. Não quis ler
mais, nem era necessário. Mal terminara a leitura dessa frase
dissiparam-se em mim todas as trevas da dúvida, como se penetrasse no
meu coração uma luz de certeza” (Confissões, VIII, 12, ps. 28-29);
“Em
seu estado anterior à queda, Adão nada sabia dessas incessantes lutas
entre espírito e carne, que, para nós, são experiências diárias. Suas
três naturezas se uniam perfeitamente, formando uma só. A alma, como
fator de unidade, tornou-se a base de sua individualidade, de sua
existência como ser distinto” Nee, Watchman, O homem
espiritual, tradução de Delcio de Oliveira Meireles, Belo Horizonte, Ed.
Betânia, 2002, cita Pember’s Eatth’s Earliest Age.
“Porque
aquilo que o homem é, depende de como é sua alma. Esta o representa e
expressa sua individualidade. É a sede do livre-arbítrio do homem, o
lugar onde o espírito e o corpo se unem de maneira perfeita. Se a alma
do homem quiser obedecer a Deus, permitirá que o espírito o governe,
conforme ordenado por Deus. Se ela preferir, poderá, também, na condição
de dominadora do homem, reprimir o espírito e deleitar-se fora do
Senhor” Nee, Watchman, O homem espiritual, tradução de Delcio de Oliveira Meireles, Belo Horizonte, Ed. Betânia, 2002, p. 32.
“Essa
guerra entre a alma e o espírito é travada em secreto, no interior dos
filhos de Deus e não tem fim. A alma procura manter sua autoridade e
agir, independentemente, enquanto o espírito luta para possuir e dominar
tudo, no sentido de manter a autoridade de Deus em nossa vida. A alma
sempre tende a assumir a liderança em tudo, antes de o espírito
conquistar essa ascendência (…) Nossa vida natural é um tremendo
obstáculo à espiritual (Enquanto o ego não é tocado, os filhos de Deus
vivem guiados por estímulos e sensações que variam bastante (…) Se a
mente estiver excessivamente ativa, pode influenciar e perturbar a
tranquilidade do espírito” Idem. ps. 238 e 239.