Por que a mulher cananeia foi chamada de “cachorrinha”?
(1) Uma das coisas que chama a atenção é que o cão nos tempos bíblicos não tinha um status como o de hoje de “melhor amigo do homem”.
Em geral, nos tempos bíblicos, chamar alguém de “cão” era uma fala figurada de desprezo, de ofensa. Veja, por exemplo, este texto:
“Então, Abisai, filho de Zeruia, disse ao rei: Por que amaldiçoaria este cão morto ao rei, meu senhor? Deixa-me passar e lhe tirarei a cabeça” (2 Samuel 16:9).
Inclusive, como os cães eram considerados animais impuros, chamar um gentio (não judeu) de cão era algo comum, como uma espécie de fala figurada de menosprezo.
(2) Feita essa observação, encontramos o encontro da mulher cananeia com Jesus. Jesus estava em viagem de passagem pela região de Tiro e Sidom, uma região com grande parte da população dada a idolatria (Mateus 15:21).
Uma mulher cananeia, ou seja, que não fazia parte do povo de Israel, portanto, gentia, por algum motivo fica sabendo da fama de Jesus e começa a ir atrás Dele com o objetivo de ter a cura de sua filha endemoniada (Mateus 15:22).
Quando ela finalmente se encontra com Jesus, ela o adora e pede pela cura de sua filha (Mateus 15:25). Mas Jesus diz a ela:
“Então, ele, respondendo, disse: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos” (Mateus 15:26). Nesse ponto a maioria das pessoas acha estranha a fala de Jesus e até ofensiva. Mas vou explicar porque não é bem assim.
Por que Jesus não ofendeu a mulher ao chamá-la de cachorrinha:
(3) Jesus usa uma metáfora de uma família, onde Ele é o provedor (aquele que tem o pão). Jesus mostra nesse momento que Sua missão principal era levar o “pão”, ou seja, a palavra de Deus, o evangelho, primeiramente aos de Seu povo, os israelitas (filhos).
Esse era o foco principal do breve ministério de Jesus, de Sua missão. Quando Jesus chama a mulher de cachorrinha usa a palavra “kunarion” no grego. Essa palavra significa “pequeno cão”.
Jesus suaviza o uso de “cão”, geralmente usado para depreciar, e usa um termo geralmente usado para um cão de estimação, um cãozinho domesticado criado junto da família. Isso demonstra que Jesus não tinha em mente a ofensa, mas sim demonstrar de forma poética àquela mulher qual era o foco de Sua missão.
(4) A mulher cananeia compreende a fala de Cristo, tanto que usa da mesma metáfora de Jesus, visualizando uma família com seus “kunarion” (cachorrinhos), que se alimentavam das migalhas que caíam da mesa dessa família (Mateus 15:27).
Dessa forma, essa mulher conquista o coração de Jesus: “Então, lhe disse Jesus: Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se contigo como queres. E, desde aquele momento, sua filha ficou sã” (Mateus 15:28).
(5) Assim, podemos observar que mesmo diante das dificuldades de relacionamentos humanos entre israelitas e gentios, diante das tensões que haviam, Jesus consegue de forma poética, de forma profundamente gloriosa, tocar o coração daquela mulher, respeitando-a e preparando o caminho no coração dela para receber o milagre de Deus.
Ele a faz entender sobre a missão Dele e de forma profética demonstra já naquele momento que os gentios (não judeus) também receberiam das bênção de Deus que outrora só haviam sido derramadas sobre o povo de Israel.
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