O termo Santa Ceia está incorreto?
(1) Em primeiro lugar é preciso dizer que realmente não existe o termo “Santa Ceia” na Bíblia. Normalmente esse memorial ordenado por Jesus era chamado de “ceia” ou “ceia do Senhor”:
“Quando, pois, vos reunis no mesmo lugar, não é a ceia do Senhor que comeis. Porque, ao comerdes, cada um toma, antecipadamente, a sua própria ceia; e há quem tenha fome, ao passo que há também quem se embriague” (1 Coríntios 11:20-21).
Também foi chamada em alguns momentos de “partir do pão”: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações” (Atos 2:42).
(2) O fato de não haver a expressão “Santa Ceia” na Bíblia invalida seu uso? Para respondermos a essa pergunta devemos compreender o termo e observar se ele é contrário a alguma verdade bíblica.
Algo “santo” no contexto das Escrituras Sagradas é algo “dedicado, consagrado, separado a Deus”. Nesse sentido temos um grande uso da palavra “santo” na Bíblia: “porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo” (1 Pedro 1:16).
Os servos de Deus são chamados de santos; no Velho Testamento lugares e coisas eram santas ao Senhor, por exemplo:
“Porém o incenso que fareis, segundo a composição deste, não o fareis para vós mesmos; santo será para o SENHOR” (Êxodo 30:37)
Assim, fica claro que – na Bíblia – o uso correto desse termo não está ligado a idolatria, mas a indicação de que algo ou alguém é dedicado, consagrado, separado a Deus. Nesse sentido, qual seria o problema de usar o adjetivo “santa” para a ceia do Senhor?
(3) O adjetivo “Santa” colocado para a Ceia do Senhor indica um momento separado, consagrado a Deus! Um memorial especial que Cristo instituiu para lembrança de seu sacrifício!
O fato de usar o adjetivo “santa” para a ceia do Senhor apenas reforça seu objetivo e propósitos. Não há no uso desse adjetivo quaisquer objetivos de idolatrar os elementos da ceia ou o ritual em si (digo em relação à teologia reformada).
Mas, única e exclusivamente, reforçar a importância desse sacramento na vida da igreja como um memorial sagrado ao Senhor e para a edificação da igreja.
(4) Quero salientar também que esse termo foi usado em grandes confissões de fé e, por isso, foi também aprovado por renomados teólogos.
Veja, por exemplo, na Confissão de fé de Westminster (1640), capítulo XXVII, dos sacramentos, IV: “Há só dois sacramentos ordenados por Cristo, nosso Senhor, no Evangelho – O Batismo e a Santa Ceia…”.
O Catecismo de Heidelberg (1563) também usa a expressão: “Pergunta 68: Quantos sacramentos são instituídos no Novo Testamento?” Resposta: “Dois: O batismo e a Santa Ceia.”
Assim, me causaria espanto que uma diversidade enorme de teólogos tivesse cometido o erro infantil de usar um adjetivo que não cabia ser usado para designar a ceia do Senhor. Fica claro, então, que o termo é perfeitamente condizente.
(5) Dessa forma, colocados os argumentos, creio que o uso da expressão “Santa Ceia” não seja incorreto e contrário ao que a Bíblia diz. Pode ser usado sem problemas para apontar para a ceia do Senhor.
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