DECIMO MANDAMENTO – NÃO COBIÇARÁS
“De ninguém cobicei a prata, nem o ouro, nem o vestuário.” (At
20, 33).
A
cobiça é a raiz da qual surge todo pecado contra o próximo, tanto em pensamento
como na pratica.
LEITURA
BÍBLICA
“Não cobiçarás a casa do teu próximo,
não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o
seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.”
(Êx 20,17).
“1
E SUCEDEU depois destas coisas que, Nabote, o jizreelita, tinha uma
vinha em Jizreel junto ao palácio de Acabe, rei de Samaria.
2 Então Acabe falou a Nabote, dizendo:
Dá-me a tua vinha, para que me sirva de horta, pois está vizinha ao lado da
minha casa; e te darei por ela outra vinha melhor: ou, se for do teu agrado,
dar-te-ei o seu valor em dinheiro. 3
Porém Nabote disse a Acabe: Guarde-me o SENHOR de que eu te dê a herança
de meus pais. 4 Então Acabe veio
desgostoso e indignado à sua casa, por causa da palavra que Nabote, o
jizreelita, lhe falara, quando disse: Não te darei a herança de meus pais. E
deitou-se na sua cama, e voltou o rosto, e não comeu pão. 5 Porém, vindo a ele Jezabel, sua mulher, lhe
disse: Que há, que está tão desgostoso o teu espírito, e não comes pão? 9
E escreveu nas cartas, dizendo: Apregoai um jejum, e ponde Nabote diante
do povo. 10 E ponde defronte
dele dois filhos de Belial, que testemunhem contra ele, dizendo: Blasfemaste
contra Deus e contra o rei; e trazei-o fora, e apedrejai-o para que morra.
15 E sucedeu que, ouvindo Jezabel que já fora
apedrejado Nabote, e morrera, disse a Acabe: Levanta-te, e possui a vinha de
Nabote, o jizreelita, a qual te recusou dar por dinheiro; porque Nabote não
vive, mas é morto. 16 E sucedeu que,
ouvindo Acabe, que Nabote já era morto, levantou-se para descer para a vinha de
Nabote, o jizreelita, para tomar posse dela.” (1Rs 21,1-5.9-10.15-16).
I.
INTRODUÇÃO.
O décimo mandamento envolve atos e
sentimentos. O sétimo mandamento proíbe o adultério, e aqui Deus proíbe o
desejo adulterar. O Senhor Jesus foi direto ao ponto: “Eu, porém, vos digo, que qualquer que
atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com
ela.” (Mt 5,28). O ultimo mandamento
protege o ser humano de ambições erradas. A cobiça infecta pobres e ricos nas
suas mais diversas formas.
II.
O DÉCIMO MANDAMENTO.
1. Abrangência. O tema diz respeito à proibição da
concupiscência da carne, da concupiscência dos olhos e da soberba da vida (Gn
3,6; Jo 2,16). Isso envolve muitos tipos de pecado como sensualidade, luxuria,
busca desenfreada por possessões ilícitas, obsessão pelo poder, ostentação
esnobe e orgulho. Esse mal continua no gênero humano desde a sua queda até a
atualidade.
2. Objetivo. O propósito divino é estabelecer limites
à vontade humana, para que haja respeito mútuo entre as pessoas e seus bens.
Muitos outros vícios acompanham a cobiça, como lasciva, concupiscência, inveja
e avareza, entre outros (Gl 5,20-21; Tg
4,2). Não pode haver paz num contexto como esse. É necessário que cada
pessoa se controle para viver uma vida virtuosa, e isso é fundamental na
construção de uma sociedade justa e feliz. Melhor é o que domina seu espírito
do que o que toma uma cidade (Pv 16,32).
Nós levamos vantagem por termos Jesus e
o Espírito Santo (Gl 2,20; 5,5).
3. Contexto. Há algumas variações entre os dois
textos (Êx 20,17; Dt 5,21). A ordem
das clausulas está invertida. Em Deuteronômio, aparece um sinônimo do verbo “cobiçar” e acrescenta-se a palavra “campo”. Isso mostra que o formato de
Êxodo está adaptado ao estilo nômade de vida de Israel no deserto, ao passo que
Deuteronômio é o modelo para o país preste a ser estabelecido na terra de
Canaã.
4. Esclarecimento. Os católicos romanos e os luteranos
dividem em dois o décimo mandamento: “Não
cobiçaras a casa do teu próximo”; e “Não cobiçaras a mulher do teu próximo” (Êx
20,17). Enquanto essas sentenças são lidas como mandamentos distintos eles
consideram “Não terás outros deuses” e
“Não farás para ti imagens e esculturas” como um único mandamento. Na soma
permanecem os dez mandamentos. Ambos mantiveram a tradição catequética medieval
desde Agostinho de Hipona (santo da
igreja católica romana). Quanto aos evangélicos segue o sistema das igrejas
reformadas, que vem dos judeus e é anterior a tudo isso (cf. Flavio Josefo. História dos Hebreus. Edição CPAD, PP.165-66.
III.
COBIÇA.
1. Significado. O verbo hebraico hamad indica o ato de desejar aquilo que é gerado pela emoção, que
começa com a impressão visual pela coisa ou pessoa desejada. Tudo isso se
resume a “desejar, tentar adquirir, almejar,
cobiçar”. O ermo é usado para “encontrar
prazer em” (Is 1,29; 53,2). Hamad aparece duas vezes aqui no décimo
mandamento (Êx 20,17). A septuaginta
traduz pelo verbo epithymeo,
literalmente, “fixar desejo sobre”;
de epi, “sobre”, e thymos, “paixão, ira”.
O termo em ambas as línguas pode se referir a coisa boa ou coisa má, dependendo
do contexto (Mt 5,28; 13,17).
2. Cobiçar. Desejar o que pertence a outro é o
pecado que o décimo mandamento condena. O Novo Testamento menciona esse último
mandamento do Decálogo (Rm 7,7; 13,9).
Trata-se de cobiçar a casa do outro, a mulher do próximo e em seguida o
mandamento inclui servo e serva, boi e jumento, e termina com as palavras “nem coisas alguma do teu próximo”. A
cobiça é o desejo excessivo de possuir aquilo que pertence ao outro. A
descrição deixa claro que não se trata de simplesmente almejar uma casa ou um
boi, mas desejos incontroláveis de possuir a casa e o boi que já tem dono, e
isso por meio ilícito (At 20,33; 1Cor
10,6; Tg 4,2). É o mesmo que roubar (Mq
2,2).
3. O
texto paralelo. Como ficou dito antes, o décimo
mandamento em Deuteronômio não segue rigorosamente o registro do Êxodo. Mas
isso não altera o sentido da mensagem. O segundo verbo empregado para “cobiçar” é awah, que significa “desejar
ardentemente, ansiar, almejar, cobiçar”. Aparece ao lado de hamad (Gn 3,6) e, como termo alternativo, em “não cobiçaras a mulher do teu próximo” (Dt 5,21) a Septuaginta
traduz os dois verbos igualmente por epithymeo.
IV.
A VINHA DE NABOTE.
1. Proposta
recusada. O relato bíblico do confisco criminoso
da vinha de Nabote é um dos mais chocantes da Bíblia e serve como amostra do
que a cobiça é capaz de fazer. A vinha de Nabote era uma propriedade vizinha ao
palácio do rei Acabe, em Samaria. O rei apresentou uma proposta de venda ou
troca aparentemente justa. Mas Nabote recusou a oferta do rei. “Guarde-me o
SENHOR de que eu te dê a herança de meus pais.” (1Rs
21,3). Havia
nessa recusa uma questão familiar, cultural e religiosa. A propriedade era um
bem sagrado que não se transferia definitivamente para outra família: “Assim a herança
dos filhos de Israel não passará de tribo em tribo; pois os filhos de Israel se
chegarão cada um à herança da tribo de seus pais.” (Nm 36,7; ver Lv 25,23-25).
2. O
direito de propriedade. O rei ficou “desgostoso e indignado à sua casa, por causa
da palavra que Nabote, o jizreelita, lhe falara, quando disse: Não te darei a
herança de meus pais. E deitou-se na sua cama, e voltou o rosto, e não comeu
pão.” (1Rs 21,4). O rei Acabe adoeceu, pois a cobiça por algo que não lhe
pertencia o havia dominado. À Bíblia diz que a medida da impiedade de Acabe se
completou quando ele se casou com Jezabel, uma princesa fenícia de origem pagã,
devota de Baal. Ela era filha Etbaal, rei de Sidom (1Rs 16,29-32). Jezabel não respeitava o sagrado direito de
propriedade estabelecido por Deus na lei de Moisés. Ela não hesitou em elaborar
um plano criminoso para condenar Nabote à morte e confiscar sua vinha: “9 E escreveu nas cartas, dizendo: Apregoai um
jejum, e ponde Nabote diante do povo. 10
E ponde defronte dele dois filhos de Belial, que testemunhem contra ele,
dizendo: Blasfemaste contra Deus e contra o rei; e trazei-o fora, e apedrejai-o
para que morra.” (1Rs 21,9,10).
3. O
pecado de Acabe e Jezabel. O plano de Jezabel funcionou com a conivência
do marido. Envolveu a elite da sociedade e a corte palaciana, o que por si só
mostra que a sociedade de Samaria estava completamente dominada, pois o texto menciona
“anciãos e nobres” corrompendo
falsas testemunhas (1Rs 21,8-10). A acusação
foi a acusação foi a seguinte: “Blasfemaste
contra Deus e contra o rei” (v 10). Agora, Nabote devia ser “legalmente” apedrejado até a morte por
ter se recusado a negociar sua propriedade com o rei. As duas testemunhas davam
consistência legal ao processo (Lv
24,10-16; Dt 17,6).
4. O
casal não contava com uma testemunha verdadeira. Estava tudo acabado e benfeito social
e juridicamente. Ao saber da noticia. Acabe ficou curado de sua enfermidade e
foi tomar posse da vinha de Nabote (1Rs
21,15-16). Eles violaram o sexto mandamento, “não matarás”, o oitavo, “não
furtaras”, o nono “não dirás falso
testemunho contra o teu próximo” e o décimo “não cobiçarás” (Dt 5,17,19-21). Isso sem contar os três primeiros
mandamentos que já vinham violando, com sua idolatria, desde o principio. Mas Acabe
e Jezabel não contavam com uma testemunha que sabia que sabia de tudo e tinha
autoridade para se vingar dessa barbaridade (1Rs 21,17-19).
V.
CONCLUSÃO.
O triste episódio de Acabe se repete
ao longo da história. Que Deus nos livre de todas essas maldades. A lei não proíbe e desejo em si,
mas o desejo daquilo que pertence a outro. Não é pecado desejar bens e
conforto, as coisas boas de que necessitamos
na vida . na verdade, viver é desejar. Desejar uma casa é mais natural
do que respirar, mas para isso é necessário trabalhar e fazer economias até
conseguir a realização do seu desejo com a ajuda de Deus.
Marco Antonio Lana (Teólogo)