A narrativa bíblica
mostra que há diferença entre a criação do homem e a criação dos animais. Vamos
prestar bem atenção! Na criação dos animais a expressão que Deus usou foi a
seguinte: “Produza a terra”. Na criação do homem foi diferente. Deus
disse: “façamos o homem”. Quando trata de animais, a Bíblia diz apenas o
seguinte: “conforme a sua espécie”, e o que nos mostra que esses seres
vivos não têm semelhança com espécies anteriores. Falando do homem, Deus disse:
“Façamos o homem a nossa imagem e semelhança”, em vez de dizer: “conforme
a sua espécie”. Agora vejamos como Deus acomodou esses seres viventes.
- A VIDA NO JARDIM (Gn 2,8-25).
"Ora, o Senhor
Deus tinha plantado um jardim no Éden, do lado do oriente, e colocou nele o
homem que havia criado". (Gn 2,8),
"O Senhor Deus
fez brotar da terra toda sorte de árvores, de aspecto agradável, e de frutos
bons para comer; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore da ciência do
bem e do mal". (Gn 2,9).
Esses dois
versículos ensinam-nos varias coisas importantes.
a) O
homem foi feito para se associar com Deus no trabalho
de realizar na terra um plano divino, isto é, para cuidar daquilo que Deus fez.
O homem é cooperador de Deus.
b) O
trabalho, longe de ser um castigo ou causa de sofrimento, é, pelo contrário, a
verdadeira finalidade do homem. É uma expressão da
vida inteligente. O castigo consiste na degradação do trabalho.
c) Deus
não entregou ao homem uma obra consumada e, sim alguma
coisa que o homem deve aperfeiçoar. Fez um jardim, um lugar de felicidade, mas
que o homem tinha de lavrar e guardar.
É necessário
observar que Deus não colocou o homem simplesmente no cenário grandioso do
mundo, mas num lugar adequado, com circunstancias favorável à felicidade e
necessário à prova, disciplina e estruturação definitiva da sua personalidade.
Deus o fez inocente e feliz, mas deixou em suas mãos confirmar sua inocência e
felicidade pela obediência voluntária.
- A TENTAÇÃO E A QUEDA (Gn 3,1-8).
O tentador disfarçou-se
sob as aparências de uma criatura que, segundo a narrativa bíblica, era astuto
– “A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor
Deus tinha formado.” (Gn 3,1a).
Sabemos que não se
trata de uma serpente qualquer, porque a Bíblia diz: "Foi então
precipitado o grande Dragão, a primitiva Serpente, chamado Demônio e Satanás, o
sedutor do mundo inteiro.". (Ap 12,9ª). O tentador tomou forma de um
animal que a mulher já conhecia e, revestido desce disfarce, procedeu com o seguinte
método:
a)
Fez a mulher pensar naquilo que Deus
tinha proibido. O pensamento nas coisas que uma pessoa
não tem e não pode ter aguça o desejo de possuí-las. Mas nada aguça tanto o
desejo como pensar numa coisa proibida. O primeiro passo da tentação é, sem
duvida alguma, fazer pensar em coisas proibidas.
b)
Confundiu a verdade com o erro, o bem
com o mal. O tentador fez promessas que em parte se
cumpriram e em parte não.
c)
Exagerou, de um lado, as prerrogativas
do homem e, do outro, a severidade de Deus. Isto é,
apelou para uma necessidade natural do
homem que é a curiosidade, e indicou um meio ilegal para satisfaze-la – a
desobediência.
d) Procurou,
astutamente, introduzir o assunto da tentação e
estabelecer conversa, aparentando ignorar os termos da proibição.
É impressionante a
marcha da tentação no espírito do homem.
a) Uma
impressão agradável – “agradável à vista”.
b) Uma
imagem deleitosa – “boa para comer”.
c) Um
desejo intenso – “desejável para dar entendimento”.
d) Um
desfecho trágico – “tomou e comeu”.
Eis a queda. O
tentador não obriga. Sugere o ato, valoriza, embeleza o objeto da tentação, e o
resto fica por conta do pecador. O encardido deixa a semente na terra e vai
embora.
- OS RESULTADOS DEFINITIVOS DA QUEDA (Gn 3,9-24).
A experiência já ensinou que
os atos morais do homem modificam o seu caráter. Cometida à desobediência, o
homem já não era mais o mesmo.
a) Foi
à perversão da sua natureza, com os seguintes
aspectos:
- Aparecimento da malicia - "Então os seus olhos abriram-se; e, vendo que estavam nus, tomaram folhas de figueira, ligaram-nas e fizeram cinturas para si". (Gn 3,7).
- Perda do bom senso - "E eis que ouviram o barulho (dos passos) do Senhor Deus que passeava no jardim, à hora da brisa da tarde. O homem e sua mulher esconderam-se da face do Senhor Deus, no meio das árvores do jardim". (Gn 3,8).
- Diminuição do afeto - "O homem respondeu: “A mulher que pusestes ao meu lado apresentou-me deste fruto, e eu comi.” (Gn 3,12).
- Revolta contra Deus - "O homem respondeu: “A mulher que pusestes ao meu lado apresentou-me deste fruto, e eu comi." (Gn 3,12).
b) Veio
a destruição da sua felicidade:
·
Sentia-se envergonhado
– sentimento de culpa ("E ele respondeu: “Ouvi o barulho dos vossos
passos no jardim; tive medo, porque estou nu; e ocultei-me." (Gn
3,10)).
·
Sentia medo da presença de Deus
- "E ele respondeu: “Ouvi o barulho dos vossos passos no jardim; tive
medo, porque estou nu; e ocultei-me.”" (Gn 3,10).
·
Perdeu o seu habitat no Éden
- "O Senhor Deus expulsou-o do jardim do Éden, para que ele cultivasse
a terra donde tinha sido tirado". (Gn 3,23).
c) Veio
uma degradação lamentável – o trabalho, que no Éden tinha
um traçado de nobreza do homem e de sua semelhança com Deus, tomou a forma de
sujeição detestável, porque o homem passou a depender dele para satisfazer o
seu estômago.
d) O
homem perdeu o acesso à fonte da vida e começou o
pavoroso reinado da morte. "Porque o salário do pecado é a morte,
enquanto o dom de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor".
(Rm 6,23).
Existe um ponto onde Deus e
o homem tem de encontrar-se, que seja na graça ou em juízo. E esse ponto é
onde ambos são revelados com são – a
majestade de Deus e a miséria do homem (Is 6,1-8). Feliz daqueles que
alcançaram esse ponto na graça. Ai daqueles que tiveram de fazê-lo em juízo. É
com aquilo que somos que Deus trata; e é como Ele é que trata conosco.
Na cruz, vejo Deus
descendo na graça, providenciando a minha salvação no “Filho do seu amor”.
Um dia o homem foi
expulso do Jardim do Éden. Ele saiu da presença de Deus. Hoje o homem pode
retornar ao coração do pai, confiando nas palavras do filho: "Jesus lhe
respondeu: Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por
mim". (Jo 14,6).
Obs.: 2,4b-25:
A primeira narrativa da criação (1,1-2,4a) apresenta as águas disformes como
caos, desordem e ausência de vida. A segunda narrativa, elaborada no tempo do
rei Salomão (séc. X a.C.), se originou entre nômades que viviam no deserto;
para eles, terra seca é ausência de vida. Por isso imaginam como início da
criação, a chuva e a possibilidade de o homem encontrar água. A grande bênção
inicial é, portanto, a água (vv. 4b-7). Os vv. 8-17 narram a história do Éden,
um paraíso na terra, para onde confluem os maiores rios do mundo então
conhecido, e onde as árvores e frutos são abundantes. Deus criou a terra para
que o homem usufrua dela e possua vida plena (árvore da vida). A condição única
é o homem se subordinar a Deus: obedecer ao seu projeto de vida e fraternidade,
e não querer decidir por si mesmo o que é bem e o que é mal (comer o fruto da
árvore do bem e do mal), a fim de não ser causa a espécie alguma de opressão e
morte. Os vv. 18-25 salientam duas coisas: primeiro, que o homem tem domínio
sobre a criação «dando nome aos animais» e, por isso, participa do poder
criativo de Deus; segundo, que «a mulher não foi tirada da cabeça do homem para
mandar nele, nem foi tirada dos pés dele para ser sua escrava; mas foi tirada
do lado, para ser sua companheira». – Rodapé da Bíblia Pastoral.
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