No capitulo anterior vimos que no 1.º Testamento eles aparecem
atuando em varias ocasiões e no 2.º Testamento encontramos registros da atuação
deles em relação a Jesus e à Igreja Primitiva. Alem disso, também estudamos
sobre três aspectos do ministério especial dos anjos: adoram e louvam a Deus;
comunicam aos homens os propósitos de Deus; executam os juízos de Deus
Neste capitulo estaremos abordando o ministério dos anjos em
relação à igreja e aos crentes. Muito ensino errado tem sido ministrado e é
necessário que nos dediquemos ao estudo desta questão, para nos firmarmos na
verdade. Que a Bíblia afirma que os anjos estão a serviço dos cristãos, é
verdade. Mas como agem? Cada cristão tem o seu próprio anjo? Estas e outras perguntas
é que nos introduzirão ao presente capítulo.
I.
OS ANJOS SERVINDO A IGREJA.
Antigamente os anjos agiam em favor da Igreja. Já constatamos esta
verdade no capitulo anterior. Mas isso foi no passado. E no presente como agem?
Terão alguma atuação em favor da Igreja nu futuro?
Þ Os anjos
observem os cristãos.
Paulo afirma - "Porque, ao que parece, Deus nos tem posto
a nós, apóstolos, na última classe dos homens, por assim dizer sentenciados à
morte, visto que fomos entregues em espetáculo ao mundo, aos anjos e aos
homens". (1Cor 4,9). Isto significa que os anjos são espectadores dos
eventos da vida dos cristãos. Esta observação angelical, entretanto, não é
passiva. Certamente que os anjos de Deus vigiam para que os cristãos não
sofram, tanto físicos como emocionalmente, alem da conta, os ataques de Satanás.
Todos os crentes estão em constante perigo, e os anjos os protegem.
O apostolo também menciona - "Por isso a mulher deve
trazer o sinal da submissão sobre sua cabeça, por causa dos anjos".
(1Cor 11,10), que as mulheres coríntios deviam trazer véu sobre a cabeça por
causa dos anjos. Provavelmente essas palavras significam para agradá-los, para
não ofendê-los com uma conduta indecorosa, pois esperam da igreja a mesma
atitude de reverencia que têm diante de Deus - "Os serafins se
mantinham junto dele. Cada um deles tinha seis asas; com um par (de asas)
velavam a face; com outro cobriam os pés; e, com o terceiro, voavam".
(Is 6,2). Esse texto – 1Cor 11,10 – também revela o interesse dos anjos
na vida cotidiana da Igreja.
Por outro lado, a Igreja é que torna conhecida - "Assim,
de ora em diante, as dominações e as potestades celestes podem conhecer, pela
Igreja, a infinita diversidade da sabedoria divina," (Ef 3,10).
Ilustrando esta verdade, John Stott diz o seguinte:
“É como uma encenação de um grande drama. A história é o teatro, o
mundo é o palco, e os membros da igreja em todos os países são os atores. O
próprio Deus escreveu a peça e a dirige e a produz. Ato após ato, cena após
cena, a história continua a desdobrar-se. Mas quem está no auditório? São as
inteligências cósmicas, os principados e potestades nos lugares celestiais.
Devemos pensar neles como sendo os espectadores do drama da salvação.” – John
Stott.
Mesmo sendo superior aos homens em sabedoria e poder, os anjos não
são oniscientes. Por isso nenhuns acontecimentos poderiam adquirir do plano de
salvação do homem, a não ser observando o desenrolar dos acontecimentos da
história.
Þ Os anjos
não pregam o Evangelho.
A tarefa de pregar o Evangelho é do homem. Jesus deu a entender
assim quando contou a parábola de Lázaro e o rico. Ao negar o pedido do rico,
de mandar alguém á sua casa paterna para dar testemunho a seus irmãos, a fim de
que não fossem também para o inferno. Abraão respondeu - "Se não ouvirem
a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite
algum dos mortos". (Lc 16,31).
Anunciar a mensagem de salvação é privilégio dos homens, que, se
os fazem, são aventurados - "E como pregarão, se não forem enviados, como
está escrito: Quão formosos são os pés daqueles que anunciam as boas novas (Is
52,7)?" (Rm 10,15). É tão significativa esta tarefa e tão dignos são
os que realizam que os anjos desejam envolver-se nela - "Foi-lhes
revelado que propunham não para si mesmos, senão para vós, estas revelações que
agora vos têm sido anunciadas por aqueles que vos pregaram o Evangelho da parte
do Espírito Santo enviado do céu. Revelações estas, que os próprios anjos
desejam contemplar". (1Pd 1,12). Mas a eles não é dado este privilégio.
Que é exclusivo da Igreja.
Þ Os anjos
estarão presentes nos acontecimentos da Segunda Vinda de Cristo.
Mesmo antes de Cristo voltar à terra, os anjos terão participação
neste grande evento. Um arcanjo anunciará o tempo da volta de Cristo e ouvindo
a sua voz os crentes em Cristo ressuscitarão - "Quando for dado o
sinal, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, o mesmo Senhor descerá do
céu e os que morreram em Cristo ressurgirão primeiro". (1Ts 4,16).
Quando o Senhor voltar, os anjos O acompanharão - "Quando
o Filho do Homem voltar na sua glória e todos os anjos com ele, sentar-se-á no
seu trono glorioso". (Mt 25,31). Na sua volta pessoal os anjos "Seguiam-no
em cavalos brancos os exércitos celestes, vestidos de linho fino e de uma
brancura imaculada". (Ap 19,14). A presença dos seres angelicais com o
Senhor indica a glória com que se
revestirá o acontecimento. Mas não é só esta a tarefa a ser cumprida pelos
anjos na segunda vinda de Cristo. Eles também atuaram na execução do julgamento
dos homens ímpios - "O Filho do Homem enviará seus anjos, que retirarão
de seu Reino todos os escândalos e todos os que fazem o mal e os lançarão na
fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes." (Mt
13,41-42).
Os anjos ainda estarão presentes na prisão de Satanás por mil anos
– "Vi, então, descer do céu um anjo que tinha na mão a chave do abismo e
uma grande algema. Ele apanhou o Dragão, a primitiva Serpente, que é o Demônio
e Satanás, e o acorrentou por mil anos. Atirou-o no abismo, que fechou e selou
por cima, para que já não seduzisse as nações, até que se completassem mil
anos. Depois disso, ele deve ser solto por um pouco de tempo.". (Ap
20,1-3).
II.
OS ANJOS SERVINDO OS CRENTES.
Os crentes em cristo têm os anjos a seu serviço. Nós não podemos
vê-los, como já dissemos, porque são seres espirituais e, por isso, invisível.
Eles sim, nos podem observar. E do mesmo modo que atuaram em benefício de
crentes, em particular, nos tempos neotestamento, ainda hoje atuam.
Þ Os anjos se
alegram com a salvação dos homens.
"Digo-vos que haverá júbilo entre os anjos de Deus por um só
pecador que se arrependa". (Lc 15,10). A alegria do Pai
celestial é tão grande ao receber um filho perdido, que ele compartilha dela
com as criaturas celestiais.
Þ Os anjos
cuidam dos eleitos quando estes morrem.
Jesus declarou quanto contou a parábola do rico e de Lázaro, que o
mendigo, ao morre "foi levado pelos anjos ao seio de Abraão." (Lc
16,22). Podemos deduzir daí que quando um cristão passa desta para outra vida é
conduzido pelos anjos à presença do Pai. Quanto ao texto - "Ora, quando
o arcanjo Miguel discutia com o demônio e lhe disputava o corpo de Moisés, não
ousou fulminar contra ele uma sentença de execração, mas disse somente: Que o
próprio Senhor te repreenda!" (Jd 1,9), que menciona a disputa do
corpo de Moisés pelo diabo e o arcanjo Miguel, a lição que tiramos é que até a
situação de morte, o inimigo tem interesse nos fieis, os acusa e os requer para
si.
Um comentarista bíblico, tentando esclarecer este versículo,
escreveu o seguinte:
“Quando Moisés morreu o arcanjo Miguel foi enviado por Deus para
enterrá-lo. Mas o diabo o disputou seu direito de assim fazer, pois Moisés
tinha sido um assassino - "Moisés, voltando-se para um e
outro lado e vendo que não havia ali ninguém, matou o egípcio e ocultou-o na
areia". (Ex 2,12). E portanto seu corpo pertencia, por assim dizer, ao
diabo. Alem disso o diabo alegou ter autoridade sobre a matéria, e o corpo de
Moisés, naturalmente, encaixava-se nesta categoria. Mas mesmo sob tal provocação
como diz a história, Miguel não tratou o diabo com desrespeito. Simplesmente
deixou o caso com Deus”. - Green.
Não somos autorizados a dizer, mesmo diante deste texto, que os
anjos são enviados para cuidar dos
corpos dos eleitos. No caso de Moisés, podemos crer, o objetivo do Senhor ao
enviar um anjo era evitar a idolatria em relação ao corpo de Moisés e, ao mesmo
tempo, demonstrar o trato especial que Ele despertou a este Seu servo. Por
outro lado, considerando o contexto de Judas - "Ora, quando o arcanjo
Miguel discutia com o demônio e lhe disputava o corpo de Moisés, não ousou
fulminar contra ele uma sentença de execração, mas disse somente: Que o próprio
Senhor te repreenda!" (Jd 1,9), aprendemos que se os anjos são
cuidadosos naquilo que afirmam, quanto mais o devemos ser.
Þ Os anjos
protegem os eleitos.
No Salmo – “O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o
temem, e os livra.” (Sl 34,7). Já podemos notar, em textos tanto do 1.º e
2.º Testamento, que servos do Senhor foram protegidos por anjos. Jesus declarou
que, se quisesse, pediria ao Pai e Ele “me enviaria imediatamente mais de
doze legiões de anjos” (Mt 26,53).
Podemos crê que os anjos estão a serviço de Deus, ministrando
proteção aos santos. Existem anjos que guardam; o que não existe é “anjo da
guarde”. Esta é uma idéia com base em fábulas rabínicas e na filosofia
oriental. Não há fundamento bíblico para
esta noção popular de “anjo da guarda”. Os textos geralmente
citados como base - "Guardai-vos
de menosprezar um só destes pequenos, porque eu vos digo que seus anjos no céu
contemplam sem cessar a face de meu Pai que está nos céus". (Mt 18,10);
"Disseram-lhe: Estás louca! Mas ela persistia em afirmar que era verdade.
Diziam eles: Então é o seu anjo". (At 12,15). Este ultimo texto registra
a suposição dos crentes primitivos, ainda influenciados pelas crenças judaicas,
de que o anjo de Pedro aparecera. A suposição deles era falsa, pois era mesmo
Pedro, em carne e osso, que aparecera, solto que foi da prisão. No primeiro
texto, a intenção de Jesus não é afirmar a existência de anjos pessoais, mas
sim mostrar o quanto são importantes “os pequeninos” diante de Deus,
razão por que também os devemos considerar importantes.
Þ Os anjos
não devem ser adorados.
Os anjos não aceitam adoração. No Apocalipse - "Fui eu,
João, que vi e ouvi estas coisas. Depois de as ter ouvido e visto, prostrei-me
aos pés do anjo que as mostrava. Mas ele me disse: Não faças isto! Sou um servo
como tu e teus irmãos, os profetas, e aqueles que guardam as palavras deste livro.
Prostra-te diante de Deus." (Ap 22,8-9) – João conta que, estarrecido
diante da visão do novo céu e nova terra e das palavras proferidas por um anjo,
prostrou-se a seus pés para adora-lo. Mas o anjo lhe disse: “Não faças isto!
Sou um servo como tu e teus irmãos, os profetas, e aqueles que guardam as
palavras deste livro. Prostra-te diante de Deus.” . Somente Deus deve ser
adorado. Qualquer adoração à criatura, em vez de o Criador, é idolatria. Esta é
a razão por que Paulo condena - "Ninguém vos roube a seu bel-prazer a
palma da corrida, sob pretexto de humildade e culto dos anjos. Desencaminham-se
estas pessoas em suas próprias visões e, cheio do vão orgulho de seu espírito
materialista," (Cl 2,18). Talvez os colossenses achassem que Deus está
longe demais e, por isso, precisavam da intermediação de anjos para se chegar a
Ele. Deus não está distante e nem é necessário que anjos sejam mediadores entre
Ele e os homens por que o Filho, superior aos anjos já se tornou, uma vez por
todas, o Mediador - "Porque há um só Deus e há um só mediador entre
Deus e os homens: Jesus Cristo, homem" (1Tm 2,5).
CONCLUINDO
É bom sabermos que os anjos são “espíritos ministradores
enviados para serviço, a favor dos que hão de herdar a salvação”. (Hb
1,14). Esta palavra traz consolo! Os anjos nos servem. Servem à Igreja e a cada
Cristão em particular! Contudo, devemos ter o cuidado para não aceitar nada
além daquilo que a palavra de Deus ensina a respeito dos anjos.
MARCO ANTONIO LANA (TEÓLOGO)
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