Nos
capítulos anteriores estudamos sobre os anjos que servem a Deus, obedecendo às
suas ordens no desempenho de quaisquer tarefas ou atuando a favor da Igreja e
dos cristãos, e, particular. Hoje daremos inicio a algumas lições que tratam
dos anjos maus, a começar de Satanás, o principal entre eles. Deve-se ressaltar
que o objetivo não é engrandecer ao diabo e aos demônios, mas conhecê-los
melhor para poder enfrentar os ataques que promovem contra os filhos de Deus e
suas obras.
Satanás,
como os outros anjos, é um ser misterioso. Não podemos conhecê-lo tão
profundamente como, talvez nosso espírito de curiosidade gostaria. Entretanto
podemos conhecê-lo naquilo que a Bíblia nos revela dele, e isto é suficiente
para nos armarmos para a luta que, incessantemente, ele trava contra nós. No
capítulo que ora iniciamos aprenderemos sobre sua origem e sobre sua queda.
I.
O ESTADO ORIGINAL DE SATANÁS.
Há dois textos bíblicos que nos servem de base para estudo – Is
14,12-17 e Ez 28,13-19. o texto de Ezequiel é que nos dá informações de
algumas características originais de Lúcifer, antes da queda. Esta passagem
bíblica tem uma dupla referencia:
a)
Ao príncipe de Tiro, uma
cidade-reino. Historicamente é identificado como Thobal, que reinou 586 aC.
b)
Comparativamente a outro rei, chamado Lúcifer,
influenciador espiritual do príncipe Thobal. Este príncipe se torna a figura de
Lúcifer devido ao seu orgulho e presunção. Era arrogante e blasfemo.
Considerava-se um deus e conhecedor de todos os segredos da vida (cf. Ez
28,1-10). No texto seguinte o profeta fala do mesmo personagem, mas agora
com um sentido espiritual. Não é mais ao “príncipe de Tiro” que o
profeta se refere, mas ao “rei do Tiro”, do qual o primeiro era uma
figura.
Þ Foi criado
perfeito em sabedoria.
“Eras um selo de perfeição, cheio de sabedoria, de uma beleza
acabada.” (Ez 28,12). A expressão “selo de perfeição” traduz a idéia
de que era a imagem perfeita da criação divina. Lúcifer foi criado a mais bela
e mais inteligente criatura de Deus. Em Isaias Lúcifer aparece como “astro
brilhante, filho da aurora” (Is 14,12). O nome e os dois títulos que Isaias
emprega, que significam a mesma coisa – luminoso ou brilhante –
ressaltam a perfeição do estado original de Satanás. Os babilônios criam que os
astros celestes ou estrelas fossem seres angelicais. Isaias aproveita-se da
figura “filho da aurora” para mostrar como era Satanás antes da queda.
Þ Foi
colocado num ambiente de glória.
"Estavas no Éden, jardim de Deus, estavas coberto de gemas
diversas: sardônica, topázio e diamante, crisólito, ônix e jaspe, safira,
carbúnculo e esmeralda; trabalhados em ouro. Tamborins e flautas, estavam a teu
serviço, prontos desde o dia em que foste criado". (Ez 28,13).
Os ornamentos de jóias sugerem sua grande importância e o resplendor de sua
inconfundível aparência. Assim, com resplendor, ele vivia no jardim de Deus.
Þ Era ungido
e ocupava alta posição.
"Eras um querubim protetor colocado sobre a montanha santa de
Deus; passeavas entre as pedras de fogo". (Ez 28,14).
Lúcifer pertencia a mais alta classe de seres angélicos – à ordem dos
querubins, anjos relacionados com o trono de Deus na qualidade de protetores e
defensores de Sua Santidade. Para isso Deus o escolhera – “ungido”.
Þ Tinha uma
conduta perfeita.
"Foste irrepreensível em teu proceder desde o dia em que
foste criado, até que a iniqüidade apareceu em ti". (Ez
28,15). Até o momento em que nele se “achou iniqüidade”, nada havia que
desabonasse, nem diante dos outros anjos, nem diante de Deus, sua conduta. Este era o estado
original de Satanás. Deus o criou assim.
II.
A SUA NATUREZA E PERSONALIDADE.
Embora já tenhamos abordado questões sobre a natureza e
personalidade os anjos, é bom ressaltar aspectos particulares da natureza e
personalidade de Satanás.
Þ Ele é uma
criatura.
Em Ez 28,15 encontramos esta declaração “desde o dia em que
foste criado”. Isto significa dizer que ele não possui atributos que
pertencem somente a Deus Criador, tais como Onipresença, onipotência e
onisciência. Embora seja um ser poderoso, é uma criatura, sujeita às limitações
impostas pelo Criador.
Þ Ele é um
ser espiritual.
Satanás pertencia à ordem dos anjos designados querubins – “Eras
um querubim protetor colocado sobre a montanha santa de Deus.” (Ez 28,14).
A natureza de todos os anjos é espiritual. Por isso é que ele é chamado de “o
deus deste século” (2 Cor 4,4) e de “o príncipe da potestade do ar”
(Ef 2,2).
Þ Ele é uma
pessoa.
Do mesmo modo que outros anjos, Satanás possui traços da
personalidade. Ele se mostra inteligente - "Mas temo que, como a
serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim se corrompam os vossos
pensamentos e se apartem da sinceridade para com Cristo". (2Cor 11,3);
ele exibe suas emoções - "Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou
para vos peneirar como o trigo;" (Lc 22,31); ele demonstra que possui vontade
própria - "e voltem a si, uma vez livres dos laços do demônio, que os
mantém cativos e submetidos aos seus caprichos". (2Tm 2,26); "Tu
dizias: Escalarei os céus e erigirei meu trono acima das estrelas.
Assentar-me-ei no monte da assembléia, no extremo norte". (Is 14,13).
Em dois episodio bíblico um no 1.º e outro no 2.º Testamento, a personalidade
de Satanás é claramente evidenciada. No livro de Jó ele aparece como uma pessoa
dialogando e mostrando o intento do seu coração – Jó 1 – Em Mt 4,1-11
ele aparece em cena dialogando com o Mestre, agindo caracteristicamente
como pessoa. Não podemos negar a personalidade de Satanás, exceto adotando
argumentos que nos compeliram a negar também a existência dos anjos, a
personalidade do Espírito e a do Pai.
Þ Ele é um
ser moral e responsável.
Se Satanás fosse meramente uma personificação do mal, não seria
moralmente responsável por seus atos, uma vez que não existiria nenhum ser para se
responsabilizar. Mas Satanás é responsabilizado pelo Senhor Jesus, do mesmo
modo que os homens são responsabilizados por seus atos -
"Voltar-se-á em seguida para os da sua esquerda e lhes dirá: - Retirai-vos
de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus
anjos". (Mt 25,41). Esta passagem também no lembra que negar a
realidade de Satanás representa negar a verdade das palavras de Cristo.
III.
A QUEDA DE LUCIFER.
“Foste irrepreensível em teu proceder desde o dia em que foste
criado, até que a iniqüidade apareceu em ti". (Ez 28,15). É com
esta simplicidade que o profeta relata a origem do pecado e da queda de
Lúcifer. Ele, que havia sido criado perfeito. Abrigava em seu coração a
iniqüidade. Isaias da mais detalhes sobre a queda deste anjo – Is 14,12-17.
Embora seja tipológica. Pois fala do rei Nabucodonosor como figura de Lúcifer,
esta escritura descreve os passos da queda de Lúcifer.
Þ “Eu subirei
aos céus” (Is 14,13).
Como guardião da santidade de Deus ele tinha acesso ao céu, mas
esta declaração expressa o seu desejo de estar acima de toda a criação e acima
do Criador.
Þ “Acima das
estrelas de Deus exaltarei meu trono” (Is 14,13).
O sentido desta expressão depende do entendimento do que sejam as “estrelas”.
Neste texto parece se referir a anjos - "sob os alegres concertos dos
astros da manhã, sob as aclamações de todos os filhos de Deus?" (Jó
38,7); "Ondas furiosas do mar, que arrojam as espumas da sua torpeza!
Estrelas errantes, para as quais está reservada a escuridão das trevas para
toda a eternidade!" (Jd 1,13); "Varria com sua cauda uma terça
parte das estrelas do céu, e as atirou à terra. Esse Dragão deteve-se diante da
Mulher que estava para dar à luz, a fim de que, quando ela desse à luz, lhe
devorasse o filho". (Ap 12,4). Sendo assim, o desejo de Satanás aqui
manifesto era se colocar acima de todos os anjos.
Þ “No monte
da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte” (Is
14,12).
O “monte” é uma referencia ao lugar do trono de Deus. Esta
declaração representa a ambição de Satanás de se colocar como governante de
todos os povos, no lugar de Deus.
Þ “Subirei
acima das mais altas nuvens” (Is 14,13).
Ele ambicionava a glória que pertence a Deus . “Nuvens” são
geralmente associadas à presença gloriosa de Deus - "Enquanto Aarão
falava a toda a assembléia dos israelitas, olharam para o deserto e eis que
apareceu na nuvem a glória do Senhor!" (Ex 16,10); "Ei-lo que
vem com as nuvens. Todos os olhos o verão, mesmo aqueles que o traspassaram.
Por sua causa, hão de lamentar-se todas as raças da terra. Sim. Amém".
(Ap 1,7).
Þ “Serei
semelhante ao Altíssimo” (Is 12,14).
Lúcifer, “eras um selo de perfeição” (Ez 28,12), agora
queria ser igual a Deus. Ele queria assumir autoridade e o controle do mundo, o
que é prerrogativa exclusiva de Deus.
O pecado de satanás é mais horrendo, ao se considerar o grande
privilégio, inteligência e posição que tinha. Seu pecado é também mais terrível
por causa dos seus efeitos sobre os outros. Ele afetou outros anjos, que levou
atrás de si – “Varria com sua cauda uma terça parte das estrelas do céu, e
as atirou à terra.” 12,4a; afetou todos os homens - "que cometestes
outrora seguindo o modo de viver deste mundo, do príncipe das potestades do ar,
do espírito que agora atua nos rebeldes". (Ef 2,2); afetou as nações -
"Atirou-o no abismo, que fechou e selou por cima, para que já não
seduzisse as nações, até que se completassem mil anos. Depois disso, ele deve
ser solto por um pouco de tempo". (Ap 20,3).
A queda de
Satanás lhe trouxe conseqüências irreversíveis
·
Ele tornou-se o primeiro pecador e pai do
pecado - "Aquele que peca é do demônio, porque o demônio peca desde
o princípio. Eis por que o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras
do demônio". (1Jo 3,8).
·
É também o pai da mentira - "Vós
tendes como pai o demônio e quereis fazer os desejos de vosso pai. Ele era
homicida desde o princípio e não permaneceu na verdade, porque a verdade não
está nele. Quando diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso
e pai da mentira". (Jo 8,44). A primeira frase dele registrada na
Bíblia não só põe em dúvida, mas contradiz abertamente o que Deus dissera. Deus
tinha dito – “Certamente morreras” (Gn 2,17); a serpente disse: “É
certo que não morrerás”. (Gn 3,4).
·
Está sob condenação eterna - "Ele
apanhou o Dragão, a primitiva Serpente, que é o Demônio e Satanás, e o
acorrentou por mil anos. "O Demônio, sedutor delas, foi lançado num lago
de fogo e de enxofre, onde já estavam a Fera e o falso profeta, e onde serão
atormentados, dia e noite, pelos séculos dos séculos". (Ap 20,2.10).
CONCLUINDO
Hoje em dia se tem
cometido dois graves erros quando à existência de Satanás:
Þ Negar a sua
existência real, considerando-o como uma criação do homem, uma espécie de “força
negativa da mente”. Certamente que uma das táticas de Satanás é fazer as
pessoas não acreditarem que ele existe. Se ele não é elevado a sério, em
conseqüência o pecado também não é.
Þ Mistificar
a crença nele, tratando-o como uma “energia ou figura espiritual”. À luz
da Bíblia descobrimos que Satanás é uma pessoa, uma criatura, que
deliberadamente optou rebelar-se contra Deus, rejeitando sua soberania e
autoridade. Ele existe e está vivo, operando para influenciar o mundo a se
voltar contra Deus.
O que aconteceu a Lúcifer deve servir de advertência aos homens.
Seu pecado foi orgulho, consumado na rebelião contra Deus. As conseqüências que
sofreu são semelhantes às que o homem soberbo também sofre, se não se arrepende
e confessa a Deus , o seu pecado, reconhecendo a soberania de Jesus Cristo.
MARCO ANTONIO LANA (TEÓLOGO)
MARCO ANTONIO LANA (TEÓLOGO)