“Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está no céu.” (Mt 6,1).
- INTRODUÇAO.
O cuidado de não praticarmos publicamente nossos deveres espirituais para que sejamos admirados pelos outros (Mt 6,1) introduz toda a seção que vamos estudar nesta lição. Os três exemplos de piedade cristã considerados por Jesus – a esmola, a oração e o jejum – são tão inerentes à vida do cristão que o propósito de Jesus no sermão não foi levar os discípulos a praticar essas coisas, mas ensinar-lhes a maneira correta de fazê-lo, diante de Deus.
Os assuntos aqui analisados integram o corpo doutrinário de praticamente todos os sistemas religiosos ao redor do mundo. Essa semelhança com o cristianismo bíblico não diminui a importância da esmola, oração e jejum para nós. O importante não está na semelhança, mas na diferença entre o que a Bíblia ensina e os demais credos. E é exatamente para fazer diferença que fomos chamados.
- A ESMOLA CRISTÃ – (Mt 6,2-4).
I. A palavra grega para esmola significa compaixão, alivio imediato aos pobres em dinheiro ou outras coisas.
A ajuda ao necessitado é parte integrante da conduta ideal do povo de Deus – “Nunca faltarão pobres na terra, e por isso dou-te esta ordem: abre tua mão ao teu irmão necessitado ou pobre que vive em tua terra” (Dt 15,11). O Sl 41,1 – “Bem-aventurado é aquele que considera o pobre; o Senhor o livrará no dia do mal” – apela para o interesse pessoal que se deve ter pelos pobres. Jesus falou da benção da doação – “Em tudo vos tenho mostrado que assim, trabalhando, convém acudir os fracos e lembrar-se das palavras do Senhor Jesus, porquanto ele mesmo disse: É maior felicidade dar que receber!” (At 20,35). Isso implica que o cristão não pode se esquecer de que ter sido salvo pela graça mediante a fé, e “não por obras”, não contradiz a verdade de que foi salvo “por boas obras” (Ef 2,8-10). Boas obras certamente incluem as esmolas. Mas isso n ao é dar indiscriminadamente. São palavras do Didaqué (antigo documento cristão): “Que tua esmola sue em tuas mãos, até saberes a quem dar”.
II. A qualidade de esmola tem muito a ver com a motivação.
Exatamente o contrário do que faziam os escribas e fariseus, que buscavam a gloria dos homens – “Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não buscais a glória que é só de Deus?” (Jô 5,44); “Assim preferiram a glória dos homens àquela que vem de Deus.” (Jô 12,43), Jesus disse que o cristão não deve dar esmolas com um espírito de auto - gratificação, para engrandecer seu ego. Mas se Jesus proíbe a busca de louvor dos outros e até de nós mesmos quando damos esmolas, por que nos incentiva a procurar a recompensa de Deus? Não seria apenas mudar a forma da vaidade?
a) Ser motivado por recompensa nem sempre está errado.
O próprio Jesus suportou a cruz em troca da alegria que o aguardava:
“Em vez de gozo que se lhe oferecera, ele suportou a cruz e está sentado à direita do trono de Deus.” (Hb 12,2).
Moisés fez uma grande renuncia por causa do galardão de Deus:
“Foi pela fé que Moisés, uma vez crescido, renunciou a ser tido como filho da filha do faraó, preferindo participar da sorte infeliz do povo de Deus, a fruir dos prazeres culpáveis e passageiros. Com os olhos fixos na recompensa, considerava os ultrajes por amor de Cristo como um bem mais precioso que todos os tesouros dos egípcios. Foi pela fé que deixou o Egito, não temendo a cólera do rei, com tanta segurança como estivesse vendo o invisível.” (Hb 11,24-27).
E não apenas ele, mas todos os heróis da fé se motivaram na justa recompensa divina:
“Ora, sem fé é impossível agradar a Deus, pois para se achegar a ele é necessário que se creia primeiro que ele existe e que recompensa os que o procuram. Pela fé na palavra de Deus, Noé foi avisado a respeito de acontecimentos imprevisíveis; cheio de santo temor, construiu a arca para salvar a sua família. Pela fé ele condenou o mundo e se tornou o herdeiro da justificação mediante a fé. Foi pela fé que Abraão, obedecendo ao apelo divino, partiu para uma terra que devia receber em herança. E partiu não sabendo para onde ia. Foi pela fé que ele habitou na terra prometida, como em terra estrangeira, habitando aí em tendas com Isaac e Jacó, co-herdeiros da mesma promessa. Porque tinha a esperança fixa na cidade assentada sobre os fundamentos (eternos), cujo arquiteto e construtor é Deus.” (Hb 11,6-10).
Isso tem tudo a ver com cada um de nós:
“Porque teremos de comparecer diante do tribunal de Cristo. Ali cada um receberá o que mereceu, conforme o bem ou o mal que tiver feito enquanto estava no corpo.” (2 Cor 5,10).
b) Deus não vê como vê o homem.
“Mas o Senhor disse-lhe: Não te deixes impressionar pelo seu belo aspecto, nem pela sua alta estatura, porque eu o rejeitei. O que o homem vê não é o que importa: o homem vê a face, mas o Senhor olha o coração.” (1 Sm 16,7).
A natureza da recompensa divina difere da recompensa dos homens. Uma forma de recompensa é ver o alivio do necessitado por nosso intermédio.
- A ORAÇAO CRISTÃ – Mt 6,5-8).
No segundo exemplo da piedade cristã, Jesus novamente chama nossa atenção para a diferença entre a hipocrisia e a realidade. É interessante a referencia aos hipócritas quando diz que eles “gostam de orara”. Contudo, a intenção era se exibirem nos lugares mais públicos como as sinagogas e os cantos das praças. O problema não estava na postura (em pé) nem na diferença de lugares (sinagogas e praças), mas na motivação – “serem vistos dos homens”. Apenas oravam de si para si mesmos:
“O fariseu, em pé, orava no seu interior desta forma: Graças te dou, ó Deus, que não sou como os demais homens: ladrões, injustos e adúlteros; nem como o publicano que está ali.” (Lc 18,11).
A recompensa que recebiam não passava do aplauso dos homens. Esse tipo de farisaísmo continua vivo ainda hoje.
Em contraste com a hipocrisia exibicionista dos fariseus, Jesus nos chama para a oração secreta. Imagina-se que ser hipócrita na oração a soas com Deus seria o cúmulo do fingimento. O quarto referido em Mt 6,6 representa uma despensa onde se guardavam tesouros. Era um lugar privativo ao administrador da casa. A implicação é que quando vamos orar em secreto, os tesouros de Deus nos aguardam, pois essa é a promessa: “Teu pai, que vê em secreto, te recompensará”. Se não conseguirmos entrar no nosso quarto, fechar a porta e ficar a sós em comunhão com nosso pai celestial, pergunta-se: De que espécie de cristãos nós somos?
A “hipocrisia” era a marca dos fariseus e as “vãs repetições” identificavam os gentios ou pagãos.
“Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à força de palavras.” (Mt 6,7).
Jesus não está proibindo repetição nas orações, pois ele não só recomendou como também praticou.
“Deixou-os e foi orar pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras.” (Mt 26,44).
O apóstolo Paulo também essa pratica;
“Demais, para que a grandeza das revelações não me levasse ao orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás para me esbofetear e me livrar do perigo da vaidade. Três vezes roguei ao Senhor que o apartasse de mim.” (2 Cor 12,7-8).
O que ele condena é a verbosidade do “muito falar” quando se ora.
“Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à força de palavras.” (Mt 6,7).
Dizem-nos muitos santos que quando nossa oração se aprofunda, cada vez mais precisamos de menos palavras. O Deus do cristão não se impressiona com o volume de palavras e o tempo gasto na oração.
Se Deus sabe do que precisamos antes de orarmos, porque então orar?
“Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lho peçais.” (Mt 6,8).
Os cristãos não oram com a intenção de informar a Deus de suas necessidades, mas para mostrar confiança e dependência dele.
- O JEJUM CRISTÃO – (Mt 6,16-18).
Muitos cristãos vivem hoje como se Mt 6,16-18 tivesse sido arrancado de suas Bíblias. Mas não temos nenhuma razão para destacar mais o dar e o orar dop que jejuar.
I. Quem praticava o jejum?
a) O povo de Israel recebeu a ordem de jejuar uma vez por ano, nos dia da Expiação (Lv 16,29-31; 23,26-32; Nm 29,7)
b) Depois do cativeiro na babilônia passou-se a praticar quatro jejuns, para lembrar os dias do exílio (Zc 7,3-5; 8,19).
c) Os fariseus jejuavam duas vezes por semana (Lc 18,12).
d) Os discípulos de João Batista também jejuavam (Mt 9,14; Lc 5,33).
e) O próprio Jesus jejuou antes de começar o seu ministério publico (Mt 4,1-2).
f) A igreja primitiva seguiu o exemplo de Jesus (At 13,1-3; 14,23.
g) Os apóstolos jejuavam (2 Cor 6,5)
II. O jejum é um meio ou um fim em si mesmo?
O jejum não obtém um favor automático de Deus, pois se não for acompanhado de uma conduta correta, sua prática perde o sentido (Is 58,1-12; Jr 14,11-12). Ele não deve chamar as atenções para nós mesmos, mas expressar nossa humildade diante de Deus, que tudo conhece.
III. Que é jejum?
O jejum é a abstenção total ou parcial de alimentos e de água durante períodos de tempos longos ou curtos, a critério de quem vai jejuar, sempre com razoes especificas.
IV. Quando o jejum é praticado?
O jejum sempre foi praticado em ocasiões de grandes decisões (2 Cr 20,1-4; Ed 8,21-23; Et 4,16); em momentos de tristezas (1Sm 31,13; Ne 1,4); de arrependimento (Ne 9,1-2; Jn 3,5-9); e sempre acompanhado de orações (Sl 35,13). O jejum pode ser individual ou coletivo (2Sm 12,22; Jz 20,26; Jr 1,14).
- CONCLUSÃO.
Devemos concluir esta lição lembrando a todos que o Deus da Bíblia odeia a hipocrisia, pois Ele é o Deus da verdade e da realidade. Mantenhamo-nos conscientes de que estamos sempre na sua presença, e que a nossa dádiva, a nossa oração e o nosso jejum devem ser para agradar a Deus.
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