“Antes de mais nada, meus irmãos, abstende-vos de jurar. Não jureis nem pelo céu nem pela terra, nem empregueis qualquer outra fórmula de juramento. Que vosso sim, seja sim; que vosso não, seja não. Assim não caireis ao golpe do julgamento.” Tg 5,12.
- INTRODUÇAO.
“Possuímos um coração tão altissonante quanto um sino, e a língua é o badalo, pois o que o coração pensa a língua fala” (William Shahespeare). O controle desse badalo (língua) expressa o que a Bíblia expressa:
“Se alguém pensa ser piedoso, mas não refreia a sua língua e engana o seu coração, então é vã a sua religião.” (Tg 1,26).
“Se alguém não cair por palavra, este é um homem perfeito, capaz de refrear todo o seu corpo.” (Tg 3,2).
Isso é tão relevante para o cristão que ele deve pedir a Deus que guarde os seus lábios, para que as palavras proferidas sejam agradáveis na sua presença:
“Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; vigia a porta dos meus lábios!” (Sl 141,3).
“Sejam agradáveis as palavras da minha boca e a meditação do meu coração perante a tua face, Senhor, Rocha minha e Redentor meu!” (Sl 19,14).
A bíblia não questiona a pratica de juramento, mas a leviandade dos perjúrios e o tomar o nome de Deus em vão. Jesus condenou os juramentos na vida do cristão e propôs um padrão mais elevado, que é a credibilidade em tudo o que falarmos e não apenas no que juramos.
- OS JURAMENTOS E OS ANTIGOS.
“Ouvistes ainda o que foi dito aos antigos: Não jurarás falso, mas cumprirás para com o Senhor os teus juramentos.” (Mt 5,33).
A prática de fazer juramento vem dos tempos mais remotos.
“Levanto a minha mão para o Senhor Deus Altíssimo que criou o céu e a terra, respondeu Abrão, de tudo o que é teu não tomarei sequer um fio nem um cordão de sandália, para que não digas: Enriqueci Abrão.” (Gn 14,22-23).
Essa foi à maneira encontrada de garantir a palavra do homem:
“Os homens, com efeito, juram por quem é maior do que eles, e o juramento serve de garantia e põe fim a toda controvérsia.” Hb 6,16.
O uso de juramentos era feito na confirmação de pactos:
“Eles responderam: ‘Nós vimos que o Senhor está contigo, e pensamos conosco: Haja um juramento entre nós e ti. Queremos, pois, fazer aliança contigo. ’” (Gn 26,28).
“Foi assim que Jônatas fez aliança com a casa de Davi, e o Senhor vingou-se dos inimigos de Davi. Jônatas conjurou ainda uma vez a Davi, em nome da amizade que lhe consagrava, pois o amava de toda a sua alma.” (1 Sm 20,16-17).
Em decisões nos tribunais:
“Se um homem confiar à guarda de outro um boi, uma ovelha ou um animal qualquer, e este morrer, ou quebrar um membro, ou for roubado sem que haja testemunha, o juramento do Senhor intervirá entre as duas partes para que se saiba se o responsável pela guarda do animal não pôs a mão sobre o bem do seu próximo. O proprietário aceitará esse juramento, sem que haja restituição.” (Ex 22,16-17).
Na obrigação de se realizar os deveres sagrados:
“Se um homem fizer um voto ao Senhor ou se comprometer com juramento a uma obrigação qualquer, não faltará à sua palavra, mas cumprirá toda obrigação que tiver tomado.” (Nm 30,2; ver também: 2Cr 15,14-15; Ne 10,29; Sl 133,1-5).
E em muitas outras circunstancias.
a) Os juramentos não foram ordenados, mas permitidos.
Mesmo não sendo diretamente ordenados, os juramentos eram permitidos, responsabilizando assim que deles se utilizava:
“Abraão disse ao servo mais antigo de sua casa, que administrava todos os seus bens: ‘Mete tua mão debaixo de minha coxa. Quero que jures pelo Senhor, Deus do céu e da terra, que não escolherás para mulher de meu filho nenhuma das filhas dos cananeus, no meio dos quais habito’. Pôs, então, o servo sua mão debaixo da coxa de Abraão, seu senhor, e fez-lhe o juramento que ele pedia.” (Gn 24,2-3.9; ver também Gn 28,20-22; Nm 30,2; Dt 23,21; 2Cr 6,22-23; Esd 10,5; Ne 5,12; Jr 4,2).
b) Os juramentos muitas vezes eram precipitados.
“É um laço dizer inconsideradamente: Consagrado; e não refletir antes de ter emitido um voto.” (Pr 20,25).
A Bíblia mostra vários exemplos de pessoas que se precipitaram em seus juramentos, como:
· Esaú – “... Esaú jurou e vendeu o seu direito de primogenitura a Jacó.” (Gn 25,33);
· Josué – “Josué concedeu-lhes a paz e fez com eles uma aliança que lhes assegurava a vida, e os principais da assembléia confirmaram-na com juramento. Três dias depois desse tratado, souberam que aquela gente era vizinha e habitava no meio deles.” (Js 9,15-16);
· Jefté – “Jetfé fez ao Senhor este voto: ... Meu pai, disse ela, se fizeste um voto ao Senhor, trata-me segundo o que prometeste, agora que o Senhor te vingou de teus inimigos, os amonitas.” (Jz 11,30-36);
· Saul – “Mas Jônatas, ignorando o juramento que o seu pai obrigara o povo a fazer, estendeu a ponta da vara que tinha na mão, mergulhou-a num favo de mel e o levou à boca. Então seus olhos (fatigados) brilharam. Saul disse: Trate-me Deus com todo o rigor, se não morreres, Jônatas!” (1 Sm 14,27.44);
· Herodes – “Por isso, ele prometeu com juramento dar-lhe tudo o que lhe pedisse. ... O rei entristeceu-se, mas como havia jurado diante dos convidados, ordenou que lha dessem”. (Mt 14,7-9);
· Os judeus que queriam matar Paulo – “Mas tu não creias, porque mais de quarenta homens dentre eles lhe armam traição. Juraram solenemente nada comer, nem beber, enquanto não o matarem. Eles já estão preparados e só esperam a tua permissão.” (At 23,21).
c) Os juramentos exigiam cumprimento.
Ninguém era obrigado a jurar ou fazer votos, mas se obrigava a cumprir quando os fazia:
- “Quando tiveres feito um voto ao Senhor, teu Deus, não demorarás em cumpri-lo, porque o Senhor, teu Deus, não deixará de pedir-te contas dele, e contrairias um pecado. Se não fizeres voto, não pecarás. Mas a promessa saída dos teus lábios, tu a cumprirás, e observarás fielmente o voto que fizeste espontaneamente ao Senhor, teu Deus, como disseste por tua própria boca.” (Dt 23,21-23; ver também Sl 50,14; 61,8; 66,13-14; Ecl 5,4-6; Ez 17,11-21).
Usar nos juramentos expressões como; “Juro por Deus” (2 Sm 19,7); “Pela vida de Deus” (2 Sm 2,27); “Tomo a Deus por testemunho” (2Cor 1,23); e depois deixar de cumprir o voto, era questionar a realidade da própria existência de Deus.
O AT empregava o juramento para combater a mentira; mas isso não impedia que ela se infiltrasse pela prática do perjúrio.
- OS JURAMENTOS E JESUS.
“Eu, porém, vos digo: não jureis de modo algum, nem pelo céu, porque é o trono de Deus.” (Mt 5,34).
No sermão da montanha, Jesus condena os juramentos falsos ou perjúrios:
“Não pronunciarás o nome de Javé, teu Deus, em prova de falsidade, porque o Senhor não deixa impune aquele que pronuncia o seu nome em favor do erro.” (Ex 20,27; ver também Lv 19,12)
A distorção farisaica de querer limitar o cumprimento dos votos. Diziam que apenas os juramentos que incluíam o nome de Deus se tornavam obrigatórios. Jesus disse que não há como evitar referencia a Deus, mesmo que não se mencione diretamente seu nome (Mt 23,16-22). Ao contrario de contradizer o ensino do AT, Ele apresenta um modelo mais excelente para o cristão.
Se um juramento exige toda a verdade naquilo que se fala, isso pressupõe que na conversação diária há bastante mentira. Jesus ensina que não apenas aquilo que se diz sob juramento, mas certamente a totalidade do que falamos é proferida na presença de Deus que tudo conhece.
Por que Jesus disse “de modo algum jureis”, se o próprio Deus fez uso de juramentos?
- “Juro por mim mesmo, diz o Senhor...” (Gn 22,16);
- “Quando Deus fez a promessa a Abraão, como não houvesse ninguém maior por quem jurar, jurou por si mesmo, Em verdade eu te abençoarei, e multiplicarei a tua posteridade (Gn 22,16s)” (Hb 6,13-14).
“A isto creio que devemos responder que o propósito dos votos divinos não foi aumentar a sua credibilidade (considerando que Deus não é homem para que minta – “Deus não é homem para mentir, nem alguém para se arrepender. Alguma vez prometeu sem cumprir? Por acaso falou e não executou?” (Nm 23,19) – mas sim despertar e confirmar a nossa fé. A falha que levou a Deus a condescender com o nível humano não se deve a qualquer falsidade da parte dele, mas de nossa incredulidade”. (J. Stott).
O alvo de Jesus ao proibir os juramentos é exigir a verdade total de toda e qualquer palavra do homem.
- OS JURAMENTOS E OS CRISTÃOS.
“Dizei somente: Sim, se é sim; não, se é não. Tudo o que passa além disto vem do Maligno.” (Mt 5,37).
O que Jesus nos pede nesse versículo é que a nossa palavra seja sincera e normal, pois todo e qualquer exagero já constitui uma mentira. Devemos falar sempre como quem vive na presença de Deus, tendo em Jesus o exemplo de quem falou sempre a verdade:
“Ele não cometeu pecado, nem se achou falsidade em sua boca (Is 53,9)”. (1 Pd 2,22).
O cristão não deve recorrer a juramentos para receber credibilidade, mas deve ter uma palavra tão confiável como se fosse um juramento. O que passar do sim, sim e não, não, será produto da maldade de nossa natureza caída, como também influencia do maligno, que é “o pai da mentira”.
“Vós tendes como pai o demônio e quereis fazer os desejos de vosso pai. Ele era homicida desde o princípio e não permaneceu na verdade, porque a verdade não está nele. Quando diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.” (Jô 8,44).
Você tem plena consciência de que sua palavra é aceita com naturalidade, ou percebe que, quando fala às pessoas, ficam com um “pé atrás”?
- CONCLUSAO.
No sermão da montanha Jesus nos ensina que a qualidade de vida do cristão deve exceder em muito dos religiosos fariseus. Essa diferença, entre outras coisas, se manifesta naquilo que falamos, mostrando assim que a mudança é de dentro pra fora. Ele mesmo disse: “A boca fala do que está cheio o coração” (Mt 12,34). Tudo o que falamos deve ser verdadeiro e confiável, refletindo tão somente o sentido daquilo que se quer dizer. Para isso, não se faz necessário jurar para autenticar a palavra dita. Pois o caráter co cristão dispensa tal recurso.
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