A Bíblia fala de quatro imagens (figuras) da salvação: Propiciação, Redenção, Justificação, Reconciliação. Vejamos cada uma separadamente:
I. PROPICIAÇÃO – ACONTCE NO TEMPLO.
Þ O que significa “propiciação”?
Significa apaziguar ou pacificar a ira de alguém. No tabernáculo (Templo) feito por ordem do Senhor, havia o propiciatório - "Fez uma tampa de ouro puro, cujo comprimento era de dois côvados e meio, e a largura de um côvado e meio". (Ex 37,6); uma lâmina de ouro sobre a qual o sangue de animais era oferecido pelo pecado – Lv 16,14-15. Lá era feita a propiciação, a pacificação de Deus com o pecador. Paulo fala que Cristo foi proposto por Deus como propiciação – Rm 3,24-25; João diz que Jesus Cristo é a propiciação pelos nossos pecados – 1 Jo 2,1-2; 4,10. Quer dizer então que Deus se enraivece? Que ofertas têm de ser feitas para pacificar sua ira?
Þ A ira requer propiciação; a propiciação aplaca a ira.
Precisamos buscar a essência destas palavras, ira e propiciação, para encontrar a doutrina pura de santa ira de Deus, do seu auto - sacrifício amoroso em Cristo e da própria iniciativa de desviar sua ira.
A ira requer propiciação; a propiciação aplaca a ira. Jesus foi designado por Deus como remédio para a culpa universal humana, a ira de Deus é causada pela sua intolerância ao pecado, sob quaisquer formas ou manifestações. O pecador nada pode fazer, dizer ou oferecer para compensar seus pecados ou afastar a ira divina.
Þ Deus (que é Amor), em sua misericórdia e graça, tomou a iniciativa para reconciliar o pecador com Ele.
Assim, sua ira ficou apaziguada, pelo fato do próprio Deus, na pessoa de Cristo, ter tomado nosso lugar e morrido por nós – Rm 3,25-26.
II. REDENÇÃO: ACONTECE NO MERCADO.
Þ Que significa “redenção”?
Redimir significa comprar/comprar de volta, ou seja, fazer uma transação comercial feita no mercado; é a efetivação de um resgate. Cristo nos resgatou, pagando o preço de seu sangue, pela nossa liberdade – um alto preço "Porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em redenção por muitos". (Mc 10,45).
Þ Qual é esta situação da qual o homem necessita ser resgatado?
O cativeiro do qual fomos libertos é moral – formado por nossas transgressões e pecados - "Nesse Filho, pelo seu sangue, temos a Redenção, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da sua graça" (Ef 1,7); "no qual temos a redenção, a remissão dos pecados". (Cl 1,14). Porém há mais por vir. Cristo de sua vida para “remir-nos de toda iniqüidade” (Tt 2,14). Esta libertação total ainda acontecerá: a redenção de nossos corpos, a redenção final.
Þ Quem pertence ao resgatador?
Devemos atentar para o fato de que os resgatados (nós) pertencem ao resgatador (Cristo). Isto deveria motivar-nos, como Cristãos, a uma vida de santidade – 1Cor 6,18-20; 7,23.
III. A JUSTIFICAÇÃO – ACONTECE NO TRIBUNAL.
Þ Que significa “justificação”?
Agora estamos no tribunal. Justificação é o oposto de condenação. É o juiz considerando o acusado inocente. Deus (o juiz), além de considerar o pecador inocente, concede-lhe uma posição justa perante. Ele - "Portanto, como pelo pecado de um só a condenação se estendeu a todos os homens, assim por um único ato de justiça recebem todos os homens a justificação que dá a vida". (Rm 5,18); "Quem os condenará? Cristo Jesus, que morreu, ou melhor, que ressuscitou, que está à mão direita de Deus, é quem intercede por nós!" (Rm 8,34). Lemos no Primeiro Testamento sobre o servo de Deus, justo e sofredor, que “justificará a muitos”, porque “levará suas iniqüidades” – Is 53.11.
Þ Jesus, como nosso advogado, nos justifica diante do Pai – 1Jo 2,1-2.
Essa justificação recebemo-la pela fé em Cristo Jesus, como Paulo diz em - "sabemos, contudo, que ninguém se justifica pela prática da lei, mas somente pela fé em Jesus Cristo. Também nós cremos em Jesus Cristo, e tiramos assim a nossa justificação da fé em Cristo, e não pela prática da lei. Pois, pela prática da lei, nenhum homem será justificado". (Gl 2,16). Antes pecador, agora perdoado e aceito por Deus. Através da justificação, Jesus nos tornou membros da sua família, filhos de Deus e descendentes espirituais de Abraão, pelo que devemos estar “ávidos em fazer o bem” (Tt 2,14; 3,8). E os que estão em Cristo Jesus, nada podem separá-los do amor de Deus (Rm 7,7-25; 8,1.3.33-34.39).
IV. RECONCILIAÇÃO – ACONTECE NA FAMILIA.
Deixemos o recinto do templo, do mercado, e dos tribunais e entremos np recinto familiar. A quarta imagem da salvação que veremos agora é a mais familiar dos cristãos, provavelmente por ser a mais pessoal.
Þ QUE SIGNIFICA “RECONCILIAÇÃO”? Significa restauração de um relacionamento, renovação de uma amizade. O que pressupõe que esta tenha sido quebrada, rompida. O criador e o ser humano criado estavam separados, alienados um do outro, agora estão “reconciliados com Deus mediante a morte do seu filho” (Rm 5,9-11).
Þ DEUS, COMO PAI, TRAZ OS FILHOS À COMUNHÃO. Deus, nesta instância, tem a figura de Pai (não de juiz), trazendo os filhos à comunhão do lar, à paz - "Justificados, pois, pela fé temos a paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo". (Rm 5,1). Aquele que foi justificado, isto é, isento de culpa, agora tem comunhão com o Pai, tem acesso a Ele, especialmente em oração (Ef 2,17.18; 3,12; 1Pe 3,18).
Þ DEUS TAMBÉM FAZ RECONCILIAÇÃO ENTRE HOMENS. Porém, a reconciliação não é somente vertical (Deus-Homem); é também horizontal, porque Deus reconciliou uns com os outros nessa nova comunidade (Ef 2,11-12). Cristo aproximou, pelo seu precioso sangue, gentio e judeu (povo inicialmente eleito), formando uma humanidade nova, membros do corpo de Cristo e co-participantes da promessa messiânica - "A saber: que os gentios são co-herdeiros conosco (que somos judeus), são membros do mesmo corpo e participantes da promessa em Jesus Cristo pelo Evangelho". (Ef 3,6).
Þ COMO SE REALIZOU A RECONCILIAÇÃO? Que papel coube a cada uma das partes envolvidas neste processo (Deus – Jesus – nós)? Vejamos o que Paulo nos diz em 2Cor 5,18-21:
· Deus é o autor da reconciliação – ("Tudo isso vem de Deus, que nos reconciliou consigo, por Cristo, e nos confiou o ministério desta reconciliação". (2Cor 5,18)): é Ele, de Quem todas as coisas provêm ("Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Passou o que era velho; eis que tudo se fez novo!" (2Cor 5,17)), que reconcilia, concede, faz Cristo pecado por nós. Jesus realizou a vontade do Pai ("Então eu disse: Eis que venho (porque é de mim que está escrito no rolo do livro), venho, ó Deus, para fazer a tua vontade (Sl 39,7ss)". (Hb 10,7)). A iniciativa é de Deus Pai ("Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna". (Jo 3,16)).
· Cristo é o agente da reconciliação – ("Tudo isso vem de Deus, que nos reconciliou consigo, por Cristo, e nos confiou o ministério desta reconciliação". (2Cor 5,18)): Deus, presente em Cristo e por meio de Cristo, nos reconciliou com Ele. Esta obra terminou na morte de Cristo: Ele recusou-se a imputar a Nós as nossas transgressões, através de Cristo, podem ser reconciliado com Deus Pai.
q “Senhor Jesus, tu és a minha justiça, e eu o teu pecado” Lutero
· Nós somos os embaixadores da reconciliação – (v 19): Da parte de Deus, a reconciliação já foi feita, mas o texto de Paulo nos chamou a uma atitude – que nos reconciliemos com Deus - "deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; só então vem fazer a tua oferta". (Mt 5,24), ou seja, que a recebemos - "Ainda mais: nós nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por quem desde agora têm recebido a reconciliação!" (Rm 5,11). Por isso, somos embaixadores de Cristo, seus enviados e representantes pessoais, que falamos em seu nome e em seu lugar. Aquele que operou por meio de Cristo, a fim de nos reconciliar, agora opera por nosso intermédio, a fim de anunciar a reconciliação.
CONCLUINDO
A propiciação ressalta a ira de Deus sobre nós, a redenção ressalta o nosso cativeiro, a justificação a nossa culpa, a reconciliação a nossa inimizade com Deus. Mas Deus tomou iniciativa salvadora. Ele propiciou a sua própria ira, Ele nos redimiu de nossa miserável escravidão. Ele nos considerou justos em sua presença e nos reconciliou com ele mesmo.
q "Como, então, escaparemos nós se agora desprezarmos a mensagem da salvação, tão sublime, anunciada primeiramente pelo Senhor e depois confirmada pelos que a ouviram," (Hb 2,3).
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