sábado, 20 de agosto de 2011

A CRUZ DE CRISTO - 06 – A CRUZ SATISFEZ A TODOS.


Deus escolheu a cruz como modo de perdoar os pecadores e reconciliá-los com Ele. Certamente não havia outra forma de responder a todos os questionamentos da teologia, senão através da cruz. A cruz foi a resposta de Deus ao diabo, à lei, à Sua honra ofendida, á ordem  moral do mundo e ao Seu amor por nós.

Simultaneamente, Deus expressou Sua santidade sem nos consumir, e o Seu amor sem tolerar os nossos pecados, salvando-nos na cruz.

I.                    SATISFAZENDO O DIABO – "depois de ter sido entregue, segundo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de ímpios". (At 2,23).

A noção de que foi o diabo que tomou a cruz necessária é muito forte na Igreja até hoje. Os Cristãos da igreja primitiva reconheciam que desde a queda, e por causa dela, a humanidade esteve cativa não somente ao pecado e à culpa, mas também ao diabo. Pensavam nele como o senhor do pecado e da morte, e como o maior tirano de que Jesus veio nos libertar. Há três implicações deste pensamento.

Þ     Conceder ao diabo mais poder de que ele possui – É como o diabo tivesse adquirido certos direitos sobre o homem, o qual até o próprio Deus fosse obrigado a satisfazer de modo honrável.
Þ     Pensar na cruz como uma transação divina com o diabo – É como a cruz fosse o preço do resgate exigido pelo diabo, para  libertar seus cativos.
Þ     Pensar que o diabo tinha o poder de levar Jesus à cruz – Sobre nós, pecadores, o diabo tem poder da morte - "Porquanto os filhos participam da mesma natureza, da mesma carne e do sangue, também ele participou, a fim de destruir pela morte aquele que tinha o império da morte, isto é, o demônio," (Hb 2,14), contudo ele não mantinha autoridade nenhuma sobre Jesus, que era sem pecado e que derramou sangue inocente. Negamos que o diabo tenha sobre nós direitos que Deus seja obrigado a satisfazer. Conseqüentemente, toda nação da morte de Cristo que a relacione a uma transação com o diabo está fora de cogitação.

Para pensar - "Mas se sobrevier outro mais forte do que ele e o vencer, este lhe tirará todas as armas em que confiava, e repartirá os seus despojos". (Lc 11,22) fala sobre o valente que é vencido por aquele que é mais valente. O ultimo atacou o primeiro e o sobrepujou, através da cruz.

II.                  SATISFAZENDO A LEI – "Todo aquele que peca transgride a lei, porque o pecado é transgressão da lei". (1Jo 3,4).

Outra maneira de explicar a necessidade da cruz é a santificação que ela dá à lei. Pecado é “transgressão da lei”. Esta, uma vez quebrada, requer a punição do infrator. A lei deve, portanto, ser sustentada, sua dignidade defendida e suas justas penalidades, pagas. Assim ela é “satisfeita” - "Aliás, conforme a lei, o sangue é utilizado, para quase todas as purificações, e sem efusão de sangue não há perdão". (Hb 9,22).

Em Daniel 6,1-15, o rei Dario, relutantemente, curvou-se ao inevitável e deu ordem para que Daniel fosse atirado na cova dos leões, cumprindo uma lei que ele mesmo sancionara, caindo ingenuamente na armadilha dos sátrapas. Ali, a lei havia triunfado.  Deus não pode abolir a constituição moral das coisas que Ele mesmo estabeleceu.
A conexão de Deus com a lei não é uma relação de sujeição, mas de identidade. Em Deus, a lei é viva, reina no seu trono e é coroada com a sua gloria, pois é a expressão do seu próprio ser moral, o qual é sempre coerente.

III.                SATISFAZENDO À HONRA E À JUSTIÇA DE DEUS – "Tu, que te glorias da lei, desonras a Deus pela transgressão da lei!" (Rm 2,23).

Anselmo Cantuária define pecado como – “não dar a Deus o que lhe é devido” – a saber, a submissão de toda nossa vontade a Ele. Pecar, portanto, é tornar de Deus o que é dele, o que significa roubar dele e, assim, desonrá-lo – "O filho respeita seu pai e o servo, seu senhor. Ora, se eu sou Pai, onde estão as honras que me são devidas? E se eu sou o Senhor, onde está o temor que se me deve? - diz o Senhor dos exércitos a vós, sacerdotes, que desprezais o seu nome e dizeis: que desprezo temos tido por teu nome?" (Ml 1,6).

Se alguém imagina que Deus pode simplesmente nos perdoar do mesmo que devemos perdoar uns aos outros, ainda não considerou a seriedade do pecado – "Aliás, conforme a lei, o sangue é utilizado, para quase todas as purificações, e sem efusão de sangue não há perdão". (Hb 9,22). O pecado desonra a Deus, que tem como mais justo a honra  de  sua  própria dignidade – Rm 2,23. Se desejarmos ser perdoados, devemos pagar o que devemos. Contudo, somos incapazes de fazê-lo - "Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniqüidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos curados graças às suas chagas". (Is 53,5).

Eis porque, em Cristo Deus, e o homem se encontraram - "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade". (Jo 1,14). Jesus realizou uma obra singular, pois entregou-se à morte – não como se ele fosse devedor, visto que era sem pecado e, portanto, sem nenhuma obrigação de morrer, mas espontaneamente pela honra d Deus – Fl 2,5-8.

Na cruz, a honra de Deus, que lhe fora roubada pelo pecado do homem, foi-lhe devolvida através de Jesus - "e por seu intermédio reconciliar consigo todas as criaturas, por intermédio daquele que, ao preço do próprio sangue na cruz, restabeleceu a paz a tudo quanto existe na terra e nos céus". (Cl 1,20). O pecado acarretou uma “quebra de ordem do mundo”, uma desordem tão profunda que foi necessária uma reparação ou uma restituição. A Bíblia chama isso de “expiação”.

IV.                DEUS SATISFAZENDO-SE A SI MESMO – Ez 36,21-23.

A Bíblia usa várias linguagens para acentuar que quando Deus é obrigado a julgar os pecadores, Ele o faz porque deve, se deseja permanecer  verdadeiro a si mesmo. São eles:


Þ     A linguagem da provocação.
Deus descreve-se como provocado à ira por causa da idolatria de Israel – Dt 32,16.21; Jz 2,12; Sl 78,58 – A linguagem da provocação exprime a reação inevitável da natureza perfeita de Deus ao mal.


Þ     A linguagem do ardor.

Essa palavra é aplicada a Deus, cuja ira se acende sempre que vê seu povo quebrando sua aliança - "Os israelitas cometeram uma infidelidade a respeito do interdito. Acã, filho de Carmi, filho de Zabdi, filho de Zara, da tribo de Judá, reteve para si algumas coisas condenadas, e a cólera do Senhor inflamou-se contra os israelitas". (Js 7,1). De fato, é precisamente quando é provocado à ira que se diz que Ele se queima com ela - "porque eles me abandonaram e queimaram incenso a deuses estrangeiros, irritando-me com a sua conduta; minha indignação inflamou-se contra essa terra, e não se extinguirá mais". (2Rs 22,17).

No calor seco da Palestina o fogo acende-se facilmente. O mesmo acontecia com a ira de Deus por causa do mal do seu povo. Se era fácil acender um fogo durante a estação seca da Palestina, era difícil ,apagá-lo. O mesmo acontecia com a ira divina - "porque eles me abandonaram e ofereceram incenso aos deuses falsos, irritando-me com todas as suas maneiras de agir; meu furor inflamar-se-á contra este lugar, sem que se possa jamais extingui-lo". (2Cr 34,25).

Þ     A linguagem da auto-satisfação.

Em - "Agora depressa derramarei o meu furor sobre ti, e cumprirei a minha ira contra ti, e te julgarei conforme os teus caminhos; e te punirei por todas as tuas abominações.". (Ez 7,8) – a palavra “derramar” vem do termo hebraico kalá que significa – satisfazer, realizar, completar a sua ira contra Judá. A ira de Deus só cessa quando é cumprida - "Caf. O Senhor saciou o seu furor, e derramou o ardor de sua cólera, acendendo um fogo em Sião que a devorou até os alicerces". (Lm 4,11).

Resumindo – Deus é provocado à ira zelosa pelo pecado de seu povo. Uma vez acesa, sua ira “arde” e  não pode ser facilmente apagada. Inevitavelmente, ele a satisfaz exercendo o seu juízo.

V.                  O SANTO AMOR DE DEUS – Os 11,1-9.

O que tudo isso tem a ver com a expiação? Apenas que modo que Deus escolhe para perdoar os pecadores e reconciliá-los consegue mesmo, é, acima de tudo, coerente com seu próprio caráter, não é somente que deve subverter e desarmar o diabo, a fim de resgatar os seus cativos. Nem é somente que  ele deve satisfazer à sua lei, à sua honra, à sua justiça ou â ordem moral. É que deve satisfazer a si mesmo.

No capitulo 11 de Oséias, Deus mostra o seu grande amor por Israel.

·         "Israel era ainda criança, e já eu o amava, e do Egito chamei meu filho". (Os 11,1) – Ele se refere Israel como seu filho;
·         "Eu, entretanto, ensinava Efraim a andar, tomava-o nos meus braços, mas não compreenderam que eu cuidava deles". (Os 11,3). – A quem ensinou a andar, tomando-o nos braços;
·           "Segurava-os com laços humanos, com laços de amor; fui para eles como o que tira da boca uma rédea, e lhes dei alimento". (Os 11,4) – inclinando-se para alimentá-lo.

Contudo, seu filho Israel provou ser um desgarrado e não reconheceu o seu terno amor de pai – “Ele voltará para o Egito e o assírio será seu rei, porque não quiseram voltar-se para mim. A espada devastará suas cidades, destruirá seus filhos, que colherão assim o fruto de suas obras. Meu povo é inclinado a separar-se de mim, convidam-no a subir para o Altíssimo, mas ninguém procura elevar-se.” (Os 11,5-7). Conseqüentemente, merecia ser punido . Mas o que Deus fez? “Como poderia eu abandonar-te, ó Efraim, ou trair-te, ó Israel? Como poderia eu tratar-te como Adama, ou tornar-te como Seboim? Meu coração se revolve dentro de mim, eu me comovo de dó e compaixão. Não darei curso ao ardor de minha cólera, já não destruirei Efraim, porque sou Deus e não um homem, sou o Santo no meio de ti, e não gosto de destruir. (Os 11,8-9).

CONCLUINDO

O madeiro sobre o qual Jesus foi posto para ser crucificado representa para a Igreja muito mais do que uma simples estaca. A cruz é o melhor símbolo escolhido por Deus para representar o seu amor pelos perdidos e para satisfazer a tudo e a todos.

·         A cruz responde a todos os questionamentos a respeito de Deus e da salvação;
·         O diabo não tem sobre nós direitos que Deus seja obrigado a satisfazer.
·         A conexão de Deus com a lei não é uma relação  de sujeição, mas de identidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário