Vimos que a morte de Cristo ocorreu devido à maldade humana, mas foi também por desígnio de Deus e vontade de Seu filho. Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores - "Mas eis aqui uma prova brilhante de amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós". (Rm 5,8). O Bom Pastor deu a Sua vida pelas ovelhas - "como meu Pai me conhece e eu conheço o Pai. Dou a minha vida pelas minhas ovelhas". (Jo 10,15). Ele morreu para conduzir-nos a Deus - "Pois também Cristo morreu uma vez pelos nossos pecados - o Justo pelos injustos - para nos conduzir a Deus. Padeceu a morte em sua carne, mas foi vivificado quanto ao espírito". (1Pd 3,18). O seu sangue derramado nos purifica de todo pecado - "Se, porém, andamos na luz como ele mesmo está na luz, temos comunhão recíproca uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado". (1Jo 1,7). De fato, o salário que Cristo recebeu por causa de nossos pecados foi a morte, a morte de cruz - "Porque o salário do pecado é a morte, enquanto o dom de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor". (Rm 6,23); "E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz". (Fl 2,8). Ele nos amou até o fim, ele sofreu a nossa morte, visto que morreu pelos nossos pecados, sendo que Ele mesmo nunca pecou - "Porque não temos nele um pontífice incapaz de compadecer-se das nossas fraquezas. Ao contrário, passou pelas mesmas provações que nós, com exceção do pecado". (Hb 4,15).
John Stott nos convida a penetrarmos mais profundamente na razão, moralidade e eficácia da morte de Cristo na cruz. Ele nos convoca para examinarmos as ultimas 24 horas da vida de Jesus e descobrirmos as verdades teológicas implícitas em cada parte do Seu ultimo dia. O que devemos observar quando analisarmos os últimos momentos da história de Jesus entre nós? Vejamos o seguinte:
I. A ÚLTIMA CEIA – Mt 26,26-28; Mc 14,22-26; Lc 22,17-19.
Podemos imaginar Jesus junto de uma mesa baixo, reclinado sobre almofadas, no chão. Ali, ele proferiu palavras tremendamente reveladoras sobre o significado e propósito de sua morte:
Þ A centralidade da Sua morte.
O pão e o vinho distribuídos aos discípulos deveriam simbolizar para sempre sua morte. Era por sua morte que ele desejava, acima de tudo, ser lembrado. Se a cruz não for o centro da nossa religião, a nossa religião não é Jesus.
Þ O propósito de Sua morte.
O sangue de Jesus deveria ser derramado para o perdão dos pecados - "porque isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados". (Mt 26,28). Deus, em Cristo, estava fazendo uma “nova aliança” com seu povo. Estava se cumprindo o que fora dito por meio do profeta Jeremias – Jr 31,31-34, que Jesus iria morrer a fim de levar o seu povo a um novo relacionamento de aliança com Deus.
Þ A necessidade de nos apropriarmos pessoalmente de sua morte.
Assim como os discípulos deveriam comer o pão e beber o vinho, era necessário que eles participassem pessoalmente dos benefícios da sua morte. O comer e o beber eram, como ainda o são, uma parábola viva e como recebemos a Cristo como nosso Salvador crucificado, e nos alimentamos dEle, pela fé, em nossos corações.
II. A AGONIA DO JARDIM DO GETSÊMANI – Mt 26,36-46; Mc 14,32-42; Lc 22,39-46.
No jardim, Jesus orou primeiro por si mesmo e depois pelos discípulos, para que se manifestassem na verdade, santidade, missão e unidade.
É ali que Jesus faz menção ao “cálice” que ele haveria beber. Que cálice é esse? Segundo Stott, o cálice não simbolizava nem a dor física de ser açoitado e crucificado, nem a aflição mental de ser desprezado pelo seu povo, antes, a agonia espiritual de levar os pecados do mundo, de suportar o juízo divino que esses pecados mereciam. O cálice era o símbolo da ira do Senhor - "Que veja com os próprios olhos a sua ruína, e ele mesmo beba da cólera do Todo - poderoso!" (Jó 21,20). Por amor a nós, Jesus bebeu. Jesus começa a oração dizendo – “Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice! Todavia não se faça o que eu quero, mas sim o que tu queres. Meu Pai, se não é possível que este cálice passe sem que eu o beba, faça-se a tua vontade!” (Mt 26,39.42). Jesus disse: “Não hei de beber eu o cálice que o Pai me deu?” (Jo 18,11). Sim, Ele o bebeu.
III. O GRITO DE DESAMPARO NA CRUZ – Mt 27,4; Lc15,34.
Jesus foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, Ele não abriu a sua boca - "Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador. (Ele não abriu a boca.)" (Is 53,7). Na cruz Jesus grita - "Próximo da hora nona, Jesus exclamou em voz forte: Eli, Eli, lammá sabactáni? - o que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" (Mt 27,46). Qual a importância destas palavras na boca de Jesus?
Jesus experimentou uma separação real de seu pai. Ele expressou esse horror citando o único versículo da Escritura que corresponde àquele momento – “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? por que estás afastado de me auxiliar, e das palavras do meu bramido?” (Sl 22,1). Ele levou os pecados do mundo. Deliberadamente, Ele suportou o juízo em nosso lugar. Ele nos conseguiu a salvação, estabeleceu uma nova aliança entre Deus e os homens e se tornou disponível o perdão dos pecados.
CONCLUINDO
No final desse relato, chegamos a algumas conclusões:
Þ Nosso pecado é extremamente horrível.
Nada revela a gravidade do pecado como a cruz . Só quando vemos a severidade de nossos pecados é que enxergamos o Senhor Jesus como o salvador de quem precisamos urgentemente.
Þ O amor de Deus é ilimitado.
Deus podia, com justiça, ter-nos abandonado, mas Ele não nos abandonou. Por causa de seu amor por nós, Ele veio procurar-nos em Cristo. Na cruz, Jesus levou o nosso pecado, a nossa culpa, o nosso juízo e a nossa morte.
Þ A salvação é um dom gratuito.
Após o que Cristo fez na cruz, o que nos resta pagar? Nada! Visto que tudo esta consumado. Esta cruz não nos deixa livres para pecar, pelo contrario, ela é um incentivo mais poderoso a uma vida santa. Temos que humilhar aos pés da cruz, confessar nossos pecados e agradecer a Deus o que Ele fez por nós.
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