(1) Paulo extraiu essa frase da lei dada por Deus em Deuteronômio 25:4: “Não atarás a boca ao boi quando debulha”. Debulhar é o processo de tirar a semente ou grão de uma espiga ou da casca (beneficiamento).
Por exemplo, debulhar o milho é tirar os grãos da espiga. Era muito comum o uso de animais como os bois para fazer esse processo do beneficiamento de trigo, por exemplo.
O animal pisava, e com seu peso, conseguia separar o trigo da sua casca. Depois isso era jogado ao ar. A parte mais pesada (o grão) caia, enquanto as cascas voavam no ar, separando, assim, as duas.
O texto citado acima significa que o animal, quando fazendo esse trabalho de pisar, era amordaçado (tinha a boca amarrada) por muitos para que não abocanhasse para si algum trigo.
Deus considera essa postura incorreta e ordena que não fosse feita. O animal tinha o direito de se alimentar. Amordaçá-lo era crueldade não permitida na lei.
Mas esse verso também ganhou significado proverbial e figurativo, ou seja, virou um ensino interessante não relacionado a animais e que Paulo irá explorar em seus textos!
(2) Paulo usa essa lei em duas citações diferentes. A primeira em sua carta aos coríntios, onde fala de seus direitos como apóstolo, focando no direito que tinha de ser sustentado pela obra que realizava, mas que não usava para não provocar qualquer impedimento ao evangelho (1 Coríntios 9:12). Nesse contexto, ele cita:
“Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi, quando pisa o trigo. Acaso, é com bois que Deus se preocupa?” (1 Coríntios 9:9).
Paulo usa a lei sobre os bois de Deuteronômio como uma figura também aplicável ao trabalhador humano. A ideia aqui é: Se Deus deu uma lei como essa para abençoar bois, quanto mais a Seus servos trabalhadores!
Os que trabalhavam pelo evangelho tinham o direito de tirar seu sustento desse trabalho, assim como o boi que comia um pouco do trigo que debulhava na plantação!
(3) O segundo uso que Paulo faz está na carta a Timóteo. Ali o assunto é o mesmo, o direito daqueles que serviam ao Senhor em tempo integral de receber sustento por esse trabalho:
“Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E ainda: O trabalhador é digno do seu salário” (1 Timóteo 5:18).
É bem possível que Paulo tenha recebido muitas críticas pelo fato de não usar esse direito do sustento como outros usavam. Ele busca mostrar que o direito do sustento não é incorreto, que é amplamente previsto na lei do Senhor, mas que ele optou por não exercê-lo.
Com isso ele mostra que seus amigos de ministério não erravam quando sustentados pelas igrejas e ele também não era menos apóstolo por não aceitar exercer esse direito (naquele momento), embora já tivesse recebido salário em uma fase de seu ministério: “Despojei outras igrejas, recebendo salário, para vos poder servir…” (2 Coríntios 11:8).
(4) Concluímos que “não atarás a boca do boi, quando pisa o trigo” é, então, usado na Bíblia tanto como uma lei de proteção e cuidado de animais que faziam esse trabalho de debulhar sementes como também, de forma figurada, aplicada a servos de Deus que trabalhavam integralmente dedicados ao evangelho.
Assim como os bois, eles tinham o direto de tirar seu sustento do trabalho que realizavam, isso era justo Assim como os bois, eles tinham muito mais o direto de tirar seu sustento do trabalho que realizavam, isso era justo e correto diante de Deus e deveria ser feito nas comunidades cristãs.
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