sábado, 28 de agosto de 2021

Por que Deus aprovou a mentira de Raabe e das parteiras hebreias?

(1) Vamos começar analisando o caso mais simples, o das parteiras de Israel. Faraó havia dado uma ordem terrível: “O rei do Egito ordenou às parteiras hebreias, das quais uma se chamava Sifrá, e outra, Puá, dizendo: Quando servirdes de parteira às hebreias, examinai: se for filho, matai-o; mas, se for filha, que viva” (Êxodo 1:15-16).


As parteiras tinham duas opções: obedecer ao Faraó e serem assassinas de muitas crianças ou desobedecê-lo e arriscar a própria vida, tentando contar a ele alguma história (ainda que parcialmente verdadeira) para se safar dessa.


Elas escolheram a segunda opção. Na sequência a Bíblia diz sobre elas: “E Deus fez bem às parteiras; e o povo aumentou e se tornou muito forte” (Êxodo 1:20). Aqui observamos que Deus as abençoa. E muitos questionam nesse caso se Deus as teria abençoado mesmo elas tendo mentindo. Vejamos:


(2) Podemos pensar aqui primeiramente que, apesar de Deus detestar a mentira, pois ela é um pecado, Ele compreende a situação difícil que essas mulheres estavam vivendo naquele momento.


O que seria mais destrutivo: ser assassinas de diversos bebês ou mentir ao faraó? Evidentemente o pecado maior seria compactuar com a matança que faraó queria impor.


Assim, Deus teria sido misericordioso com elas porque elas escolheram o “mal menor”. Em segundo lugar, podemos também pensar que essas parteiras seguiram um princípio importante na decisão tomada por elas:


obedecer ao desejo de Deus de dar vidas àquelas crianças era maior do que obedecer às ordens de um tirano.


Nesse caso, salvar a vida dos bebês seria a melhor escolha a fazer. Vejamos: “Então, Pedro e os demais apóstolos afirmaram: Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens” (Atos 5:29).


(3) No caso da prostituta Raabe, observamos que acontece algo parecido. Ela protege os espiões do povo de Deus dos homens de Jericó que estavam querendo matá-los: “Mandou, pois, o rei de Jericó dizer a Raabe: Faze sair os homens que vieram a ti e entraram na tua casa, porque vieram espiar toda a terra” (Josué 2:3).


Raabe não exita em protegê-los e para isso mente (Josué 2:5). O resultado disso foi a proteção recebida por ela, entendida por muitos como uma grandiosa bênção de Deus:


“Porém a cidade será condenada, ela e tudo quanto nela houver; somente viverá Raabe, a prostituta, e todos os que estiverem com ela em casa, porquanto escondeu os mensageiros que enviamos” (Josué 6:17).


(4) No caso de Raabe ela teve de fazer uma escolha também difícil: proteger os homens que serviam ao Deus a qual ela estava começando a conhecer e da qual seu coração estava começando a amar e crer ou ser fiel ao seu próprio povo, um povo pagão e maligno.


Ela escolheu honrar os homens de Deus e o povo de Deus. Em minha opinião o que temos aqui não é uma aprovação de Deus a uma mentira, mas o puro exercício da misericórdia de Deus na vida de uma mulher pagã (em processo de conversão) que demonstrou uma grande fé no Senhor:


e lhes disse: Bem sei que o SENHOR vos deu esta terra, e que o pavor que infundis caiu sobre nós, e que todos os moradores da terra estão desmaiados. Porque temos ouvido que o SENHOR secou as águas do mar Vermelho diante de vós, quando saíeis do Egito; e também o que fizestes aos dois reis dos amorreus, Seom e Ogue, que estavam além do Jordão, os quais destruístes” (Josué 2:9-10).


A misericórdia de Deus foi tão grande na vida dessa mulher que ela é apontada como trisavó do rei da Davi e fazendo parte da genealogia de Jesus Cristo (Mateus 1:5).


(5) Sendo assim, esses dois casos não podem ser considerados um exemplo de aprovação de Deus ao uso de mentiras. São casos bastante específicos e extremos e devem ser analisados dentro de seus contextos (conforme fizemos) para que se compreenda exatamente a atitude misericordiosa de Deus em situações que fogem à normalidade.

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