(1) No texto bíblico está descrito assim: “Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidde dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem” (Êxodo 20:5).
Em uma leitura superficial talvez se tenha essa ideia de que Deus traria punições aos filhos por causa das iniquidades dos pais, que é o conceito da maldição hereditária (passada de pais para filhos).
Mas seria essa a ideia que o texto quer ensinar? Evidentemente que não. Iremos verificar isso no próprio texto e depois em outros exemplos na Bíblia.
(2) O grande segredo para compreender esse texto é verificar o final dele “daqueles que me aborrecem”. Observe que Deus coloca o peso de sua punição sobre os que o aborrecem (existe um condicional aqui).
É evidente que se um pai que aborrece ao Senhor tem um filho que ama o Senhor e guarda os Seus mandamentos, este filho não será amaldiçoado por Deus, mas entrará na segunda parte do texto, onde Deus declara:
“e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos” (Êxodo 20:6).
Pensemos agora o contrário: um pai que ama a Deus e guarda os Seus mandamentos, mas tem um filho que aborrece ao Senhor.
Esse filho não recebe a “bênção hereditária”, mas passa para a primeira condição (Êxodo 20:5), ou seja passa a receber a visitação punitiva de Deus por conta de suas más escolhas.
(3) Houve um tempo em Israel que o povo compreendeu que existia essa coisa de filhos pagarem pelos pecados dos pais. Existia até um provérbio sobre isso:
“Que tendes vós, vós que, acerca da terra de Israel, proferis este provérbio, dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram?” (Ezequiel 18:2).
A ideia aqui é que os pais fazem algo (comem uvas verdes), mas quem sente aquele gosto estranho na boca (embotaram) são os filhos. Ou seja, os filhos recebem punição pelos pecados dos pais.
O profeta Ezequiel, inspirado pelo Senhor, lança ao povo dois exemplos para demonstrar como esse pensamento era errado:
a) Um homem justo que segue a lei de Deus (Ezequiel 18:5-9), mas tem um filho criminoso (Ezequiel 18:10-13). A questão é: sendo o pai dele uma bênção diante de Deus, então, o filho mesmo sendo criminoso, receberia bênçãos hereditárias?
O texto responde: “…emprestar com usura e receber juros, porventura, viverá? Não viverá. Todas estas abominações ele fez e será morto; o seu sangue será sobre ele” (Ezequiel 18:13). Deus mostra que esse filho mau receberia sua punição.
b) Agora, esse mesmo filho citado acima, que era injusto diante de Deus gerou um filho justo e correto diante do Senhor.
Esse filho vê as maldades do pai e resolve não ser como ele, antes, ser um homem correto diante do Senhor (Ezequiel 18:14-16). Pelo pensamento do povo esse filho deveria receber a maldição hereditária, já que o seu pai foi maligno. No entanto, Deus mostra a verdade de como Ele faz as coisas:
“…desviar do pobre a mão, não receber usura e juros, fizer os meus juízos e andar nos meus estatutos, o tal não morrerá pela iniquidade de seu pai; certamente, viverá” (Ezequiel 18:17).
Observe que esse filho bom não recebe maldições por causa do comportamento do pai, mas recebe bênçãos por causa de seu próprio temor a Deus.
(4) Mas o profeta ainda levanta uma dúvida do povo: Por que o filho não levou a iniquidade do pai, se esse é o pensamento geral de como as coisas acontecem? (Ezequiel 18:19).
Essa dúvida certamente vem da interpretação errada de Êxodo 20:15. Mas Deus, através do profeta, demonstra qual a intenção real da lei, qual a correta interpretação dela:
“Mas dizeis: Por que não leva o filho a iniquidade do pai? Porque o filho fez o que era reto e justo, e guardou todos os meus estatutos, e os praticou, por isso, certamente, viverá. A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai, a iniquidade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a perversidade do perverso cairá sobre este” (Ezequiel 18:19-20)
(5) Por fim, no Novo Testamento também foi exposto com clareza esse conceito de que maldição nem bênção hereditária existe: “Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus” (Romanos 14:12).
Isso demonstra que com relação ao pecado, Deus não atribui culpa de uma pessoa para outra pessoa. O pecado é pessoal, cada um o cultiva em seu próprio coração e colhe os resultados do desagrado de Deus em si.
Porém, é verdade que consequências de um pecado de uma pessoa podem respingar em outra. Mas aqui não temos uma maldição de Deus, mas uma maldição que nós mesmos provocamos quando agimos sem pensar no outro.
Por exemplo, uma mulher gravida pode usar drogas na gestação. Isso trará consequências para a criança. Mas essa criança não está sendo amaldiçoada por Deus, não existe pecado nela.
Mas ela está recebendo consequências físicas pela malignidade do coração da mãe, coisa que Deus cobrará da mãe.
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