01 MANDAMENTO - NÃO TERÁS
OUTROS DEUSES
O primeiro mandamento do Decálogo é
muito mais que uma apologia ao monoteísmo; trata-se da soberania de um Deus que
libertou Israel da escravidão do Egito.
“5,6
Eu sou o SENHOR teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da
servidão;7 Não terás outros deuses
diante de mim; 6,1 ESTES, pois, são os mandamentos, os estatutos
e os juízos que mandou o SENHOR vosso Deus para ensinar-vos, para que os
cumprísseis na terra a que passais a possuir; 2 Para que temas ao SENHOR teu Deus, e guardes
todos os seus estatutos e mandamentos, que eu te ordeno, tu, e teu filho, e o
filho de teu filho, todos os dias da tua vida, e que teus dias sejam
prolongados. 3 Ouve, pois, ó Israel, e
atenta em os guardares, para que bem te suceda, e muito te multipliques, como
te disse o SENHOR Deus de teus pais, na terra que mana leite e mel. 4 Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é o único
SENHOR. 5 Amarás, pois, o SENHOR teu
Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças.
6 E estas palavras, que hoje te ordeno,
estarão no teu coração;” (Dt 5,6-7.6,1-6)
I.
INTRODUÇÃO.
O
primeiro mandamento vai alem da proibição à idolatria; é contra o politeísmo,
seja em pensamento, seja em palavras. O propósito é levar Israel a amar e a
temer a Deus e adorar somente a Ele com sinceridade. Deus libertou os israelitas da escravidão do Egito e por
essa razão tem o direito ao senhorio sobre eles, da mesma maneira que Cristo
nos redimiu e se tornou Senhor absoluto da nossa vida.
II.
A AUTORIDADE DA LEI.
1.
A fórmula introdutória do Decálogo.
Os
dez mandamentos estão registrados em dois lugares ma Bíblia (Ex 20,1-17; Dt 5,6-21). A formula
introdutória: “E Deus falou todas estas palavras:” (Ex 20,1),
é característica única, como disse o rabino e erudito bíblico Benno Jacob: “Nós não temos um segundo exemplo de tal
sentença introdutória”. Nem mesmo na passagem paralela em Deuteronômio é
repetida ao mínimo absoluto.
2.
As partes do concerto.
O
prólogo dos Dez Mandamentos identifica as partes do concerto do Sinai: “Eu sou o Senhor, o teu Deus, que te tirou do Egito, da terra da
escravidão.” (Ex 20,2; Dt 5,6).
Estas palavras são as fontes da autoridade divina da lei e o prefácio de todo
Decálogo. É o termo legal de um pacto. De um lado, o próprio Deus, o autor do
concerto, e de outro, Israel, o povo a que Deus escolheu dentre todas as nações
(“E porque amou os seus antepassados e escolheu a descendência deles, ele
foi em pessoa tirá-los do Egito com o seu grande poder,” Dt 4,37;10,15). O
nome de Israel não aparece aqui, pois não é necessário. Deus se dirige ao seu
povo na segunda pessoa do singular porque a responsabilidade de servi-lo é
pessoal, é para cada israelita, mas está claro que o texto se refere a Israel -
nação.
3.
O Senhor do universo.
Alguns
críticos liberais, com base numa premissa falsa sobre a composição dos diversos
códigos do sistema mosaico, querem sustentar a idéia de um Deus tribal ou
nacional na presente declaração. São teorias subjetivas que eles procuram
submeter a métodos sistemáticos para dar forma acadêmica ao seu pressuposto.
Mas o relato da criação em Gênesis e do dilúvio, por exemplo, fala por si só da
soberania de Jeová em todo o universo como Senhor do céu e da terra, reduzindo
as idéias liberais a cinzas.
4.
A libertação do Egito.
A
segunda clausula – “que te tirou do Egito, da terra da
escravidão” – é uma
explicação de como se estabeleceu o concerto. Estava cumprida a promessa de
redenção feia a Abraão (“Então o Senhor
lhe disse: "Saiba que os seus descendentes serão estrangeiros numa terra
que não lhes pertencerá, onde também serão escravizados e oprimidos por
quatrocentos anos. Mas eu castigarei a nação
a quem servirão como escravos e, depois de tudo, sairão com muitos bens.” Gn
15,13-14). A libertação de Israel do Egito prefigura a nossa redenção, pois
éramos prisioneiros do pecado e Cristo nos libertou (“E conhecerão a verdade, e
a verdade os libertará". Portanto, se o Filho os libertar, vocês de fato
serão livres.” (Jô
8,32.36); “Pois ele nos resgatou do
domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos
pecados.” (Cl
1,13-14). É legítimo o senhorio de Deus sobre Israel da mesma maneira que o
Senhor Jesus Cristo tem o direito de reinar em nossa vida – “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não
sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo,
vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.” (Gl 2,20).
III.
O PRIMEIRO MANDAMENTO.
1.
Um código monoteísta.
O
pensamento principal do primeiro mandamento abrange a singularidade e a
exclusividade de Deus. Esse mandamento é o fundamento da vida em Israel, a base
de toda a lei e de toda a Bíblia. Jeová é o único e verdadeiro Deus e somente
Ele deve ser adorado – “Jesus lhe
disse: “Retire-se, Satanás! Pois está
escrito: ‘Adore o Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto’"”. (Mt 4,10). É a primeira vez que um código de lei apresenta a
existência de um só Deus: “Não terás
outros deuses” (Dt 5,7; Ex 20,3). Os povos da antiguidade eram politeístas,
pois adoravam a vários deuses.
2.
Idolatria do Egito.
Os
antigos egípcios empregavam o termo
ToNeteru – “terra dos deuses” – para
o seu país. Havia no Egito uma proliferação de deuses como as tríades Osires,
Ísis e Hórus, divindades padroeiras da cidade Ábidos; Ptah, Sekhmet e Nefertum,
de Mênfis; Amon-Rá, Mut e Konsu, de Tebas. Os israelitas viviam em meio a essa
cultura pagã.
3.
Como Israel preservou o monoteísmo de
Abraão?
Os egípcios abominavam os pastores de
ovelhas, principal atividade dos filhos de Israel. Por essa razão os hebreus
foram viver em Gósen, separados da idolatria – “respondam-lhe assim: ‘Teus servos criam
rebanhos desde pequenos, como o fizeram nossos antepassados’. Assim lhes será
permitido habitar na região de Gósen, pois todos os pastores são desprezados
pelos egípcios". (Gn
46,34). Agora o próprio Deus comunicava por meio de Moisés sua singularidade e
exclusividade. Era a revelação da doutrina monoteista.
IV.
EXEGESE DO PRIMEIRO MANDAMENTO
1.
Outros deuses.
As
palavras hebraicas aherim e elohin, “outros
deuses”, referem-se aos falsos deuses. O substantivo elohin se aplica tanto
ao Deus verdadeiro como aos deuses das nações. No primeiro caso, é usado para
expressar o conceito universal da deidade, como encontramos no capítulo inteiro
de Genesis 1, pois expressa a plenitude das excelência divinas.
2.
O ponto de discussão.
A
expressão “diante de mim” (Dt 5,7b),
em hebraico, al-panay, é termo de significado amplo, “alem de mim, acima de mim, ao meu lado, oposto Amim, etc.”. essa
variedade de sentido pode levar alguém a pensar que o primeiro mandamento não
proíbe o culto dos deuses, mas a adoração aos deuses diante de Deus. Há quem
defenda tal interpretação, mas é engano, pois o propósito de al-panay aqui é
mostrar que só Jeová é Deus. Não existe nenhum deus alem além do Deus de Israel
(Is 45,6.14.21; Jo 17,3; 1Cor 8,6). Os deuses só existem nas mentes dos gentios
(1Cor 8,5) e não são reais (Gl 4,8). Os ídolos que os pagãos adoram são os
próprios demônios (1 Cor 10,19-21)
3.
O politeísmo.
É
a prática de adoração a mais de uma divindade. Esta era a prática dos cananeus
e de todos os povos da antiguidade, e continua ainda hoje em muitas culturas. O
termo vem da língua grega, reunindo polys, “muitos”,
e theos, “deus”. Isso significa
que o politeísta serve e adora vários deuses, e não o simples fato de
reconhecer a existência deles. Trata-se de um sistema oposto ao monoteísmo (monos,
“único”), a crença em um só Deus
revelados nas Escrituras Sagradas (Dt 6,4).
V.
O MONOTEÍSMO.
1.
Os mandamentos, os estatutos e os
juízes.
Essas palavras denotam toda a lei do
concerto – “ESTES, pois, são os
mandamentos, os estatutos e os juízos que mandou o SENHOR vosso Deus para
ensinar-vos, para que os cumprísseis na terra a que passais a possuir;
Para que temas ao SENHOR teu Deus, e guardes todos os seus estatutos e
mandamentos, que eu te ordeno, tu, e teu filho, e o filho de teu filho, todos
os dias da tua vida, e que teus dias sejam prolongados.”. (Dt 6,1.2). A pedido do próprio povo, Moisés
passa a relatar, a partir daqui, as palavras que Deus lhe disse no monte. – “Chega-te
tu, e ouve tudo o que disser o SENHOR nosso Deus; e tu nos dirás tudo o que te
disser o SENHOR nosso Deus, e o ouviremos, e o cumpriremos. Ouvindo, pois, o
SENHOR as vossas palavras, quando me faláveis, o SENHOR me disse: Eu ouvi as
palavras deste povo, que eles te disseram; em tudo falaram bem. Quem dera que
eles tivessem tal coração que me temessem, e guardassem todos os meus
mandamentos todos os dias, para que bem lhes fosse a eles e a seus filhos para
sempre. Vai, dize-lhes: Tornai-vos às vossas tendas. Tu, porém, fica-te aqui
comigo, para que eu a ti te diga todos os mandamentos, e estatutos, e juízos,
que tu lhes hás de ensinar, para que cumpram na terra que eu lhes darei para
possuí-la. Olhai, pois, que façais como vos mandou o SENHOR vosso Deus; não vos
desviareis, nem para a direita nem para a esquerda. Andareis em todo o caminho
que vos manda o SENHOR vosso Deus, para que vivais e bem vos suceda, e
prolongueis os dias na terra que haveis de possuir”. (Dt 5,27-31). A ordem aqui
tem por objetivo estreitar a relação de Deus com os filhos de Israel quando
entrarem na Terra Prometida. O povo precisava ser instruído para viver em obediência
e no temor de Jeová, e assim possuir a terra dos cananeus por herança – “AGORA, pois, ó Israel, ouve os estatutos e os juízos que
eu vos ensino, para os cumprirdes; para que vivais, e entreis, e possuais a
terra que o SENHOR Deus de vossos pais vos dá.” (Dt 4,1).
2.
O maior de todos os mandamentos.
Note que a frase “Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é o único
SENHOR.” (Dt 6,4) e citada por Jesus
Cristo como parte do primeiro e grande mandamento da lei – “E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de
todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é o único Senhor.
Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e
de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro
mandamento”. (Mc 12,29-30). Essa é a confissão
de fé do judaísmo e, ainda hoje, os judeus religiosos recitam três vezes ao
dia.
3.
A trindade na unidade.
A
palavra hebraica usada aqui indica uma unidade composta, por isso o monoteísmo
judaico – cristão não contradiz a doutrina da Trindade. A mesma palavra é usada
para afirmar que marido e mulher são “uma
só carne” (Gn 2,24). A expressão “o
único SENHOR” se traduz também por “o
SENHOR é um” (Zc 14,9). A Bíblia Hebraica, tradução judaica do Antigo
Testamento para o português, traduz o termo como “o Eterno é um só”. Alem disso, vemos a Trindade indiretamente em
todo o Antigo Testamento. O Novo Testamento tornou explicito o que dantes estava
implícito com a manutenção do Filho de Deus.
VI.
CONCLUSÃO.
Aprendemos
na presente lição que Deus revela a si mesmo no seu grande nome e que a nossa
adoração deve ser exclusiva, pois Ele é singular. O Espírito Santo mostra que o
primeiro mandamento é muito mais que uma simples apologia ao monoteísmo, mas
diz essencialmente o que Jesus nos ensinou: ninguém pode servir a dois senhores
(Mt 6,24).
Marco Antonio Lana (Teólogo)
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