FAMÍLIA NA BÍBLIA - LIÇÃO 03 – TRAGÉDIAS NA FAMÍLIA.
“A
deterioração da família é um poderoso fator de lembranças para que as pessoas
voltem-se para Deus.” (Jorge E. Maldonato)
Vamos
ver o que os livros históricos falam sobre a família. Iremos observar que a
história do povo de Deus é um somatório de sucessos e fracassos familiares. O
berço da historia de uma nação é, sem duvida, a família. Como alguém já
afirmou: “Como vai a família vai a nação”.
Certa
vez, Bárbara Bush, discursando aos alunos de uma universidade americana, disse:
“Nosso sucesso como sociedade depende
não do que acontece na Casa Branca, mas do que acontece em sua casa”.
Iremos
verificar que família é lugar, muitas vezes, de tragédia e dissabores.
I
– HISTÓRIAS DE TRAGÉDIAS FAMILIARES.
Muitas
vezes, associamos a família apenas a imagens alegres e de muita felicidade. É
como aquelas propagandas de margarinas que vemos na televisão. O que vemos é famílias
alegres logo de manha tomando o café ao redor de uma mesa. Sem duvida é a
realidade de muitas famílias, mas também há muita idealização.
Nos
livros históricos, encontraremos relatos trágicos envolvendo pessoas da mesma
família. Pessoas importantes na histórica bíblica que foram infelizes em suas
famílias. Homens que deixaram para nós lindos textos, mas que pecaram enquanto
maridos e pais.
No
livro de Juizes, encontramos a história de Sansão, que tinha tudo para ter o
seu nome associado apenas à sua grande força, mas quando ouvimos falar deste
homem logo vem a nossa mente o nome de Dalila. Uma associação negativa graças a
um casamento infeliz em que sua esposa tinha um único interesse: descobrir o
segredo da sua força (Jz 16).
Ainda
no livro de Juizes 19, iremos deparar com um texto que nos causa repulsa. É uma
história de adultério, perdão, perversão sexual e uma dose cavalar de violência
e abuso sexual. Não é isto que temos visto hoje nos noticiários?
Nos
livros de Samuel podemos pontuar algumas tragédias, como por exemplo, a do
sacerdote Eli, que não soube educar seus filhos no temor de Deus (1Sm
2,27-36), de reis como Davi, que cobiçou a mulher de Urias, atraiu-a para
seu palácio, possuiu-a e planejou a morte de seu marido.tudo certo aos seus próprios
olhos, mas não aos olhos de Deus (2Sm 11). Este mesmo rei , apesar de
grandes vitórias políticas, teve muitos problemas na própria família. Teve, na
sua historia familiar, um caso de incesto entre seus filhos (2Sm 13,1-22).
Seu filho Absalão matou seu próprio irmão Amon (2Sm 13,23-36) e promoveu
uma rebelião entre os súditos de seu pai (2Sm 15). A reação de Davi a
morte de Absalão é digna de causar tristeza ao leitor atento da Bíblia (2Sm
18,9-23). O mesmo Davi, que é conhecido como um homem segundo o coração de
Deus, vivenciou a poligamia e tinha tremendas dificuldades de disciplinar os
seus filhos – “Quando o rei Davi ouviu todas estas coisas, muito se lhe
acendeu a ira.” (2Sm 13,21); “Então Adonias, filho de Hagite, se exaltou
e disse: Eu reinarei. E preparou para si carros e cavaleiros, e cinqüenta
homens que corressem adiante dele.” (1Rs 1,5). Morreu sem semear no coração
de seus filhos a paz e a harmonia. Em 2Rs 2,12-25, Salomão dá ordem de
matar seu próprio irmão Adonias. Que triste história familiar.
II
– A TRAGÉDIA DA POLIGAMIA.
Salomão,
um homem de profunda sabedoria, seguindo a exemplo de seu pai, também foi
polígamo. A Bíblia diz que Salomão teve mais de mil mulheres, entre princesas e
concubinas (1Rs 11,17)!
Em
nenhum lugar da Bíblia podemos encontrar Deus aprovando atitudes poligâmicas de
seus servos. Não encontramos palavras de aprovação nas atitudes poligâmicas de
Abraão, de Jacó, de Davi e de Salomão. Se não há uma palavra de aprovação,temos
que afirmar, também, que não há uma palavra direta condenatória, do tipo “não
terás para si mais de uma mulher”. Deus, no relacionamento com o povo de
Israel, apenas tolerou a poligamia. Para chegarmos à conclusão de que Deus não
aprova a poligamia, é preciso examinar a Bíblia no seu todo, isto é: tanto no
Velho como no Novo Testamento.
a) Uma
só mulher e uma só carne.
O
primeiro sinal de que o plano de Deus para o casamento é que seja monogâmico
está logo no livro de Gênesis quando deu apenas uma mulher para o homem e um
homem para a mulher – “Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de
Deus o criou; homem e mulher os criou.” (Gn 1,27). A idéia da poligamia
(casamento de um homem com varias mulheres) e da poliandria (casamento de uma
mulher com vários homens) não estavam presentes na instituição do casamento.
b) Fonte
de ciúmes.
Casamentos
poligâmicos geraram ciúmes entre as esposas. Sara e Elcana podem ilustrar tal afirmação – “Ao que disse Abrão a
Sarai: Eis que tua serva está nas tuas mãos; faze-lhe como bem te parecer. E
Sarai maltratou-a, e ela fugiu de sua face.” (Gn 16,6); “Ora, a sua
rival muito a provocava para irritá-la, porque o Senhor lhe havia cerrado a
madre.” (1Sm 1,6).
c) Dissolução
espiritual.
O exemplo claro é
do próprio Salomão, que foi fortemente influenciado pelas mulheres a distanciar
do plano de Deus para a sua vida – “Pois sucedeu que, no tempo da velhice de
Salomão, suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses; e
seu coração já não era perfeito para com o Senhor seu Deus, como fora o de
Davi, seu pai; Salomão seguiu a Astarete, deusa dos sidônios, e a Milcom,
abominação dos amonitas.” (1Rs 11,4-5); “Não pecou nisso Salomão, rei de
Israel? Entre muitas nações não havia rei semelhante a ele, e ele era amado de
seu Deus, e Deus o constituiu rei sobre todo o Israel. Contudo mesmo a ele as
mulheres estrangeiras o fizeram pecar.” (Ne 13,26).
Os profetas já
pregavam o ideal monogâmico para o povo.
Já fechando a
revelação do Antigo Testamento, o profeta Malaquias já alertava o povo
sobre a importância da monogamia quando
pregou sobre a fidelidade – “E não fez ele somente um, ainda que lhe
sobejava espírito? E por que somente um? Não é que buscava descendência
piedosa? Portanto guardai-vos em vosso espírito, e que ninguém seja infiel para
com a mulher da sua mocidade.” (Ml 2,15).
d) Jesus
e Paulo reafirmam o ideal monogâmico para o casamento.
Jesus,
ao ensinar sobre o divórcio, reportou o ideal de Deus para o casamento
antes da queda humana, onde – “Portanto deixará o homem a seu pai e a
sua mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão uma só carne”. (Gn 2,24); ver (Mt 19,4-6).
Nenhum dos doze discípulos de Jesus foi poligâmico. Paulo
por sua vez, frisou sobre a sua importância do líder de se ter uma só mulher – “É
necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher,
temperante, sóbrio, ordeiro, hospitaleiro, apto para ensinar.” (1Tm 3,2);
alertou que “...devem os maridos amar a suas próprias mulheres, como a seus
próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo.” (Ef 5,28).
III
– TERAGÉDIA NA EDUCAÇÃO DOS FILHOS.
Nos
livros históricos, também encontramos lições interessantes sobre dinâmica da herança espiritual paterna na
vida dos filhos.
Encontramos
casos, por exemplo, de bons pais, mas cujos filhos foram homens violentos e sem
o temor de Deus.
É o caso de Josafá,
rei de Judá, que foi um homem temente a Deus – “E o Senhor era com Josafá,
porque andou conforme os primeiros caminhos de Davi, seu pai, e não buscou aos
baalins;” (2Cr 17,3), mas cujo filho Jorão fez coisas erradas aos olhos de
Deus – “E andou no caminho dos reis de Israel, como faz Acabe, porque tinha
a filha de Acabe por mulher; e fazia o que parecia mal aos olhos do senhor.”
(2Cr 21,6). Encontramos a historia de Jotão, um rei aprovado por Deus – “Ele
fez o que era reto aos olhos do Senhor, conforme tudo o que fizera Uzias, seu
pai; todavia não invadiu o templo do Senhor. Mas o povo ainda se corrompia.”
(2Cr 27,2), mas que teve um filho ímpio – “mas andou nos caminhos dos reis
de Israel, e até fez imagens de fundição para os baalins.” (2Cr 28,2). Veja
a história de Ezequias – “E toda a obra que empreendeu no serviço da casa de
Deus, e de acordo com a lei e os mandamentos, para buscar a seu Deus, ele a fez
de todo o seu coração e foi bem sucedido.” (2Cr 31,21) e seu filho – “E
fez o que era mau aos olhos do Senhor, conforme as abominações dos povos que o
Senhor lançara fora de diante dos filhos de Israel. Pois tornou a edificar os
altos que Ezequias, seu pai, tinha derribado; e levantou altares aos baalins, e
fez aserotes, e adorou a todo o exército do céu, e o serviu.” (2Cr 33,2-3).
Josias foi um bom rei – “Fez o que era reto aos olhos do Senhor, e andou nos
caminhos de Davi, seu pai, sem se desviar deles nem para a direita nem para a
esquerda.” (2Cr 34,2), mas seu filho Jeocaz “Ele fez o que era mau aos
olhos do Senhor, conforme tudo o que seus pais haviam feito.” (2Rs 23,32)
fez coisas que desagradaram a Deus.
Ao conhecer estas
histórias, chegamos à conclusão de que algumas vezes, por maiores que sejam
nossos esforços de influenciar positivamente nossos filhos, Deus deu também a
eles o livre – arbítrio, e os pais não são, em ultima instancia, o responsável
pelas escolhas espirituais que os filhos fazem no decorrer da vida.
CONCLUINDO
Se Davi foi um
homem segundo o coração de Deus e escreveu tantos salmos que até hoje nos
inspiram, por que a Bíblia faz questão de relatar também tantas tragédias em
sua família? Por que Salomão, um homem tão sábio, cometeu tantos erros em sua
vida pessoal? Uma das respostas que podemos dar é a de que Deus permitiu ter
esses relatos na sua Palavra para ensinar-nos algumas lições:
·
A primeira é que não existem famílias
perfeitas. Todas as famílias têm suas historias tristes para serem contadas.
·
A segunda lição é que apesar de nossas
falhas pessoais e familiares, Deus se utiliza nós e de nossas famílias para seus eternos propósitos.
·
A terceira lição que podemos extrair
dessas histórias familiares é que Deus permitiu que estivessem registradas na
sua Palavra para alterar-nos como pessoa e famílias de que não estamos imunes
aos mesmos pecados que os antigos cometeram.
·
A quarta lição é uma alerta sobre a
nossa inserção, como indivíduos e
famílias cristãs, numa cultura que muitas vezes está comprometida com
aquilo que Deus reprova, mas que é aceito por toda sociedade. A poligamia era,
em nossa visão, uma questão cultural, mas sem o respeito divino. Muitos
aspectos que envolvem a sexualidade humana são, hoje, uma questão cultural e já
em muitos casos aceitos plenamente pela sociedade e, até, pelas leis do país,
mas que ferem profundamente o ideal de Deus para o homem e para a mulher.
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