FAMÍLIA NA BÍBLIA - LIÇÃO 01 – OS PRIMÓRDIOS DA FAMÍLIA.
“Desde o princípio do projeto humano, a família é a que
aparece na base” (Edésio Sanches Cetina).
Se desejarmos entender a família
do ponto de vista cristão, precisamos analisar toda a sua trajetória ao longo
dos relatos bíblicos.
Em cada parte das narrativas
bíblicas podemos verificar dando orientações, instituindo leis e permitindo que
homens inspirados pelo Espírito Santo registrassem nas paginas sagradas as
faltas e os pecados de pessoas que afetaram profundamente sua família.
I – NASCE A FAMÍLIA.
Antes da queda humana, Deus havia
instituído apenas a família, o trabalho e a guarda do sábado (Gn 1,26-28;
2,2-3). A família, à luz dos textos citados, tem origem no próprio Deus. O
casamento e a família não estão vinculados na história (o Estado e a lei) ou à
redenção, mas a criação. De acordo com Gênesis, antes da queda, tanto o homem
quanto à mulher tinham privilégios e responsabilidades iguais. Ambos foram
criados por Deus, “à sua imagem e semelhança” (Gn 1,26). Com isto o
homem, homem e mulher participavam dos atributos divinos, ou seja: sabedoria,
retidão e santidade. Ambos receberam a ordem de cuidar, dominar a terra,
homem e mulher ocupavam um lugar de honra no jardim do Éden. Antes da queda, o
primeiro casal vivia no em perfeita harmonia. O mesmo não acontece após a
desobediência (Gn 3).
Após o ato
de desobediência, marido e mulher começaram ter uma nova visão, distorcida é
claro, da sexualidade – “Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram
que estavam nus; pelo que coseram folhas de figueira, e fizeram para si
aventais.” (Gn 3,7) – se afastaram da comunhão divina – “E, ouvindo a
voz do Senhor Deus, que passeava no jardim à tardinha, esconderam-se o homem e
sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim.” (Gn
3,8); o primeiro conflito, a troca de acusações, foi instaurado na relação
conjugal – “Ao que respondeu o homem: A mulher que me deste por companheira
deu-me a árvore, e eu comi.” (Gn 3,12). O homem deixa de ser o companheiro
que a escolheu e recebeu, conforme projeto de Deus e transforma-se num ser
acusador, incapaz de assumir responsabilidade e manejar sua autonomia. É importante
perceber que até a queda, isto é, quando viviam num estado de pureza
espiritual, os relatos bíblicos se referem a “homem e mulher”, e nunca a
Adão e Eva. A mulher era chamada pelo termo “Ishah” que quer dizer “companheira,
varoa, auxiliadora”. Só após a queda, já com o coração com a marca do
pecado, é que o homem dá o nome de Eva à sua mulher. Antes conhecida como “Ishah”
(auxiliadora, varoa, companheira) agora é chamada de “Eva” (mãe de todos
os viventes) – “Chamou Adão à sua mulher Eva, porque era a mãe de todos os
viventes.” (Gn 3,20). A utilidade suplanta a idoneidade. A mulher passa a
ser um meio para atingir um fim. A sexualidade é reduzida ao sexo. O sujeito
passa a ser objeto, e, isto, permeia toda a história. Podemos encontrar aqui as
raízes profundas e históricas do machismo. A queda afetou as bases do casamento
e da família.
O que se
segue, após a queda, é o pecado contaminando a relação conjugal e à própria
família. Sua influencia é ampla e nociva, conforme os relatos bíblicos. O livro
de Gênesis cataloga o fratricídio (assassino de irmão ou irmã) – “Falou Caim
com o seu irmão Abel. E, estando eles no campo, Caim se levantou contra o seu
irmão Abel, e o matou.” (Gn 4,8); poligamia – “Lameque tomou para si
duas mulheres: o nome duma era Ada, e o nome da outra Zila.” (Gn 4,19);
pensamentos e palavras sexuais perversas – “E Cão, pai de Canaã, viu a nudez
de seu pai, e o contou a seus dois irmãos que estavam fora.” (Gn 9,22);
adultério – “Assim Sarai, mulher de Abrão, tomou a Agar a egípcia, sua
serva, e a deu por mulher a Abrão seu marido, depois de Abrão ter habitado dez
anos na terra de Canaã. E ele conheceu a Agar, e ela concebeu; e vendo ela que
concebera, foi sua senhora desprezada aos seus olhos.” (Gn 16,3-4); homossexualismo
– “Mas antes que se deitassem, cercaram a casa os homens da cidade, isto é,
os homens de Sodoma, tanto os moços como os velhos, sim, todo o povo de todos
os lados; e, chamando a Ló, perguntaram-lhe: Onde estão os homens que
entraram”. esta noite em tua casa? Traze-os cá fora a nós, para que os
conheçamos. Então Ló saiu-lhes à porta, fechando-a atrás de si, e disse: Meus
irmãos, rogo-vos que não procedais tão perversamente.” (Gn 16,4-7);
formicação e estupro – “Diná, filha de Léia, que esta tivera de Jacó, saiu
para ver as filhas da terra. Viu-a Siquém, filho de Hamor o heveu, príncipe da
terra; e, tomando-a, deitou-se com ela e humilhou-a.” (Gn 34,1-2);
prostituição – “Passados quase três meses, disseram a Judá: Tamar, tua nora,
se prostituiu e eis que está grávida da sua prostituição. Então disse Judá:
Tirai-a para fora, e seja ela queimada.”
(Gn 38,24); sedução (Gn 39,7-12) e incesto (Gn 38,13-18). Cada
um destes pecados apresenta ataques diretos contra a santidade e a harmonia do
matrimonio e das família.
II – MISERICÓRDIA PARA COM A FAMÍLIA.
Após a queda espiritual da
humanidade, a partir da desobediência do primeiro casal, o que se vê é a
propagação da violência – “A terra, porém, estava corrompida diante de Deus,
e cheia de violência.” (Gn 6,11). Ao anunciar a destruição do mundo,
através do dilúvio, Deus orienta Noé na construção de uma arca – “Farás na
arca uma janela e lhe darás um côvado de altura; e a porta da arca porá no seu
lado; fá-la-ás com andares, baixo, segundo e terceiro.” (Gn 6,16) e
demonstra o seu amor e o seu cuidado para com a família – “Mas contigo
estabelecerei o meu pacto; entrarás na arca, tu e contigo teus filhos, tua
mulher e as mulheres de teus filhos.” (Gn 6,18). Deus poderia perfeitamente
permitir que somente Noé e sua mulher entrassem na arca e após o dilúvio gerar
outros filhos. Mas o que vemos é o cuidado de Deus para com a família ampliada
de Noé. Seus filhos e suas noras também foram protegidos por Deus da destruição
– “Depois disse o Senhor a Noé: Entra na arca, tu e toda a tua casa, porque
tenho visto que és justo diante de mim nesta geração.” (Gn 7,1).
Antes de nos aprofundarmos um
pouco sobre as características das famílias patriarcais, podemos afirmar que o
mesmo cuidado que Deus demonstrou com a família ampliada de Noé também
demonstrou para com a família de Ló. Ao receber a visita de dois anjos e estes
anunciaram a destruição de Sodoma e Gomorra, recomendaram que não só ele, Ló,
deixasse aquele lugar, mas também sua família e os futuros genros (Gn 19,12-16).
III – AS FAMÍLIAS DOS PATRIARCAS.
No Pentateuco, após o dilúvio
encontramos os descendentes de Noé se multiplicando. Após as narrativas
bíblicas de várias genealogias, vemos Deus uma outra família, a fim de cumprir
os seus propósitos – a família de Abrão, o primeiro patriarca.
A partir de Gênesis 12,
encontramos o relato da história das famílias patriarcais, isto é: as famílias
de Abraão, Isaque e Jacó.
Resumidamente, podemos afirmar que
em todas essas famílias existam pontos em comum, que se destacam:
- Amplitude:
Nelas estão inseridos não apenas o
casal: quando o patriarca não era polígamo (neste caso só não há registro de
poligamia na vida de Isaque); e filhos mas também os servos, escravos e
parentes colaterais. As famílias estavam unidas a outras famílias, formando
assim, um clã, que, por sua vez, formava as tribos, podemos perceber esta
verdade, em face do grande número de pessoas ligadas a Abrão e Ló, causando,
assim, dificuldades no cultivo da terra – “E também Ló, que ia com Abrão,
tinha rebanhos, gado e tendas. Ora, a terra não podia sustentá-los, para eles
habitarem juntos; porque os seus bens eram muitos; de modo que não podiam
habitar juntos. Pelo que houve contenda entre os pastores do gado de Abrão, e
os pastores do gado de Ló. E nesse tempo os cananeus e os perizeus habitavam na
terra.” (Gn 13,5-7) e também no relato onde Deus orientou Abraão a
circuncidar todos que faziam parte do seu grupo familiar – “À idade de oito
dias, todo varão dentre vós será circuncidado, por todas as vossas gerações,
tanto o nascido em casa como o comprado por dinheiro a qualquer estrangeiro,
que não for da tua linhagem. Com efeito será circuncidado o nascido em tua
casa, e o comprado por teu dinheiro; assim estará o meu pacto na vossa carne
como pacto perpétuo. Mas o incircunciso, que não se circuncidar na carne do
prepúcio, essa alma será extirpada do seu povo; violou o meu pacto.” (Gn
17,12-14).
- Patriarcado:
As famílias adotavam o sistema de
patriarcado, isto é: o pai tinha autoridade sobre os filhos, mesmo depois do
casamento, e suas noras – “Ora, Abraão era já velho e de idade avançada; e
em tudo o Senhor o havia abençoado. E disse Abraão ao seu servo, o mais antigo
da casa, que tinha o governo sobre tudo o que possuía: Põe a tua mão debaixo da
minha coxa, para que eu te faça jurar pelo Senhor, Deus do céu e da terra, que
não tomarás para meu filho mulher dentre as filhas dos cananeus, no meio dos
quais eu habito; mas que irás à minha terra e à minha parentela, e dali tomarás
mulher para meu filho Isaque.” (Gn 24,1-4). No regime patriarcal, o governo
da tribo era vontade individual do patriarca, que residia, a principio, no
progenitor da tribo, passando dele para o primogênito ou para o mais velho da
linha genealógica. O termo clássico para exemplificar a importância e a
soberania do pai está na expressão bíblica “casa paterna”.
- Unidade de trabalho:
A família, conforme percebe-se nos
patriarcas, tem uma conotação de unidade de trabalho. Os filhos e os parentes
cuidavam dos bens da família, reservando o patriarca a função administrativa.
As famílias dos patriarcas, alem de serem numerosas, possuíam muitos bens como
resultado do trabalho familiar e da provisão de Deus – “Isaque semeou
naquela terra, e no mesmo ano colheu o cêntuplo; e o Senhor o abençoou. E
engrandeceu-se o homem; e foi-se enriquecendo até que se tornou mui poderoso; e
tinha possessões de rebanhos e de gado, e muita gente de serviço; de modo que
os filisteus o invejavam.” (Gn 26,12-14).
- Devoção religiosa:
Nos relatos que descrevem a vida
dos patriarcas, é forte a presença da religiosidade. Com a chamada de Abraão,
podemos encontrar a presença do monoteísmo religioso nas famílias dos
patriarcas. Esta característica esta presente nas famílias de Abraão, Isaque e
Jacó. Varias vezes percebe-se os patriarcas construindo através de adoração (Gn
12,8; 13,18; 22,1-16; 28,18-19). Através das construções dos altares,
encontramos a função sacerdotal perante a família, função esta que cabia ao
patriarca.
CONCLUINDO.
Com a morte do ultimo patriarca, Jacó, a família nos
relatos bíblicos continuou tendo toda a importância aos olhos de Deus. Na Ida
para o Egito e posterior escravidão , as tribos foram repartidas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário