sexta-feira, 11 de julho de 2014

FAMÍLIA NA BÍBLIA - LIÇÃO 01 – OS PRIMÓRDIOS DA FAMÍLIA.



FAMÍLIA NA BÍBLIA - LIÇÃO 01 – OS PRIMÓRDIOS DA FAMÍLIA.

“Desde o princípio do projeto humano, a família é a que aparece na base” (Edésio Sanches Cetina).


Se desejarmos entender a família do ponto de vista cristão, precisamos analisar toda a sua trajetória ao longo dos relatos bíblicos.

Em cada parte das narrativas bíblicas podemos verificar dando orientações, instituindo leis e permitindo que homens inspirados pelo Espírito Santo registrassem nas paginas sagradas as faltas e os pecados de pessoas que afetaram profundamente sua família.

I – NASCE A FAMÍLIA.

Antes da queda humana, Deus havia instituído apenas a família, o trabalho e a guarda do sábado (Gn 1,26-28; 2,2-3). A família, à luz dos textos citados, tem origem no próprio Deus. O casamento e a família não estão vinculados na história (o Estado e a lei) ou à redenção, mas a criação. De acordo com Gênesis, antes da queda, tanto o homem quanto à mulher tinham privilégios e responsabilidades iguais. Ambos foram criados por Deus, “à sua imagem e semelhança” (Gn 1,26). Com isto o homem, homem e mulher participavam dos atributos divinos, ou seja: sabedoria, retidão e santidade. Ambos receberam a ordem de cuidar, dominar a terra, homem e mulher ocupavam um lugar de honra no jardim do Éden. Antes da queda, o primeiro casal vivia no em perfeita harmonia. O mesmo não acontece após a desobediência (Gn 3).
Após o ato de desobediência, marido e mulher começaram ter uma nova visão, distorcida é claro, da sexualidade – “Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; pelo que coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.” (Gn 3,7) – se afastaram da comunhão divina – “E, ouvindo a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim à tardinha, esconderam-se o homem e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim.” (Gn 3,8); o primeiro conflito, a troca de acusações, foi instaurado na relação conjugal – “Ao que respondeu o homem: A mulher que me deste por companheira deu-me a árvore, e eu comi.” (Gn 3,12). O homem deixa de ser o companheiro que a escolheu e recebeu, conforme projeto de Deus e transforma-se num ser acusador, incapaz de assumir responsabilidade e manejar sua autonomia.  É importante  perceber que até a queda, isto é, quando viviam num estado de pureza espiritual, os relatos bíblicos se referem a “homem e mulher”, e nunca a Adão e Eva. A mulher era chamada pelo termo “Ishah” que quer dizer “companheira, varoa, auxiliadora”. Só após a queda, já com o coração com a marca do pecado, é que o homem dá o nome de Eva à sua mulher. Antes conhecida como “Ishah” (auxiliadora, varoa, companheira) agora é chamada de “Eva” (mãe de todos os viventes) – “Chamou Adão à sua mulher Eva, porque era a mãe de todos os viventes.” (Gn 3,20). A utilidade suplanta a idoneidade. A mulher passa a ser um meio para atingir um fim. A sexualidade é reduzida ao sexo. O sujeito passa a ser objeto, e, isto, permeia toda a história. Podemos encontrar aqui as raízes profundas e históricas do machismo. A queda afetou as bases do casamento e da família.
O que se segue, após a queda, é o pecado contaminando a relação conjugal e à própria família. Sua influencia é ampla e nociva, conforme os relatos bíblicos. O livro de Gênesis cataloga o fratricídio (assassino de irmão ou irmã) – “Falou Caim com o seu irmão Abel. E, estando eles no campo, Caim se levantou contra o seu irmão Abel, e o matou.” (Gn 4,8); poligamia – “Lameque tomou para si duas mulheres: o nome duma era Ada, e o nome da outra Zila.” (Gn 4,19); pensamentos e palavras sexuais perversas – “E Cão, pai de Canaã, viu a nudez de seu pai, e o contou a seus dois irmãos que estavam fora.” (Gn 9,22); adultério – “Assim Sarai, mulher de Abrão, tomou a Agar a egípcia, sua serva, e a deu por mulher a Abrão seu marido, depois de Abrão ter habitado dez anos na terra de Canaã. E ele conheceu a Agar, e ela concebeu; e vendo ela que concebera, foi sua senhora desprezada aos seus olhos.” (Gn 16,3-4); homossexualismo – “Mas antes que se deitassem, cercaram a casa os homens da cidade, isto é, os homens de Sodoma, tanto os moços como os velhos, sim, todo o povo de todos os lados; e, chamando a Ló, perguntaram-lhe: Onde estão os homens que entraram”. esta noite em tua casa? Traze-os cá fora a nós, para que os conheçamos. Então Ló saiu-lhes à porta, fechando-a atrás de si, e disse: Meus irmãos, rogo-vos que não procedais tão perversamente.” (Gn 16,4-7); formicação e estupro – “Diná, filha de Léia, que esta tivera de Jacó, saiu para ver as filhas da terra. Viu-a Siquém, filho de Hamor o heveu, príncipe da terra; e, tomando-a, deitou-se com ela e humilhou-a.” (Gn 34,1-2); prostituição – “Passados quase três meses, disseram a Judá: Tamar, tua nora, se prostituiu e eis que está grávida da sua prostituição. Então disse Judá: Tirai-a para fora, e seja ela queimada.”  (Gn 38,24); sedução (Gn 39,7-12) e incesto (Gn 38,13-18). Cada um destes pecados apresenta ataques diretos contra a santidade e a harmonia do matrimonio e das família.

II – MISERICÓRDIA PARA COM A FAMÍLIA.

Após a queda espiritual da humanidade, a partir da desobediência do primeiro casal, o que se vê é a propagação da violência – “A terra, porém, estava corrompida diante de Deus, e cheia de violência.” (Gn 6,11). Ao anunciar a destruição do mundo, através do dilúvio, Deus orienta Noé na construção de uma arca – “Farás na arca uma janela e lhe darás um côvado de altura; e a porta da arca porá no seu lado; fá-la-ás com andares, baixo, segundo e terceiro.” (Gn 6,16) e demonstra o seu amor e o seu cuidado para com a família – “Mas contigo estabelecerei o meu pacto; entrarás na arca, tu e contigo teus filhos, tua mulher e as mulheres de teus filhos.” (Gn 6,18). Deus poderia perfeitamente permitir que somente Noé e sua mulher entrassem na arca e após o dilúvio gerar outros filhos. Mas o que vemos é o cuidado de Deus para com a família ampliada de Noé. Seus filhos e suas noras também foram protegidos por Deus da destruição – “Depois disse o Senhor a Noé: Entra na arca, tu e toda a tua casa, porque tenho visto que és justo diante de mim nesta geração.” (Gn 7,1).

Antes de nos aprofundarmos um pouco sobre as características das famílias patriarcais, podemos afirmar que o mesmo cuidado que Deus demonstrou com a família ampliada de Noé também demonstrou para com a família de Ló. Ao receber a visita de dois anjos e estes anunciaram a destruição de Sodoma e Gomorra, recomendaram que não só ele, Ló, deixasse aquele lugar, mas também sua família e os futuros genros (Gn 19,12-16).

III – AS FAMÍLIAS DOS PATRIARCAS.

No Pentateuco, após o dilúvio encontramos os descendentes de Noé se multiplicando. Após as narrativas bíblicas de várias genealogias, vemos Deus uma outra família, a fim de cumprir os seus propósitos – a família de Abrão, o primeiro patriarca.

A partir de Gênesis 12, encontramos o relato da história das famílias patriarcais, isto é: as famílias de Abraão, Isaque e Jacó.

Resumidamente, podemos afirmar que em todas essas famílias existam pontos em comum, que se destacam:

  • Amplitude:

Nelas estão inseridos não apenas o casal: quando o patriarca não era polígamo (neste caso só não há registro de poligamia na vida de Isaque); e filhos mas também os servos, escravos e parentes colaterais. As famílias estavam unidas a outras famílias, formando assim, um clã, que, por sua vez, formava as tribos, podemos perceber esta verdade, em face do grande número de pessoas ligadas a Abrão e Ló, causando, assim, dificuldades no cultivo da terra – “E também Ló, que ia com Abrão, tinha rebanhos, gado e tendas. Ora, a terra não podia sustentá-los, para eles habitarem juntos; porque os seus bens eram muitos; de modo que não podiam habitar juntos. Pelo que houve contenda entre os pastores do gado de Abrão, e os pastores do gado de Ló. E nesse tempo os cananeus e os perizeus habitavam na terra.” (Gn 13,5-7) e também no relato onde Deus orientou Abraão a circuncidar todos que faziam parte do seu grupo familiar – “À idade de oito dias, todo varão dentre vós será circuncidado, por todas as vossas gerações, tanto o nascido em casa como o comprado por dinheiro a qualquer estrangeiro, que não for da tua linhagem. Com efeito será circuncidado o nascido em tua casa, e o comprado por teu dinheiro; assim estará o meu pacto na vossa carne como pacto perpétuo. Mas o incircunciso, que não se circuncidar na carne do prepúcio, essa alma será extirpada do seu povo; violou o meu pacto.” (Gn 17,12-14).

  • Patriarcado:

As famílias adotavam o sistema de patriarcado, isto é: o pai tinha autoridade sobre os filhos, mesmo depois do casamento, e suas noras – “Ora, Abraão era já velho e de idade avançada; e em tudo o Senhor o havia abençoado. E disse Abraão ao seu servo, o mais antigo da casa, que tinha o governo sobre tudo o que possuía: Põe a tua mão debaixo da minha coxa, para que eu te faça jurar pelo Senhor, Deus do céu e da terra, que não tomarás para meu filho mulher dentre as filhas dos cananeus, no meio dos quais eu habito; mas que irás à minha terra e à minha parentela, e dali tomarás mulher para meu filho Isaque.” (Gn 24,1-4). No regime patriarcal, o governo da tribo era vontade individual do patriarca, que residia, a principio, no progenitor da tribo, passando dele para o primogênito ou para o mais velho da linha genealógica. O termo clássico para exemplificar a importância e a soberania do pai está na expressão bíblica “casa paterna”.

  • Unidade de trabalho:

A família, conforme percebe-se nos patriarcas, tem uma conotação de unidade de trabalho. Os filhos e os parentes cuidavam dos bens da família, reservando o patriarca a função administrativa. As famílias dos patriarcas, alem de serem numerosas, possuíam muitos bens como resultado do trabalho familiar e da provisão de Deus – “Isaque semeou naquela terra, e no mesmo ano colheu o cêntuplo; e o Senhor o abençoou. E engrandeceu-se o homem; e foi-se enriquecendo até que se tornou mui poderoso; e tinha possessões de rebanhos e de gado, e muita gente de serviço; de modo que os filisteus o invejavam.” (Gn 26,12-14).

  • Devoção religiosa:

Nos relatos que descrevem a vida dos patriarcas, é forte a presença da religiosidade. Com a chamada de Abraão, podemos encontrar a presença do monoteísmo religioso nas famílias dos patriarcas. Esta característica esta presente nas famílias de Abraão, Isaque e Jacó. Varias vezes percebe-se os patriarcas construindo através de adoração (Gn 12,8; 13,18; 22,1-16; 28,18-19). Através das construções dos altares, encontramos a função sacerdotal perante a família, função esta que cabia ao patriarca.

CONCLUINDO.


Com a morte do ultimo patriarca, Jacó, a família nos relatos bíblicos continuou tendo toda a importância aos olhos de Deus. Na Ida para o Egito e posterior escravidão , as tribos foram repartidas.

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