JESUS CRISTO - LIÇÃO 14 – ILUSTRAÇÕES DA OBRA DE CRISTO NO ANTIGO TESTAMENTO.
“Porei
inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência;
esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” (Gn
3,15).
Não foram poucas às vezes em que
eu ouvi alguém dizer algo mais ou menos assim – “Prefiro ler o Novo
Testamento ao Antigo, porque o Novo Testamento só fala do amor de Deus,
enquanto o Antigo somente fala da justiça de Deus..” Apesar da
fraqueza e “boa intenção” dessas
pessoas, penso que infelismente elas não tem tido oportunidade de conhecer
melhor as Escrituras Sagradas. A Bíblia
nos revela que tanto o amor como a justiça de Deus andam de mãos dadas,
revelando a graça e a misericórdia de
Deus. No plano eterno e perfeito de Deus, não existe demonstração do Seu amor
sem a execução da sua justiça, tampouco execução da sua justiça sem a
demonstração do seu amor. Se pudermos pensar que o amor e a justiça de Deus estão presentes em toda a
Bíblia, podemos concluir que de alguma maneira, a obra de Jesus Cristo também
está presente em toda a Bíblia!
I – PACTO – A ALIANÇA DE DEUS COM SEU POVO.
O Antigo Testamento
apresenta diferentes aspectos ou alianças
firmadas entre Deus e seu povo. Na maioria das vezes, são incondicionais,
ou seja, somente dependem da fidelidade de Deus para serem concretizadas. As
condicionais dependem da obediência e fidelidade humanas para que a intervenção
divina se manifeste. Estas alianças revelam o propósito de Deus: ser glorificado por um povo, com o
qual mantém relacionamento exclusivo. Através delas. Deus revela amor e executa
justiça prefigurando a obra de Cristo, desde o Éden – “esta te ferirá a
cabeça”.
As mais importantes
alianças firmadas por Deus com seu povo são: Adâmica (Gn 3,15); Noética (Gn
9,11); Abraâmica (Gn 12,1-3;1517-21); Sinaitica (Ex 19,5-6); Palestiniana (Dt
28-30); Davídica (2Sm 7,15-16; 1Cr 17,11-14) e Nova Aliança (Jr 31,31-34).
Vamos destacar as três mais importantes:
1 – A Aliança Abraâmica – Gn
12,1-3; 15,17-21
É a base para o
relacionamento entre Deus e um povo exclusivamente seu. Esta aliança é
incondicional, no sentido que Israel é o povo eleito e criado para servir como
canal da benção de Deus aos povos do mundo, e bem como termos – chave “descendência”
e “terra”. Alguns aspectos distintos estão contidos nela:
·
Promessas
individuais: Abraão seria pai de uma grande nação (Israel).
·
Promessas
nacionais: Israel seria grande e possuiria a terra de Canaã.
·
Bênçãos
espirituais: todas as famílias da terra seriam abençoadas em Israel.
Somente em Jesus Cristo
ela é cumprida integralmente.
2 – A Aliança Davídica – 2Sm
7,15-16; 1Cr 17,11-14
Tem como termos – chave “trono”
, “casa” e “reino”, por isso está ligada firmemente à Aliança
Abraâmica.firmada nesta aliança incondicional, a linhagem de Davi trouxe ao
mundo o Salvador dos judeus e gentios. Muito embora a nação de Israel tenha
rejeitado seu Rei, “a todos quantos o receberam, aos que crêem no seu
nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.” (Jo 1,12).
3 – A Nova Aliança – Jr
31,31-34
Esta também é
incondicional, pois aponta para o relacionamento pessoal entre Deus e seu povo,
o qual não será afetado pelo poder do pecado. Pelo contrário, todos desfrutarão
de uma real e profunda comunhão com Ele.
II – PROVISÃO – SISTEMA SACRIFICIAL.
Uma segunda maneira de o Antigo
Testamento ilustrar a obra de Jesus Cristo
é através da provisão do sistema sacrificial. Deus disse a serpente: “tu
lhe ferirás o calcanhar”, como um sinal de sacrifício na provisão divina para
o mal do pecado. O sistema sacrificial foi instituído como instrumento da
justiça e do amor de Deus. Da justiça porque o pecado exigia punição com a vida
– “Porque a vida da carne está no sangue; pelo que vo-lo tenho dado sobre o
altar, para fazer expiação pelas vossas almas; porquanto é o sangue que faz
expiação, em virtude da vida.” (Lv 17,11) e de amor porque os animais
sacrificados substituíam o pecado no altar – “Se alguém pecar, fazendo
qualquer de todas as coisas que o Senhor ordenou que não se fizessem, ainda que
não o soubesse, contudo será ele culpado, e levará a sua iniqüidade; e como
oferta pela culpa trará ao sacerdote um carneiro sem defeito, do rebanho,
conforme a tua avaliação; e o sacerdote fará por ele expiação do erro que
involuntariamente houver cometido sem o saber; e ele será perdoado.” (Lv
5,17-18). O principio da expiação sempre exigiu a morte, assim escreveu o autor
de Hebreus – “...sem derramamento de sangue não há remissão.” (Hb 9,22).
Assim, o sacrifício revela no Antigo testamento como a provisão de Deus para
demonstrar seu amor e executar a sua misericórdia. Alguns exemplos são peculiares para ilustrar a obra de
Cristo.
1 – Adão e Eva.
A desobediência de Adão
e Eva quebrou o relacionamento deles com Deus, originado a separação da
criatura do seu Criador, após a queda, lê-se em Gênesis que eles – “Então
foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; pelo que coseram
folhas de figueira, e fizeram para si aventais.”
(Gn 3,7). Porém, Deus providenciou-lhe outra cobertura que indicava a gravidade
da desobediência – “E o Senhor Deus fez túnicas de peles para Adão e sua
mulher, e os vestiu.” (Gn 3,21). Assim, a
morte de algum animal inocente foi necessária para expiar o pecado, e Deus
demonstrou seu amor e executou a sua justiça.
2 – Abel.
O segundo registro de sacrifício
na Bíblia é a oferta de Abel. Contrastando com a atitude do irmão, o sacrifício
realizado por Abel revelou a obediência à instrução divina quando o valor dos
sacrifícios de sangue na expiação do pecado. Caim, tal qual seus pais, resolveu
oferecer outro meio de expiação, porem foi rejeitado por Deus – “Ao cabo de
dias trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao Senhor. Abel também trouxe dos
primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura. Ora, atentou o Senhor para
Abel e para a sua oferta, mas para Caim e para a sua oferta não atentou. Pelo
que irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante.” (Gn 4,3-5). Por
isso Abel obteve bom testemunho de ser justo – “Pela fé peregrinou na terra
da promessa, como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó,
herdeiros com ele da mesma promessa.” (Hb 11,9).
Lewis Chafer diz que a doutrina do
sangue sacrificial “não é de origem humana e o seu cumprimento na morte de
Cristo é certamente o plano e o propósito de Deus.”
3 – Abraão.
A disposição de Abraão em ofertar
seu único filho, Isaque, ilustra e tipifica o Pai que oferece seu único filho
amado –Gn 22,1-19. Em Abraão, vê-se o exercício da justiça contra o
pecado – o sacrifício, e em Isaque, o sacrifício voluntário e obediente até a
morte – “e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se
obediente até a morte, e morte de cruz.” (Fl 2,8). A prova de fé estava
ligada ao princípio da morte substitutiva, pois Deus não permitiu o sacrifício
humano, porém providenciou um cordeiro para substituir Isaque.
4 – Páscoa.
A instituição da Páscoa em Israel
não apenas assegurou a redenção dos israelitas do jugo egípcio como assegurou a
segurança de todos os primogênitos da nação – Ex 12,1-36. Elementos
singulares estavam presentes no
sacrifício daquela noite em que o Senhor feriu a terra do Egito – cordeiro
pascoal substituto (ou cabrito), sangue aspergido, morte de primogênitos, juízo
contra ímpios, substituição e redenção dos eleitos. “Dificilmente se pode
duvidar que Cristo seja antítipo a tudo isso” (L. Chafer).
5 – Ofertas em Levítico.
O sistema de ofertas sacrificais
dos Hebreus não tinha outro propósito senão providenciar, através do
derramamento de sangue substituto, os meios e condições para o homem
relacionar-se com Deus, em aproximação e santificação. Por exemplo:
- Ofertas queimadas (Lv 1,1-17) e pacíficas (Lv
3,1-17) promoviam adoração a Deus.
- Ofertas pelo pecado (Lv 4-5) e pelas culpas
promoviam restauração co Deus.
- Oferta de aves (Lv 14,1-32) promoviam
purificação de pecado.
III – PREGAÇÃO – A MENSAGEM DOS
PROFETAS.
Uma ultima
forma de ilustração da obra de Cristo são as mensagens dos profetas, os quais
lutaram contra o sistema sacrificial hipócrita. A mensagem deles condenava a falsidade
religiosa e a fé puramente religiosa. As ofertas, sacrifícios e rituais
agradáveis a Deus deveriam ser observados em obediência. Muito antes da forma,
Deus exigia a aplicação interior de quem
ofertava ou sacrificava.
Observemos
as condenações proféticas sobre os sacrifícios hipócritas.
·
Presença da maldade e da prática da injustiça – Is
1,10-20.
·
Ausência de obediência à voz de Deus – Jr 7,21-28.
·
Presença de pecado e ausência de arrependimento – Os
14,1-4.
·
Presença da idolatria e senhorio estranho. – Am
5,21-24.
·
Ausência de justiça, misericórdia e humanidade – Mq
6,6-8.
Os
profetas não apenas exigiam a observação dos rituais, mas que os mesmos fossem
praticadas de acordo com a lei de Deus. A história de Israel mostra que as
ofertas nem sempre foram vistas pelos ofertantes como um canal de santidade,
ainda que a lei prescrevesse isso. O papel dos profetas portanto, era apontar o erro, chamando a atenção do
povo para a ilustração de algo perfeito e superior que estava por vir.
O famoso
parágrafo do “Servo Sofredor”, do profeta Isaias, apresenta-se como um
dos mais impactantes apelos proféticos sobre o sacrifício perfeito.
·
Sacrifício voluntário – Is 53,2.4.
·
Sacrifício expiatório – Is 53,10.
·
Sacrifício substitutivo – Is 53,4-6.11-12.
·
Sacrifício eficiente – Is 53,11-12.
CONCLUINDO
O apóstolo
Paulo escreveu aos Colossenses que os cerimoniais judaicos não passava de
sombras das coisas que haviam de vir em Cristo
- “que são sombras das coisas vindouras; mas o corpo é de Cristo.”
(Cl 2,17) e o autor das cartas aos Hebreus afirmou – “Porque a lei, tendo a
sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, não pode nunca, pelos
mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem de ano em ano, aperfeiçoar os
que se chegam a Deus. É nessa vontade dele que temos sido santificados pela
oferta do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez para sempre. Pois com uma só
oferta tem aperfeiçoado para sempre os que estão sendo santificados.” (Hb
10,1.10.14).
Nenhum comentário:
Postar um comentário