LIÇÃO 02 – A
VIDA NORMAL DE JESUS.
“E crescia
Jesus em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens.” (Lc 2,52)
Eis o fato mais surpreendente,
extraordinário e maravilhoso em toda a história da humanidade: Jesus Cristo, o
Filho de Deus, a segunda Pessoa da Trindade, Se fez um de nós. Ele, que vive
desde a eternidade e por meio do qual todas as coisas foram criadas (Jo 1,1-3).
Ele, que é eterno, soberano e glorioso de Deus, reinando sobre todo o Universo,
na companhia do Pai e do Espírito. Ele que é a fonte da vida, o Criador,
decidiu tornar-Se “criatura” a fim de resgatar Sua obra danificada pelo
pecado – o ser humano.
Como ser humano, Jesus viveu
normalmente como qualquer outro homem (embora sem pecado). É este aspecto da
pessoa do Salvador que vamos estudar agora.
I – ENTRANDO NO CURSO DA HISTÓRIA.
O início do NT nos apresenta a
genealogia de Jesus, desde Abraão. Sabemos que todas a Escritura é útil.
Assim, que ensinamentos podemos extrair desse trecho da Palavra de Deus?
1 – A genealogia de Jesus confirma
ser Ele o “Rei Prometido”, uma vez que era “Filho de Davi”.
Aqui Jesus demonstra possuir as
qualificações do Messias, tanto no plano espiritual como na descendência humana
de Davi.
2 – A genealogia de Jesus constata
que Deus sempre cumpre suas promessas.
Jesus é apresentado como
descendente (humano) prometido a Abraão – “Livro da genealogia de Jesus
Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.” (Mt 1,1), que viria abençoar todas
as famílias da terra – “...e em tua descendência serão benditas todas as
nações da terra; porquanto obedeceste à minha voz.” (Gn 22,18).
3 – A genealogia de Jesus evidencia quão grande é a
misericórdia e a compaixão de nosso Senhor Jesus Cristo.
“...sendo rico, por amor de vós se
fez pobre.” (2Cor 8,9) e abrindo mão de sua glória foi capaz de se
humilhar e habitar entre nós – “...tornando-se semelhante aos homens.”
(fl 2,7).
4 – A genealogia de Jesus identifica
Cristo conosco.
Ele não apenas se tornou humano,
mas também viveu como um de nós. Jesus teve mãe e pai (adotado), tios, primos,
avós, e para os evangelhos (protestantes) teve também irmãos e irmãs – “Não
é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, de José, de Judas e de
Simão? e não estão aqui entre nós suas irmãs? E escandalizavam-se dele.”
(Mc 6,3). Na linguagem bíblica, “irmão” é muito usado em lugar de primo,
sobrinho, tio, parente. Por ex. em Gn 13,8 Abrão diz a Ló: “somos irmãos”
– enquanto que em Gn 11,27-31 consta claramente que Ló era filho de Aran –
irmão de Abraão, portanto seu sobrinho.
II – INTERFERINDO NO CURSO DA
HISTÓRIA.
O Filho de Deus deixou a glória
junto ao Pai e entrou no âmbito humano. Encarnado, realizou a obra para qual foi destinado, obedientemente.
Tendo Jesus sido concebido de
forma miraculosa, como podemos ter certeza de que ele era de fato um verdadeiro
ser humano?
- Primeiro argumento: Jesus nasceu.
Ele não desceu do céu como um
homem já feito. Ele foi concebido no ventre de uma mãe humana e nutrido pelo
cordão umbilical como qualquer outro ser humano. Sua concepção foi
sobrenatural, mas todo o seu
desenvolvimento a partir daí foi natural.
- Segundo argumento: Jesus teve família.
Ele esteve ligado biologicamente a
seus ancestrais e recebeu deles sua herança genética como qualquer pessoa
normal. Certamente trazia em seu corpo e em seu semblante os traços e
aparências de sua mãe, tios primos e avós.
- Terceiro argumento: Jesus se desenvolveu.
Lucas, em seu evangelho – “E
crescia Jesus em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos
homens.” (Lc 2,52) dá grande ênfase à humanidade perfeita de Jesus.
- Jesus foi bebê, foi criança, foi adolescente,
foi jovem.... Jesus cresceu porque era humano.
- Jesus precisou de alimento, água e exercícios
para sobreviver e se desenvolver.
- Sua capacidade física era limitada. Ele sentia
fome e fraqueza quando jejuava – “E, tendo jejuado quarenta dias e
quarenta noites, depois teve fome.” (Mt 4,2); sentia sede – “Dá-me
de beber.” (Jo 4,7); ficava cansado – “achava-se ali o poço de
Jacó. Jesus, pois, cansado da viagem, sentou-se assim junto do poço; era
cerca da hora sexta.” (Jo 4,6). Jesus sentia dor, inclusive quando
foi espancado, chicoteado, esfolado com espinhos, perfurados com os
pregos e com a lança. De tão fragilizado precisou de ser ajudado (por
Simão Cirineu) quando carregou sua cruz – “Quando o levaram dali
tomaram um certo Simão, Cirineu, que vinha do campo, e puseram-lhe a cruz
às costas, para que a levasse após Jesus.” (Lc 23,26).
- Quarto argumento: Jesus morreu.
Seu corpo humano deixou de conter
a vida, ao ser submetido a tão cruel tratamento, e parou de funcionar, assim
como acontece com o nosso quando morremos. Mesmo depois de morto seu corpo
continuou sendo humano, sujeito a decomposição – “contudo um dos soldados
lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água.” (Jo 19,34).
Até mesmo na ressurreição a sua
humanidade foi confirmada. Jesus convidou seus discípulos a verificar a
genuinidade de sua humanidade por si mesmo – “Olhai as minhas mãos e os meus
pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede; porque um espírito não tem carne nem
ossos, como percebeis que eu tenho.” (Lc 24,39). Também confirmou a sua
presença física almoçando com eles – “Então lhe deram um pedaço de peixe
assado,” (Lc 24,42).
- Quinto argumento: Jesus se considerava homem.
Repetidamente fez uso da palavra “homem”
em referencia a si mesmo (Mt 8,20; 9,6; Mc 10,45; Lc 7,34). Outros
também usaram a palavra “homem” em referencia a Jesus: Paulo (Rm
5,15.17.19; 1Cor 15,21.47-49); João (1Jo 1,1). Neste texto, João
afirma que de fato ouviu, viu e tocou em Jesus – “O que era desde o
princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e
as nossas mãos apalparam, a respeito do Verbo da vida” (1Jo 1,1).
III – MODIFICANDO O CURSO DA HISTÓRIA.
O apóstolo João escreveu sua
primeira epistola a fim de combater um ensino herético (docetismo) que nega a
encarnação de Jesus. Ele teria apenas aparência de ser humano, mas não era
material. João percebeu logo a verdadeira intenção dessa doutrina
anticristã: negar a humanidade de Jesus
era negar a possibilidade da salvação – “Nisto conheceis o Espírito de Deus:
todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo
espírito que não confessa a Jesus não é de Deus; mas é o espírito do
anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que havia de vir; e agora já está
no mundo.” (1Jo 4,2-3).
Ao examinarmos as Escrituras
principalmente o NT, encontramos não apenas a confirmação da plena humanidade
do Messias, como também os motivos porque tinha que se tornar homem.
- Primeiro motivo: representar a nossa obediência.
O primeiro representante da
humanidade (Adão) foi reprovado no teste da obediência (Gn 2,15-3,7),
mas o segundo representante, Jesus Cristo – homem – “Assim também está
escrito: O primeiro homem, [Adão], tornou-se alma vivente; o último [Adão],
espírito vivificante. O primeiro homem, sendo da terra, é terreno; o segundo
homem é do céu.” (1Cor 15,45.47) mostrou-se aceitável perante Deus vencendo
o tentador (Lc 4,1-13). Por isso Paulo disse: “Portanto, assim como
por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim
também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação
e vida. Porque, assim como pela desobediência de um só homem muitos foram
constituídos pecadores, assim também pela obediência de um muitos serão
constituídos justos.” (Rm 5,18-19).
- Segundo motivo: oferecer sacrifício
substitutivo.
Se Jesus não tivesse sido homem
não poderia te morrido em nosso lugar e pago a penalidade que nos cabia. O
autor de Hebreus nos diz: “Pelo que convinha que em tudo fosse feito
semelhante a seus irmãos, para se tornar um sumo sacerdote misericordioso e
fiel nas coisas concernentes a Deus, a fim de fazer propiciação pelos pecados
do povo.” (Hb 2,17).
- Terceiro motivo: intermediar entre Deus e o
homem.
Estando nós afastados de Deus por
causa do pecado, carecíamos de alguém que intercedesse por nós perante Deus e
nos reconciliasse com Ele. Precisávamos de alguém como nós, porém perfeito e
sem pecado, para atuar como um mediador e um advogado. Só Jesus poderia
preencher este requisito – “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre
Deus e os homens, Cristo Jesus, homem,” (1Tm 2,5).
Jesus pode realmente ter empatia
para conosco e interceder por nós, já que ele “sentiu na pele” todas as
aprovações pelas quais passamos os nossos sentimentos, frustrações e tentações.
Experimentou o que é sofrer, passar fome e frio, ficar exausto e abatido,
sentir-se o rejeitado – “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa
compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi
tentado, mas sem pecado.” (Hb 4,15).
- Quarto motivo: deixar exemplo e padrão a ser
seguido.
João disse: “Aquele que diz
estar nele, também deve andar como ele andou.” (1Jo 2,6). Paulo nos diz: “Mas
todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor,
somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do
Senhor.” (1Cor 3,18). Pedro nos faz lembrar do exemplo deixado por Cristo –
“Porque para isso fostes chamados, porquanto também Cristo padeceu por vós,
deixando-vos exemplo, para que sigais as suas pisadas.” (1Pe 2,21). Na vida
cristã, “corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, fitando
os olhos em Jesus, autor e consumador da nossa fé.” (Hb 12,1-2).
- Quinto motivo: ser modelo de ressurreição.
Quando Jesus ressurgiu dentre os
mortos, o fez num novo corpo de glória, como ensina Paulo – “...semeia-se
corpo natural, ressuscita corpo espiritual..... corpo espiritual” (1Cor
15,42-49). Jesus tinha que ressuscitar como homem para ser “o primogênito
dentre os mortos” (Cl 1,18), o padrão do corpo que teremos mais tarde.
- Sexto motivo: compadecer-se como sumo sacerdote.
O autor de hebreus lembra-nos de
que “naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que
são tentados.” (Hb 2,18; cf. 4,15-16). Se Jesus não tivesse existido na
condição de homem, não teria conhecido por experiência o que sofremos em nossas
tentações e lutas nesta vida.
CONCLUINDO
Não há como medir tão
extraordinário ato de amor que levou nosso Senhor a abdicar da eterna gloria e
poder para se tornar um mortal, vivenciando as limitações de um ser menor que
ele mesmo criou. E se nos maravilhamos com seu amor, surpreende-nos ainda o
fato de que para nos salvar Jesus não apenas se tornou “temporariamente
homem”, mas uniu para sempre a sua natureza divina com a natureza humana.
Agora e para sempre ele vive, não só como Filho eterno de Deus, a segunda
pessoa da Trindade, mas também como Jesus, o homem que nasceu de Maria, o
Cristo, o Messias e o Salvador de seu povo. Jesus permanecerá para sempre plenamente Deus e plenamente homem,
e ainda uma só pessoa. E nós, seres regenerados, novas criaturas... nós, os que
crermos, viveremos para sempre com Ele – o Deus que se fez homem.
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