“Rejeitai, pois, toda impureza e todo vestígio de malícia e recebei com mansidão a palavra em vós semeada, que pode salvar as vossas almas.” – Tg 1,21.
- INTRODUÇAO.
Tem-se falado muito ultimamente no poder das palavras. A ênfase, no entanto, tem sido dada para palavras chamadas “místicas”, de maldição, de imprecações, etc. Tem-se esquecido do poder da Palavra sobrenatural de Deus e da resposta do crente à sua Palavra. A Bíblia é uma fonte inesgotável de riqueza. Especificamente nesta porção citada por Tiago é uma fonte inesgotável de riqueza. Isso requer do leitor atenção e cuidado, como veremos.
Vocês já pensaram em como a palavra é importante em nossa vida cristã? É pela Palavra de Deus que chegamos ao conhecimento da salvação, dos propósitos dEle para nós, dos seus atributos e seus sentimentos em relação à sua criação. Em resposta à Palavra de Deus, com a nossa palavra, tomamos posse da salvação – “Portanto, se com tua boca confessares que Jesus é o Senhor, e se em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. É crendo de coração que se obtém a justiça, e é professando com palavras que se chega à salvação.” – Rm 10,9-10. Também com a nossa palavra oramos, na convicção de que Ele se relaciona conosco pessoalmente. A essência do nosso relacionamento com Deus se dá mediante a Palavra dEle e a nossa como resposta.
Deus gosta de falar. A Bíblia é prova disso, pois é a declaração de Sua vontade. A diferença entre a Palavra de Deus e a nossa é que Deus nunca começará um erro, por mais que fale, enquanto nós devemos tomar muito cuidado, para não pecarmos contra Ele e outras pessoas enquanto falamos. Vejamos como a aplicação da palavra deve ser feita neste texto de Tiago – “Tg 1,19-27.
- A PALAVRA DE DEUS E SEUS RESULTADOS.
Sabemos que Deus e poder e Sua Palavra, conseqüentemente, é poderosa. Ela influencia positivamente, de varias formas, a vida de cada um que tem Jesus como Senhor da sua vida.
- A Palavra de Deus salva a alma – Tg 1,21.
Deus não salva por meio de sacrifícios de animais – “Porém, já veio Cristo, Sumo Sacerdote dos bens vindouros. E através de um tabernáculo mais excelente e mais perfeito, não construído por mãos humanas (isto é, não deste mundo), sem levar consigo o sangue de carneiros ou novilhos, mas com seu próprio sangue, entrou de uma vez por todas no santuário, adquirindo-nos uma redenção eterna.” – Hb 9,11-12, nem pelas nossas obras – “Porque é gratuitamente que fostes salvos mediante a fé. Isto não provém de vossos méritos, mas é puro dom de Deus. Não provém das obras, para que ninguém se glorie. Somos obra sua, criados em Jesus Cristo para as boas ações, que Deus de antemão preparou para que nós as praticássemos.” – Ef 2,8-10 – É pela pregação do Evangelho, das Boas Novas, que podemos chegar ao pleno conhecimento da salvação. Sendo assim, a ordem bíblica é que preguemos a Palavra crendo que esta é a única forma de uma pessoa salvar sua alma da morte eterna – “Rejeitai, pois, toda impureza e todo vestígio de malícia e recebei com mansidão a palavra em vós semeada, que pode salvar as vossas almas.” – Tg 1,21 – Lembremos que a palavra alma, neste texto, indica o homem real, o ser essencial, a vida integral.
Devemos tomar cuidado para não falhar na pregação da Palavra. Ás vezes, a igreja pode ser vista apenas como uma comunidade alternativa, uma espécie de clube religioso. Não fomos chamados a entreter as pessoas, e produzir shows, a enfeitar a pregação bíblica com cores e luzes, mas a pregar a Palavra, quer ouçam quer não, o tempo e a fora de tempo – “Prega a palavra, insiste oportuna e importunamente, repreende, ameaça, exorta com toda paciência e empenho de instruir.” 2 Tm 4,2 – Ai de nós se não fizemos assim – “Anunciar o Evangelho não é glória para mim; é uma obrigação que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!” 1 Cor 9,16.
- A Palavra de Deus traz felicidade – Tg 1,25.
O que vive a Palavra do Senhor será bem-aventurado – feliz – naquilo que realizar. O que medita na Palavra do Senhor será bem sucedido em tudo que fizer – “Pois será como a árvore plantada junto às correntes de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria, e cuja folha não cai; e tudo quanto fizer prosperará.” – Sl 1,3. A alegria será o resultado da obediência à Palavra e à vontade de Deus reveladas nela. Haverá sempre um senso de realização no coração do que obedece a Sua Palavra.
O que não obedece a Palavra e simplesmente a ouve não será capaz de se ver livre da impureza da maldade - “Rejeitai, pois, toda impureza e todo vestígio de malícia e recebei com mansidão a palavra em vós semeada, que pode salvar as vossas almas.” Tg 1,21 – Este é como alguém que não deixa a Palavra moldar o seu caráter. Ele apenas a contempla e acha bonita e interessante, como a sua própria imagem em um espelho – “Aquele que escuta a palavra sem a realizar assemelha-se a alguém que contempla num espelho a fisionomia que a natureza lhe deu: contempla-se e, mal sai dali, esquece-se de como era.” Tg 1,23-24 – mas não permite que ela deixe marcas eternas em sua vida. Veja Tiago fala da diferença entre contemplar a Palavra - “Aquele que escuta a palavra sem a realizar assemelha-se a alguém que contempla num espelho a fisionomia que a natureza lhe deu” Tg 1,23 – e praticá-la – “Mas aquele que procura meditar com atenção a lei perfeita da liberdade e nela persevera - não como ouvinte que facilmente se esquece, mas como cumpridor fiel do preceito -, este será feliz no seu proceder.” Tg 1,25 – O que contempla é chamado de negligente, o que pratica, de bem-aventurado. Que tipo de leitor você é? Se você levar a leitura da Bíblia a sério e tentar colocar em prática o que ela ensina, com certeza será muito feliz e abençoado.
- A PALAVRA DO HOMEM E SEUS CUIDADOS.
Nossas palavras devem ser ponderadas, produzidas pelo conhecimento da Palavra de Deus e pela prática das verdades aprendidas – “Sede cumpridores da palavra e não apenas ouvintes; isto equivaleria a vos enganardes a vós mesmos.” Tg 1,22 – Quanto mais assim fizermos, mais pessoas à nossa volta serão abençoadas.
Tiago da atenção especial aos efeitos das nossas palavras, as quais precisam de alguns cuidados. Vejamos:
- O cristão deve ser pronto para ouvir e tardio para falar – Tg 1,19.
Devemos ouvir bem o que nos está sendo ensinado, e devemos ser ponderados e cuidadosos ao falar. Uma das interpretações desse texto é que Tiago está referindo à precipitação na proclamação do Evangelho. Vamos nos deter nessa interpretação.
Neste sentido é importante ouvir bem a palavra para falar melhor depois. Quem não compreende claramente o que ouve, pode deturpar a mensagem. A instrução precede a prática. Talvez seja por isso que Paulo disse que para ser um obreiro ou operário aprovado era preciso manejar bem a Palavra da verdade – “Empenha-te em te apresentares diante de Deus como homem digno de aprovação, operário que não tem de que se envergonhar, íntegro distribuidor da palavra da verdade.” 2 Tm 2,15 – Quantas heresias e seitas proliferam porque algumas pessoas não recebem bem a instrução e já começam a ensinar!
Certa vez, um aluno de teologia perguntou ao professor porque ele teria que ficar quatro a cinco anos estudando teologia e não apenas 06 meses, visto que o tempo é curto para as obras de Deus ser realizada. A resposta foi: “Um pé de abóbora nasce, cresce e produz em alguns meses, mas uma criança pode destruí-lo com facilidade. Uma arvore leva anos até produzir frutos, mas fica tão robusta que o fará por muitos e muitos anos”. Será que é este o sentimento de Paulo, quando pediu a Timóteo que não impusesse as mãos precipitadamente? Isto é, que não ordenasse obreiros ou operários apressadamente? – “A ninguém imponhas as mãos inconsideradamente, para que não venhas a tornar-te cúmplice dos pecados alheios. Conserva-te puro.” 1 Tm 5,22.
- O cristão deve despojar-se da ira antes de falar – Tg 1,21.
A palavra precipitada pode causar a ira e esta pode levar à palavra precipitada. É um ciclo vicioso. Quanto mais palavras precipitadas, mais ira, quanto mais ira, mais palavras precipitadas. O melhor, segundo Tiago, é ser ponderado nas duas coisas. Uma pessoa tardia em irar-se exerce a paciência e o domínio próprio. A ira é obrigado no coração dos que não tem juízo – “Não cedas prontamente ao espírito de irritação; é no coração dos insensatos que reside a irritação.” Ecl 7,9 – Paulo escrevendo aos efésios, exortou a que os irmãos se afastassem de amargura, ira, cólera, gritaria, blasfêmias e malicias – “Toda amargura, ira, indignação, gritaria e calúnia sejam desterradas do meio de vós, bem como toda malícia.” Ef 4,31 – em Gn 49,7 lemos – “Maldita cólera que os levou à violência, maldito furor que os induziu à crueldade!” – disse Jacó, falando a seus filhos Simeão e Levi; Salomão em Pr 21,9 diz: - “Melhor é habitar num canto do terraço do que conviver com uma mulher impertinente.” – a ira atrapalha o coração – “Quero, pois, que os homens orem em todo lugar, levantando as mãos puras, superando todo ódio e ressentimento.” 1 Tm 2,8.
A bíblia relata a possibilidade de uma “ira justa” – “Mesmo em cólera, não pequeis. Não se ponha o sol sobre o vosso ressentimento.” Ef 4,26 – uma espécie de “indignação” diante do erro, mas esta não pode perdurar e dar lugar ao diabo – “Não deis lugar ao demônio.” Ef 4,27 -; ela deve ser dominada para que não cause danos maiores do que erro que gerou. Ainda que nos indignemos diante dos pecados e injustiças, devemos tomar muito cuidado para que este sentimento não esteja carregado de impureza e maldade – “Rejeitai, pois, toda impureza e todo vestígio de malícia e recebei com mansidão a palavra em vós semeada, que pode salvar as vossas almas.” Tg 1,21 – É preciso deixar para Deus a vingança por atos contra nós cometidos - “Não vos vingueis uns aos outros, caríssimos, mas deixai agir a ira de Deus, porque está escrito: A mim a vingança; a mim exercer a justiça, diz o Senhor (Dt 32,35).” Rm 12,19 – A nossa ira não produz a justiça de Deus – “porque a ira do homem não cumpre a justiça de Deus.” Tg 1,20 – isto é, ela não pode implantar a justiça de Deus em alguém, ou ainda, ela não pode justificar ninguém. A ira do homem não pode produzir qualquer ação justa aos olhos de Deus visto que o homem é pecador e não há nele justiça própria - “Não há nenhum justo, não há sequer um.” Rm 3,10.
Devemos tomar cuidado para que em nome da “justiça de Deus” não procuremos exercer sobre os outros a nossa própria vontade, e não a de Deus.
- O cristão deve falar sem maldade – Tg 1,26.
Tiago faz uma correlação entre a verdadeira religião e aquela que é vã. A religião se torna vã quando não é acompanhada de palavras coerentes e abençoadoras. O que falamos espalha o que somos. Jesus disse: - “Raça de víboras, maus como sois, como podeis dizer coisas boas? Porque a boca fala do que lhe transborda do coração.” Mt 12,34 – Paulo, no mesmo sentido, diz: - “Nenhuma palavra má saia da vossa boca, mas só a que for útil para a edificação, sempre que for possível, e benfazeja aos que ouvem.” Ef 4,29 – Não pode ser puro o coração de alguém cuja língua não é limpa.
- O cristão deve praticar a Palavra – Tg 1,7.
Se o mau uso da língua expõe a falsa religião, a verdadeira religião mostra os seus frutos de maneira clara. Tiago afirma que a verdadeira religião, a religião sem manchas, se revela quando visitamos os órfãos e as viúvas e nos mantemos puros diante das coisas do mundo.
Visitar os órfãos e viúvas e cuidar deles era comum no inicio da Igreja – “Se algum fiel tem viúvas em casa, procure dar-lhes assistência, de tal maneira que elas não sejam um peso para a Igreja, a fim de que esta possa socorrer as que verdadeiramente são viúvas.” 1 Tm 5,16 – Parece que os diáconos deviam cuidar das viúvas sem assistência financeira – At 6,1-7 – Tiago aconselha a que mostremos generosidade com as pessoas menos favorecidas, especialmente as da família cristã – “Quem se descuida dos seus, e principalmente dos de sua própria família, é um renegado, pior que um infiel.” 1 Tm 5,8; “Por isso, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos os homens, mas particularmente aos irmãos na fé.” Gl 6,10 – Devemos ajudar a suprir as suas necessidades, demonstrando nosso amor por elas; é a vida cristã em prática, não apenas falada, mas verdadeira – “Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas por atos e em verdade.” 1 Jô 3,18.
Manter-se puro no mundo também é citado por Tiago como uma forma de verdadeira religiosidade. Ele se une ao Apostolo Paulo, que disse que não devemos nos assemelhar ao sistema deste mundo – “Eu vos exorto, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus: é este o vosso culto espiritual. Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito.” Rm 12,1-2 – Não devemos imitar as pessoas não convertidas em seus costumes pecaminosos. Somos propriedade exclusiva de Deus – “Vós, porém, sois uma raça escolhida, um sacerdócio régio, uma nação santa, um povo adquirido para Deus, a fim de que publiqueis as virtudes daquele que das trevas vos chamou à sua luz maravilhosa.” 1Pd 2,9 – e, como tais, devemos agradá-lO em tudo o que fazemos. Através de exercícios espirituais, como a oração, a leitura da Bíblia, a comunhão com a Igreja, o exercício dos dons espirituais, podemos nos fortalecer, e no final não nos contaminarmos com o sistema mundano que nos cerca. As vezes, nos sentimos atraídos pelas ofertas e encantos deste presente século, mas a aparência deste mundo passa e não resistirá ao julgamento eterno – “...os que usam deste mundo, como se dele não usassem. Porque a figura deste mundo passa.” ! Cor 7,31 – os que se tornam muito íntimos e amigos do sistema do mundo acabam se afastando de Deus – “Todo aquele que quer ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” Tg 4,4 – e aos poucos vão deixando de servir o Senhor - “Demas me abandonou, por amor das coisas do século presente, e se foi para Tessalônica.” 2 Tm 4,10.
Faça uma analise criteriosa de sua vida agora mesmo. Através de reflexão veja se você tem assimilado alguns sentimentos, pensamentos e comportamentos iguais aos das pessoas que não conhecem Cristo. Peça a Deus que sonde o seu coração e descubra se há nele algum caminho mau – “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho perverso, e guia-me pelo caminho eterno.” Sl 139,23-24 – Tome a decisão de manter-se puro no mundo, não se contaminando com as coisas atraentes que lhe oferece. Resista como fez Daniel e veja como Deus o abençoou quando tomou a mesma decisão – “Daniel tomou a resolução de não se contaminar com os alimentos do rei e com seu vinho. Pediu ao chefe dos eunucos para deles se abster.” Dn 1,8.
- CONCLUSAO.
Fazendo uma correlação entre a Palavra de Deus e a nossa podemos dizer que a Palavra dEle é viva e eficaz – “Porque a palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes e atinge até a divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração.” Hb 4,12 – Quanto mais falamos da Palavra de Deus, tanto mais as pessoas são abençoadas. As nossas palavras são deficientes e devem ser cheias de cuidado e vigilância. Para que nossa palavra também abençoe, devemos alinhá-las com a de Deus. Devemos consagrar os nossos lábios ao Senhor – “Sejam agradáveis as palavras da minha boca e a meditação do meu coração perante a tua face, Senhor, Rocha minha e Redentor meu!” Sl 19,14 – Se a semente da Palavra de Deus estiver plantada em nosso coração, o resultado é que nos ouvem – “Nenhuma palavra má saia da vossa boca, mas só a que for útil para a edificação, sempre que for possível, e benfazeja aos que ouvem.” Ef 4,29 – Sendo assim, o mundo reconhecerá que a nossa religião, não com o mundo, mas com Deus. Só assim Deus será glorificado através de nós - “Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha. Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus.” Mt 5,14-16.
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