quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

TIAGO, A FÉ EM AÇÃO - LIÇÃO 05 – DEUS É BOM E IMUTÁVEL




“Toda dádiva boa e todo dom perfeito vêm de cima: descem do Pai das luzes, no qual não há mudança, nem mesmo aparência de instabilidade.”

  1. INTRODUÇAO.
Lembro perfeitamente da segunda vez em que entrei num avião. Era um dia cinzento, de céu nublado e com uma leve garoa que nem um pouco me encorajava. Eu estava sendo deportado do Canadá, algemado, tentei demonstrar tranqüilidade. Quando o aparelho o aparelho começou a deslocar-se na pista, apertei discretamente os dedos das mãos e, como que numa atitude fatalista, entreguei-me a sorte. Em poucos segundos a pista distanciando-se dos meus olhos e rapidamente, o avião alcançou a altura das nuvens, as quais foram tornando cada vez menor a minha visibilidade da janela. A expectativa e a incerteza do que aconteceria, após aqueles momentos enevoados, eram grandes. Até que minha frieza exterior foi abruptamente assaltada por uma visão jamais esquecida. O avião ao atravessar a densa barreira de vapor levou-me a contemplar o céu tão azul e um sol tão brilhante que eu mesmo não saberia afirmar se já tinha visto algo assim. Foram instantes de contemplação, mas também de muita reflexão, pois aquela nova experiência ensinou-me a reconhecer que, a pesar do dia cinzento e chuvoso lá em baixo, o sol sempre esteve no mesmo lugar brilhando tão intensamente como sempre brilhou! Com certeza já enfrentamos ou estamos enfrentando dias cinzentos da vida; atribulados ou enevoados pelas dificuldades, ansiedades, temores ou tristeza da vida – como eu, naquele dia, sendo deportado e o meu sonho sendo destruído como um castelo de areia sendo derrubado. A lição é a mesma: apesar das circunstancias adversas que enfrentamos na vida, não devemos perder a confiança, pois Deus é o mesmo, eternamente bom e imutável!

Antes de prosseguir é muito importante que lembremos que esta epistola foi dirigida a um grupo de cristãos dispersos, os quais estavam sujeitos a todo tipo de dificuldades. No inicio da epistola, Tiago aborda os conceitos de provação e tentação. A provação pode ser vista como de natureza externa, e serve de instrumento de Deus para aprovar e aperfeiçoar aquele que nela persevera – Tg 1,2-8 – Já a tentação pode ser vista como de natureza interna, e serve de instrumento da própria cobiça humana para reprovar e destruir quem ela concede – Tg 1,12-15 – Tiago estava preocupado que um mau entendimento destes conceitos poderia gerar um mau entendimento do caráter de Deus por parte dos seus leitores. Por isso, ordena – “Não vos iludais” ou “Não vos enganais” diante das circunstancias – Tg 1,16 – Visando a instrução  ou mesmo uma possível correção, o autor faz duas declarações a respeito de uma visão correta do caráter e da pessoa de Deus que o cristão deve manter, mesmo em circunstancias adversas.

  1. DESU É BOM – Tg 1,17.
A primeira declaração a respeito de uma visão correta de Deus diante das adversidades é que Deus diante das adversidades é que “Deus é bom”. Afirma Tiago – “Toda dádiva boa e todo dom perfeito vêm de cima: descem do Pai das luzes.” - Tg 1,17 – Em outras palavras, tudo quilo que é bom procede de Deus, o qual é bom. Embora parecesse estranho ouvir sobre a bondade de Deus diante de situações ruins da vida, os cristãos dispersos do primeiro século precisavam aprender a não confundir o caráter de Deus com as circunstancias adversas da vida.

    1. A manifestação da bondade de Deus evidencia-se em Seus presentes.
Deus manifesta sua bondade através das suas dádivas ou dons. Estas duas palavras têm significado parecidos; “dádiva” pode significar presente, galardão ou mesmo dom; e “dom” também pode significar presente – “Nem aconteceu com o dom o mesmo que com as conseqüências do pecado de um só: a falta de um só teve por conseqüência um veredicto de condenação, ao passo que, depois de muitas ofensas, o dom da graça atrai um juízo de justificação.” – Rm 5,16 – Este não é o contexto para a palavra dom (carisma) espiritual, mas de um presente que manifesta a benevolência de Deus. O bom Deus derrama sua  graça e misericórdia  nos homens, dando o sol e a chuva – “Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos.” – Mt 5,45 – as estações frutíferas – “Contudo, nunca deixou de dar testemunho de si mesmo, por seus benefícios: dando-vos do céu as chuvas e os tempos férteis, concedendo abundante alimento e enchendo os vossos corações de alegria.” – At 14,17 -  a vida e a respiração – “Nem é servido por mãos de homens, como se necessitasse de alguma coisa, porque é ele quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas.” – At 17,25 – por exemplo.

    1. A manifestação da bondade de Deus revela Sua perfeição.
As palavras “dádiva” e “dom” são qualificadas pelos objetivos: “boa” e “perfeito”. O autor não está fazendo uma distinção entre os termos, mas usando um estilo literário para pensar numa mesma coisa. Quando coloca os dois adjetivos lado a lado está se referindo a algo de valor incomparável. Suas dádivas revelam o caráter benevolente do próprio Deus perfeito. O termo “perfeito” é o mesmo que descreve Deus em Mt 4,58 – “Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito.”

    1. A manifestação da bondade de Deus expressa Sua pessoa.
A origem desta dádiva e dons é o próprio Deus, pois “são lá do alto”. Somente pode ser divina. O que se origina no coração humano não é o bom – “Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia.” – Tg 1,14, mas o que é unicamente bom e perfeito procede de Deus – “descendo do pai das luzes”. Mas à frente, Tiago cria um contraste a sabedoria que procede de Deus e a sabedoria humana: “A sabedoria, porém, que vem de cima, é primeiramente pura, depois pacífica, condescendente, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, nem fingimento.” – Tg 3,17 – enquanto que a humana “é uma sabedoria terrena, animal, diabólica”. – Tg 3,15 – Assim a bondade de Deus expressa a Sua Pessoa. A expressão “Pai das luzes” sugere tanto a figura paternal de Deus benevolente – “A religião pura e sem mácula aos olhos de Deus e nosso Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições, e conservar-se puro da corrupção deste mundo. – Tg 1,27 e “Com ela bendizemos o Senhor, nosso Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus.” - Tg 3,9 – quanto a do Criador benevolente, uma vez que o termo “luzes”, freqüentemente, faz alusão aos astros e corpos celestes (sol, lua, estrelas).

Estas considerações a respeito da bondade de Deus revelam que, apesar das circunstancias adversas da vida ou mesmo da permissão do mal na vida do crente (exemplo da história de Jó), Deus não é injusto, cruel ou sádico. Ele não tenta seus próprios filhos, pelo contrario é bom e benevolente, e aperfeiçoa a quem ama.

  1. DEUS É IMUTÁVEL – Tg 1,17.
Uma segunda declaração a respeito de uma visão correta de Deus diante das adversidades é que “Deus é imutável”. Escreveu Tiago a respeito de Deus – “... no qual não há mudança, nem mesmo aparência de instabilidade.” – Tg 1,17 – O autor não apenas utiliza o tema bondade de Deus, claramente apresentada em outras partes da Escritura, como faz dela uma preparação de outros atributos e ações divinas apresentadas ao longo da Epistola.

    1. A bondade divina e a imutabilidade de Deus.
A idéia da imutabilidade de Deus está arraigada à idéia da Sua bondade. Isso implica a certeza de que a bondade do Deus imutável nunca sofre alteração ou mudança. Com respeito a pessoa de Deus, a Nova Versão Internacional traduz – “... que não muda como sombras inconstantes”. A palavra grega traduzida como “sombra” pode implicar o ato de fazer sombra ou de refletir uma determinada imagem. Tiago escolheu esta palavra para afirmar que Deus é como uma luz que não pode ser colocada  na sombra ou extinta.

    1. Atributos divinos e a imutabilidade de Deus.
O conceito desta imutabilidade prepara e se aplica à descrição de Deus que Tiago apresenta na sua epistola.

*      Doador da sabedoria – Tg 1,5;
*      Fiel as suas promessas – Tg 1,12; 2,5;
*      Recompensador – Tg 1,12;
*      Justo – Tg 1,20, 2,23;
*      Único – Tg 2,19;
*      Criador do homem – Tg 3,9;
*      Gracioso – Tg 4,6;
*      Legislador e Juiz – Tg 4,1 2;
*      Soberano – Tg 4,15;
*      Misericordioso e Compassivo – Tg 5,11;
*      Restaurador da vida – Tg 5,15.

    1. As escrituras e a imutabilidade de Deus.
Quanto a esta imutabilidade de Deus, a epístola de Tiago encontra bases na própria Palavra de Deus. Muito embora as expressões – “O Senhor arrependeu-se...” Gn 6,6 – “Deus se arrependerá...” ou “Deus se arrependeu...” – Jn 3,10 – parece implicar uma mutabilidade de Deus, apenas representam, através da força de uma linguagem carregada do sentimentalismo pela narrativa bíblica, uma de duas reações divinas conseqüentes à ação humana naquele contexto – benção aos tementes e obedientes; juízo aos incrédulos e desobedientes.  A doutrina da imutabilidade de Deus é encontrada em textos muito claros  das Escrituras.

  1. “Deus não é homem para mentir, nem alguém para se arrepender. Alguma vez prometeu sem cumprir? Por acaso falou e não executou?” – Nu 23,19;
  2. “Mas tu és o mesmo,...” Sl 102,27;
  3. “Porque eu sou o Senhor e não mudo...” Ml 3,6;
Assim, Tiago conduz aqueles cristãos dispersos a não terem quaisquer razões para questionar ou duvidar da pessoa e do caráter de Deus. As duras provas da vida não podem afetar ou comprometer a pessoa ou as ações de Deus.

  1. CONCLUSAO.
A grande demonstração da bondade  imutável de Deus para conosco apresentada por Tiago está no último versículo deste parágrafo – “Por sua vontade é que nos gerou pela palavra da verdade, a fim de que sejamos como que as primícias das suas criaturas.” – Tg 1,18 – A bondade de Deus nos alcançou com a salvação em Cristo Jesus, à qual nos encoraja e fortalece a prosseguir adiante mesmo diante das provas e adversidades da vida . É sempre  bom lembrarmos que mesmo quando os nossos dias se encontravam nublados, cinzentos ou chuvoso, sobre as mais densas, sombrias e carregadas nuvens, sempre existirá o sol que nunc

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