sábado, 4 de novembro de 2023

Quais são as duas naturezas do crente?

 

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As Escrituras revelam uma verdade profunda sobre a natureza do crente: ele carrega consigo duas naturezas distintas. Uma, herdada pelo nascimento natural, marcada por sua depravação total; e a outra, resultado do novo nascimento, refletindo a natureza divina de Deus, sendo completamente boa.

 

Vamos estudar essas duas naturezas à luz das passagens bíblicas e entender o conflito que surge dessa dualidade.

 

A Velha Natureza

 

O Salmo 51:5 é uma janela para a alma de Davi, revelando uma confissão que transcende a mera admissão do pecado. Davi não apenas reconhece seus erros, mas mergulha na profundidade de sua própria natureza.

 

- “Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe” revela não apenas a ação, mas a origem do pecado”.

 

Davi, um homem segundo o coração de Deus, enfrenta a realidade de sua herança pecaminosa desde a concepção.

 

Jeremias 17:9 acrescenta outra camada à compreensão da velha natureza:

 

- “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?”

 

Essa descrição não apenas pinta um quadro sombrio, mas ressalta a sutileza do pecado. A enganosidade não está apenas nas ações, mas nas intenções mais profundas do coração.

 

A velha natureza, como descrito aqui, não é apenas proposta ao pecado, mas é habilidosa em sua busca por desviar-se dos caminhos de Deus.

 

Romanos 3:10-12 aprofunda a compreensão da condição humana:

- “Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e adicionalmente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só”

 

Essa é uma declaração ousada e abrangente sobre a natureza humana antes da intervenção da graça.

 

Aceitar a perspectiva divina sobre a natureza humana é uma prova de fé. Contrariando a noção popular de que a moralidade humana é suficiente para agradar a Deus, as Escrituras apresentam um quadro mais sombrio.

 

Um confronto com a verdade sobre a velha natureza pode ser doloroso, especialmente quando olhamos para pessoas moralmente virtuosas que, sem Cristo, permanecem em oposição a Deus.

 

A Bíblia rejeita a ideia de “paternidade universal de Deus e fraternidade universal dos homens”.

 

O simples fato de pertencer à raça humana não garante filiação divina. São os nascidos de novo, os que experimentam o novo nascimento espiritual, que verdadeiramente se tornam filhos de Deus.

 

Essa compreensão desafia conceitos amplamente aceitos, destacando que a relação com Deus não é automática, mas uma resposta à obra regeneradora de Cristo.

 

A graça divina não apenas perdoa, mas transforma, atualizando a velha natureza pela nova em Cristo. Essa compreensão, embora desafiadora, é essencial para uma fé fundamentada na verdade bíblica.

 

A Nova Natureza

 

A regeneração, conforme evidenciada nas passagens bíblicas, transcende a mera transformação; é uma criação.

 

João 3:3 destaca a necessidade imperativa de nascer de novo. Esse novo nascimento não é uma simples melhoria da natureza existente, mas uma criação radical de algo totalmente novo e espiritual. A regeneração não reforma a velha natureza; ela introduz uma nova realidade.

 

Gálatas 3:26 reforça a ideia de que todos se tornam filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. A nova natureza é inseparável da fé em Cristo. Ela não se alcança por méritos próprios, mas é um dom gracioso recebido pela fé na obra redentora de Cristo na cruz. Essa conexão com Cristo é crucial para entender a origem e a natureza da nova criação.

 

Efésios 4:24 descreve a nova natureza como uma criação em verdadeira justiça e santidade. Aqui, “verdadeira” denota a pureza e pureza dessas características.

 

Essa criação não é uma imitação superficial, mas uma incorporação genuína de justiça e santidade divinas. A nova natureza reflete a imagem de Deus restaurada no crente.

 

Cristo Vive em Mim: A Ligação Indissolúvel

 

Gálatas 2:20 expressa uma verdade transformadora:

 

- “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim.”

 

Apesar de uma velha natureza ainda coexistir, uma nova natureza se caracteriza pela presença viva de Cristo. Essa ligação é mais do que uma influência externa; é uma habitação íntima e vitalícia.

 

Colossenses 1:27 apresenta a esperança da glória: “Cristo em vós, esperança da glória.” A nova natureza não apenas nos conecta a Cristo, mas carrega a promessa de compartilhar em Sua glória futura.

 

Essa esperança não está fundamentada em nossos méritos, mas na realidade de Cristo habitando em nós.

 

Participantes da Natureza Divina

 

2 Pedro 1:4 eleva a compreensão da nova natureza, destacando que ela nos torna “participantes da natureza divina“. Essa participação não é uma mera associação; é uma comunhão profunda com a própria essência de Deus.

 

A nova natureza não apenas reflete a superfície, mas a incorpora, permitindo aos crentes compartilhar da vida divina.

 

Essa nova criação não é apenas uma mudança superficial, mas uma transformação radical que redefine nossa identidade em Cristo.

 

O Conflito Entre as Duas Naturezas

 

O apóstolo Paulo, em sua epístola aos Romanos, fornece um relato vívido e pessoal do conflito que ocorre dentro da crente entre a velha e a nova natureza. Essa luta interior não é meramente uma questão teórica, mas uma experiência tangível para aqueles que experimentam a transformação pela fé em Cristo.

 

No capítulo 7 de Romanos, Paulo usa uma linguagem intensamente pessoal para descrever a batalha interna entre o “eu” antigo, representada por Saulo de Tarso, e o “eu” novo, representado pelo apóstolo Paulo.

 

Essa dualidade é delineada com uma sinceridade impressionante, onde ele expressa seu desejo de fazer o bem, mas se vê incapacitado pela persistência da carne.

 

- Romanos 7:18 (NVI):“Pois eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o desejo de fazer o bem está em mim, mas não consigo realizá-lo.”

 

O conflito interno entre duas naturezas pode ser especialmente desafiador para os novos convertidos. Inicialmente, a conversão traz consigo um fervor espiritual e alegria que muitas vezes são seguidas pela descoberta da persistência dos desejos da carne.

 

Esse descompasso entre as expectativas elevadas e a realidade da luta interior pode desencadear desânimo e perplexidade.

 

- Romanos 7:21 (NVI):“Assim, encontro esta lei que opera em mim: Aquele que quer fazer o bem, o mal está junto a mim.”

 

O ponto crucial para o crente entender é que a vitória sobre a carne não se alcança por méritos pessoais ou esforço humano. Paulo, no capítulo seguinte, em Romanos 8:13, destaca claramente que é pelo poder do Espírito Santo que as obras do corpo são mortificadas.

 

- Romanos 8:13 (NVI):“Pois, se viverem de acordo com a carne, vocês morrerão; mas, se pelo Espírito fazerem morrer os atos do corpo, viverão.”

 

A presença contínua dos desejos da carne não é uma desculpa para render-se a eles, mas, ao contrário, é uma chamada para subjugá-los pelo Espírito.

 

Essa submissão não ocorre através de uma simples força de vontade, mas ao permitir que o Espírito Santo governe e influencie as decisões e ações diárias.

 

Gálatas 5:16 (NVI):“Então, eu digo: vivam pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne.”

 

Conclusão: Uma vida de Vitória em Cristo

 

A dualidade das duas naturezas do crente é uma realidade que demanda constante consciência e dependência do Espírito Santo. O conflito interno pode ser intenso, mas a vitória é garantida em Cristo.

 

Ao considerar a crucificação do homem velho com Cristo, a vida escondida com Cristo em Deus e o constante apelo para revestir-se do Senhor Jesus Cristo, percebemos que a vida do crente é uma progressão contínua em direção à conformidade com a imagem de Cristo.

 

Portanto, em vez de confiar nas próprias forças, o crente pode entregar o conflito ao Espírito de Deus, que habita nele. Nessa entrega, a vida cristã se torna uma experiência de constante renovação, transformação e crescimento espiritual.

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