E disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações. Porém esta palavra pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei, para que nos julgue. E Samuel orou ao Senhor. E disse o Senhor a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te têm rejeitado a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles. - 1 Samuel 8.5-7
Não se
pode pinçar um texto da Bíblia, sem respeitar o contexto, o período histórico
em que foi escrito, a trajetória dos personagens envolvidos. Nem tudo é claro
nas passagens bíblicas, razão porque a interpretação gera uma série de
doutrinas, religiões e seitas. Se você for examinar, até as coisas mais
bizarras, mais esquisitas, usam um texto bíblico como fundamento. Até o dançar
com serpentes baseia sua fé no texto de Marcos, por mais que não tenha qualquer
justificativa minimamente sensata.
Israel
era regida por juízes, não havia governantes humanos, o que se praticava era a
Teocracia, que é o sistema de governo em que todas as ações são submetidas a
Deus, ou às normas de alguma religião. Quando o poder central é exercido pelos
clérigos (que são os cidadãos que pertencem a alguma ordem sacra) de alguma
religião, costuma se chamar a isso de clerocracia. No caso de Israel, a
Teocracia foi implantada desde sua saída do Egito, primeiro foi Moisés, Josué e
depois deles foram os juízes, que julgavam as causas, as divergências de
cidadania e falavam com Deus, eles eram os canais de Deus com o Seu povo, por
assim dizer.
Pois
bem. Samuel era profeta, mas também era o juiz de Israel e como Samuel
envelheceu e já não podia suportar a dura jornada, seus filhos foram
constituídos juízes sobre Israel e o problema começou bem aí. Os filhos de
Samuel, Joel e Abia, não eram fiéis a Deus, não andaram nos caminhos de seu pai
e isso deixou o povo descontente.
Os
anciãos de Israel foram falar com Samuel e disseram a ele que os filhos dele
não estavam agradando a congregação e que eles queriam agora um rei de verdade,
que reinasse sobre eles e julgasse suas causas, do jeitinho que acontecia com
as outras nações. Samuel levou para o lado pessoal e ficou bravo mesmo, mas
como servo de Deus inteligente, ele foi se queixar com Deus e o Senhor disse a
Samuel: “Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te têm rejeitado
a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles.”(1 Samuel
8:7).
Deus
que vê o coração do homem sabia que a rejeição de Israel não era com Samuel e
que a conduta pecaminosa de seus filhos era apenas a desculpa que precisavam
para a reivindicação que fizeram. Mesmo assim, Deus mandou Samuel voltar aos
anciãos e alertá-los sobre o que significava ter um rei sobre eles, que este
rei iria tomar seus filhos para servi-lo, que suas filhas seriam cozinheiras do
rei, que de tudo o que houvesse de melhor em suas terras, nas suas vinhas, dos
seus rebanhos seriam do rei e que eles iriam se arrepender e clamariam a Deus
sobre o rei que escolhessem e que Deus não os ouviria.
As
advertências de Samuel de nada adiantaram, o povo estava firme no propósito de
ter um rei, e mais, eles queriam ser como as outras nações e disseram a Samuel:
“Não, mas haverá sobre nós um rei. E nós também seremos como todas as outras
nações; e o nosso rei nos julgará, e sairá adiante de nós, e fará as nossas
guerras.” (1 Samuel 8:19-20). Estava claro que o povo de Israel estava
deslumbrado com a ideia de ter um rei, eles queriam ser iguais às outras
nações, queriam o status de súditos. Grande coisa!
Samuel
contou tudinho ao Senhor (como se fosse preciso), mas ele precisava desabafar,
tudo bem. Deus disse que Samuel constituísse um rei para Israel e Samuel
despediu o povo, que fossem de volta às suas cidades.
Muito
bem. O povo queria um rei que lhes agradasse, estava claro. Os israelitas
queriam um guerreiro, um cara de bela figura para ostentar às nações vizinhas.
Deus disse sim ao povo, faria a vontade deles.
Havia
um homem da tribo de Benjamim, chamado Quis, que era poderoso e ele tinha um
filho, cujo nome era Saul e Saul servia como luva à vontade dos israelitas, ele
era moço e tão belo que não havia outro igual em toda Israel e que se
sobressaía, dos ombros para cima, a todo o povo, ou seja, era alto.
Um dia
se perderam as jumentas de Quis e ele mandou Saul e um servo procurarem as
jumentas e eles foram, mas não acharam as jumentas e já estava bem tarde, então
eles passaram pela cidade de Samuel e o servo perguntou por que eles não
paravam um instante na casa do “vidente”. Era assim que chamavam os profetas:
videntes. Saul aceitou e foram ter com Samuel. Foi assim que Samuel viu pela
primeira vez o futuro rei de Israel, por causa de umas jumentas perdidas.
Na
véspera Deus havia avisado Samuel que um homem de Benjamim iria vê-lo e que ele
deveria ungir aquele homem capitão sobre o Seu povo, porque ele livraria Israel
das mãos dos filisteus, porque o povo estava clamando libertação dos filisteus
e este homem dominaria sobre o Seu povo.
Quando
Saul apareceu diante de Samuel, este já sabia que ali estava o futuro rei de
Israel, o rei escolhido por Deus de acordo com o desejo do coração dos
israelitas. Como sabemos que Saul era o desejo do coração do povo judeu? Tem
algum versículo que fala isso? Não, nenhum versículo, apenas a dedução que se
faz a partir do contexto, a partir do pedido dos anciãos. Vamos ver?
Use sua
inteligência. O povo não queria mais os juízes e não tinha nada haver com os
infiéis filhos de Samuel, tinha haver com as nações ímpias que cercavam Israel.
Eles tinham reis que os lideravam nas batalhas e isso encheu o coração dos
judeus de vontade de também ter um rei a quem se inclinar.
Se Deus
tivesse escolhido um homenzinho nanico, feinho, coxo, ele não seria aceito pelo
povo, que queria ostentar um rei para as outras nações. Deus escolheu um rei
que enchia os olhos de qualquer um, um cara alto e belíssimo. Se fosse o
contrário e Deus tivesse separado para reinar sobre Israel um cidadão meia
sola, além do povo não aceitá-lo, ainda iria murmurar contra Deus, diriam que
Deus estava fazendo pirraça, porque não seria um rei, seria um acinte, um
desaforo. As nações em volta iriam rir deles e eles sofreriam bulling de rei.
A
escolha não era de Deus, era do povo judeu. Não foi Deus quem disse que não
queria mais reinar sobre eles, foram eles que deram o cartão vermelho para
Deus, então o rei teria de agradar ao coração dos insensatos israelitas.
Samuel
ungiu Saul capitão sobre o povo de Israel, do jeitinho que Deus tinha mandado:
“Então tomou Samuel um vaso de azeite, e lho derramou sobre a cabeça, e
beijou-o, e disse: Porventura não te ungiu o SENHOR por capitão sobre a sua
herança?”(1 Samuel 10:1). Além de ungir Saul, Samuel disse tudo o que ele
encontraria pelo caminho e até que as jumentas do pai dele já tinham sido
achadas.
Samuel
convocou o povo judeu a Mizpá, todas as tribos se juntaram diante do Senhor e
disse Samuel: “Assim disse o SENHOR Deus de Israel: Eu fiz subir a Israel do
Egito, e livrei-vos da mão dos egípcios e da mão de todos os reinos que vos
oprimiam. Mas vós tendes rejeitado hoje a vosso Deus, que vos livrou de todos
os vossos males e trabalhos, e lhe tendes falado: Põe um rei sobre nós. Agora,
pois, ponde-vos perante o SENHOR, pelas vossas tribos e segundo os vossos
milhares.” (1 Samuel 10:18-19). Havia um ritual a ser feito e assim Samuel fez
chegar todas as tribos separadamente diante do Senhor e separou a tribo de
Benjamim e fez passar Benjamim por suas famílias e separou a família de Matri e
dela tomou a Saul, filho de Quis. Só teve um probleminha, não acharam Saul de jeito
nenhum. Foi preciso perguntar ao Senhor se Ele tinha certeza que o homem era
Saul, porque ele não estava ali.
Veja
só. Israel queria um rei, Deus concordou, escolheu Saul e Saul tomou doril,
sumiu, mas Deus respondeu na hora e disse: “Eis que se escondeu entre a
bagagem.” (1 Samuel 10:22b). O futuro rei de Israel estava escondido, com medo,
sem entender direito o que significava tudo aquilo, mas os homens foram lá
carregaram Saul e o colocaram no meio do povo e ele era mais alto que todo
mundo.
Depois
que acharam o homem disse Samuel a todo o povo: “Vedes já a quem o SENHOR
escolheu? Pois em todo o povo não há nenhum semelhante a ele.”(1 Samuel
10:24b). O povo gostou dele, era um homem vistoso, não era muito valente, mas
com isso o povo podia conviver e depois ele se ajeitaria, o importante é que
eles já tinham um rei e todo o povo se jubilou, se alegrou muito e gritaram:
Viva o rei!
Samuel
declarou ao povo o direito do reino e escreveu num livro que foi posto diante
do Senhor e, então, ele despediu o povo que voltou cada um para sua casa,
inclusive o novo rei, foi para a casa dele, mas Deus moveu o coração de alguns
homens do exército de Israel, que seguiram o novo rei. Foi assim que começou a
história dos reis de Israel.
A
escolha do primeiro rei sobre Israel foi inusitada. Samuel se sentiu
pessoalmente ofendido com o desejo do povo de não ter mais juízes, mas sim, UM
REI. Samuel não sabia direito lidar com a rejeição, o que ele não entendia era
que a rejeição não era a ele, era a Deus, o Rei que reinava por sobre todo o
Israel até então.
O rei
teria de agradar ao povo, lembre-se que rebeldia era a especialidade do povo
hebreu desde sua saída do Egito. Eles não aceitariam menos que o melhor e
Samuel disse isso claramente: “Pois em todo o povo não há nenhum semelhante a
ele.” A prova que o povo queria apenas a bela aparência do novo rei, é que eles
não se importaram que o novo rei estivesse escondido na bagagem, encolhidinho,
com medo. Com a covardia do novo rei eles podiam lidar, mas se o rei fosse
aparentemente um Zé Mané, a coisa tinha ficado feia mesmo, mas era o belo rei
Saul e isto bastava para rejubilar o coração do povo.
É evidente que a escolha foi feita pela figura de Saul e isso acontece conosco até os dias de hoje. Somos tentados a julgar pela aparência, somos atraídos pelo belo, ainda que o belo seja um sapo em forma de príncipe. O que vale para o mundo, para a sociedade é o ter, o ser, o poder e nunca o caráter, os princípios, a conduta das pessoas. Somos diferentes e temos de fazer a diferença na vida das pessoas à nossa volta e assim, nossos valores Não podem ser iguais ao povo que vive por conta própria, porque isso pode dar em Saul, ao invés de Davi
Nenhum comentário:
Postar um comentário