O que acontece quando um cristão peca? Por que há certos pecados que são cometidos contra o Espírito Santo e não se menciona o Pai ou o Filho? É possível alguém blasfemar contra o Espírito Santo hoje? Qual é op pecado para a morte? Vamos procurar responder estas e outras perguntas.
I. EXEMPLOS DE PECADOS CONTRA O ESPÍRITO SANTO.
Podemos afirmar que, historicamente falando, esta é a “era” do Espírito Santo. Jesus deixou muito claro que ele tinha que ir para que o Espírito Santo pudesse vir – “Todavia, digo-vos a verdade, convém-vos que eu vá; pois se eu não for, o Ajudador não virá a vós; mas, se eu for, vo-lo enviarei.” (Jo 16,7). Mas não é apenas o aspecto da época ou da dispensação (como queiram). Há muitos exemplos no 1.º Testamento e no 2.º Testamento que indicam que o Espírito Santo estava sendo diretamente ofendido pelo pecado de homens ou mulheres, eis alguns.
- Sansão – o Espírito Santo veio poderosamente sobre ele varias vezes – Jz 13,25; 14,6.19; 15,14; - mas depois o abandonou quando ele persistiu no pecado – “E disse ela: Os filisteus vêm sobre ti, Sansão! Despertando ele do seu sono, disse: Sairei, como das outras vezes, e me livrarei. Pois ele não sabia que o Senhor se tinha retirado dele.” (Jz 16,20).
- Saul – persistiu na desobediência, e o Espírito se retirou dele – “Ora, o Espírito do Senhor retirou-se de Saul, e o atormentava um espírito maligno da parte do Senhor.” (1Sm 16,14).
- O povo de Israel – quando o povo foi rebelde, entristeceu o Espírito Santo, e assim Deus se voltou contra os israelitas – “Eles, porém, se rebelaram, e contristaram o seu santo Espírito; pelo que se lhes tornou em inimigo, e ele mesmo pelejou contra eles.” (Is 63,10).
Talvez seja por isso que na vida de Jesus, que foi completamente sem pecado, o Espírito Santo veio sobre Ele com poder – Jo 1,32; At 10,38 – e não lhe foi dado por medida – “Pois aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus; porque Deus não dá o Espírito por medida.” (Jo 3,34). Ele afirmou que fazia somente o que agradava ao Pai, e por isso gozava sempre da presença dEle – “E aquele que me enviou está comigo; não me tem deixado só; porque faço sempre o que é do seu agrado.” (Jo 8,29); o que é uma grande lição para nós. Mas no 2.º Testamento há uma lista de pecados que podem ser cometidos contra o Espírito Santo. Vamos analizá-los.
II. A BLASFÊMIA CONTRA O ESPÍRITO SANTO.
Certamente este é o conceito mais difícil de ser interpretado. Então, vamos devagar.
- Considerações Gerais.
a) Os textos bíblicos que falam sobre a blasfêmia cont5tra o Espírito Santo só aparecem em Mt 12,31-32; Mc 3,28-29 e Lc 12,10, e são correlatos, ou seja, os três evangelistas estão se referindo ao mesmo episódio. Embora Lucas esteja um pouquinho ma]is a frente – veja Lc 11,14-23 – continua sendo uma palavra proferida contra os fariseus.
“E a todo aquele que proferir uma palavra contra o Filho do homem, isso lhe será perdoado; mas ao que blasfemar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado.” (Lc 12,10).
b) Nenhuma epístola do 2.º Testamento, que é a base doutrinária da Igreja, menciona este pecado.
c) O substantivo grego blasfêmia ocorre 14 vezes no 2.º Testamento e o verbo blasfemeo 34 vezes. O significado básico é “insultar”, “caluniar”, “injuriar”, “ultrajar”, “desprezar”, “hostilizar”, “difamar”.
d) Paulo chamou a si mesmo de blasfemo e perseguidor antes de conhecer a Cristo, mas alcançou misericórdia porque o fez na ignorância e na incredulidade – “Ainda que outrora eu era blasfemador, perseguidor, e injuriador; mas alcancei misericórdia, porque o fiz por ignorância, na incredulidade.” (1Tm 1,13). Pelo fato do apóstolo ter sido perdoado, concluímos que a blasfêmia contra o Espírito Santo é, de fato, um pecado muito específico.
- Em que consiste a blasfêmia contra o Espírito Santo.
Em Mt 12,24 – “Mas os fariseus, ouvindo isto, disseram: Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios.” – os opositores de Jesus, no caso, os escribas, os fariseus estavam atribuindo a Satanás o poder que Jesus tinha para expulsar os demônios. Belzebu era o nome antigo de algum ídolo dos cananeus, que depois se tornou nome de um demônio principal. É como se fosse assim: o demônio maior expulsa o demônio menor. Sendo assim, os escribas e fariseus estavam chamando o bem de mal. Atribuíram ao maligno uma obra que era do Espírito Santo. E foi isto que Jesus chamou de blasfêmia contra o Espírito Santo. Vale lembrar que os opositores não tentaram negar que Jesus estava expulsando demônios, mas creditavam o poder ao maligno e não a Deus.
Toda via, a grande questão permanece: alguém ainda hoje pode cometer este pecado?
Uma simples regra de interpretação bíblica nos ensina que “uma doutrina não pode ser considerada bíblica, a não ser que resuma e inclua tudo o que a Bíblia ensina sobre ela”. Como a expressão blasfêmia contra o Espírito Santo não aparece em nenhum outro lugar além dos três textos citados acima, temos que “tirar” daí a doutrina do Espírito Santo.
Cremos que todo texto tem uma só interpretação primária, mas podendo ter muitas explicações. Então, a interpretação deste pecado está muito clara: atribuir a Satanás algo que foi realizado pelo Espírito Santo. O Senhor Jesus chamou isto de “pecado eterno”. – “Ms aquele que blasfemar contra o Espírito Santo, nunca mais terá perdão, mas será réu de pecado eterno.” (Mc 3,29).
Há eruditos e estudiosos do 2.º Testamento que, acreditam que este pecado só poderia ser cometido durante o ministério terreno de Jesus. Que era uma espécie de “pecado nacionalista”, ou seja, somente os israelitas poderiam comete-lo. O principal defensor desta tese é J. Dwight Pentecost, professor emérito de exposição bíblica no Seminário Teológico de Dallas, EUA, e devido à importância e seriedade do assunto, temos que citar seu precioso comentário:
“Se a nação Israelita rejeitou o testemunho que Jesus deu de Si mesmo, eles poderiam vir a crer em Sua palavra através da palavra de Seu pai. O pai autenticou a pessoa de Cristo – “Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, é quem faz as suas obras.” (Jo 14,10). As obras de Cristo eram as obras do Pai, e estas obras confirmaram a palavra do Pai dada no batismo de Cristo, que o Pai estava muito satisfeito com a vida de Seu Filho, Se alguém rejeitou a palavra do Pai, ele ainda poderia ser trazido à fé na pessoa de Cristo por meio do testemunho do Espírito Santo. Os milagres eram o testemunho do Espírito para Cristo. O Espírito abriu caminho para o testemunho final tanto para a pessoa quanto para a palavra de Cristo. Se alguém rejeitasse este testemunho final, Deus não teria outro testemunho a oferecer. Enquanto rejeitar a palavra de Cristo fosse pecado, uma pessoa poderia ser levada à confissão de tal pecado e reconhecer a verdade através do testemunho do Pai. Rejeitar o testemunho do Pai era um pecado; ainda alguém poderia ser levado à fé em Cristo através do testemunho do Espírito. Se alguém rejeitasse o testemunho final, não haveria mais testemunho para traze-lo a Cristo. Por esta razão não poderia haver perdão para o pecado de atribuir a obra de Cristo ao diabo quando, na verdade, a obra tinha sido realizada pelo espírito Santo.
É evidente que este pecado de blasfêmia contra o Espírito Santo poderia ser cometido apenas enquanto Cristo estava pessoalmente presente na terra. O pecado só poderia ser cometido no tempo em que à nação estava sendo dada evidencias de pessoas de Cristo, através dos milagres que ele realizava pelo poder do Espírito Santo. As circunstancias necessárias não existem hoje e, conseqüentemente, este mesmo pecado não pode ser cometido hoje. Cristo estava avisando àquela geração em Israel que se eles rejeitassem o testemunho do Pai e o testemunho do Espírito para a sua pessoa e sua obra, não haveria outra evidencia que pudesse ser dada. Estes pecados iriam se tornar imperdoáveis e resultariam no julgamento temporal sobre aquela geração. Aquele julgamento finalmente caiu no ano 70 d.c. quando Jerusalém foi destruída. Este pecado, então, não era visto como o pecado de um individuo, mas ao contrário, como o pecado deixou toda aquela geração debaixo do julgamento divino.” - The Words and Works of Jesus Chist (As Palavras e as Obras de Jesus Cristo), J. Dwight Pentecost (1981 – USA).
- É possível blasfemar contra o Espírito Santo hoje?
Se aceitarmos esta interpretação de Dwight Pentencost, então o que temos a fazer de resto são possiveis aplicações deste assunto para nós hoje.
Algumas pessoas acham que toda a pessoa que rejeita o testemunho que o Espírito Santo dá a Jesus Cristo hoje, e continua rejeitando até o final da vida, está blasfemando contra o Espírito Santo, e por isso não tem perdão; porque rejeitou o ultimo testemunho de Deus. Cremos que isto é uma aplicação e não uma interpretação do texto. Por que? Porque as igrejas estão cheias de pessoas que durante muitos anos rejeitaram claramente a Jesus Cristo, mas finalmente se arrependeram e creram no Senhor, algumas até no leito de enfermidade.
É evidente que toda pessoa que rejeita Cristo está condenada – “Quem vos ouve, a mim me ouve; e quem vos rejeita, a mim me rejeita; e quem a mim me rejeita, rejeita aquele que me enviou.” (Lc 10,16); “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.” (Mc 16,16). Mas em nenhum lugar da Bíblia chama este ato de blasfêmia contra o Espírito Santo. E se você quer saber qual é o pecado para a morte de 1 Jo 5,16 – “Se alguém vir seu irmão cometer um pecado que não é para morte, pedirá, e Deus lhe dará a vida para aqueles que não pecam para a morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore.”, eis a resposta: apostasia. Abandonar a fé, se rebelar contra Deus e Sua vontade. Se você rejeitar a Cristo, que é a vida, não terá outra conseqüência senão a morte. Finalmente, o fato é que podemos estar certos de que os que temem ter cometido a blasfêmia contra o espírito Santo, e com isso se afligem, podem estar certos que não cometeram tal pecado.
III. OUTROS PECADOS CONTRA O ESPÍRITO SANTO.
- Entristecer o Espírito – “E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção.” (Ef 4,30).
Este pecado sim pode ser cometido pelo filho de Deus hoje. A advertência do apóstolo é justamente para evitar o pecado. Como é que se entristece o Espírito Santo? Cremos que todos os pecados citados no contexto deste versículo causam tristeza ao Espírito: a mentira, a ira não controlada, o furto, a amargura, a gritaria, a malicia, a falta de perdão, etc. (Ef 4,25-32).
- Apagar o Espírito – “Não extingais o Espírito.” (1Ts 5,19).
O verbo grego para apagar ocorre 06 vezes no 2.º testamento e, com exceção deste texto de Tessalonicense, todos os outros estão ligados a “apagar o fogo” – Mt 12,20; 25,8; Ef 6,16; 1Ts 5,19; Hb 11,34 – Novamente a pergunta: como podemos apagar o Espírito Santo? O principio da interpretação e da aplicação precisa entrar em cena aqui também. O contexto de Tessalonicense sugere uma interpretação ligada a dons espirituais, dos quais a profecia é um – “não desprezeis as profecias, mas ponde tudo à prova. Retende o que é bom. Abstende-vos de toda espécie de mal.” (1Ts 5,20-21). “Significa que uma igreja precisa tomar cuidado para não ser hostil ou indiferente a certos dons, o,que implicaria apagar ou abafar a ação do Espírito Santo. Em 2 Tm 1,6 - “Por esta razão te lembro que despertes o dom de Deus, que há em ti pela imposição das minhas mãos.” – Paulo recomendou ao seu discípulo, “reavives o dom que há em ti”. O verbo reaviver era usado no grego secular para uma brasa que estava se apagando, daí a necessidade de ser soprada.” (Howard Marshall).
Billy Grahan sugere duas maneiras pelas quais podemos apagar o Espírito.
a) Quando não alimentamos nossa alma com a Palavra e não oramos, o fogo do Espírito fica abafado e nossa alma fica adormecida. Porque estes são os caminhos que Deus usa para fornecer o combustível e manter acesa a chama do Espírito em nós.
b) Quando pecamos intencionalmente, abafamos o Espírito. É co o jogar água ou a terra sobre Ele, ou sufoca-lo com um cobertor. Criticas e o ato de rebaixarmos o trabalho dos outros, palavras depreciativas sufocam a ação do Espírito Santo em nós. Cuidado! Muitas vezes o Espírito Santo pode estar agindo em pessoas e situações muito diferentes das que você está acostumado a ver. Deus não está preso a métodos, portanto deixe que Deus seja Deus onde Ele quer ser Deus. A incredulidade apaga o Espírito Santo, que é poder, mas também é sensível – “E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles.” (Mt 13,58); “Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; como o fizeram os vossos pais, assim também vós.” (At 7,51).
CONCLUINDO
É certo que devemos tomar o cuidado para não pecar contra o Espírito Santo. Ele não irá se impor a nossa vontade. Se resistirmos e nos opusermos a Ele e apagamos, então Seu poder será retirado e Ele renovará de nossa vida grande parte das bênçãos de Deus. Por outro lado, na vida do cristão que é agradável a Deus, o Espírito Santo tem prazer em derramar grandes bênçãos. A promessa de Jesus é de rios de água viva fluindo do nosso interior – “Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva. Ora, isto ele disse a respeito do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito ainda não fora dado, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado.” (Jo 7,38-39). Aproveite!
MARCO ANTONIO LANA (TEOLOGO)
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